Surpresas do Amor escrita por Lelly Everllark


Capítulo 1
Prólogo.


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores!
Então, eu nem devia estar aqui, mas vocês sabem que sou ansiosa, então cá está o prólogo dessa história que ainda promete muita coisa.
Espero que gostem desse nojo projeto e BOA LEITURA!



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O zumbido das pessoas andando pra lá e pra cá, o cheiro de álcool e produtos de limpeza, a claridade e o branco ofuscante das paredes, tudo, absolutamente tudo ali me irritava e deixa ainda mais ansioso e apavorado.

  Eu odiava hospitais, por que depois de cinco anos indo e vindo deles com meus avós eu finalmente fiquei sozinho. Nenhum médico ou remédio conseguiu salvar minha avó, e vovô é claro, não conseguia viver sem ela, então em menos de uma semana eu perdi os dois, a única família que tinha, os únicos pais que conheci.

  Eu já havia me sentado e levantado mil vezes das desconfortáveis cadeiras da sala de espera, já havia andado por todo o hall de entrada e sempre que algum médico aparecia e passava direto por mim eu tinha vontade de socá-lo, eu só queria saber como ela estava, como estava minha Lucy. Ainda era muito cedo para o bebê nascer então o que eles tanto faziam com ela lá dentro?

  - Familiares de Lucy Reynolds? - um médico perguntou e eu os pais de Lucy ficamos de pé.

  - Aqui - disse o Sr. Reynolds.

  - Ela teve um sangramento, mas conseguimos estancá-lo, porém é melhor e mais seguro fazer o parto agora, por que o bebê precisa de cuidados assim como a mãe.

  - Mas não é muito cedo? - a Sra. Reynolds perguntou antes que eu pudesse fazer o mesmo. Eu estava em pânico, não podia perdê-la não podia perder minha melhor amiga. Não podia perder nenhum deles.

  - É sim, mas não temos escolha, se não tirarmos o bebê agora o quadro dela pode piorar. Por isso vamos fazer uma cesárea de emergência.

  - Tudo bem então, eu vou com você, preciso estar com a minha filha.

  - Desculpe senhora, mas apenas o pai é permitido na sala de parto.

  - Eu vou - me apressei em dizer e o médico assentiu.

  - Por aqui - o homem de branco me chamou e os pais de Lucy me olharam feio, mas eu tentei sortir antes de seguir para a sala de parto.

  Há exatos seis meses eu tinha deixado de ser o melhor amigo de infância de Lucy para me tornar o cara, que, de acordo com eles, estava tentando acabar com seu futuro. Seus pais eram contra a gravidez e nunca esconderam isso. Eles não queriam o bebê tanto quanto não queriam que a filha perdesse um semestre ou mais de aulas por causa dele.

  Quando cheguei à sala de parto, depois de colocar a roupa apropriada, eu a vi. Os cabelos loiros estavam presos em uma touca e o rosto claro parecia abatido, mas Lucy sorriu ao me ver, ela me estendeu a mão e fui até ela.

  - Você veio - disse e revirei os olhos.

  - Claro que vim, é meu filho também, esqueceu?

  - Nunca. Alex se eu...

  - Hei! Não começa - pedi a interrompendo e apertando sua mão com mais força. Sempre que Lucy começava com esse assunto eu a interrompia. Eu aceitava qualquer coisa, o ódio dos seus pais, a indiferença do meu, mas eu não conseguia imaginar ficar sem ela. Isso não, não quando estamos na vida um do outro desde bem, sempre. - Você não vai morrer - proferi como um mantra.

  - Mas se eu...

  - Lucy, por favor - pedi desesperado, ela deve ter visto minha expressão, por que suspirou e sorriu, mesmo que o sorriso não chegasse aos olhos.

  - O procedimento vai ser simples, vamos fazer um corte e retirar o bebê, certo Lucy? - a médica que a vinha acompanhando disse e minha amiga assentiu. - A anestesia já deve ter surtido efeito. Agora não vai demorar para você ter seu filho nos braços. Já escolheram o nome?

  - Ainda não - digo sorrindo ao me lembrar do assunto. Até hoje não conseguimos chegar a um acordo.

  - Vai ser Alex como o pai - Lucy disse em meio a um acesso de tosse.

  - Não mesmo - sorri. - E você não se esforce.

