Tales of Star Wars escrita por Gabi Biggargio


Capítulo 47
"Que seja eterno enquanto dure" (Obi-Wan x Satine)


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores!!!

Enquanto eu atualizava os nomes dos capítulos, eu percebi que já fazia um tempão que eu não escrevia nenhuma Obitine e fiquei com uma saudade desse casal hahahaha Então, aqui está o resultado da minha saudade. Confesso que eu fiquei um pouco assustada com a idéia, porque é BEM diferente dos contos que eu costumo escrever, em questão de temática. Não chega a ser um conto +18, até porque não é um tipo de literatura que eu consumo, muito menos que eu escrevo. MAS, tem um certo Q de erotismo ai que eu achei interessante experimentar (e, apesar de eu ter gostado, não sei se vou explorar isso de novo em algum conto...).

Enfim, quero que considerem esse conto acontecendo no mesmo universo dos contos 19, 38, 40 e 46. OK? Caso tenham se perdido nos números, são os contos com o plot do arpão envenenado e do treinamento do Obi-Wan com o Qui-Gon em Tatooine.

Espero muito que gostem!



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Ele acordou sentindo um certo peso sobre ele. Com a vista ainda embaçada, ele mal conseguia distinguir o que via. Por alguns instantes, seu coração acelerou. Medo e frustração... Afinal, deviam fazer uns bons cinco meses desde que não tinha mais episódios de paralisia do sono. Desde o início de seu treinamento com Qui-Gon, acreditava já ter superado isso e se sentiu como um Padawan iniciante e despreparado ao perceber que aquilo era ainda muito real para ele. Mas, conforme sua visão se acostumava à pouca claridade no ambiente, ele percebeu que, sobre ele, não havia um demônio ou algo do tipo (além do fato de que ele conseguia se mexer).

Na discreta escuridão que as cortinas lhe proporcionavam, barrando a intensa luminosidade dos dois sóis de Tatooine, ele conseguiu ver a silhueta de uma mulher sobre ele. Magra, com a pele pálida e com cabelos loiros curtos, mas compridos o suficiente para caírem sobre seu rosto, indicando o quanto ela estava próxima dele. Um toque suave e gentil sobre o seu peito, arrepiando cada pelo de seu corpo e o excitando como se ainda fosse um adolescente. Fazia anos que ele não sentia aquele tipo de sensação e se surpreendia ao redescobrir o quanto aquilo era... inebriantemente bom.

— Obi – ele ouviu a voz da mulher sussurrar, tão próximo ao seu ouvido que a pele de sua nuca se arrepiou.

— Satine – ele disse em resposta.

Imediatamente, a mulher se aproximou ainda mais dele e ele sentiu os lábios dela tocarem os seus. Sem pensar duas vezes, ele retribuiu o beijo. Queria aquilo... ansiava por aquilo... desejava aquilo mais do que qualquer coisa na galáxia. Completamente inebriado de prazer, ele girou em sua cama, colocando-se por cima dela. Uma sensação de euforia que há muito ele não experimentava. Até que...

... ele foi acordado, retirado de seu estado de transe e sonolência pelo miado de seu lothcat que, comprimido entre ele e a cama, arranhou-lhe o braço. Um grito de dor escapou de sua boca, abafando o pouso suave do animal no chão ao seu lado.

— Ora, seu...

Enraivecido e quase que instintivamente, Obi-Wan arremessou o travesseiro em direção a ele. O lothcat se esquivou, escondendo-se embaixo de um armário e emitindo um guincho ameaçador. Seus olhos felinos brilhando na sombra lhe davam uma aparência assustadora e fantasmagórica.

Ao perceber o que havia acontecido, Obi-Wan riu sozinho antes de conferir o braço. Um pouco acima do cotovelo esquerdo, havia três traços avermelhados que sagravam ativamente, manchando o lençol. Não profundos o suficiente para precisar de pontos, mas profundos o suficiente para arderem horrivelmente.

— Olha o que você fez! – ele tentou dar uma bronca no lothcat, mas sem conseguir ser convivente o suficiente pois ainda ria do que havia acabado de acontecer. – Você está com fome, né? Por isso veio me acordar, né? Interesseiro... Vem... Vou colocar comida pra você.

