Surpresas do Amor escrita por Lelly Everllark


Capítulo 2
O carro, a moto e a princesa.


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Devia ter voltado? Provavelmente não, mas voltei assim mesmo!
Espero que gostem do capítulo, BOA LEITURA :D



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  Alex

 

  Chega a ser engraçado como um único momento pode mudar a vida de uma pessoa. Por que no instante em que Lucy me mostrou o teste de gravidez com os dois risquinhos cor de rosa minha vida mudou, nesse momento ela deixou de ser só minha melhor amiga e se tornou também a mãe do meu filho e eu deixei de ser só um cara ferrado e sem família, para ser também um pai. Eu não sabia como, mas eu cuidaria deles.

  Lucy é claro surtou, gritou, chorou, xingou e por fim estava sorrindo como se tivesse ganhado na loteria. Por que ela era assim, um pouco de tudo, um furacão de felicidade, era definitivamente a pessoa que alegrava meu dia. E por fim sua reação não me surpreendeu, quando disse que teria esse bebê e o amaria com todas as suas forças. Os únicos que não pareceram nenhum pouco felizes com essa decisão foram seus pais, ela teria que trancar a faculdade e se atrasaria em pelo menos um semestre do seu curso de arquitetura, mas ela não ligava, estava feliz demais pra isso.

 Mas foi então que aconteceu o acidente, ela estava na casa dos pais, eles discutiram, ela pisou em falso e como resultado rolou dois lances de escadas, não perdeu o bebê por muito pouco e a gravidez se tornou de risco, mas ela ainda podia “Se livrar do problema” como disseram seus pais. Lucy ficou horrorizada com a ideia e como toda mãe, assim como a minha mãe, escolheu seu filho. De todas as formas e todas às vezes, então na hora mais importante ela pediu ao médico que salvasse o bebê, e pediu pra mim que cuidasse dele e o protegesse. E como eu faria diferente se ele também era uma parte dela?

  E ainda hoje, dez meses depois dela ter ido embora e me deixado com o maior dos presentes que eu poderia receber, eu não consigo não me lembrar dela e desejar que ela estivesse aqui.

  - É carinha, agora somos só eu e você - disse ao bebê gorducho na banheira a minha frente e ele tentou alcançar meus cabelos para puxá-los e eu ri. - Hei! Eu sei que não sou o melhor pai do mundo, mas me bater não resolve nossos problemas, somos homens, Ok? Vamos conseguir superar isso, e aposto que sua mãe está lá em cima nos olhando e rindo, então se lembre dela com carinho, ela não se foi por não o queria, pelo contrário, ela se foi por que o amava tanto que o protegeu até o fim.

  Thomas me encarou curioso e eu beijei sua testa. Ele era a cópia de Lucy, cabelo loiro, pele clara, só seus olhos eram tão escuros quantos os meus, fora isso, ele era um pequeno pedaço seu que a minha melhor amiga havia deixado pra mim.

  - Ok, chega desses pensamentos que não levam a lugar nenhum e chega de banho pra você - disse a ele que em resposta bateu a mãozinha na água me molhando todo.

  Ri sem conseguir me conter e fui com ele até o seu quarto, mas o divertimento acabou assim que eu entrei no cômodo. As paredes de um amarelo claro e desbotado estavam precisando ser pintadas, o berço e a cômoda de madeira escura eram usados e havia bem menos brinquedos nas prateleiras quanto eu gostaria. Mas era isso que podíamos ter no momento. Peguei as roupas de Tommy e o levei para o meu quarto, era mais fácil vesti-lo na minha cama.

  Quando Lucy morreu seus pais param de olhar na minha cara. Nós tínhamos uma boa relação, afinal no tempo em que morei com meu pai nós éramos vizinhos e a casa dos Reynolds era meu refugio, depois que cresci e me mudei para essa casa, a casa dos meus avós, onde hoje somos só eu e Tommy, eu e Lucy não paramos de nos falar. Continuamos a ser melhores amigos, mas desde que souberam da gravidez o Sr. e a Sra. Reynolds resolveram que a culpa de tudo era minha, a gravidez, as discussões, o acidente, era a morte de mais uma mulher que eu amava para a minha conta.

