Amor Cego escrita por Cas Hunt


Capítulo 49
Ao seu lado




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Já sonhei com o gosto dele. Me flagrei acordada, encarando seus lábios e me questionando qual seria a sensação se o beijasse. Ficaria estática? Haveriam fogos estourando por todos os lados? Nunca beijei alguém por quem fosse tão apaixonada como sou por Noah. Beijos era metódicos, um mover de músculos que acabavam me dando agonia por se tratarem de germes compartilhados. Esperava que se algum dia o beijasse, fosse um estourar de emoções imediatamente.

Não é. Minha pele entra em contato com a sua e fecho os olhos, por reflexo. De primeira, noto algumas coisas: Noah está nervoso. Eu estou tremendo. E meu coração nunca bateu tão forte. Existe o silêncio, não no exterior, mas em minha mente. Esqueço cada problema, cada incerteza, cada suspeita. Devagar, conforme me acostumo á sensação macia da sua boca, movo, liderando um conjunto mais aprofundado de beijos. Atenta ás suas reações, noto a surpresa dele.

Mas não me rejeita. Aceita, vagarosamente o meu afeto, correspondendo no mesmo ritmo. Junto as sobrancelhas, as emoções submergindo como mergulhadas em torpor. Inicialmente vem alívio pelo toque tão aguardado, sinto meu peito preenchido, quase consigo provar o gosto do amor. Provo o amargo, o doce. O sal das minhas lágrimas, o som das risadas e o puro desejo. Demoro até mover-me novamente, Noah me acompanhando.

Sinto o peito doendo no momento em que suas mãos percorrem meus braços. É o mesmo movimento que ele fez várias vezes para chegar ao meu rosto, os mesmos arrepios percorrendo minha pele, o mesmo falhar de coração, contudo, dessa vez parece ter se intensificado. Quase ofego quando Noah segura meu rosto, tomando a liderança do beijo.

Meu cérebro em branco enche-se de imagens dele e começo a querer tocá-lo ainda mais, de senti-lo mais perto. Devagar, deslizo a ponta dos meus dedos para a sua nuca e ombros, tomando cuidado para não nos separar de forma alguma. O estalar do contato, a respiração dele acelerada, soam quase como música.

Demoro a perceber que juntamos nossos corpos quase em magnetismo. Minhas sobrancelhas se juntam. Sinto meu coração, batendo alto e afoito. Sinto o cheiro dele, amadeirado e suave. Minha pele parece quente, como a de Noah. Respiração entrecortada, maciez da pele, arrepios pelo corpo. E sinto, nunca vou amar alguém como venho amando Noah. Isso me dói. Dói ao ponto de desacelerar o beijo terminando-o com dois... três selinhos.

—Entendeu agora? — sussurro baixo, tanta dor no peito que continuo de olhos fechados, o rosto a poucos segundos de ser molhado pelo choro. — Não tenho como superar você.

Tomo sua mão em meu rosto pressionando-a contra o lado esquerdo do meu peito. Junto as minhas por cima da sua e mesmo assim sou capaz de sentir na ponta dos dedos o bater do órgão.

—Eu nunca senti nada desse jeito, Noah. Nunca... Senti tanto.

Minha garganta, parcialmente fechada pelas palavras secas saindo da boca, abre-se, buscando ar. Pressiono minha testa contra a sua e me movo novamente para o segundo beijo. Esse é mais curto, Noah é quem o quebra segurando meus ombros e afastando-me a alguns centímetros.

—Desculpe.

Abro os olhos. Ele está com as sobrancelhas juntas, os lábios pressionados fortemente. Entendo imediatamente. E novamente, sinto a mão fria da dor envolvendo meu coração, puxando-o do peito sem piedade.

—Tudo bem — ponho de volta a distância entre nós dois, notando como ele demora a me soltar. —Eu disse que não precisa me corresponder. Que isso não deveria te influenciar.

—Não é isso — Noah luta com as próprias palavras, a boca abre e fecha algumas vezes — Elise... Eu não sei o que eu sinto por você.

Encaro-o, á distância. Não sabe, não é? Quero argumentar que por mais que eu seja uma pessoa idiota aos sentimentos alheios entendo muito bem como se rejeita alguém tentando não magoar demais. É estúpido, abre espaço para se ter esperança. Soa quase como tortura emocional. Respiro fundo, passando a mão pelos cabelos sem pronunciar nada por alguns instantes.