Obi-Wan se levantou de sua cama e caminhou em direção à cozinha. Debaixo do armário, o lothcat o seguiu com o olhar por alguns segundos antes de arriscar acompanhá-lo. Na cozinha, o Jedi depositou um pouco de ração dentro de uma tigela de metal disposta no chão. Uma vez que o lothcat começou a comer, Obi-Wan o acariciou atrás das orelhas pacificamente.

A dor de seus arranhões rapidamente o tirou de seus poucos segundos de distração. Vendo o braço ainda sangrando, ele avançou até o banheiro, abriu a torneira e começou a lavar as feridas. Um guincho de dor escapou de seus lábios quando a água tocou as feridas abertas. A ardência era indescritível. Mas, conforme lavava, a dor cessou e, com a pele mais limpa, ele conseguiu ver com mais detalhes o resultado daqueles arranhões.

— Pela Força, você estava tentando me matar? – ele sussurrou.

Já muito aceitativo de que aqueles arranhões resultariam em cicatrizes permanentes, ele enrolou bandagens ao redor do braço para confeccionar um curativo. Vendo seu reflexo no espelho enquanto fazia isso, Obi-Wan riu sozinho, lembrando-se de um passado que já não lhe pertencia. Mas o sorriso morreu quase instantaneamente quando ele identificou um fio de cabelo branco em sua cabeça. Ainda incapaz de aceitar que a idade estava chegando, ele o arrancou e o jogou no vaso sanitário.

 

— Se você ficar parado, talvez em consiga fazer esse curativo – Satine parecia irritada enquanto enrolava bandagens ao redor da panturrilha ferida de Obi-Wan.

— Ainda está muito feio? – ele perguntou, curioso, tentando ficar o mais imóvel possível, deitado na cama da nave que os levava para Takodona.

Mas a verdade era que ele não queria ficar imóvel: Satine tinha um charme especial quando estava nervosa.

— Não – ela respondeu, um pouco mais calma. – Aparentemente, só um pouco inflamado ainda. Você acha que já consegue andar?

— Acho – ele respondeu. – Quero dizer, está doendo bem menos do que estava dois dias atrás.

— Bem, podemos fazer um teste quando pousarmos – sugeriu Satine. – Mas vá com calma! Não quero ver você se esborrachar no chão igual da outra vez porque não aguentou o seu próprio peso. Se não conseguir ainda, eu e mestre Qui-Gon podemos te ajudar.

Após um rápido instante de silêncio, Satine terminou de fazer o curativo e olhou para ele. Um olhar rápido, seguido de um sorriso discreto de Obi-Wan. Encabulada, Satine virou o rosto, voltando a olhar para a sua perna e amaldiçoando mentalmente a si mesma por ter terminado de fazer o curativo tão rapidamente.

— Eu vou ver se mestre Qui-Gon precisa da minha ajuda – ela disse, levantando-se sem olhar para ele.

Mas, antes que ela pudesse se afastar e sair da cabine, Obi-Wan a segurou pela mão. Mas aquele não era um toque comum. Obi-Wan já a tocara algumas vezes, oferecendo a mão para ela sair de dentro de um speeder, por exemplo. Mas aquele toque era diferente. Havia algo nele que não havia nos outros. Algo que nem mesmo Obi-Wan sabia o que era, mas suspeitava ser afeto.

Encabulada e parcialmente congelada pelo nervosismo, Satine olhou para ele.

— Obrigado – disse o Padawan.

— Disponha – ela respondeu, formalmente.

Por fim, Obi-Wan soltou a mão da duquesa. A pele dela tatuada na sua provocando uma sensação de formigamento estranha ao mesmo tempo em que seu coração acelerava e ele pedia à Força para que Satine não percebesse tudo isso.

Após alguns rápidos instantes que mais pareceram séculos, a jovem deu as costas à Obi-Wan e se dirigiu para fora da cabine, iniciando seu caminho em direção ao cockpit enquanto metade sua estava grata por deixar aquele lugar, mas a outra metade queria voltar. Ainda deitado, Obi-Wan continuava seu coração bater fortemente contra seu peito. Uma sensação que ele não conhecia. Um misto de ansiedade e animação tão viciante que ele queria experimentar mais, mas que, ao mesmo tempo, sabia ser proibida para um Jedi. Não podia. Mas queria. E queria mais. E, por mais que tentasse encontrar diversos outros nomes para defini-lo, ele sabia que apenas um nome era suficiente pra definir aquele sentimento.

