Recomeçar escrita por CM Winchester


Capítulo 2
Capitulo 1




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— Por que fez aquilo? - Negan gritou atrás de sua mesa.

Segurava o bastão de baseball.

— Vai me matar? - Perguntei. - Vai usar essa porcaria em mim?

— Não. - Respondeu. - Nem sempre a morte é a resposta.

Fiquei em silencio enquanto o observava. Meu coração despedaçado. Aquele babaca não era o meu pai.

— Desperdício. - Murmurou. - Você é mais inteligente e rápida que metade dos meus homens. Vou joga-la em uma cela. Vai viver o resto da sua vida lá.

— Ate alguém vir e te matar. - Retruquei e ele gargalhou.

— Eu sou seu pai!

— Você não é o meu pai! Meu pai nunca trataria uma mulher assim. Você mesmo me ensinou. "Se um idiota tentar algo com você, mostre a ele que ninguém te obriga a nada." Essa frase era sua. Desde os meus 8 anos eu ouvia essa frase. Mamãe morreu! Ela amava você seu canalha!

— E eu a amava. - Gargalhei.

— Você tem um jeito estranho de demonstrar.

— Levem-na. - Alguém agarrou meus braços.

Fui jogada em uma cela.

Passei aquela noite sozinha, mas em nenhum momento me arrependi de ter me rebelado.

Alguém tinha que fazer.

Depois mais dois dias se passaram ate finalmente ter uma movimentação.

— Agora você tem um companheiro de cela. - Negan sorriu me observando entre as grades.

Não me movi. Somente lancei um olhar a ele de lado já que eu estava virada de lado sentada no chão da cela imunda em que ele me prendia.

Eu estava suja, com os cabelos embaraçados e fedendo. Mas nunca imploraria a ele misericórdia. Preferia morrer ali mesmo do que me ajoelhar perante ele.

Não olhei para o prisioneiro que foi jogado a cela ao lado, mas eu sabia que era o homem que tinha o socado. Não tinha prisioneiras mulheres somente eu é claro.
Todos se rendiam ao poder de Negan.

Ele riu baixinho antes de se afastar das grades e sumir pelo corredor.

Virei meu rosto para encontrar olhos azuis me olhando na quase escuridão, os cabelos eram grandes. O rosto estava machucado de alguns golpes.

Desviou o olhar e eu também.

Levantei e comecei a caminhar pela cela. De um lado para o outro.

Os dias eram assim. O homem se manteve em silencio. Eu não me incomodava com o silencio. Vivi metade da epidemia sozinha mesmo.

Quando tudo começou estava estudando para ser advogada, faltava só uns meses para me formar. Tinha quase 30 anos. Agora? Eu não sabia mais.

Fiz aulas para aprender auto defesa e comprei uma arma. Sabia que nem todos ficavam satisfeitos com advogados e meu foco era um dia ser policial. Por isso queria saber me defender. Era alta e magra. Os cabelos um dia longos e negros hoje eram cortados curtos na altura dos ombros, bagunçados, mal tratados e desalinhados já que cortei com uma tesoura que encontrei no meio de toda essa loucura.
Os olhos azuis sem brilho. Sem vida. Eu não me sentia viva a muito tempo.

Alguns homens de Negan vieram buscar o homem, levantou e lançou um olhar a mim antes de sair. Lancei um olhar de nojo aos capangas de Negan. Eram só capachos dele. Nada mais que isso. Idiotas!

Por alguns eu sentia raiva, outros nojos, mas por alguns eu tinha simpatia. Os que foram obrigados e oprimidos por Negan. Perderam seus amigos, mulheres. Tudo o que Negan queria ele conquistava e não media esforços para conseguir.

A primeira vez que o vi balançando um taco de basebal sujo de sangue e restos de cérebro senti repulsa. Era para sentir medo. Mas só o que conseguiu foi me deixar forte.

Horas depois eles voltaram e largaram o homem na cela de novo.

— Oi gracinha? - Um deles sorriu para mim.

Segui ate as barras da cela encostando meu rosto nelas, sorriu se aproximando.

Cuspi em sua cara antes de me afastar. Foi uma onda de risos dos seus amigos, seus olhos manchando de raiva. Mas ele nunca se atreveria a fazer algo comigo.

Eu podia ser uma prisioneira, mas só Negan poderia me machucar. E ele sabia que nem mesmo batendo em mim poderia me fazer teme-lo. Eu não tinha mais nada no mundo a quem me agarrar.

— Sua vadia.