  Eu achei que desmaiaria, Lucy apostou nisso, mas não foi o que aconteceu. Quando a doutora retirou o pequeno ser coberto de sangue eu não soube o que fazer, nem sentir, só fiquei lá segurando a mão de Lucy vendo-a chorar. Eu estava apaixonado.

  - Aqui - a doutora estendeu nosso filho à Lucy. Ela o pegou sem dificuldade depois de soltar minha mão. Seu olhar era puro amor.

  - Ele é perfeito, olha Alex - ela me sorriu. Nesse momento eu realmente achei que tudo ia ficar bem, mas não foi o que aconteceu. - Vamos chamá-lo de Thomas, como seu avô. Nosso Tommy. O que acha? Thomas Alexander Harper.

  - É perfeito - sorri entre divertido e apaixonado, era mais fácil ceder a Lucy que lutar com ela. Se ela queria que o bebê tivesse meu nome, ele teria e fim de papo.

  Ela sorriu mais uma vez e a doutora estava prestes a falar alguma coisa quando as máquinas na sala começaram a apitar, Lucy ficou pálida e parecia com dificuldades de respirar, uma enfermeira pegou Tommy e minha amiga se desesperou.

  - Meu filho... Meu filho... Alex me prometa! Só me prometa...

  - Por favor, Lucy se acalme - pedi, mas ela me ignorou.

  - Apenas me prometa que irá cuidar dele se eu morrer. Meus pais não o farão, Tommy não vai ter mais ninguém, só você. Por favor, Alex, me prometa! Alex! - ela exclamou em meio a um acesso de tosse, o rosto abatido e os olhos tristes não combinavam com ela. - Por favor... - ela engasgou.

  - Vamos Alex, saia daqui - a doutora pediu me tirando gentilmente do meu lugar, mas o aperto firme da mão de Lucy me manteve ali, ela não tinha forças para falar, mas seus olhos queimavam a espera de uma resposta. Mas eu não queria dá-la, por que era quase como admitir que minha amiga estava morrendo. Seus olhos agora me suplicavam e o aperto estava afrouxando, a doutora disse mais alguma coisa, mas não ouvi.

  - Eu prometo - disse por fim com a voz trêmula e os olhos marejados. - Eu vou cuidar dele. Eu prometo.

  Nessa hora a doutora já estava impaciente, ela apenas pediu que algum enfermeiro me arrastasse dali, mesmo que eu não estivesse mais sentindo nada, entorpecido pelo choque de sentir o aparto da mão de Lucy ir se afrouxando, entorpecido pelo barulho irritante da maquina indicando que seu coração havia parado de bater, entorpecido por ver seus olhos sem vida me encarando, entorpecido por ter um vislumbre dos médicos tentando reanimá-la antes de ser expulso da sala de parto.

  Eu não consegui ir muito longe, minhas pernas não me obedeciam, eu só escorreguei até o chão ali mesmo no corredor das salas de cirurgia. Não havia ninguém ali para me mandar levantar, pensar ou sentir então não fiz nenhum deles. Só encarei a parede branca até a doutora sair da sala de parto muitos minutos depois, ou talvez nem tenham sido tantos assim. Só eu que não conseguia mais acompanhar nada, a imagem dos olhos sem vida de Lucy me encarando ainda estavam cravados na minha mente.

  - Alex! Ai meu Deus o que você está fazendo aqui? Por que não foi para a sala de espera eu...

  - Como ela está, doutora? - a interrompi ficando de pé. - Por favor, me diga que ela está bem, só me diz que eu vou ver a Lucy outra vez, me diz que vou ouvir sua voz! Por favor - implorei sentindo as lágrimas escorrerem.

  - Alex, eu... Eu sinto muito, mas Lucy não sobreviveu. O sangramento recomeçou e não conseguimos estancá-lo. Eu sinto muito - ela ainda falava quando desabei no chão outra vez, ali mesmo em frente à médica.

  Eu não me importava, tinha perdido a última família que me restava. Estava sozinho.

  - Não... - murmurei. - Não... Não...

  - Alex você precisa vir comigo, não pode ficar aí. Vamos, por favor. 

  - Só me deixa aqui, por favor.

  - Eu sinto muito, mas não posso - ela indicou a porta e um segurança nos encarava, talvez eu devesse esperar que ele viesse me buscar, assim eu descontaria minha raiva em alguém. 

