Surpresas do Amor escrita por Lelly Everllark


Capítulo 12
Demissão, discussões e babá.


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores!
Voltei, mas dessa vez quem me acompanha no insta sabia que eu não ia demorar kkkk
E, como pediram, cá está esse capítulo ENORME todo de uma vez! Espero que gostem ♥
BOA LEITURA :3



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  Analu

 

  Meu chefe parou em frente a minha mesa pelo que me pareceu a milésima vez hoje. E eu sabia o que ele ia dizer antes mesmo de abrir a boca: meu nome.

  - Anna Laura! - exclamou como se estivéssemos muito mais longe do que um passo de distância. Ele jogou um maço de folhas sobre a minha minúscula mesa. - Revise isso, o setor de RH achou vários erros.

  - Boa noite para o senhor também, Sr. Calven - sorri irônica pegando os papéis. Li e resisti ao impulso de revirar os olhos antes de olhar para o senhor de meia idade carrancudo a minha frente. - Mas esse é o contrato dos novos estagiários, eu o revisei semana passada e deixei na sua mesa hoje de manhã uma cópia corrigida.

  A cara feia do homem pareceu ficar ainda pior.

  - Não, não deixou.

  - Sim, deixei - insisti. Eu tinha passado a semana passada trabalhando tanto o quanto pude para não pensar em Alex ou no nosso beijo, ou ainda no fato de que ele aparentemente está fugindo de mim na faculdade.

  - Se eu disse que não deixou, não deixou. Eu preciso dele para hoje, o Sr. Whitmore pediu.

  O Sr. Calven nunca se referia ao papai como meu pai. Não pra mim. Todos falavam “Seu pai” ou algo assim, mas ele não. O fato de que eu era filha do papai parecia quase ofendê-lo.

  - Pois então encontre o contrato e o entregue ao Sr. Whitmore por que eu já fiz a minha parte - disse ficando de pé e vi o homem a minha frente ficar cada vez mais vermelho.

  - Você está questionando uma ordem minha? - ele pergunta entre dentes.

  - Não, eu fiz exatamente o que o senhor mandou e gastei todo o meu fim de semana nisso, por isso é que me recuso a refazer um trabalho que já fiz e fiz bem feito. Eu não tenho a cópia do arquivo aqui comigo por isso que peço ao senhor para encontrar aquela que deixei em sua mesa hoje de manhã.

  - Pois bem - ele respondeu, deu meia volta e saiu porta a fora sem olhar para trás. Respirei fundo e me sentei outra vez por que eu tinha mais o que fazer.

  Minha relação com o Sr. Calven era complicada para dizer o mínimo, ele me odiava e a recíproca era verdadeira, e isso tudo, simplesmente por que eu sou filha do meu pai, como se eu tivesse culpa disso. Acho que a perspectiva de que eu herdaria tudo isso e talvez chegasse a ser chefe dele o ofendia. O Sr. Calven era o tipo de homem que vivia no século passado e achava que uma mulher não podia estar à frente de uma empresa. Na verdade ele parecia achar que eu, uma mulher, não conseguia fazer nada que fosse.

  Eu voltei ao trabalho e demorou exatos doze minutos para o telefone em minha mesa tocar. Ninguém me ligava, por isso o barulho me surpreendeu.

  - Alô? - atendi sem saber o que esperar.

  - Analu venha até a minha sala, agora - a voz de papai ecoou do outro lado da linha e não era um pedido.

  - Aconteceu alguma coisa?

  - Apenas venha, por favor. Estou esperando por você - disse e desligou logo em seguida.

  Como eu não tinha ideia do que estava acontecendo, fiquei de pé, deixei meu trabalho pela metade e segui para o elevador. No meio do caminho vi o Sr. Calven chegando ao nosso andar, ele me deu um sorriso irônico e quase satisfeito. Aquilo me assustou.

  Entrei no elevador, acionei o botão e subi vendo o fluxo de pessoas entrando e saindo enquanto eu subia até o último andar. Quando alcancei as portas grandes que davam para a sala do meu pai, Kelsy me sorriu de sua mesa, eu não tinha nada contra a secretária do meu pai, mas mamãe ainda a achava insuportável. Era divertido para dizer a verdade.

  Quando cheguei à sala vi meu pai usando um dos seus muitos ternos sentado atrás da mesa de madeira escura. Seu escritório, de acordo com mamãe, já tinha sido mais sóbrio e com cores mais neutras, hoje tinha um tapete azul marinho no chão e quadros com fotos de família nas paredes, sem contar é claro, o enorme vaso de flores coloridas em um canto que, de acordo com ele, o lembravam da mamãe.

  - Aconteceu alguma coisa, papai? O senhor podia me liberar mais cedo, eu ia adorar – disse divertida vendo no relógio na parede que ainda não eram 18h.

  - Infelizmente não foi por isso que te chamei. E você sabe que só o chefe do seu setor que pode liberá-la.

  - Se dependesse do Sr. Calven eu trabalhava a noite toda. Aquele velho chato – resmunguei revirando os olhos, papai suspirou.

  - Eu sei que você não é muito fã do Sr. Calven.

  - Por que será, né? – pergunto irônica. – Aquele homem acha que eu só sirvo pra servir café e revisar os erros dele e depois ficar dizendo a todos que foi ele quem fez aquele trabalho bem feito.

  - Analu...

  - O quê? O senhor e todo mundo no meu andar sabe, mas ninguém fala a verdade por que ele é o meu chefe e eu, apesar de sua filha sou só a estagiaria, então é claro que o trabalho bem feito é dele. Mas por que o senhor me chamou aqui? Eu tenho que terminar a planilha que estou fazendo e talvez até tenha que redigir outro contrato até a hora se sair por que o Sr. Calven enfiou o que eu lhe entreguei no...