 

O lothcat estava deitado em sua cama, ao lado da mancha de sangue, quando Obi-Wan saiu do banheiro. Ainda estava bravo com o animal. Não só pela ferida, mas porque precisaria lavar o lençol que havia trocado a menos de um dia. “Pelo menos as roupas secam rápidos nesse calor infernal”, ele pensou, acreditando que isso seria o suficiente para se convencer de que aquilo não era um problema.

Mas não faria isso naquele momento. Já que fora acordado tão bruscamente e tão cedo, iria comer com calma antes de começar o seu dia. Imediatamente, ele se dirigiu até a cozinha, ligando o fogo em uma das bocas do fogão e colocando uma frigideira sobre ela. Quase que imediatamente, ele sentiu algo se enroscar entre as pernas.

— Gato interesseiro... – ele murmurou no momento em que colocou duas fatias de pão para torrar na frigideira.

Mas o lothcat era persistente. Conforme o cheiro do pão torrado (e, posteriormente, do ovo frito) tomava conta do ar da pequena cabana, o gato deixou de apenas se enroscar entre as pernas de Obi-Wan e se apoiou sobre ele, mordiscando seu joelho em um dissimulado gesto de amor.

Incapaz de resistir àquilo (mesmo sabendo que era apenas uma atuação), Obi-Wan arrancou um pedaço da casca torrada do pão e se abaixou para dar ao lothcat. O animal engoliu a lasca de pão em uma única mordida, afastando-se do Jedi imediatamente após ter conseguido o que queria, dirigindo-se para a parte debaixo do armário, novamente.

— Pilantra...

No fundo, Obi-Wan sabia que o amor do lothcat não era condicionado por comida. Ele amava aquele gato e sabia o quanto o gato lhe amava. Podia sentir na Força que o sentimento era verdadeiro. Tão verdadeiro quanto o que ele tinha por Satine... Era estranho o fato de que, após meses sem pensar nela, ela tenha ressurgido na sua mente nos últimos dias, reavivando memórias tão antigas cujos detalhes ele já nem mais sabia.

 

— Obi-Wan! – a voz estrondosa de Qui-Gon ecoou pelo cockpit quando ele percebeu a chegada do Padawan. Assustada, Satine se virou para olhar tão velozmente que parecia ter sido avisada da chegada de um uma besta zillo ao local, não do rapaz. – Fico feliz em ver que já consegue andar. Como está?

— Bem melhor – ele disse, embora a verdade fosse que ainda se sentia um pouco zonzo e ainda estivesse mancando, sentindo fisgadas bem dolorosas na panturrilha a cada passo. – Estamos chegando em Takodona?

— Sim – confirmou Qui-Gon, enchendo uma xícara com um líquido escuro e quente. – Já consegui contato com Maz Kanata. Ela me passou as coordenadas de uma pista de pouso abandonada e vai estar lá pra nos receber. Disse que vai ser mais seguro pousarmos lá, para não sermos vistos. E ela vai nos deixar dormir nos quartos da parte privada dela do castelo, longe dos quartos que ela aluga pros caçadores de recompensas. Mas, infelizmente, vamos ter um tempo limitado de alguns poucos dias. Cinco no máximo. Mas acho que é o suficiente para conseguirmos nos recuperar depois de tudo o que aconteceu nos últimos dias, não acha?

— Acho, mestre.

Por fim, após muita dor (que ele evitava ao máximo não transparecer em suas feições), Obi-Wan conseguiu se sentar em uma das poltronas vazias no cockpit, deixando escapar um suspiro de alívio. Durante todo o tempo, Satine evitou contato visual.

Nesse momento, com Ob-Wan já acomodado, Qui-Gon estendeu a xícara para seu aprendiz.

— A duquesa fez chá – ele anunciou.

— Obrigado – Obi-Wan agradeceu ao aceitar a xícara.

— Infelizmente, não temos açúcar na nave – ela disse, encabulada. – Mas acho que está bom mesmo assim.

No fundo, Satine estava furiosa consigo mesma. Nunca em sua vida alguém lhe deixara naquele estado, tímida, retraída e quase sem palavras, incapaz de olhar nos olhos das pessoas. Quem raios aquele simples Padawan pensava que era para deixá-la como uma adolescente imatura e sonhadora?