Revirei os olhos voltando ao fundo da cela. Usava uma legging preta, camiseta gola v preta e um tênis vans que já estava rasgado e colado com fita. Tinha sobrevivido a lama, chuva e neve.

Sentei no chão e o observei o cara na cela ao lado. Tinha as mãos no rosto, parecia cansado e deprimido. Desviei o olhar e o silencio reinou no ambiente como sempre.

— Ele o matou? - Perguntei quebrando o silencio.

— Não. Só ergueram seu corpo e me levaram junto. Por que salvou o coreano? - Lancei um olhar a ele que me encarava.

— Não sei. - Desviei o olhar. - Só não queria ver mais aquilo. Mas ele vai voltar. E vai mata-los. Não foi naquele dia, mas outro. No momento que você não tivesse algo a oferecer a ele, um dos seus pagaria. É isso o que ele faz. Destrói tudo que toca! Não sei se ajudei ou não.

Fiquei em silencio.

A culpa é minha. Devia tê-lo matado quando tive a chance, agora muitos outros irão morrer.

Encostei a cabeça na parede e voltei no tempo, em minhas lembranças.

Quando finalmente tinha encontrado pessoas tudo aconteceu. Sai em busca de comida e voltei ao anoitecer. Tinha luzes iluminando um circulo. Um homem parado no centro com um bastão de basebal, ao seu redor pessoas ajoelhadas.

Avancei segurando firme a arma, mas abaixei quando o encontrei.

— Carly? - Sorriu.

— Pai? - Murmurei.

Olhei em volta. Aquelas pessoas que me acolheram, todos ajoelhadas esperando o abate. Ao lado o líder deles, caído com a cabeça em pedaços.

— O que você fez? - Gritei avançando para ele.

— Mostrei quem manda nesse mundo. - Sorriu balançando o bastão todo sujo. - Lucille estava com sede.

— Lucille? Nomeou essa porcaria com o nome da minha mãe?

— Cale a boca! - Mandou. - Ou outro ira morrer por sua desobediência.

— Quem é você?

— Seu pai.

— Não! Meu pai não era assim. Eu não te conheço! Você é um tirano! - Gritei.

Um sinal e homens agarraram meus braços.

— Quer ver um de seus amigos morrerem?

Estava se divertindo com tudo aquilo. Balançava o bastão sujo na direção daquelas pessoas que mantinham seus olhos suplicantes em mim.

Ele parecia estar escolhendo em mataria. Me debati contra os homens começando a ficar furiosa. Eu não era mais a moça inocente do começo dessa porcaria. Eu tinha aprendido como sobreviver. Tinha virado uma selvagem.

Chutei a perna de um dos seus capachos e virei acertando uma joelhada no outro, soquei o primeiro que tinha se recuperado do meu chute e o derrubei no chão.

Corri para o bastão que estava pronto para acertar outro homem do grupo, me atravessei na frente segurando o bastão no ar.

— Você vai pagar por isso.

— Eles vivem. Me acolheram, me deram comida e abrigo. Sou sua filha.

Recuou e respirou fundo. Sorriu.

— Ok. Dessa vez vou deixar passar.

Exigiu suprimentos e remédios depois fomos embora. Não consegui me despedir daquelas pessoas.

E nunca mais os vi.

Voltei a realidade antes de levantar e começar a caminhar de novo.

— Você é ansiosa ou imperativa? - O homem perguntou.

Parei lançando um olhar a ele.

— Nem um, nem outro. Somente estou exercitando meus músculos. Ele não vai me tirar daqui tão cedo. - Me encostei as grades e sorri.

— Por que?

— Eles sabem que só grades para parar alguém como eu.

— E por que ele não te matou?

— Do mesmo jeito que não consegui mata-lo. Acho que é meio difícil sujar as mãos de sangue da família.

— Família?

— Negan é meu pai. Sangue do meu sangue. - Sorri. - É... Passei parte do apocalipse zumbi sobrevivendo por ai ate ele me encontrar. Fiquei feliz claro quando reencontrei ele, mas... Tudo o que ele fez, tudo o  que ele faz. - Balancei a cabeça voltando a caminhar. - Ele não é mais meu pai.

— Por que esta sendo tão sincera comigo?

— Você fez as perguntas amigo. Eu só respondi.

— Daryl Dixon.

— Sobrenomes é algo que não tem valor no mundo de hoje. Me chamo Carly. E só.

— Ok. Carly. E só. - Debochou de um jeito mau humorado, mas no fundo tinha divertimento.

Olhei para ele que me encarava de volta. Ali eu vi que Negan tinha cometido o pior erro da vida dele ao nos deixar juntos.


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