  - Analu! – papai exclamou ficando de pé e eu suspirei dando de ombros. – O Sr. Calven veio aqui pela segunda vez hoje me dizer que você o estava desrespeitando e talvez eu tenha começado a entender o motivo – ele me olhou arqueando uma sobrancelha e eu só sorri. – Analu, você não pode falar assim com ele, ele é o seu chefe.

  - E só por isso eu tenho que aceitar tudo calada? Ele é meu chefe, não meu dono. Papai ele fica me subestimando! Eu não vou abaixar a cabeça para um homem que me olha como se fosse superior a mim e não estou falando por ele ser meu chefe. Pergunte a alguns dos meninos do meu andar se eles são tratados daquele jeito. Eu sou a única estagiaria daquele andar e meu maior trabalho é arrumar o mesmo contrato duas vezes por que o Sr. Calven não se dá ao trabalho de ouvir as coisas que digo.

  - Analu também não é assim.

  - É sim e o senhor sabe disso. Aquele homem acha que só por que eu sou mulher não devia estar aqui estudando para me tornar a chefe. Ser uma secretária? Uma auxiliar? Servir café? Tudo bem. Agora mandar? Ele não aceita isso e não é o único. Eu já ouvi muitos comentários maldosos aos cochichos pelos corredores dizendo que devia ser um dos meus irmãos aqui, não eu.

  Cobri a boca quando percebi que falei demais, mas já era tarde. Eu vi quando a expressão de papai mudou de frustração para raiva. Pura e simples.

  - Onde você ouviu essas coisas e de quem, Analu?

  - Não importa, papai, é só fofoca de gente má. Eu não me importo, por que eu sei o que eu quero e vou fazer de tudo para conquistar isso. E não vai ser meu chefe chato ou fofoca de gentinha que vai me abalar – disse e vi sua expressão se suavizar até se tornar um meio sorriso.

  - Você e sua mãe são mesmo muito parecidas. Dois furacões prontos para destruir tudo em seu caminho com sua determinação.

  Dei de ombros.

  - Aprendi com Elisa Whitmore, não nego – digo e papai ri. – Mas e então, por que me chamou?

  - Lembra que disse que o Sr. Calven veio falar de sua insubordinação.

  - , e o que tem isso?

  - Bem, ele pediu, e não é a primeira vez, para demiti-la.

  - Como é?

  - Isso mesmo. Seu chefe disse que você é irresponsável, indisciplinada, não aceita ordens e além de tudo é um desastre – eu abri a boca algumas vezes, mas não consegui dizer nada. – Então é isso Srta. Whitmore, você está demitida.

  - O que!? – finalmente achei voz para gritar em choque. – Isso é brincadeira, certo? - vi papai sorrir e ele até abriu a boca para me responder, mas o telefone em sua mesa tocou naquela hora.

  Ele levantou um dedo pedindo um segundo e eu olhei ainda em choque ele começar a falar.

  - Sim sou eu. Como assim?

  - Papai! – rosnei entre dentes. “Um minuto”, fez com os lábios. Eu revirei os olhos impaciente depois de dez minutos. – Que seja, o senhor me demitiu, tchau!

  - Analu! – ele finalmente me olhou meio em pânico. – Volta aqui, eu...

  - O senhor está ocupado, eu já entendi – disse, me virei e comecei a andar.

  - Srta. Whitmore precisa de alguma coisa? Você não parece muito bem – Kelsy perguntou quando sai da sala. Eu sorri pra ela.

  - Talvez eu emprego novo, mas como isso acho que você não pode me ajudar. Então, obrigada, estou indo agora – me despedi e entrei no elevador e vi, antes das portas de metal se fecharem, papai me olhando com um misto de raiva e impaciência, sorri pra ele.

  Só passei em meu andar para buscar minha bolsa e desligar o computador que eu usava.

  - Vai a algum lugar? – o Sr. Calven perguntou quando eu estava indo outra vez em direção ao elevador.

  - Embora. O senhor conseguiu o que queria, e espero que consiga também algum assistente tão bom quanto eu para resolver todas as merdas que faz – disse para o choque do homem, sorri e sai dali sem dar a ele tempo de raciocinar e me responder. – Babaca – murmurei quando as portas de metal se fecharam e eu comecei a descer.

  Hoje era segunda-feira o que significava que a empresa estava vazia, haviam poucas pessoas no saguão de entrada quando o alcancei, principalmente a essa hora. Aqui virava uma confusão apenas no inicio e no fim do expediente, o que ainda levaria alguns minutos para começar a acontecer. Sai do prédio sentindo o ar fresco do inicio de noite e sorri. Eu estava mesmo precisando disso.

  Já haviam se passado duas semanas desde a festa de Matt e a única pessoa que não parecia ter sido afetada por aquela noite era Drew. Meu irmão ainda era o rei do campus com seu sorriso branco e perfeito. Ele é claro quis puxar o assunto do beijo no almoço do dia seguinte, mas lhe dei um chute na perna tão forte por debaixo da mesa que ele bateu o joelho no tampo dela.

  - Tudo bem? – mamãe perguntou e Drew gemeu, se pela perna, o joelho ou a ressaca eu não sei.

  - É Drew, está tudo bem? – rosnei entre dentes num aviso claro de “Abra a boca e eu mato você”.

  - Tudo, eu estou ótimo – ele respondeu de má vontade.

  - O que você ia dizer sobre a sua irmã? – papai perguntou interessado e Drew e me olhou feio de volta antes de negar com a cabeça.

  - Nada, apenas que ela se trancou no banheiro masculino com a Manu deixando muita gente na fila.

  - No banheiro masculino? Por quê? – papai perguntou e mamãe sorriu.