— Está muito bom, mesmo assim – disse o rapaz. – Obrigado.

— Disponha – ela disse.

“Disponha”? Por favor, quem fala essa palavra nos dias de hoje?

Estava tão irritada consigo mesmo que temia que os dois Jedi conseguissem sentir sua inquietação na Força.

Antes que que esse tipo de pensamento pudesse dominá-la, a nave em que estavam saiu do hyperespaço e, pela imensa janela de vidro do cockpit, os três se viram diante de um imenso planeta florestal com inúmeros oceanos.

— Pronto! Chegamos – anunciou Qui-Gon, sorrindo. – Já esteve em Takodona antes, duquesa?

— Nunca – Satine respondeu.

— Então, seja bem vinda – disse o Jedi. – Particularmente, acho que é um dos planetas mais bonitos que já estive. E você vai adorar a Maz. A pessoa mais hospitaleira de toda a galáxia.

Satine olhou maravilhada para a superfície de Takodona conforme a nave se aproximava. Mesmo à noite, a luz de suas luas deixava o ambiente claro o suficiente pra que se fosse possível ver o reflexo da nave sobre um dos lagos do planeta e para que fosse possível ver o contorno dos pinheiros nas margens.

Mas mesmo as exuberantes paisagens de Takodona não conseguiam chamar a atenção de Obi-Wan. Naquele momento, ele tinha olhos apenas para Satine. A jovem o havia enfeitiçado e, preso em um mundo sem pensamentos enquanto a admirava, Obi-Wan volto a sentir seu coração acelerado e a sentir os fios de cabelo em sua nuca de eriçarem. Sua mão ainda formigava, sem esquecer do toque de Satine...

Conforme a nave perdia altitude, Obi-Wan reconheceu a pequena criatura laranja na pista de pouso, acompanhada por um droid. Maz Kanata acenava alegremente para eles quando tocaram o solo.

— Qui-Gon Jinn  - ela disse alegremente quando o Jedi saiu da nave. – É um prazer imenso rever você depois de tanto tempo.

— Igualmente, Maz – ele respondeu, abaixando-se para abraçá-la. – Eu queria que minhas missões me trouxessem pra esse lado da galáxia com mais frequência. Não hesitaria em passar aqui pra tomar um drink com você.

Após descer da nave, Obi-Wan estendeu a mão para Satine. Como sempre fazia. Mas, naquele momento, os dois sabiam que ele não fazia aquilo apenas por educação. Ele era um viciado em abstinência e a pele de Satine era a sua droga. Precisava daquela sensação. Ele queria mais daquilo e, voluntariamente, evitava pensar nas consequências. Sabia o quanto aquele tipo de sentimento podia ser destrutivo para um Jedi, mas ele não conseguia evitar. Ele queria mais daquilo. Ele precisava de mais. A todo instante.

Satine permaneceu imóvel por alguns instantes, como se pensasse se deveria ou não prosseguir com aquilo.

Desde que Obi-Wan fora ferido, ela já sabia que sentia algo por ele. Ela evitava que a palavra “amor” tomasse conta de sua mente, mas era quase inevitável. E, depois daquele rápido momento na cabine, ela sabia que Obi-Wan também sentia algo por ele. Ele, claramente, não estava conseguindo evitar de demonstrar aquilo e ela sabia muito bem aonde tudo aquilo poderia levá-los se ela encorajasse esse tipo de atitude. Talvez, recusar a mão dele para descer da nave fosse a atitude mais sensata. Mas não... Ela também queria aquilo... Ansiava desesperadamente por aquilo...

Sem pensar mais uma vez no assunto, ela segurou a sua mão enquanto descia da nave.

— Acredito que ainda não conhece a duquesa de Mandalore? – perguntou Qui-Gon, virando-se para os dois.

E, nesse momento, Qui-Gon viu. Não apenas os dois de mãos dadas enquanto Satine descia da nave. Mas o brilho nos olhos deles. Um brilho que misturava paixão e luxúria. E Obi-Wan soube que seu mestre havia percebido isso: rapidamente, ele soltou a mão de Satine, fingindo que não era nada demais. Mas já era tarde demais. Qui-Gon era mais velho e muito mais inteligente do que ele.

— Não pessoalmente – respondeu Maz, adiantando-se até ela. – Mas já ouvi muito falar de você. Seja muito bem vinda à Takodona, milady.