  Então quando ela se machucou e a gravidez se tornou de risco, aparentemente a culpa era toda minha, por que como o Sr. Reynolds disse, se ela não tivesse ficado grávida em primeiro lugar, nada disso tinha acontecido. Mas era nessas horas que Lucy ficava de pé com sua força de vontade avassaladora que levava tudo consigo e dizia que era sua vida, seu bebê e era ela quem decidia. Ela me disse um milhão de vezes que a culpa não era minha, nem de ninguém, mas ainda hoje é difícil de acreditar.

  - Ai! – exclamei quando Tommy mordeu meu dedo com seus dois dentinhos a fim de chamar minha atenção. – Ok, já vamos comer, não precisa devorar o papai.

  Como de costume saímos atrasados, desde que Tommy chegou a minha vida ela estava uma bagunça, era eu e ele, nós dois e mais ninguém, então era complicado dar conta de tudo. Faculdade, trabalho, filho, contas para pagar e se não fosse a ajuda da minha vizinha, a Sra. Miller, uma senhora de sorriso gentil que morava na casa em frente a minha e era muito amiga da minha avó, eu não saberia o que fazer. Ela cuidava de Tommy durante o dia pra mim, sem cobrar nada, mesmo que eu viesse insistindo há meses para que ela aceitasse alguma coisa. Ela sempre negava e dizia estar fazendo isso por mim e pelos meus avós. E quando ela não podia, eu pagava uma diária na creche do bairro que eu não consegui colocar Tommy por que meu orçamento não permitia.

  - Olá meu amor – a Sra. Miller sorriu ao nos ver, Tommy se jogou em seus braços animado. Eu e essa senhora éramos todo o mundo dele. – Como você está hoje, Alex?

  - Bem e atrasado como sempre. Volto à noite, se precisar de alguma coisa me liga. Tchau, Tommy, papai te ama.

  - Sim, sim, eu já sei, vá para a sua aula e não se preocupe. Dá tchau para o papai, Tommy – ela me expulsou divertida ajudando o bebê a acenar e dei um último beijo em Tommy antes de ir em direção à garagem de casa e pegar minha moto.

  Dei partida sentindo o vento no rosto. Eu amava a sensação. A moto tinha sido a primeira coisa que comprei com meu dinheiro, há cinco anos, e isso só foi possível depois de eu economizar cada centavo que eu ganhava. Vovô me ajudou a concertá-la, ele era um mecânico e um marceneiro e tanto e me ensinou muito, foi graças a ele que eu conheci o amor por construir e consertar coisas. No fim querer me formar em engenharia civil não foi exatamente uma surpresa, e a melhor parte era que Lucy fazia arquitetura o que sempre nos rendia ótimas discussões.

  Forcei-me a não pensar nela, não por que eu não gostasse das lembranças, eu as amava como amava Lucy, era simplesmente por que cada vez que eu falava dela no passado isso me lembrava que ela não estava mais aqui e eu estava sozinho. Como estava quando criança até meus avós me adotarem, por assim dizer, eles foram a única família que tive, eles e Lucy e agora não tinha mais ninguém além de Tommy. Livrei-me desses pensamentos assim que estacionei a moto no estacionamento da faculdade, ao lado de um jeep azul antigo e muito mal estacionado. Mas como era a única vaga tinha que ser isso mesmo. O ruim de chegar tarde à faculdade não era nem perder o início da aula, era achar vaga no estacionamento lotado.

  O problema de vir à faculdade de moto era ter que carregar o capacete por aí, mas como eu não podia me dar ao luxo de perdê-lo ou ser roubado não tinha muita escolha. Estava caminhando pelo pátio em direção ao prédio da minha primeira aula e escutei a risada alta da princesa do campus, Anna Laura Whitmore, e ela estava com o seu grupinho de ouro. Pelo menos era assim que todo mundo os chamavam, os gêmeos Whitmore, o primo deles Matthew White e a amiga dela, Manuella Campbell. Você não precisava andar muito para ouvir alguém falando deles, fosse pelo dinheiro, ou a beleza ou qualquer outro assunto que pudessem encontrar.

  Os quatro viviam num mundinho perfeito só deles e não deixavam ninguém se aproximar, pelo menos eu nunca tinha visto alguém tentar chegar perto de qualquer um deles. Era irritante, mas eu entendia a sensação, Lucy brincava que eles eram tão ricos e bonitos que intimidava, ainda acho que ela tinha razão. Vi Anna Laura gesticular para a amiga e piscar os enormes olhos verdes, se equilibrando sobre os enormes saltos ela parecia uma modelo perfeita, o cachorro da faculdade se aproximou dela e eu a ouvi dar um gritinho e se afastar com nojo e todo o encanto sumiu.