  - Isso me cheira a fofoca, pode falar – pediu fazendo todos rirem.

  Então contei a eles sobre o banheiro e o vestido, claro que deixei de fora a parte sobre Alex e o beijo, Drew não falou mais nada e eu o agradeci em silêncio, ele mostrou sua opinião sobre isso não falando mais comido durante o almoço. Eu não me importei.

  Depois disso não tocamos mais no assunto, nem da festa, nem do beijo, e meu gêmeo chato foi o único a sair ileso daquela noite. Matt ainda andava com ele, mas nosso primo parecia bem menos disposto a sorrisos ou mesmo festas ou garotas, na verdade ele estava bem carrancudo. E a responsável por isso era Manu e minha amiga sabia disso e estava adorando, ela e Will tinham mesmo se tornado bons amigos, mas a única pessoa que sabia disso era eu, para o resto das pessoas eles estavam ficando.

  E nem era difícil fingir, não quando eles tinham muito assunto, riam e almoçavam juntos, tinham abraços também, nada de beijos, mas minha amiga dizia não se importar, na verdade ela estava dando a maior força para o amigo falar com a tal garota de quem gostava. Era bom ver Manu feliz e animada então eu dava a maior força para esse rolo todo dela, mas já tinha decidido, secretamente claro, que se meu primo idiota não tomasse uma atitude logo eu mesma faria alguma coisa. Por que eu ainda achava que alguma coisa muito errada tinha acontecido com esses dois.

  E comigo é claro tinha a história toda com Alex e o beijo. Se aquele Bad Boy irritante já não saia dos meus pensamentos antes, como eu o tiraria agora? Era impossível. Já tinham duas semanas, mas eu ainda me lembrava com detalhes do beijo, de cada pequena parte dele. E se tinha uma coisa que eu queria, essa coisa era beijar Alex outra vez. Isso é claro, depois de termos uma boa conversa, ele se desculpar ou eu bater nele, o que vier primeiro, e então poderíamos repetir a dose.

  Eu só esperava que ele quisesse isso tanto quanto eu.

  O que eu não sabia se era o caso já que ele estava claramente me ignorando na faculdade. Ignorando-me não, fugindo de mim, por que não é possível que em duas semanas a gente não fosse se esbarrar mesmo que por acidente. Principalmente por que seus amigos e os meus acabaram virando bons amigos depois da festa de Matt, para desespero do meu primo, claro. Caleb e Drew já se conheciam e com Mason sendo meu amigo e de Manu não foi difícil de todos se enturmarem, principalmente com Manu e Will “ficando”, e, com isso em mente, eu sabia que Alex estava me evitando.

  Ok, talvez eu batesse nele primeiro quando o visse, depois nós iríamos para o tal diálogo, aquele idiota!

  Eu estava tão louca pensando em Alex que por um momento achei que estivesse imaginando coisas quando o vi do outro lado da rua. Mas quando ele soltou um palavrão e deu um empurrão na moto que quase caiu eu soube que era ele mesmo e que estava bem irritado, na verdade, transtornado era uma descrição melhor. Atravessei a rua quase correndo e desviando de um ciclista que gritou comigo e eu ignorei.

  - Merda! Vamos sua lata velha, funciona! – Alex estava de costas pra mim praguejando, ele girou a chave na ignição com tanta força que fiquei surpresa da chave não ter quebrado. – Porra! Funciona!

  Eu percebi o que Alex ia fazer quando ele se afastou da moto pouco mais de meio passo, se ele chutasse mesmo a moto, ou quebraria o pé ou estragaria a moto, de qualquer jeito isso não ia terminar bem.

  - Alex! – exclamei o assustando quando agarrei seu braço, ele parou, estancou como uma árvore presa ao chão. Pareceu passar uma eternidade até ele se virar. Quando nossos olhos se encontraram ele parecia surpreso demais para falar. – Você ficou louco?

  - Analu?

  - Não, o papa – respondi irônica o soltando. – Você mão me respondeu, que ideia era essa de chutar a moto?

  - Não é nada – ele respondeu ainda parecendo irritado, ainda parecendo meio fora de si. – Eu só preciso que essa coisa funcione. Melhor você ir.

  - Como se eu fosse deixar você aqui sozinho nesse estado, você parece prestes a começar uma briga. O que aconteceu?

  - Nada, Analu. Só vai embora – ele diz começando a se virar para a moto outra vez. Dessa vez não. Não mesmo. Seguro seu braço e o faço me olhar.

  - Você não vai me dar às costas outra vez e achar que vai ficar por isso mesmo Alexander Harper! Não vai mesmo, e se você está achando que eu vou deixar você subir nessa moto desse jeito, está muito enganado – ele ficou tão chocado que não foi difícil pegar as chaves da sua mão. O soltei e me afastei só o suficiente para olhá-lo. – Agora você pode, por favor, me dizer o que aconteceu? Ou quem sabe pegar um táxi?

  - Por quê? – ele pergunta finalmente para minha surpresa. Alex da um meio sorriso, mas não parece exatamente divertido.

  - Por que, o quê?

  - Por que está aqui? Por que se importa? – ele perguntou de novo com aquele olhar perdido que me doía, por que parecia doer nele também.

  - Por que não estaria? Você é um idiota, mas é meu amigo, eu te vi do outro lado da rua e parecia precisar de ajuda, então eu vim ajudar. Mesmo que não mereça e tenha me ignorado nas últimas duas semanas – disse irônica e o vi corar e dar um meio sorriso, um de verdade, só por isso teria valido a pena.

  - Mas por quê?

  - Por que eu me importo com você, Sr. Bad Boy. Por que tem um filho pra criar e não posso deixar você subir nessa coisa do jeito que está, se não por você, por Tommy, não vou deixar meu bebê sem pai – digo e vejo alguma coisa reluzir em seus olhos escuros, me dou conta de como a frase saiu e coro. – Eu, bem, me desculpe... Eu não quis... Você entendeu – murmuro me calando.

