Quando estava á poucos metros do banco, o vento me trouxe um cheiro que agora me era mais familiar do que qualquer outro, o de laranja amadeirada.

Caminhei mais um pouco, senti o meu corpo se inundar de varias emoções...

-Boa-noite – disse ele ao me ver

-Boa-noite – retribui levemente

-Sabia que você iria vir pra cá – disse ele olhando para o céu.

-Humf.

Ele me olhou e depois sorriu.

-Qual é a graça?

-Nenhuma... Então qual é a sua resposta?

-Primeiro quero que me responda duas perguntas.

Percebi uma rápida hesitação nele, mas depois se tornou sereno de novo.

-Manda – disse ele se encostando no banco

-Quem é você?

-Me chamo Argos.

-O que você pretende com isso?

-O que eu pretendo? ... É uma pergunta fácil, mas que tem uma resposta difícil.

-Para de rodeios.

Ele me fitou.

-Estive a sua procura por dois meses por causa de que sua mãe pediu que eu tomasse conta de você a partir de agora.

-Minha mãe? – indaguei surpresa

-A própria.

-Agora você vai ser meu pai? – indaguei franzindo a testa

-Tecnicamente falando sim.

-Fala serio – disse virando á cara

-E então qual é a sua resposta?

Olhei para a loja de roupas que havia do outro lado da rua e depois pra ele que continuava sereno...

-Topo por falta de opção

Ele demonstrou uma tímida alegria e com um sorriso encantador no rosto pegou na minha mão.

-Só essa é sua bagagem? – indagou ele olhando minha roupa

-Esperava o que? Umas dez malas? – brinquei

Ele riu

-Vamos então.

Assim começamos a caminhar, ele segurando minha mão como se fosse um tesouro, a media que caminhávamos começava a ficar impaciente diante de tanta calma e demora para chegar...

-Podemos ser um pouco mais rápidos? – sugeri

-Não está gostando da caminhada?

-Estou sem pique para gostar.

Ele riu, soltou minha mão e parou em frente á um condomínio.

-Vamos visitar uma pessoa.

-Quem?

-Seu novo amigo – disse ele apertando a campainha.

-Novo amigo? – indaguei levantando uma sobrancelha

-Exatamente – disse ele voltando-se ao interfone

Minutos depois chegávamos ao apartamento de Samuel que é quem abriu a porta.

Samuel tinha a aparência de um cara de 25 anos, cabelo curto bem cuidado, olhos castanhos, pardo, alto, um pouco musculoso.

-Essa é a garota? – perguntou Samuel ao Argos

-É – respondeu Argos se sentando

-Prazer sou Samuel – disse ele beijando minha mão

-Prazer também.

-Então Argos, o que você manda? – perguntou Samuel se sentando numa poltrona

-Quero que você providencie uma vaga no colégio onde você trabalha.

“Vaga? Colégio? Só pode tá brincando!”

Samuel fez cara de surpreso, depois ficou pensativo.

-Você acha uma boa? – indagou ele á Argos

-Acho, pode conseguir isso?

-Posso.

-Ótimo!

-Será que eu tenho direito de dar minha opinião? – indaguei entrando naquela conversa

-É claro que pode, é você quem vai estudar – disse Argos com os olhos alegres

-Que bom, mais se eu não quiser?

As expressões dos dois ficaram de repente serias.

-Veja bem, vai ser bom pra você voltar á conversar com gente da sua idade, se divertir com uma galera, viver a vida como uma garota de 17 anos – disse Argos

-Pensando melhor... Vamos ver no que vai dar – disse

Argos se levantou, se despediu de Samuel dizendo que voltaríamos depois...

Quando estávamos no elevador, tive a coragem de voltar ao assunto da escola.

-Por que eu tenho que voltar pra escola?

-Porque é sensato e eu quero – respondeu ele encostado no elevador de braços e pernas cruzadas e com os olhos fechados.

-Ok – assenti