  A garota ruiva com ela riu, e os garotos fizeram carinho no cachorro enquanto Anna Laura seguida por Manuella ia em direção a entrada do prédio a nossa frente, ambas em seus saltos atravessando a multidão com tanta confiança que as pessoas se afastavam para deixá-las passar. No fim eles só eram um bando de riquinhos mimados e cheios da grana demais para se importarem com mais alguém. Quando os outros dois saíram fui até Max, o cachorro da faculdade, nós o chamávamos assim por que ele vivia pelo campus, mas não era de ninguém então todos cuidávamos dele, alunos, professores e funcionários.

  - Na próxima te trago alguma coisa garoto – disse a ele depois de lhe fazer carinho e ganhar uma lambida na mão como resposta. – Pode me cobrar, mas agora já vou, estou ainda mais atrasado. E não ligue para a princesinha, Ok?

  Quando cheguei à minha sala a aula já estava acontecendo, o professor me olhou com curiosidade e eu me limitei a pedir licença e ir me sentar. Eu gostava das aulas e do curso, mas desde Tommy, metade da minha atenção sempre estava no celular para o caso de acontecer alguma coisa. Mas felizmente eu consegui ter todas as minhas aulas de forma tranquila. Só que com toda a minha sorte é claro que eu receberia uma mensagem do meu chefe me pedindo para chegar mais cedo ao trabalho.

  Eu trabalhava em uma livraria desde a minha última demissão há vários meses atrás. Eu gostava, o salário era bom, só meus horários que às vezes conseguiam ser uma bagunça, antes isso não me importava, não havia ninguém me esperando em casa mesmo, mas agora era diferente. Trabalhar até tarde, dobrar turnos ou cobrir algum colega eram coisas que me ajudariam a ter um dinheiro extra, mas também eram coisas que eu não podia mais fazer por causa de Tommy.

  Dave, o meu chefe, tinha pedido que eu chegasse uma hora antes. Olhei para o relógio do celular, isso significaria perder parte da minha última aula, mas também significava dinheiro extra, por fim disse que iria. Estava voltando para a sala quando virei o corredor e alguém, literalmente, deu de cara comigo. A única coisa que consegui registrar, depois de segurá-la por um braço era como ela tinha um cheiro doce que me lembrava à torta de frutas vermelhas da minha avó.

  Quando a garota levantou os olhos resmungando e massageando o nariz, eu fiquei surpreso com o quão verdes eles eram. Seu rosto delicado estava retorcido pela confusão e a dor.

  - Você pode me soltar? – foram as palavras de Anna Laura Whitmore pra mim e eu o fiz me afastando.

  - De nada por não deixá-la desabar no chão. Você devia olhar por onde anda.

  - Mas eu agradeci! Você que não ouviu – ela respondeu me olhando feio. A amiga ruiva dela, Manuella, olha de mim apara Anna Laura parecendo divertida. – E talvez você também devesse olhar.

  - Foi você quem esbarrou em mim, mas tudo bem, não gaste sua educação comigo, Princesa – disse e continuei meu caminho, mas não sem antes ouvi-la gritar.

  - Não me chama de princesa seu idiota!

  Sorri divertido, eu fiz a princesa perder a compostura? Talvez meu dia tenha começado a ficar melhor. Terminei de assistir minhas aulas e no meio da última implorei ao professor pela presença alegando ser uma emergência e sai mais cedo. Com os corredores vazios dessa vez não tive nenhum acidente com nenhuma princesa distraída.

  Quando alcancei minha moto escutei o jeep funcionando, o motorista tinha resolvido sair mais cedo também e tentava manobrar o carro, mas parecia muito longe de conseguir sair de onde estava, entre a minha moto e uma caminhonete 4x4 que devia custar mais que a minha casa. Minha ideia era esperar o jeep sair e depois ir, só que depois de cinco minutos e nenhum avanço por parte do motorista eu estava prestes a oferecer ajuda, afinal precisava ir, mas não deu tempo, por que numa guinada brusca para trás eu vi quase que em câmera lenta a traseira do jeep acertar minha moto, derrubá-la e continuar até estar praticamente em cima dela para só então parar com um barulho alto.