— Obrigada – respondeu Satine cordialmente, acompanhando Maz e o droid até um speeder.

Lado a lado com seu mestre, Obi-Wan evitou olhá-lo. Ambos sabiam exatamente o que havia acontecido ali e ambos não queriam mencionar o assunto, sabendo que, mais cedo ou mais tarde, teriam que fazê-lo.

“Maldita juventude”, pensou Qui-Gon.

  

Por que raios ela tivera que voltar aos seus pensamentos? Apenas para instabilizá-lo novamente?

Ainda com esses questionamentos na cabeça (mas um pouco mais satisfeito, de barriga cheia), Obi-Wan finalmente se adiantou até a sua cama e retirou o lençol manchado de sangue. Ele o enrolou e se adiantou até o tanque, odiando cada segundo que passou esfregando aquele pedaço de tecido antes de colocá-lo para secar no lado de fora de sua cabana. Por um milagre, aquele não era um dos dias mais quentes que já vivera em Tatooine (até porque era impossível dizer que havia um dia frio ali, mas aquilo era o mais próximo de frio que ele poderia desejar) e, portanto, ele sabia que o lençol demoraria mais do que o habitual para secar.

Talvez, tivesse tempo suficiente para ir até Mos Eisley fazer umas compras. Incluindo, mais ração para o lothcat, visto que o pacote que tinha em casa estava próximo do fim. Mos Espa, com certeza era mais próxima, mas, e fosse até Mos Eisley, poderia passar pela fazenda dos Lars no caminho. Apenas para se certificar de que estava tudo bem.

Mas, durante todo o caminho, Obi-Wan não conseguia tirar Satine de seus pensamentos. O céu azul lhe lembrava os olhos dela, a areia amarela do deserto lhe lembrava de seus cabelos. Ah, os cabelos dela... Obi-Wan quase conseguia sentir o perfume de seus cabelos como se ela estivesse ao seu lado.

Por vários dias desde que começara a viver o exílio, Obi-Wan pensou em como as coisas poderia ter sido diferentes. Com todo o caos que Mandalore havia se tornado, será que Satine teria vindo com ele para Tatooine se estivesse viva? Teria ficado finalmente juntos? Em seu coração, Obi-Wan sabia que haveria uma grande possibilidade de ele aceitar viver com Satine como um casal no meio daquele nada interminável que era Tatooine. Não deixaria de cumprir sua tarefa em vigiar Luke, mas que se exploda a Ordem Jedi e seus ensinamentos. Depois de tudo, ela aceitaria essa vida sem arrependimento algum.

Mas sabia que, mesmo que Satine tivesse sobrevivido, isso jamais aconteceria. Sabia muito bem que ela o amava. Sabia muito bem que seus sentimentos e os dela eram os mesmos um pelo outro. Mas era mais fácil Satine detonar bombas do que abandonar Mandalore. Ela nunca ficaria com ele. Satine amava Mandalore e sabia muito bem que tinha um dever a cumprir.

Internamente, Obi-Wan se sentia um pouco frustrado por isso. Sentia como se fosse a segunda opção de Satine, caso ela tivesse que escolher entre ele e Mandalore. Mas não podia culpá-la por isso. No passado, tantos anos antes, ela já havia feito essa escolha, assim como ele havia escolhido a Ordem Jedi. Mas, mesmo assim, ela não conseguia deixar de se sentir mal com a certeza de que, mais uma vez, Satine não o escolheria. Ao mesmo tempo, ele sabia que isso era egoísta de sua parte, mas isso já não mais o incomodava como incomodaria alguns anos antes. Aos poucos, ele aprendera a aceitar esses sentimentos mais humanos como parte de si mesmo do que a rejeitá-los. Ela mais fácil aceitá-los e aprender a conviver com eles do que rejeitá-los e ceder a eles quando se tornassem grandes e incontroláveis demais. Como Anakin fizera...

Nem Jedi, nem Sith...

 

Após alguns segundos, a porta se abriu e, ao contrário do que esperava, Obi-Wan não viu seu mestre ou Maz Kanata. Quem batia à sua porta era Satine e, ao vê-la, seu coração acelerou imediatamente.

— Posso entrar? – ela perguntou.

— Claro – ele respondeu, abrindo caminho para que ela passasse.