—Tá bem — suspiro, olhando a parede — Não tem problema.

Ergo-me, o tapa da rejeição sendo forte o suficiente para me recuperar alguns minutos de sobriedade. Passo o indicador pelo lábio inferior, quase sentindo o gosto de Noah outra vez. Pelo menos tenho um beijo para lembrar.

—Espera. Espera —Noah arrasta-se pela cama, sem saber onde estou, tateia cegamente o ultimo lugar onde me sentiu.

—O que foi?

—Fica aqui.

—Sabe que isso é maldade.

—Eu sou egoísta. Tá? Eu não presto, ser cego não me fez mais humilde ou subitamente uma pessoa boa. Não posso nem dizer o que deve tá sentindo agora, mas eu não quero te perder. Por favor.

Aproximo-me dele. Abraço seus ombros e Noah suspira, segurando minha cintura e apoiando a cabeça em meu tronco. Aperta-me, como se eu fosse fugir a qualquer momento. Penso e repenso sobre tudo o que já aconteceu com ele. As pessoas com quem andou, por quem foi enganado. Suspiro, apertando-o de volta e me inclinando para beijar o topo da sua cabeça.

—Quer que eu continue sendo sua amiga, não é?

Ele demora, mas assente. Então deve ter sido por isso que aceitou meu beijo.

—Eu preciso de tempo pra pensar, Elise — suas mãos ao meu redor espalmam-se nas minhas costas, sua orelha se direcionando até meu coração — Seria um lixo se começasse algo sem ter a certeza que posso te proporcionar a mesma intensidade emocional.

É uma boa desculpa. Tento sorrir, ainda o olhando. Passo a mão pelos seus cabelos, deslizo pela nuca e volto, tocando a tatuagem atrás da orelha. Questiono-me se minha mãe ficaria muito brava caso eu fizesse uma também.

—Tudo bem, Noah — digo sentindo sua pele macia aos dedos — Eu te espero.

Noah assente, ainda escutando meu coração. Talvez ele próprio esteja tentando alcança-lo.

—Noah.

—Sim? — sua voz está abafada pelo contato com minha blusa.

—Por que não me conta mais sobre aquela história de me conhecer desde Bishop Hill?

—Nunca te expliquei direitinho, não é?

—Não.

Dessa vez sou surpreendida pelos seus movimentos. Cuidadosamente ele puxa-me para si e no momento em que meu pé sai do chão para apoiar o joelho na cama Noah vira á nós dois me fazendo deitar na cama de frente a ele, da mesma forma como estivemos no dia em que adoeci.

—Lembro que no meu último ano de ensino médio, bem no começo, fiquei até tarde na sala com um amigo tentando me ensinar história. Sou péssimo em história. Teve uma hora que ele saiu pra buscar algo com a irmã dele. Fiquei sozinho e a sala era bem ao lado do clube de música.

Noah umedece os lábios. Quero beijá-lo de novo.

—Tinha alguém tocando piano. —o canto da boca dele se ergue — Foi um trecho da música que você me mostrou naquela primeira aula que me deu, lembra? De uma melodia que vinha trabalhando.

Junto as sobrancelhas. Recordo-me das emoções de insatisfação com a obra e relaxo a expressão.

—Lembro.

—Eu soube que era você só ali. Mas antes do festival, todos os dias, eu passava no clube de música esperando que um deles chegasse a repetir a música.

—E nunca aconteceu.

—É. Você não se interessou em...

—Até ouvir você cantar, a música só servia de lembrete do meu pai. Por isso não me interessava muito nela.

Noah procura pela cama minhas mãos. Utiliza-as para encontrar meu braço e subir ao meu rosto. Toca-o devagar, o polegar em movimentos circulares abaixo dos meus olhos, o afeto carregando-me de tristeza e saudade sem razão.

—Vai ficar tudo bem.

—É, vai sim.

E ele me abraça. Dormimos, colados um no outro. Ao notar sua respiração mais lenta, aproximo o rosto do pescoço dele quietamente inspirando seu cheiro e adormecendo com uma paz extrema.


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