  - Rose passou mal – Alex diz depois do que me parece uma eternidade com ele me encarando com aqueles olhos cheios de um sentimento que eu não sei o que é, mas quero ver mais. Atenho-me as suas palavras e presto atenção.

  - Como assim?

  - Ela estava com Tommy, me ligaram há uns quinze minutos, os vizinhos ouviram o barulho ao que parece e chamaram a ambulância. Ela e Tommy foram levados ao hospital. Rose não devia ter que cuidar dele – ele diz transtornado e com os olhos marejados, Alex desvia os olhos dos meus e começa a andar pela calçada passando a mão pelos cabelos em sinal de frustração.

  - Alex...

  - Não, é a verdade, ela não devia, mas o faz simplesmente por que eu não tenho dinheiro suficiente para pagar uma creche pra ele. Rose devia estar curtindo sua aposentadoria no clube do bairro, nem eu nem Tommy devíamos ser problema dela.

  - Hei, olha pra mim – vou até ele e o faço me olhar. Seus olhos vermelhos me fazem querer apenas abraçá-lo. Mesmo que ainda tenha um milhão de coisas sem se resolver entre nós. – Rose o faz por que gosta, Ok? Ela me disse. Ela ama vocês e quando se ama, a gente costuma fazer coisas pela pessoa sem cobrar nada. Agora vamos.

  - Como? – ele pergunta com uma expressão confusa tão fofa que quero beijá-lo mesmo sabendo que essa não é nem a hora, nem o lugar, muito menos a ocasião certa pra isso.

  - Você não achou que eu o deixaria dirigira a moto assim, achou?

  - Não é você a decidir isso – ele diz simplesmente e sorrio deixando suas chaves caírem em meu decote, vejo a expressão horrorizada de Alex.

  - Alguma coisa me diz que sou eu sim. Vem, vamos, eu também quero vê-los – e garantir que você chegue bem, quero completar, mas não o faço.

  Viro-me e começo a atravessar a rua outra vez até o prédio da empresa e indo em direção ao estacionamento, ouço Alex xingar baixinho enquanto me segue. Nós alcançamos o Blu e vejo Alex colocar o capacete no banco de trás antes de entrar. E, antes de manobrar e sair eu tiro suas chaves de onde estavam e as devolvo com um sorriso inocente.

  Nós não conversamos durante o caminho, Alex fala só o suficiente para me instruir e chegarmos até o hospital. Ele parece irritado, triste, preocupado e, ironicamente, desconfortável. Sei disso por que se encolhe no banco do passageiro quase que com medo de me tocar e olha pela janela durante todo o tempo. Eu quero gritar com ele e confrontá-lo, mas essa não é a melhor hora. Não mesmo.

  Quando chegamos Alex já está fora do Jeep antes mesmo de eu desligá-lo. Vou atrás dele o encontro na recepção.

  - O que você é dela? – a mulher atrás do balcão está perguntando.

  - Neto. Eu sou neto dela, ela estava com o meu filho. Eles estão bem?

  - Fique calmo, Sr Harper. Sua avó está no segundo andar quarto 82 – ela mal termina de falar e ele já está correndo outra vez. Quase peço a ele para ir mais devagar, mas não o faço, se fosse alguém da minha família eu estaria do mesmo jeito.

  Eu demoro um pouco mais para alcançar o quarto, por que Alex subiu as escadas correndo e eu não o acompanharia nem se quisesse, com todo o meu sedentarismo? Eu não conseguiria. Alcanço a porta do quarto e vejo Rose em uma cama tentando se sentar e sendo impedida por uma enfermeira e uma médica.

  - Sra. Miller, por favor – a médica pede.

  - Eu estou bem, Ok?

  - Você não está bem, se estivesse não tinham te trazido até aqui, obedeça – Alex pede e Rose suspira se deixando ser deitada. Então ela me vê e sorri.

  - Analu que surpresa boa.

  - Oi, Rose. Você nos deu o maior susto.

  - Vocês são todos uns exagerados.

  - Não foi exagero Sra. Miller, você teve um inicio de infarto e sua pressão está muito alta – a médica avisa para minha surpresa.

  - Conversa – ela descarta a informação com a mão, mas parece exausta, mesmo que sorria.

  - Rose, por favor... – Alex pede suspirando e um olhar para ele é o suficiente para Rose parecer ainda mais triste.

  - Não se preocupe comigo, garoto.

  - E como eu não me preocupo, me diz? – ele a olha e depois de vira para a médica. – Mas ela está bem agora, doutora?

  - Está, mas não está totalmente fora de perigo. Rose precisa de descanso, atividade física apropriada, uma boa alimentação e tomar todos os seus remédios nos dias e horas corretos. Nada de estresse ou esforço, ela tem que descansar.

  - Ela vai descansar, não se preocupe – Alex diz solene e Rose nega com a cabeça.

  - Eu preciso cuidar do Tommy e tenho reuniões do clube.

  - Você está se ouvindo? – Alex a olha feio. – Você não devia ter que cuidar do Tommy. E se precisa descansar, não vai ter que cuidar. Eu vou dar um jeito.

  - Alex... – ela começa, mas ele a interrompe.

  - E onde ele está? Cadê o meu filho que estava com ela? – ele olha para a médica e ela assente para a enfermeira que sai do quarto logo em seguida.

  - Betty foi buscá-lo. Nós o levamos para a creche dos filhos dos funcionários. Ele era grande demais para ficar no berçário. A verdade é que se você demorasse um pouco mais íamos acionar a polícia e o conselho tutelar.

  - Como é!? – Alex exclama e ele não era o único chocado.