Após entrar, Satine olhou ao redor. O quarto que Maz havia dado a Obi-Wan para as próximas noites era bem menos luxuoso que o que ela havia dado à Satine, apesar de ainda muito espaçoso e confortável. Talvez, o fizera pensando no fato de ela ser uma duquesa. Mas ela não conseguia deixar de se sentir um pouco culpada por ter tanto conforto naquele quarto e...

O som da porta se fechando a retirou de seus pensamentos. Seu coração também estava acelerado no momento em que ela se virou para encará-lo.

— Você está melhor? – ela quis saber.

— Bastante – ele respondeu.

E realmente, dessa vez, ele estava. Ainda com dor, obviamente, mas se sentindo bem mais confortável e bem menos zonzo desde que conseguira tomar o primeiro banho em dias, logo após ter se instalado naquele quarto.

— Ótimo – ela disse, adiantando-se para a porta e visivelmente nervosa e se arrependendo amargamente por ter ido até ali, incapaz de iniciar a conversa que tanto queria ter com ele para colocar todas as cartas na mesa de uma vez por todas. – Boa noite, então...

Satine conseguiu abrir uma fresta da porta, mas Obi-Wan a fechou.

Nenhum dos dois tinha mais tempo para gastar com aquela brincadeira. Tinham que ser verdadeiros um com o outro. Ele queria. Céus, como ele queria...! E ele podia sentir na Força que ela também queria. Havia desejo, havia paixão. Obi-Wan temia que seus sentimentos pudessem estar lhe confundindo, mas precisava ouvir da boca dela para aceitar o contrário.

— Você não veio até aqui a essa hora só pra ver se eu estou bem – ele sussurrou, aproximando-se dela. - Não é?

Ele podia sentir o cheiro do perfume dela e aquilo o deixava quase hipnotizado. Zonzo, como se tivesse sido transpassado por outro arpão envenenado. Mas zonzo de uma forma boa que ele não conseguia descrever.

— Obi-Wan, por favor... – ela disse, ao mesmo tempo acuada mas sem evitar que ele se aproximasse. Ela conseguia sentir a respiração dele e aquilo a deixava completamente perdida. – Eu não posso fazer isso. Meu povo jamais me perdoaria.

— Seu povo não precisa saber – ele disse, ainda mais próximo. – Nem mestre Qui-Gon. Nem a Ordem Jedi. Pode ficar só entre nós.

— Eu tenho um dever a cumprir – ela fingiu protestar, mas desejando internamente que ele se aproximasse ainda mais. – E jamais vou conseguir fazer isso se continuarmos...

— Eu também tenho um dever – Obi-Wan tocou o ombro dela e, imediatamente, ela levou sua mão à dele, não para afastá-la, mas para senti-la. – Mas não vai ser hoje, nem amanhã e nem depois. E o seu também não. Não há urgência pra nenhum de nossos deveres.

Ah, sim... Havia sim urgência... Milhões de sirenes apitavam na mente de Satine, enlouquecendo-a com um barulho infernal conforme Obi-Wan deslizava sua mão suavemente do ombro da jovem para suas costas. Ela sentia todo o seu corpo queimar com um calor estranho e inebriante (mesmo sabendo que, do lado de fora, nevava em Takodona) enquanto Obi-Wan sentia sua pele arrepiada, como se estivesse descolando de seus músculos.

— Não há urgência, não é? – ela perguntou.

— Não – ele confirmou, enterrando seu rosto nos cabelos dela.

Pela Força, o cheiro dela o deixava louco...

— Eu quero ser seu – Obi-Wan sussurrou. – Hoje... – ele beijou a orelha de Satine e ela suspirou. – Amanhã... – ele beijou o seu pescoço e os joelhos da duquesa tremeram. – Pra sempre... - por fim, ele beijou o ombro de Satine e ela não conseguiu evitar que um longo suspiro escapasse de seus lábios.

A outra mão de Obi-Wan pousou sobre seu quadril e, por alguns instantes, ela pensou que fosse desmaiar. Ele, por outro lado, sentia suas pernas tremerem e acreditava piamente que elas cederiam e ele cairia em uma cena embaraçosa.

— E ninguém precisa saber, não é?

— Não – ele confirmou, mais uma vez. Seu coração quase pulando para fora de seu peito.