  Mas não o fiz, segui a doutora, não sei como minhas pernas letárgicas me obedeceram, porém consegui chegar à sala de espera, não foi preciso nem mesmo uma palavra para que a Sra. Reynolds caísse no choro, talvez minha expressão tenha dito, ou a da doutora, mas eles entenderam. O olhar de ódio do Sr. Reynolds dizia com todas as letras que a culpa era minha. E talvez fosse mesmo, uma parte dela pelo menos.

  Eu não queria ficar ali e ouvir mais uma vez que Lucy tinha morrido, por isso só me arrastei pelo corredor ainda com a roupa da sala de cirurgia atraindo olhares curiosos, principalmente para o meu rosto manchado pelas lágrimas. Não me importei, há muito tinha parado de me importar com a opinião dos outros a meu respeito.

  Quando parei num beco sem saída do hospital, num pequeno hall, uma enfermeira se aproximou de mim parecendo preocupada.

  - O senhor está bem? Quer se sentar? Talvez um copo de água? - ela ofereceu e neguei, não queria nada, nem ver ninguém, nem sentir nada. - Se precisar de ajuda eu estou ligo ali - ela apontou para o pequeno balcão no hall e seguiu até ele.

  Eu estava prestes a voltar por onde tinha vindo quando o choro agudo de um bebê me tirou do torpor. Virei-me tão rápido que quase caí, o sorriso de Lucy me veio à mente no mesmo instante.

  “Ele é perfeito”.

  “Vamos chamá-lo de Thomas”.

  “Apenas me prometa que irá cuidar dele se eu morrer”.

  Eu a havia prometido, não podia simplesmente me deixar consumir pela tristeza. Não podia ser que nem meu pai. Isso eu me recusava.

  - Onde é o berçário? - perguntei a enfermeira a assustando. Ela sorriu depois de se recuperar.

  - No próximo corredor à esquerda. O senhor é um pai? - ela perguntou olhando a roupa cirúrgica que eu usava. Assenti. - Então dê o seu nome e o da mãe que vão deixá-lo entrar.

  - Obrigado.

  Segui até lá sem ter certeza do que procurava, talvez um motivo para sorrir ou quem sabe algo que tirasse esse vazio do meu peito, talvez eu buscasse apenas sentir algo que não fosse dor.

  Não foi difícil ouvir o choro dos bebês, não foi difícil encontrá-los através da parede de vidro onde se podia ver dezenas deles em seus berços. Eu me aproximei e a médica perguntou meu nome e pediu que eu me trocasse antes que pudesse vê-lo. Coloquei outra dessas roupas cirúrgicas sobre as minhas e entrei. Ela indicou Thomas e não foi difícil encontrá-lo, só havia ele e mais uma garotinha dentro de incubadoras. Ambos dormiam tranquilos, a enfermeira me garantiu que ele estava ali apenas por que era prematuro, mas que não havia nada de errado com meu filho.

  O olhei, o olhei realmente pela primeira vez enquanto ele dormia, a pele clara e os poucos fios loiros provavam que ele era uma pequena cópia de Lucy. Um presente que minha melhor amiga havia me deixado antes de partir, uma família para que eu não ficasse só. Lucy o amava incondicionalmente, o escolheu mesmo quando a médica disse que com a gravidez de risco isso pudesse ser perigoso pra ela, o escolheu quando não ouviu seus pais e interrompeu a gravidez como eles queriam que ela tivesse feito e o escolheu mais uma vez quando foi forte até o fim apenas para me fazer prometer que o amaria e cuidaria dele quando ela mesma não o podia mais fazer.

  Olhei mais uma vez para o bebê que tinha se tornado todo o meu mundo em apenas um instante. Eu o amaria e cuidaria dele com a minha vida, por que Lucy havia dado a dela por ele. Ela o amava e isso por si só já seria suficiente para amá-lo também, mas eu o amava simplesmente por ele ser meu filho e por existir, o amava por que ele sempre me lembraria dela, da minha melhor amiga, de Lucy.

  - Amo você campeão, e vou cuidar de você pra sempre, por que a mamãe não vai poder fazer isso aqui na terra. Mas ela sempre vai olhá-lo do céu. Lembre-se disso.

  Eu não sabia como seria daqui pra frente, não sabia como faria isso, como cuidaria de um bebê se eu mal cuidava de mim, mas eu ia fazer, por que precisava, por que queria e por que Lucy havia me confiado essa missão e eu não iria decepcioná-la.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram?
Quero opiniões!
Beijocas e até, Lelly ♥



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