  - Merda, merda, merda, merda! – uma voz de mulher exclamou e a motorista colocou a cabeça para fora da janela e olhou para trás, quando um par de olhos verdes me encarou eu não acreditei.

  - Você!? – perguntei a Anna Laura Whitmore, duas vezes em um dia? Sério universo? E eu achando que podia ser uma segunda-feira tranquila, erro meu.

  - Isso é tudo culpa da Manu e desses malditos saltos! – ela ainda reclamava quando saiu do jeep e eu notei que agora estava descalça. Anna Laura olhou de mim para a moto, depois de volta para mim. Ela sorriu como uma criança pega pelo pai em uma travessura, o mesmo sorriso que Lucy me dava às vezes, mas nela era diferente, me fazia reparar na covinha que tinha na bochecha direita. – Eu vou pagar isso, eu juro!

  - Com certeza vai, eu preciso dessa moto para ir ao trabalho. Não que você saiba o que é – comentei e ela cruzou os braços abaixo dos seios chamando atenção para o seu decote, eu tive que desviar o olhar, ela então arqueou uma sobrancelha.

  - Sinto muito Sr. Bad Boy, mas eu sei o que é trabalho e eu estou atrasada para o meu. Então não venha de ironia pra cima de mim, Ok? Eu sou só uma péssima motorista e descobri que não dá pra dirigir com saltos. Não que você ligue, né? Quer dizer eu nem devia estar te falando nada disso eu, é... vou calar a boca – ela se interrompeu e eu não consegui deixar de sorrir, a garota tinha debochado de mim, me ofendido e continuado a tagarelar, sem nunca perder a pose.

  - Certo então, Princesa, você vai tirar o seu carro de cima da minha moto? Ou eu mesmo vou ter que puxá-la daí? – perguntei sem conseguir me conter e ela me olhou feio como tinha feito no corredor. Eu não sabia de quem ela gostava menos, de mim ou do apelido.

  - Pode ficar a vontade e começar a puxar, Sr. Bad Boy – ela respondeu tão debochada quanto eu me dando as costas e voltando ao jeep, ela se debruçou sobre o banco e eu precisei de um esforço descomunal para encarar a roda amassada da moto e não as pernas da garota a minha frente apertadas numa saia justa demais na minha opinião. Ela fazia isso de propósito? - Por que o Blu provavelmente não vai a lugar nenhum.

  - Blu? – foi tudo o que registrei quando ela voltou com o celular na mão.

  - Blu, meu carro – ela bateu na lateral do jeep. – Ele é meio temperamental e tava dando problema esses dias. Vou ligar para o mecânico para ele e para o guincho para a sua moto.

  - E quanto tempo isso vai demorar?

  Ela suspirou colocando uma mecha do cabelo escuro atrás da orelha.

  - Uma hora talvez. Saco! Eu já devia ter saído! – resmungou começando a digitar no celular. Quando ela o colocou na orelha eu já estava para ir andando a pé para o trabalho.

  Uma hora? Eu não tinha uma hora, não tinha nem meia hora já que tinha que chegar mais cedo.

  - Você tem alguma ferramenta? – perguntei e ela me olhou sem entender depois de desligar o celular. – Dentro do carro?

  - Tenho, papai e Drew me fazem andar com essa tralha, mas não tenho ideia de pra quê serve – ela responde gesticulando e sorrio, tem horas que tenho certeza que Anna Laura Whitmore é uma patricinha mimada, tem outras como agora, que não tenho certeza de mais nada.

  - Você já ligou para o mecânico?

  - Não, foi para o guincho, é perto daqui, em uns 20min. chegam, pelo menos foi o que me disseram. Vou ligar para o mecânico agora, eles provavelmente vão demorar mais e...

  - Não precisa - a interrompo tirando a mochila das costas e depois a jaqueta. – Eu conserto seu carro se isso tirar ele de cima da minha moto. Afinal, precisamos esperar o guincho de qualquer forma.

  - Você, Sr. Bad Boy!? – ela parece não acreditar e reviro os olhos diante do apelido ridículo.

  - Isso mesmo, eu. E você pode parar de me chamar assim? Eu tenho um nome.

