Há pessoas boas e pessoas más. Há pessoas que nascem já más e há pessoas que se tornam más. Será mesmo assim? É o que venho me questionando a um bom tempo.

Charles tornou-se mau ou nasceu desta maneira?

Realmente eu tento compreender. Venho justificando sua frieza e brutalidade por causa da experiência da guerra. Porém sinto que não devo aceitar os comportamentos dele, entretanto não há muito o que fazer além de me silenciar. Seu retorno para casa deixou as coisas muito mais difíceis que antes, imagino que seja por eu ter tido a chance mesmo que pouco tempo ter saboreado a felicidade sem a sua presença. É estranho como Charles tem tanto poder sobre mim, em absolutamente todos aspectos.

Levantei impaciente, e comecei a andar pelo quarto. Eu não estava bem, minha cabeça doía e sempre tinha essa vontade de vomitar que nunca passava. Respirei tentando ficar calma, ou acabaria doente... Nem faz tanto tempo de seu retorno mas noto as mudanças drásticas em minha vida. Estou me sentindo mais cansada que o normal, se eu pudesse ficava o tempo inteiro na minha cama dormindo, só sentir seu cheiro revira meu estomago de uma maneira perturbadora.

Desci até a cozinha e cumprimentei Mary. Ela me trouxe uns paozinhos e uma geleia de uva que eu adorava, mas aquilo hoje não parecia bom, senti náusea na hora e me levantei correndo para o banheiro e acabei expulsando pra fora. Eu estava fraca, nem cheguei a me alimentar e vomitei. Eu já estava suando frio, olhei para minhas mãos. O que está havendo comigo? encostei na parede do banheiro sentando no chão, no proposito de melhorar a tontura, mas isso não ajudou muito, senti tudo escurecer.

Comecei a abrir meus olhos lentamente, como se ainda houvesse um grande peso em minhas pálpebras e a luz pudesse ferir minha visão. Sentia uma leve dor de cabeça... Visualizei o quarto ao meu redor, vendo que Mary estava ali, junto com a senhora Dolan minha vizinha, as duas tinha os olhos cheios de preocupação.

— Esme.. – senhora Dolan falou devagar, e pegando em minha mão, virei para onde vinha sua voz.

— O que... Aconteceu comigo? Eu desmaiei não é? - falei e tentei me sentar

— Senhora Everson, você desmaiou... E pelo que pude perceber,ultimamente a senhora não está muito bem da saúde.... - Mary disse nervosa.

Acenei concordando com Mary! O que será que está acontecendo comigo? Estou doente?! Por um momento passou uma coisa horrível na mente, talvez eu pudesse estar sendo envenenada aos poucos. Não duvido de Charles. Saberia ela de algo que não queria me dizer?

— Mary, estou com medo - digo e então sinto a mão da Senhora Nolan apertar minha mão.

— Que isso menina! Calma... - Ela fez carinho levemente em meu rosto.

— Mary, me diga. Já vem percebendo Esme assim a quanto tempo?

— Senhora Nolan, acho que já faz uma semana. Ela tá enjoada da comida, não vem se alimentando direito. Deve ser fraqueza.

Senhora Nolan sorriu e balançou a cabeça negativamente. E suspirou me olhando, estranhei sua atitude.

— desconfia de algo senhora Nolan? - digo nervosa.

— Óh sim, desconfio! Me diga Esme, como estão suas regras? já desceu?

Parei para pensar em sua pergunta, minhas regras desce entre terceiro e quinto dia do mês, já é fim do mês. Minhas regras não desceram nesse mês. Arregalei os olhos e toquei em meu ventre. Não pode ser! Deus me enviou tal presente?

— Senhora Nolan, estou gravida? - digo surpresa.

— com certeza, querida! São sintomas de bebe a caminho, já senti isso 4 vezes, eu sei o que digo. - ela disse sorrindo, logo olhei pra Mary que deixou sua preocupação de lado e sorriu também.

— Senhora Everson! Você está gravida.

Sorri completamente boba! Será que estou realmente grávida? sim, eu sinto isso. Com certeza estou gravida. Não sei bem o que pensar, estou boba. Eu amo crianças, terei a minha agora. Fiquei rindo e acariciando minha barriga. Eu já o amo.

— Que coisa boa Esme, você é tão carinhosa, Vai ser uma ótima mãe. - Senhora Nolan disse.

— Isso é verdade Senhora Nolan, a senhora Everson gosta tanto de crianças, vivia visitando um orfanato e as tratava como dela. Imagina agora com esse bebezinho - Mary comentou sorrindo.

— Preciso confessar, estou surpresa mas tão feliz. - Eu estava em meio a maior alegria de minha vida. Ouvimos a porta ser aberta, era Charles. Logo uma onda de preocupação tomou-me. Olhei rápido para senhora Nolan e supliquei com o olhar que ficasse quieta, eu espero que ela tenha entendido.

— Aconteceu alguma coisa? - fiquei estatica e não consegui falar.

— Senhor Everson, a dona Esme não estava se sentindo bem e então chamei a Senhora Nolan pra me ajudar com ela. - Mary disse.

— O que você tem Esme? - Mesmo que ele parecesse preocupado, aquilo poderia ser apenas uma encenação. Eu não disse nada. Logo Mary voltou a falar.

— Acabamos de descobrir que a senhora Everson, pode está ... - Arregalei os olhos, e notei que a senhora Nolan teve a mesma reação que eu, mas ela foi mais rápido com as palavras.

— Esme está com uma virose - suspirei de alivio pra senhora Nolan. E confirmei com a cabeça pra Charles.

— Virose? - ele disse suspeito.

— É isso mesmo Charles! Mas logo melhoro. - Eu disse tentando me concentrar para não deixar ele suspeitasse, Mary ficou em silêncio também e logo pediu licença entendo a situação.

— Charles, eu já vim ver Esme. Observo que ela está bem melhor. Então voltarei pra casa. - Senhora Nolan disse.

— Claro, obrigada senhora Nolan! Vou leva-la até a porta. - Ela se despediu de mim e saiu do quarto juntamente com Charles.

Depois que Charles e todos me deixaram sozinha, eu tive a chance de assimilar melhor a novidade. Como posso esconder a minha felicidade de provavelmente estar carregando um bebê? Meu filho. Charles! Como ele reagiria a isso? E se ele me bater? pior se tirasse meu filho de mim. Não! não! Charles não pode ser pai, não posso permitir que meu bebe conviva com um homem sem escrúpulos, Charles é descontrolado, não tem controle sobre ele mesmo. Não posso colocar a vida do meu bebe em risco.

Eu tenho que dar um jeito de proteger meu filho de tudo isso. Meu bebe não pode nascer nesse lugar, eu preciso ir embora antes mesmo de Charles descobrir minha gravidez. Depois de tudo que aconteceu, eu não podia mais acreditar que ele fosse capaz de qualquer sentimento bom ou puro. Eu faria qualquer coisa para proteger meu nenem e mantê-lo longe de Charles. Preciso ir embora. Tudo que eu não posso é confiar nele depois de tudo que ele fez, seria como trair a mim mesma, não quero isso para minha vida, agora tudo que me basta é o meu bebê.