  - Queira nos desculpar Sr. Harper, mas é a verdade. A Sra. Miller está em um estado no qual não consegue cuidar nem de si mesma, muito menos de um menor.

  - Mas eu disse que viria.

  - Mas poderia não vir. Não seria incomum – ela diz para minha surpresa parecendo triste. – Muitos familiares abandonam crianças e idosos em hospitais.

  - Eu não sou um desses idiotas – Alex diz com tanta raiva que me assusto um pouco, ele parece prestes a falar mais alguma coisa, mas o choro alto de um bebê o interrompe. O choro de Tommy.

  A enfermeira volta com o garotinho berrando em seu colo, ele tem o rosto vermelho e Alex corre até o filho e o pega, Tommy se agarra ao pai como se sua vida dependesse disso.

  - Me disseram que ele está chorando desde que chegou – a enfermeira avisa e Alex não está mais prestando atenção, sua atenção é toda de Tommy e a minha é toda deles.

 Sorrio ao vê-los juntos, Tommy parece um pouco maior do que eu me lembrava, mas continua fofo, loiro e bochechudo e continua também sendo um dos meus amores. Alex e o bebê são o centro das atenções até Tommy parar de chorar.

  - Vamos deixá-los a sós, podem ficar a vontade. A Sra. Miller ficará essa noite em observação e caso ela fique bem poderá ir para casa amanhã à tarde.

  - À tarde? – Rose parece indignada.

  - Sim, Sra. Miller a tarde, agora descanse – e dito isso a doutora e a enfermeira saíram do quarto.

  - Não sei para que toda essa confusão – Rose reclama e Alex a olha feio.

  - Você quase teve um infarto. Isso não é brincadeira, Rose. Se falaram que você tem que ficar em repouso, você vai ficar!

  - Analu, ponha algum juízo na cabeça do seu namorado!

  - E o Alex escuta alguém? – pergunto, mas então me dou conta do que ela disse e coro. – Ele não é meu namorado!

  - Ainda com isso? Esses jovens de hoje.

  - Rose... – Alex começa, mas ela decide por ignorá-lo e sorri pra mim.

  - Estou feliz que tenham vindo juntos. Mas por que você estava com ele?

  - Nós trabalhamos perto, então eu vi o Alex surtando com a moto e fui ver o que era, quando soube lhe dei uma carona para evitar mais algum desastre e estamos os dois aqui.

  - Então obrigada – Rose sorri. – Eu detestaria que alguma coisa tivesse acontecido com esse neto que ganhei por minha causa.

  Tommy resmungou no colo de Alex e eu sorri para o bebê. Estendi-lhe os braços e sorri ainda mais ao vê-lo se jogar em minha direção, eu estava morrendo de saudades dele, Alex também sorriu me entregando ele.

  - Aparentemente eu não posso competir com você.

  - E eu não tenho chances contra o Noah – comento indignada fazendo Alex rir e Rose perguntar quem é Noah.

  Essa é uma ótima oportunidade para Alex contar como conheceu meus irmãos e minha família e eu ninar Tommy em meu colo sentindo seu cheirinho de bebê e matar as saudades. Ando pelo quarto com Tommy no colo ouvindo Alex discorrer sobre os Whitmore e sorrio. É engraçado ouvir alguém falar sobre a minha família, por que no relato de Alex, somos quase normais. O pensamento me faz rir e os dois me olham curiosos, nego com a cabeça e eles continuam sua conversa.

  - Fico tão feliz que meus garotos tenham mais alguém com quem contar – Rose sorri genuinamente feliz pra mim me fazendo ficar vermelha.

  - Minha família os adora.

  - Só eles? – ela pergunta e acabo sorrindo.

  - Talvez não só eles.

  - Isso me deixa ainda mais feliz. Alguém precisa tomar conta desses dois e ao que parece você é a pessoa mais indicada.

  - Rose! – Alex exclamou me fazendo rir. Tommy em meu colo riu também mesmo que não soubesse o motivo, o beijei só por sua fofura e vi pelo canto do olho Alex nos olhar.

  - O quê? Só estou garantindo que vocês vão ficar bem. Mas como vai ficar a situação com o Tommy se você se recusa a me deixar cuidar do meu bisneto?

  - Eu vou dar um jeito, Ok? Posso pedir folga ao Dave. Talvez alguma vizinha aceite cuidar dele por uma diária até eu ter uma ideia melhor.

  - Eu posso cuidar dele – digo simplesmente. Por algum motivo me incomoda a ideia de alguma desconhecida ficar com Tommy. E se não o tratarem bem?

  - Analu você está se ouvindo? Você tem o seu emprego e a faculdade, quando faria isso? Eu agradeço o carinho, mas eu dou um jeito.

  - Você é o cumulo da teimosia, não é? – pergunto suspirando e trocando Tommy de braço. – Você não precisa “dar um jeito” em tudo, pode aceitar ajuda. E pra você saber essa semana está acontecendo umas apresentações dos cursos das licenciaturas, e, por algum motivo minha coordenadora achou “interessante” participarmos. Então a única coisa que vou perder na faculdade essa semana se eu não for, é a presença.

  - Eu fiquei sabendo disso e vi algo na faculdade hoje – é tudo o que ele diz. – Mas e quanto ao seu trabalho?

  - Eu fui demitida.

  - Como? Você não trabalhava pro seu pai?

  - Eu te disse, eu era só a estagiaria e não trabalhava pro meu pai, meu chefe me odiava e no fim meu pai me demitiu – comento dando de ombros, essa história toda parece ter acontecido a muito mais tempo do que o inicio da noite. E parece bem surreal quando dita em voz alta.

  - Você está brincando comigo?