  - Eu também, mas você insiste em me chamar de Princesa – ela devolve abaixando a capota do jeep para pegar a caixa de ferramentas.

  Eu a deixo na tarefa por exatos dois segundos até ir até lá e pagar a caixa de suas mãos. Ela não diz nada quando me afasto e vou até a frente do carro. Antes de começar mando uma mensagem para Dave dizendo que tive um acidente e não vou poder ir mais cedo, só dizendo que quase morri para ele não ficar me odiando pela próxima semana.

  Abro o capô e está saindo fumaça do motor, apesar do modelo antigo o jeep está totalmente restaurado, se o problema no carro não é por ser antigo então me resta descobrir o que é. Estou trabalhando em silêncio, mas sinto os olhos da garota em mim. Levanto o rosto e lá está ela de braços cruzados e cenho franzido me encarando, ela não desvia o olhar quando a encaro, pelo contrário, fica ali e sustenta meu olhar. Ela só quebra a nossa pequena conexão quando seu celular toca e ela se afasta para atender.

  - Guardei suas coisas dentro co carro – ela avisa quando volta a eu levanto os olhos da mangueira do carburador para encará-la. – Estavam no chão e ninguém estava vigiando e... Você entendeu!

  - Entendi – sorrio divertido antes de voltar minha atenção para o carro. – Obrigado.

  - O que? Acho que eu não ouvi direito – ela debocha e eu reviro os olhos.

  - Não vou repetir, mesmo por que você ainda atropelou minha moto.

  - Veja pelo lado bom, você não estava nela – ela diz e a olho sem acreditar, ela está sorrindo divertida com suas covinhas a mostra e realmente não é nenhuma surpresa ela e Manuella serem o sonho de praticamente todos os caras da faculdade.

  - Eu acharia melhor você não atropelar minha moto de jeito nenhum, não sou como você, não tenho dinheiro para arrumá-la sempre quiser.

  - Você é uma dessas pessoas, não é? – ela pergunta retoricamente, dessa vez não há deboche, nem divertimento, ela parece quase triste na verdade. – As que destilam ódio gratuito a mim e minha família por que nós temos dinheiro. Sinto muito Sr. Bad Boy por meus pais terem dinheiro. Mas eles têm, eu não. O carro foi um presente, eu não pude dizer não. E desde que eu o ganhei venho cuidando dele com o meu dinheiro e eu sou só uma estagiária. E não, eu não disse isso para mostrar como minha vida também é difícil, por que ela não é. Só disse por que eu aprendi com a minha mãe que a gente não deve julgar ninguém sem antes conhecer essa pessoa.

  Depois disso eu não tinha mais nada pra falar, nem mesmo se eu quisesse, por que vovó havia me ensinado o mesmo e eu, na primeira oportunidade, tinha julgado alguém pela aparência. Anna Laura por fim deu um meio sorriso e foi se sentar no banco do motorista e eu voltei a me concentrar no motor do carro. Se Lucy pudesse me ver agora eu podia jurar que ela estava se acabando de rir, afinal eu tinha recebido uma lição de moral de uma garota que havia dado ré tão mal que tinha atropelado minha moto.

  O silêncio de Anna Laura durou algo em torno de cinco minutos, por que depois desse tempo ela apareceu novamente, parou exatamente onde estava antes e voltou a me encarar. Eu levantei os olhos e lá estava ela, mordendo o lábio e me olhando com seus incríveis olhos verdes. Agora seus cabelos estavam presos num rabo de cavalo.

  - Você vai me fazer implorar? – ela perguntou e fiquei sem entender.

  - Implorar o quê?

  - O seu nome. Você ainda não me disse, eu vou ter mesmo que implorar Sr. Bad Boy?

  Eu acabei rindo, essa garota não parecia em nada com a imagem que eu tinha dela. Descalça, com os cabelos presos e sem o casaco de aparência cara. Ela ainda me olhava à espera de uma resposta, mas vi que não olhava mais nos meus olhos, ela parecia encarar alguma coisa um pouco mais abaixo, quando viu que eu a olhava desviou os olhos.

  - Se você for parar de me chamar de Sr. Bad Boy eu falo.

  - Não prometo nada.

  - Alex Harper – disse estendendo a mão e no segundo seguinte me arrependi. Minha mão estava toda suja. Mas para minha surpresa ela a apertou e sorriu. Suas mãos eram delicadas e firmes.

