Amor Cego escrita por Cas Hunt


Capítulo 43
Canção


Notas iniciais do capítulo

gente do ceu desculpa a demora, mas agora vai haver uns draminhas, do jeito q todo mundo gosta hehehehe



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Tetsuro chega com os remédios. Noah continua cuidando de mim. Ele sabe, aconteceu algo entre mim e Samir, consigo senti-lo sustentando o peso do significado disso conforme passa a me tocar um pouco menos, o sorriso mais dolorido. E isso me faz ter esperanças.

Aos poucos, minha consciência se dissipa conforme a dor diminui devido os comprimidos que Noah entrega-me. Ainda me força a tomar a sopa de legumes estranhamente gostosa produzida pelo restaurante dos parentes de Tetsuro o qual desaparece segundos após sua chegada.

—Como se sente?

—Já tá melhorando — resmungo afundando no travesseiro.

Noah ainda segura minha mão, mesmo que mais afastado que antes. Entrelaço seus dedos aos meus puxando-o devagar para mais perto, planejando não assustá-lo.

—Tem algo errado?

Ele mantém a tigela de sopa no colo, quase vazia, sentado na cadeira puxada por Tetsuro, retirada da mesinha. Noah fica tão bonito de cabelo parcialmente preso, exibindo a tatuagem da flor de lótus. Puxo-o perto o suficiente para tocá-la.

—Eu gosto dela — resmungo baixo, beirando a consciência.

—Da tatuagem?

—Da flor — acomodo-me e Noah se afasta devagar, atento — Me lembra da noite no jardim.

Vejo-o sorrindo.

—Eu te pedi pra tocar jazz e você me fez comer semente de lótus.

—Tinha gosto de amendoim.

—Não era amêndoa?

Faço uma careta.

—Soam da mesma forma.

Sua risada baixa. Parece até que estamos de volta ao que éramos antes. Quero tanto continuar assim. Mesmo curiosa, não estrago nada perguntando sobre a história dele me conhecer desde o ensino médio. Sequer é tão importante assim. Lembrar ou não de mim não vai mudar o que ele sente.

—Tá cansada?

—Ahan.

—Quer que eu cante até você dormir?

Sorrio, grogue.

—Quero. Mas.... Cante algo só pra mim.

—Já vou fazer isso.

—Não... Uma música que ninguém te ouviu cantar. Só eu.

—Ah. Como quiser.

Noah pousa a tigela no chão iniciando um cantarolar baixo. Afasto-me dando espaço entre nós dois. Puxo-o em seguida, mesmo que tenha o assustado. Atrapalho seu exercício vocal, vagarosamente o trazendo comigo. Noah não diz nada. Surpreso, ele engatinha na cama tirando rapidamente os sapatos.

—Fica do meu lado mais um pouco — peço, imaginando não haver nenhuma outra oportunidade além dessa.

Analiso o seu rosto. Sem expressão, misterioso. Até a mão segurando a minha passar para a cama, analisar o espaço que lhe dei para enfim se sentar mais relaxado e deitar. O rosto vira na minha direção e dividimos o travesseiro. Encaro seu rosto por tanto tempo que quase o sinto me encarando de volta. Hesitante, ele relaxa.

—O que quer que eu cante?

—Eu não sei. Algo só meu... A da sua mãe. Que ela fez. A do festival.

Noah sorri, devagar.

—Muitas pessoas me ouviram cantar ela.

—Eu sei.

—Não tem problema?

—Não se você não cantar ela pra mais ninguém além de mim e a sua mãe.

—Gostou tanto assim da música?

—Gostei da emoção que colocou nela.

As sobrancelhas dele se juntam.

—Emoção?

—É.

Bocejo. Suspirando, aconchego-me no calor corporal de Noah. Afundo-me em seu ombro, o braço dele perdido até identificar o que estou fazendo. Demora alguns segundos até encontrarmos uma posição confortável, inevitavelmente ficando com o corpo de frente um para o outro.

Minhas pernas se emaranham nas suas, meu peito toca o seu, o rosto a centímetros de distância, as mãos dele pousadas uma na base das minhas costas e a outra com o braço preso embaixo do meu pescoço. A minha se estabelece nas costas dele, a direita tirando o cabelo dele do caminho para poder vê-lo melhor.

—Eu nunca gosto de me sentir observado, sabia?

—Imaginava.

—Então por que nunca me incomoda quando é você me observando?

Respiro fundo, o cérebro claramente afetado pelos remédios.

—Isso é uma questão de ponto de vista — resmungo — Você pode gostar muito de mim, ou não ligar nem um pouco.

—Ou confio em você.

Junto as sobrancelhas.

—Confia o que?

—Ainda não sei.

Noah inicia movimentos circulares na base da minha coluna.

—Vai cantar ou não?

—Você é sempre tão mandona?

—Talvez.

Escuto-o soltar uma risada baixa, o meio sorriso no rosto. Continuo a olhá-lo, o coração como o olho de furacão. Noah inicia em um tom baixo, porém muito mais contido e trabalhado do que o usado anos antes. Fecho os olhos, aconchegando-me nele.

Aos poucos a música passa a vibrar mais, apesar de quase sussurrada ainda parecer inteiramente perfeita, mesmo sem nenhum instrumento de acompanhamento. Noah a canta e sinto quase a presença de sua mãe, posso imaginá-la rabiscando a letra conforme fica presa ao hospital, vendo o filho ficar cego e logo depois a mesma ter seus problemas de saúde e ir embora, deixando Noah.

Pego no sono.

***

Não deveria ter feito isso. É meu primeiro pensamento ao acordar horas depois, Noah de olhos fechados com o rosto de frente a mim. Estamos bem próximos, o nariz dele roçando um pouco acima da minha sobrancelha. Respiração calma, posição relaxada. Dormindo, é claro.

Tentando não acordá-lo e com uma subida racionalidade, afasto-me do garoto. Deslizo pela cama até os pés tocarem o chã gélido me lembrando não se tratar de um sonho provocado pela febre. Noah realmente está na minha cama. Passo a mão pelo rosto imediatamente me lembrando de Samir.

Ando de um lado ao outro, uma confusão de emoções e a certeza assombrosa de que nunca vou conseguir ter nada com Samir depois de hoje. Me deixa nervosa. Samir é a pessoa certa, alguém gentil, atencioso e de humor questionável, então por que diabos sinto como se nada disso chegasse perto de como Noah me faz sentir? É injusto. Injusto comigo por ser assim e com ele por ter... Por ter o beijado logo na noite anterior e já estar ao lado de outra pessoa sem nem mesmo considerar o que ele poderia sentir.

Ansiedade e culpa se tornam um só dentro de mim. Pego o celular perdido entre as almofadas e saio do quarto parcialmente escurecido pelo pôr do sol. Começo a digitar o número de Samir, o peito apertado.

Eu o beijei. Dei a ele esperanças, mas não tenho como prosseguir com isso sabendo o quanto dói. Levo o aparelho até o ouvido, aguardando a chamada completar, um branco em meu cérebro sem saber por onde deveria começar.

O toque de um telefone na minha direita me faz levar um susto. Direciono meu corpo imediatamente na direção encontrando justamente alguém cujo o rosto não gostaria de ver agora.

—Surpresa!

Samir ergue o buquê de rosas vermelhas acompanhadas de um embrulho retangular preso em sua mão. Meus ombros caem. Me arrependo amargamente das minhas ações.


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