  - Não, não estou. Ele me demitiu, é isso, eu estou oficialmente desempregada. E já fiz um bico de babá, acho que dou conta.

  - Você está mesmo falando sério? – Alex pergunta e lá está outra vez aquele brilho no olhar que quero ver mais e mais. Eu poderia beijá-lo agora, mesmo que ainda esteja irritada com o último beijo.

  - Muito sério. E eu não gosto da ideia de deixar Tommy com um estranho. Você gosta?

  - Não mesmo.

  - Então está combinado – digo sorrindo.

  - Quanto ao pagamento... – ele começa, mas o interrompo.

  - É o mesmo da outra vez, já disse só aceito se for para receber o mesmo que Rose.

  - Analu, por favor. Eu não preciso de caridade ou pena – ele diz sério e me ofendo. Ofendo-me de verdade, e é por isso que levando os olhos para sustentar seu olhar.

  - Não é caridade, muito menos pena. Eu estou fazendo por que quero, por que me importo e por que amo Tommy, e quando a gente ama, nós fazemos coisas para as pessoas sem esperar nada em troca. E eu não quero meu bebê com estranhos e não quero Rose nem você preocupados com isso do mesmo jeito que eu ia ficar. Então não me ofenda uma segunda vez dizendo que esse sentimento é pena Alexander Harper, por que da próxima eu jogo meu sapato na sua cabeça!

  - Você é incrível, sabia? – ele pergunta para minha surpresa com um sorriso lindo e os olhos escuros brilhando e me desmontando toda. Como é possível? – Obrigada por amar Tommy desse jeito.

  - Não me agradeça por isso, eu que sou grata de poder estar por perto e enchê-lo de beijos assim – beijo o bebê que ri e agarra meu cabelo. – Tommy! – exclamo fazendo Rose e Alex rirem.

  Depois de toda essa confusão e agitação Rose e Tommy acabaram dormindo, então restamos eu e Alex meio que fingindo que isso não era super estranho, ele sentado na poltrona ao lado da cama de Rose e eu de pé com Tommy ainda no colo. O bebê se remexeu em meus braços.

  - Acho que logo ele acorda - digo quando o silêncio começa a me irritar. - Tommy deve estar com fome. Nós precisamos ir.

  - Eu sei - Alex suspira olhando de mim para Rose na cama. - Mas eu não queria deixá-la sozinha.

  - Acho que você não entendeu - digo com um meio sorriso. - Quando eu disse “nós” me referia a mim e Tommy. É óbvio que você não vai deixar a Rose sozinha, mas não tem como Tommy passar a noite aqui.

  - Analu...? - Alex me olha como se tivesse nascido um chifre em minha testa.

  - O quê? - pergunto sem entender ajeitando Tommy nos braços, um bebê adormecido pesa bastante depois de um tempo.

  - Como você faz isso?

  - Eu ainda não sei do que você está falando.

  - Como faz tudo parecer tão simples? Por que se coloca nesse lugar de onde eu não sei se vou conseguir tirá-la? - ele pergunta para minha surpresa. Um lugar de onde ele não vai conseguir me tirar? Que lugar seria esse?

  - Então não me tire de lugar nenhum - digo num sussurro que não sei se ele escuta. - Eu só faço isso por que são vocês. Por que você é um só e não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Você, Alexander Harper, tem que aprender a se deixar ser cuidado.

  Para minha surpresa ele sorri para mim. Um sorriso genuíno que chega aos olhos, mas um desses e sei que meu coração bobo vai se derreter por completo.

  - Obrigado - diz simplesmente e sorrio de volta.

  - Disponha. Eu só preciso avisar... Ai meu Deus! Eu saí daquele jeito da empresa e sumi. Meu pai deve estar uma fera e mamãe louca de preocupação. Eu preciso fazer uma dezena de ligações.

  - Tudo bem, vai lá, ainda estaremos aqui quando terminar - Alex diz quando tira Tommy dos meus braços, tão perto que sinto seu perfume. Suspiro me afastando, por que tudo tem que ser tão complicado?

  Saio do quarto e alcanço meu celular em minha bolsa, me assunto com a quantidade de ligações perdidas, 35 do papai, 20 da mamãe, 14 da Manu e tem até uma do Noah. Eles devem estar apavorados. Resolvo ligar para a mamãe, já que o Sr. Whitmore me demitiu, não estou exatamente animada em falar com ele.

  - Anna Laura Christine Whitmore onde você se meteu!? - é como mamãe me atende.

  - Oi pra você também, mamãe.

  - Não me venha com “Oi”, mocinha. Seu pai me disse que saiu do trabalho irritada e que não disse pra onde ia e nem atendia ao celular.

  - Foi sem querer, juro. A senhora sabe que sempre aviso. É que aconteceram umas coisas.

  - Coisas? Que coisas, Analu?

  Respiro fundo antes de contar a mamãe tudo o que aconteceu desde que eu saí da empresa hoje mais cedo. Quando termino ela fica em silêncio, o que vindo de Elisa Whitmore é algo surpreende.

  - Então você está aí no hospital com o Alex? - ela pergunta finalmente.

  - Sim.

  - E vai cuidar do Tommy para ele?

  - Sim.

  - E como pretende fazer isso indo ao estágio também?

  - O senhor seu marido não lhe contou a última novidade? - perguntei irônica.

  - De que novidade está falando, Analu?

  - O papai me demitiu.

  - Ele o quê!? - ela exclama e sorrio.

  - É isso mesmo - comento ouvindo os resmungos de Tommy dentro do quarto. - Pergunte os detalhes a ele. Agora eu vou indo, vou passar a noite fora, mas não se preocupe. Vou cuidar do Tommy.

  - Só cuidando do bebê? Certeza?

  - Sim, mãe! - respondo sentindo as bochechas esquentarem. - O Alex vai ficar com a Rose. Eu não te disse? É só por isso que eu vou ficar.