  - Anna Laura Whitmore.

  Quando soltamos as mãos Anna Laura não parecia nenhum pouco incomodada por ter sujado sua mão. Ela só se debruçou um pouco mais sobre o motor do carro e depois me olhou.

  - Então, o qual o problema?

  - Seu radiador está furado. O que significa que você não ia chegar ao seu destino nem se quisesse muito mesmo.

  - Poxa, Blu! Eu confiei em você – ela suspira ainda debruçada ali ao meu lado sujando a camisa cor de rosa que usa sem parecer se importar com isso. – Então sem chance de eu sair daqui com ele? – ela me olha, tão perto que me desconcerta. Anna Laura parece se dar conta de nossa proximidade e nos afastamos ao mesmo tempo.

  - Sem chance, você precisa ir a um mecânico para trocar o radiador.

  - Ok, muito obrigada – ela diz desviando o olhar e eu também não sei mais para onde olhar.

  Felizmente o caminhão do guincho aparece nessa hora e eu estou guardando a caixa de ferramentas enquanto ela fala com o homem de meia idade que dirige o caminhão. Eles chegam a um acordo e ele começa os preparativos para tirar o jeep dali. Eu e a princesa do campus acompanhamos em silêncio, todo o processo e quando acaba e ele já tem minha moto e o carro de Anna Laura preso ao seu caminhão e por fim se despede. Ela já disse a ele para onde levar os dois então o homem só acena antes de sair do estacionamento.

  - É isso então, aqui está o meu número, você... – Anna Laura para o meio da frase e franze o cenho. – É mais fácil você me dar o seu, ou não? Quer dizer, fui eu quem mandou para o concerto, quando ficar pronto eu te ligo e você vai buscar sua moto. Pode ser?

   - Como você quiser, Princesa – digo apenas para provocá-la e a vejo fechando a cara.

  - Já disse para não me chamar assim, Sr. Bad Boy, agora anota seu número aí – ela me entrega o próprio celular e essa cena toda é tão surreal que eu ainda estou processando.

  Eu coloco o meu numero no celular da garota mais popular do campus que agora não me lembra em nada a garota que vi hoje de manhã. As últimas aulas devem ter acabado por que as pessoas começam a vir em direção ao estacionamento, nosso mundo particular em que estivemos na última hora se desfaz e quando entrego o celular caro à garota me lembro que somos de mundos completamente diferentes.

  - Já que eu esqueci os sapatos dentro do Blu eu vou ser obrigada a pegar uma carona com o meu irmão, tchau, Alex! – ela acena e antes que eu possa dizer qualquer coisa está desfilando pelo estacionamento parecendo incrivelmente bem, como só Anna Laura Whitmore poderia parecer mesmo sem os sapatos, mas ninguém está preocupada com seus pés quando tem os incríveis olhos verdes para admirar.

  Eu levo mais tempo do que devia para me lembrar que já estava atrasado para o trabalho antes de toda essa confusão, agora então, vou ter sorte se não ouvir uma bronca enorme de Dave quando chegar. Só percebo que minha jaqueta ficou no carro da Princesa quando me junto a um pessoal da faculdade para esperar pelo ônibus, ela me devolveu o capacete e a mochila, mas a jaqueta ficou. Não devia, mas sorrio, no fim, talvez ela não seja a princesa que todos falam afinal.

  Livro-me desses pensamentos quando entro no ônibus lotado, não posso me dar ao luxo de me preocupar com Anna Laura Whitmore, eu tenho problemas reais com os quais lidar e uma Princesa cheia da grana não é um deles, mesmo que ela não seja mimada ou arrogante e tenha um sorriso lindo, ainda assim, estamos em mundos completamente diferentes.

  Com isso em mente, coloco meus fones de ouvido e vou o resto do caminho rezando para ainda ter um emprego a minha espera e nada mais acontecer, por que hoje eu já tive azar pela semana inteira.  


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado do capítulo, de conhecer o Alex, de ter visto a primeira impressão dele com a Analu e vocês sabem que sou ansiosa né? Não conseguiria esperar pra postar esse capítulo já que terminei ele e, também não conseguia adiar esse encontro por que gosto mesmo é da confusão kkkk
Me digam, por favor, o que acharam do capítulo!
Beijocas e até, Lelly ♥



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