Com a cabeça inclinada para o lado, Satine sentiu os lábios de Obi-Wan tocarem os seus. Ela retribuiu o beijo acariciando os cabelos do Padawan enquanto as mãos dele viajavam pelo corpo. Lentamente, ela se virou, reduzindo a zero o espaço entre o corpo dele e o dela. O arrepio mais forte que ela já sentira na vida tomou conta de cada célula de seu corpo quando ele deslizou a mão pelo ombro da duquesa, afastando a alça de sua camisola sem interromper o beijo.

— Me desculpe – ela disse, por fim. As palavras saindo de sua boca na forma de suspiros. – Eu quase deixei você morrer... eu...

— Isso não importa – ele respondeu. – Isso já é passado...

Obi-Wan beijou o pescoço de Satine enquanto ela afastava as bordas das vestes dele, despindo-o da cintura pra cima.

— Eu quero ser seu – ele tornou a dizer. Na verdade, ele implorava. – Eu faço o que você pedir, mas me deixe ser seu. Por favor...

Ela sorriu, afastando-o com a mão, fazendo-o cair sentado na cama.

— Ótimo – Satine respondeu, sorrindo para ele. – Eu estou mesmo mais acostumada a dar ordens do que receber.

  

Ele chegou em casa com suas compras. Demorou alguns momentos para organizá-las em seus devidos lugares, mas ficou satisfeito ao ver que seu lençol já estava seco. Mesmo sem passar, ele voltou a estendê-lo na cama, sem se incomodar com as dobras do tecido.

Mas o lençol amassado era o que menos o incomodava naquele momento. A lembranças da mulher que um dia amou assolavam seu coração e ele não conseguia entender por que raios aquilo o estava incomodando tanto. Talvez por negar por querer negar a si mesmo que esses sentimentos haviam existido algum dia? Mas que benefício ele poderia tirar dessa luta contra si mesmo?

Ainda se perguntando isso, ele abriu o alçapão na cozinha e desceu para o andar debaixo, na velha sala de máquinas. Ali, ele mantinha alguns objetos pessoais, há tanto tempo esquecidos. Sobre uma velha escrivaninha, uma caixa de madeira onde ela guardava o sabre de luz de seu antigo aprendiz. Um objeto cheio de memórias, obviamente. Mas eram memórias as quais ele ainda não estava pronto para visitar. As memórias que buscava estavam em um baú no chão.

Em seu interior, no meio de roupas, ele encontrou um caderno. Um pequeno diário que escrevera nos seus tempos de Padawan. E, ali, uma foto de Satine. Uma foto que ela lhe dera antes de ele deixar Mandalore, ao término de sua missão. Uma foto a qual há anos ele não olhava. Mas era tão bom poder olhar para o rosto dela novamente, sem depender de sua memória para se recordar dos traços da duquesa.

Talvez, realmente não houvesse motivos para lutar contra aqueles sentimentos. A foto ficaria ótima em seu criado-mudo, afinal.

  

As cortinas do quarto eram densas demais, de forma que o pouco de luz que adentrava o local não era o suficiente para iluminar o ambiente, apenas para acordá-lo. Ainda de olhos fechados, Obi-Wan conseguia sentir Satine ao seu lado, abraçada a ele, seus corpos juntos um ao outro, as pernas dos dois entrelaçadas em um nó estranho e confortável embaixo das cobertas. E ele podia sentir o cheiro dos cabelos dela que, agora, impregnavam o seu corpo também.

Ele se sentia mal pelo que havia acontecido, culpado por trair a Ordem Jedi e cuspir tão inconsequentemente nos ensinamentos de seu tão amado mestre. Mas, pela Força, ele faria tudo de novo mais um milhão de vezes se possível. Faria todos os dias de sua vida. Obviamente, ele sabia que isso não seria possível. Mais cedo ou mais tarde, o peso da realidade cairia sobre os ombros dos dois e seus deveres viriam cobrar a atenção que lhes era devida.

Mas, que seja infinito enquanto dure...


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Notas finais do capítulo

Eu usei esse trecho do Soneto de Fidelidade, do Vinícius de Morais, como título porque, na minha concepção, é o que mais define como foi o relacionamento do Obi-Wan e da Satine no year on the run (hello Disney, quando a gente vai ter isso em detalhes????): um relacionamento intenso, mesmo que os dois soubessem que seria limitado.

Bem, enfim, espero que tenham gostado ♥

Beijinhos e até o próximo!



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