— Estão juntos desde que tudo começou? - Perguntei quebrando o silencio de mais um dia naquele tedioso lugar.

— Alguns sim, outros não. Fomos conhecendo pessoas. Andamos por muitos lugares.

— Vivi sozinha parte da epidemia. Encontrei pessoas más, mas também encontrei pessoas boas. Negan me encontrou. Segui com ele achando que estava salvando aquelas pessoas. Devia ter ficado e lutado. - Olhei para as grades. - Fui idiota em achar que era meu pai, que conseguiria convence-lo a ser o que era antes. Ele só quer que você diga que é um "Negan", seja um capacho dele.

— Eu não serei.

— Eu sei. Mas para isso ele vai humilhar e torturar você de todas as maneiras possíveis.

Daryl levantou para sair quando vieram busca-lo.

— Daryl? - Falei perto das grades.

Ele se aproximou, estiquei a mão e agarrei a sua mão o deixando surpreso.

— Essa é a sua chance. Nem todos daqui são realmente fieis ao Negan. Precisa descobrir em quem confiar e fugir.

Ele ficou me encarando como se eu tivesse falado uma bobagem. Surpresa passou pelo seu olhar.

— Por que esta me ajudando?

— Você tem alguém para voltar. Um motivo para lutar. Quando tiver chance fuja. Se esconda nas comunidades vizinhas. Há muitas delas que Negan tem controlado. Nem todas gostam de Negan. Você só precisa incita-los. Eles tem medo, mas nunca usaram a cabeça. Negan tem poder, mas juntos eles são mais fortes. Podem vencer.

— Esta dizendo para fazer uma guerra contra o seu pai?

— Quer vingança, não quer?

— Ele é seu pai.

— E olha onde eu estou.

Daryl me encarou depois apertou minha mão antes de solta-la.

— Prometo que se um dia fugir volto para busca-la. - Balancei a cabeça.

— Me deixe aqui. Não tenho mais nada nesse mundo. Nem mesmo sei quem eu sou.

— Você é Carly. E só. - Lembrou me lançando um sorriso pequeno.

Daryl se afastou e logo saiu.

De algum jeito eu queria que ele vivesse. Tinha algo nele que me deixava intrigada.

Voltei a sentar no chão. Esperando as horas passarem.

Negan não precisava fazer nada comigo só me deixando presa aqui já era tortura suficiente.

Sei que ele tinha poder suficiente para por medo em muita gente, mas um dia ele teria que encontrar um inimigo a altura dele. Alguém para acabar com isso.

Algo dentro de mim me dizia que era Daryl. Ele e quem estivesse ao seu lado.
Daryl retornou logo depois. E assim passou os dias. Ele era levado depois o traziam.

Vi cansaço e dor em seus olhos, mas ele nunca demonstraria. Nunca deixaria que vissem isso nele. Estava machucado e sujo.

Os dias seguintes foram tediosos e repetitivos. Só um dia consegui uma chance.

Charles um idiota que trabalhava para o meu pai apareceu na porta da cela.

— Seu pai quer vê-la.

Levantei e segui ate as grades, ele a abriu e eu me aproximei sorrindo. Ele me encarou desconfiado. Um segundo de distração e avancei sobre ele saltando com uma joelhada em sua barriga. Suas costas bateram na parede e agarrei sua cabeça a forçando para baixo acertando o joelho.

Se desequilibrou e caiu no chão, outro segundo de distração e eu acertei seu coração com sua própria faca. Queria ver meu pai lidar um zumbi no Santuário.

Agarrei a arma e a faca e segui para a escada.

Subi os degraus e sai escondida. Caminhei discretamente ou tentei pelo menos. Dwight que estava conversando com Daryl me viu e gritou. Foi uma loucura, puxei a arma e comecei a atirar acertando só o coração dos capangas de Negan.

Não tinha como fugir, não na luz do dia, com pouca munição e sozinha. Mas eu queria provocar uma algazarra. Tiros passaram por mim, eles não atiravam para matar só para incapacitar. Esse era o pior erro deles.

Mas eles não tinha escolhas. Negan nunca deixaria que alguém matasse sua filha. Acertei mais alguns enquanto corria, atrás de mim os zumbis ja tinham se erguido. Eram gritos para todos os lados, alguns de medo, outros de fúria.

Mais a frente uma idiota tinha uma arma apontada para mim, atirou e eu desviei. Avancei acertando seu rosto e pegando a arma da sua mão.

— Se for atirar, atire para acertar. É assim que se faz. - Mirei sua perna e atirei, ela gritou de dor e eu sorri antes de sair correndo com a arma.

Estava chegando no portão quando Negan apareceu com dois idiotas ao seu encalço. Atirei nos dois e apontei a arma para Negan.

— Isso de novo? - Sorriu. - Abaixa a arma!