  - Tudo bem, então. Se cuide e comportar-se. Te amo. Qualquer coisa liga!

  - Pode deixar. Também te amo, mãe - me despeço e desligamos.

  Quando volto ao quarto Tommy já acordou, Rose não.

  - Vamos, Tommy? – chamo o bebê que me olha, sorri e me estende os braços quando o chamo. O pego e beijo seus cabelos e ele resmunga. – Acho que ele também quer uma troca de fraldas e um banho.

  - Você tem certeza que...

  - Alex, só cala a boca e leva a gente pra casa de vocês – o interrompo e ele me olha parecendo não entender.

  - Eu? Pra minha casa?

  - Claro, não consigo dirigir e segurar o Tommy ao mesmo tempo. Nós não temos cadeirinha. E eu acho que é mais fácil eu passar a noite lá que ele na minha casa.

  - Certo, eu tinha me esquecido da cadeirinha, e... – ele se interrompe, sorri e me olha como se eu fosse à visão mais interessante e talvez até a mais bonita do mundo. - Melhor irmos então, não quero deixar Rose sozinha por muito tempo.

  Nós seguimos para fora do quarto, falamos com a médica e a enfermeira, Alex avisa que vai voltar e que qualquer coisa podem ligar pra ele e nós saímos. Quando alcançamos o estacionamento jogo as chaves do Blu para Alex e ele parece surpreso.

  - Você dirige – digo entrando no banco de trás com Tommy ainda no colo. Alex leva alguns segundos para entender o que eu disse e reagir, ele entra na frente e se acomoda atrás do volante.

  - Por que quis que eu dirigisse? – ele pergunta quando já estamos em movimento.

  - Por que se era pra alguém bancar o motorista particular, que fosse você – digo divertida e o ouço rir, o som mexe comigo, por que eu descobri que amo a risada de Alex.

  - Você não existe, Analu.

  Nós seguimos em silêncio, o único som a preencher o carro são os resmungos e protestos de Tommy. O bebê está agoniado, se com a fralda ou o fato de estar preso em meu colo, eu não sei, mas ele se mexe, tenta levantar, puxa meu cabelo e, por fim, se distrai com meu colar, o pingente que é literalmente uma pedra azul, felizmente o distrai. Tommy está tentando arrancar a pedra com os dentinhos quando estacionamos em frente à casa do Alex.

  Para minha surpresa Alex desce do carro e vem abrir a porta pra mim, me surpreendo com a atitude. O olho arqueando uma sobrancelha e ele dá de ombros sorrindo. Pego minha bolsa e aperto meu bebê com uma mão.

  - Achei que precisaria de ajuda – ele me estende a mão e me sinto uma mocinha como as dos romances de época que eu leio quando a aceito e meu coração bobo acelera. Seguro Tommy com um braço e só quando sou praticamente amparada por Alex é que percebo que realmente não conseguiria descer sozinha.

  - Obrigada – agradeço quando alcanço o chão, mas ele não solta a minha mão.

  - Estou à disposição, princesa – Alex me dá um último sorriso antes de me soltar.

  Tommy resmunga em meu colo e eu suspiro.

  - Nós já vamos, acho que Tommy quer mesmo outra fralda e eu preciso de um banho. Qualquer coisa me liga, por favor.

  - Essa fala devia ser minha.

  - Sinto muito, Sr. Bad Boy, mas eu também estou preocupada – começo a andar e estou quase alcançando a sacada quando Alex me chama.

  - Analu – ele diz meu nome e me viro. – E o Jeep?

  - O que tem o Blu?

  - As chaves, não vai pegar?

  - Pra quê? Você não vai precisar dele pra voltar para o hospital ou seu carro já está consertado? – ele olha para a porta da garagem e suspira.

  - Ainda está dando problema.

  - Então você e o Blu podem ficar a vontade e se conhecerem melhor. Não é como se eu fosse pra qualquer lugar pelas próximas horas mesmo. Agora boa noite, Sr. Bad Boy.

  - Boa noite, Princesa. Boa noite, Tommy, papai já volta, se comporte.

  - Papa! – ele exclama animado. Alex sorri, vem até nós e beija o bebê. – Papa!

  - Tchau, campeão – ele sorri de afastando. – Volto logo. Amo você.

  Eu tenho a impressão de que se Tommy falasse mais, teria respondido a declaração. Nós assistimos Alex se afastar, entrar no Blu, dar partida e pego a mão de Tommy e acenamos juntos para o meu Bad Boy enquanto ele se afasta.

  Tommy volta a resmungar e olho para ele.

  - Ok Sr. Impaciência, nós já vamos entrar e eu troco você. Está muito tarde para tomar um banho.

  Meu bebê fofo volta a ser só sorrisos assim que troco sua fralda que estava realmente encharcada, eu poderia dar uma banho nele, mas não acho boa ideia, já passa das 21h00m da noite, amanhã nós resolvemos isso.

  - Que tal um jantar? Eu ainda sei fazer uma mamadeira e preparar umas frutas amassadas – Tommy me olha curioso enquanto desço as escadas e vou em direção à cozinha. – O quê? Não me olhe assim, não sei fazer mais que isso. Você teria mais sorte com Noah ou a minha mãe.

  Entro num dilema de onde deixar Tommy para nos preparar um lanche, avisto seu cercadinho na sala e sorrio. Ele não parece muito contente quando o coloco lá, mas não temos muita escolha, lhe dou alguns brinquedos que acho pela sala que por sinal está uma bagunça, tudo nessa casa parece um pouco bagunçado. Talvez, se eu não tiver mais nada pra fazer durante a semana, eu faça uma faxina aqui.