Mirei para atirar, eu ia atirar, mas fui atingida na perna. Meu corpo fraquejou e cai de joelhos. Olhei para trás de Dwight estava com a arma apontada para mim e sorrindo. Tinha conseguido pontos com Negan. Estiquei a mão para alcançar a arma, mas Negan chutou para longe.

Desferiu um tapa em meu rosto e eu o senti arder, ergui a cabeça e o encarei.

— Achou que poderia fugir de mim?

Uma pancada na cabeça e eu vi tudo apagar.

Acordei na cela estava com um curativo na perna e muita dor. Olhei para a cela do lado e estava vazia. Espero que tenha dado certo minha distração.

Nunca mais vi Daryl. Alguns diziam que Negan o tinha matado, eu duvidava disso.

Conseguia sentir que ele estava vivo. Que tinha conseguido fugir. Vi a movimentação deles, primeiro pareciam procurar por algo depois se prepararam. Era um sinal. Eles iriam enfrentar um inimigo a altura.

— Carly? - Olhei de canto para Negan parado em frente a minha cela. - Me disseram que você virou amiga do prisioneiro. - Não respondi somente o encarei com cara de tedio. - O que sabe sobre ele?

— Por que eu saberia algo sobre ele?

— Vocês ficavam conversando.

— É bom ter alguém para responder quando eu falar.

— O que conversavam?

— Por que se importa? Ele não esta morto?

— Você o ajudou a fugir?

— Como ajudaria? Estou presa aqui não tinha visto ainda? - Tracei com o dedo a cela mostrando as barras de ferro. - Você acha que eu ajudaria ele a fugir e iria querer ficar aqui presa?

— Quando provocou aquela distração ele fugiu. Você o ajudou.

— Aquilo foi só uma fuga mal sucedida da minha parte.

— Você disse algo a ele. Agarrou a mão dele. Isso é intimidade. - Sorriu. - Você gostou mesmo dele!

— Você esta cada dia mais pirado.

— O que disse a ele?

— Eu já falei que não disse nada! - Gritei de volta.

— Vou mata-lo. - Resmungou antes de se afastar.

Virei o rosto para frente e sorri. Ele tinha fugido.

Fui abandonada ali. Ninguém mais retornou para me dar comida ou agua. Ouvia constantes barulhos. Pessoas se movimentando.

Não gritei por ajuda, nem implorei por nada.

A fraqueza chegou e eu me deixei cair. Estava tão cansada. Minha barriga doía pela falta da comida. Mas eu nunca imploraria por nada.

Acordei ouvindo tiros, estava fraca demais para levantar. O que me deixou surpresa foi que ouvi barulho nas escadas que davam para as celas.

Estava quase caindo na inconsciência de novo quando escutei: - Aqui! La esta ela!

Era a voz de Daryl. Tentei abrir os olhos. O vi tentando abrir a cela. Entrou e me ergueu nos braços.

— Ela esta fraca. - Um homem comentou. - É a filha dele?

— Sim.

Daryl me colocou sentada em um carro e me entregou uma garrafa com agua, bebi quase me afogando.

— Ela esta com um cheiro estranho. - Alguém comentou.

— Chama-se falta de banho. - Resmunguei tentando focalizar a visão em Daryl. - Conseguiu?

— Sim. - Ficou serio. - Seu pai esta morto.

— Ele já tinha morrido a muito tempo Daryl. Aquele não era o meu pai.

Fechei os olhos me sentindo confortável naquele banco.

Olhei em volta estavam todos a nossa volta.

— As comunidades se juntaram. - Daryl deu um sorriso mínimo fazendo seus olhos ficarem pequenos. - Você tinha razão. Estão todos livres do Negan.

— Não se pode ficar livres dele, tem pessoas que pensam como ele.

— O que você sugere? - Um homem perguntou. - Sou Rick.

— Carly. Sugiro que peguem o que precisem e deixem esse lugar, não pode controla-los. Só Negan sabia isso. Levem todas as armas e tudo que seja util. Eles vão ter que aprender a conseguir sua própria comida.

Rick olhou para os outros, eles assentiram em concordância.

— Onde fica a sala do Negan?

— Posso só descansar um segundo. Estou com muita fome.

— Como esta a perna? - Daryl perguntou enquanto me entregava um pacote de biscoitos.

— Esta bem, só estou fraca mesmo. Desidratada. Como conseguiu fugir?

— A mulher de Dwight me ajudou a fugir enquanto você fazia toda aquela cena. Falando nisso não foi muito inteligente.

— Eu não queria fugir, só queria criar uma distração.

— Ajudou bastante.

— Esta me devendo duas vezes, Daryl. Vou cobrar com juros.

— Por que não procuram um quarto? - Uma negra perguntou e eu a encarei.

Estalei o pescoço e testei minhas pernas antes de sair caminhando. Não seria uma má ideia, mas tínhamos coisas mais importantes para resolver. No meu caso comer, tomar um banho e descansar.

Descansar ficaria para outra hora é claro. Observei aquele lugar sabendo que nunca mais voltaria ali. Era um grande alivio.