  Ligo o som simplesmente por que gosto de fazer tudo ouvindo música e odeio o silêncio, eu tenho uma família grande e barulhenta, não sei lidar com o silêncio, nem gosto dele. Eu conheço a música que toca e canto junto, Tommy me olha curioso, mas parece gostar, sorrio pra ele.

  - Fique aí, já volto. Qualquer coisa, grita, Ok?

  Continuo cantando e vou fuçar nos armários de Alex, ele tem bastante coisa, mas do que adiante se eu só faria bagunça se tentasse alguma coisa? Volto à sala a cada dez minutos, mas Tommy está muito empenhando em tentar sair do cercadinho pra me ver, felizmente ele não tem altura nem desenvoltura suficiente pra isso.

  Resolvo dar uma papinha de frutas amassadas ao bebê e deixo a mamadeira pra depois. Ele come como sempre com energia, Tommy gosta de comer e isso me faz sorrir, eu preciso fazer todo um malabarismo para ele não se sujar, mas no fim dá tudo certo. Ele termina a papinha e resolvo tentar a mamadeira, para minha surpresa ele toma quase metade dela antes de adormecer em meus braços, provavelmente exausto pelo dia que teve.

  Subo e não é difícil encontrar o quarto do bebê e seu berço, o coloco lá com todo o cuidado do mundo para não acordá-lo, mas algo me diz que do jeito que está, Tommy não acordaria tão fácil assim. O cubro e fico velando seu sono por alguns minutos antes de sair dali.

  Respiro fundo me dando conta que também preciso de um banho e jantar e sei que não vou fazer nenhuma das duas coisas direito. Não tenho roupa para um banho e vou jantar sanduíches e suco. Bem, que seja, vou tomar um banho e rosto eu vejo depois. Procuro pelo quarto de hospedes talvez atrás de uma toalha e saber onde vou dormir, até encontro o quarto, mas não há cama, só um armário velho que parece cheio de coisa antiga e algumas caixas, mas nada de cama, como que um quarto de hospedes não tem cama?

  Verifico todo o andar de cima, mas é isso, tem o quarto de Tommy, o quarto com o armário antigo e um completamente vazio com uma porta que não tranca e uma parede parcialmente destruída que parece estar sofrendo de infiltração, mas nada que pareça remotamente habitável, resta só o quarto no fim do corredor que sei que é de Alex. Caminho até lá depois de dar outra olhada em Tommy que continua dormindo, mas paro na porta sem saber se tenho o direito de invadir a privacidade dele assim.

  Minha barriga ronca e suspiro. Estou cansada e com fome, sinto muito, Alex, mas se aqui vou achar uma tolha e uma cama eu vou entrar.

  Quando o faço sorrio, óbvio que como o resto da casa o quarto de Alex é uma zona de guerra. Há camisas no encosto da cadeira da escrivaninha, tem livros em pilhas no chão, sapatos espalhados e é claro que uma tolha em cima da cama, por que, não? O pensamento me faz sorrir, ele é tão ou mais bagunceiro que Noah. Ironicamente Drew tem a vida mais bagunçada, mas é mais organizado que meu irmão caçula que vive deixando suas coisas espalhadas para desespero de mamãe e diversão do papai. Minha mãe vive dizendo que essa é a única coisa que Noah herdou do papai, além da aparência, é claro.

  Desisto de pensar nos meus irmãos ou em qualquer outra coisa quando marcho até o guarda-roupa atrás de uma toalha. Abro algumas portar apenas para ver a bagunça generalizada que me faz sorrir, após algumas tentativas encontro uma pilha de toalhas e encontro também uma gaveta com camisetas, Alex não vai se importar se eu pegar uma, não é? Definitivamente não dá pra dormir de calça jeans e com a blusa azul que eu passei a tarde usando no trabalho.

  Escolho uma preta com o personagem do Pernalonga na frente, sorrio com a ideia de estar aqui prestes a tomar um banho e usar uma camiseta do Alex, eu definitivamente preciso ligar para a Manu. Decidi tomar banho no banheiro do quarto de Alex mesmo simplesmente por que era mais perto que o banheiro no andar de baixo, dou uma última conferida em Tommy antes de entrar no banheiro. Consigo relaxar sob a água quente, não pensar muito, principalmente em Alex e nessa situação toda, resolvo não gastar meus últimos neurônios com mais nada. Lavo minha calcinha no banho e a coloco outra vez, não é a melhor opção, mas é a que tenho, dispenso o resto da minha roupa e visto só a camiseta de Alex que vai até o meio das minhas coxas, sorrio sentindo o cheiro dele. Senhor, eu estou bem ferrada, sorrir boba assim é um mau sinal.

  Vou atrás de fazer um lanche e depois que, descalça, eu chuto um brinquedo de Tommy sem ver, decido que talvez eu faça mesmo uma faxina nesse lugar afinal. Ainda estou preparando uma pequena pilha de sanduíches enquanto penso sobre onde eu vou dormir, quando só há uma cama nessa casa decido que o sofá é uma boa opção, talvez a poltrona no quarto de Tommy?

  Suspiro antes de morder um sanduíche, se essa noite foi uma amostra, estou vendo que essa semana vai ser muito, muito longa.


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Notas finais do capítulo

E então o que acharam? A Analu é maravilhosa, não é? Não se preocupem, esses dois ainda vão conversar, nossa princesa guerreia jamais beijaria o Bad Boy sem antes ter uma bela discussão ou dar uma de Elisa e jogar alguma coisa nele.
E a demissão dela? Eu juro que ri demais escrevendo essa parte, foi muito divertido kkkk
A Analu como babá por pelo menos uma semana, o que será que isso vai dar?
Quero opiniões! Por favor, eu odeio falar sozinha e vocês sabem disso!
Beijocas e até, Lelly ♥



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