Tales of Star Wars escrita por Gabi Biggargio


Capítulo 46
Adeus (Bo-Katan x Satine)


Notas iniciais do capítulo

Voltei com mais um capítulo, lindões e lindonas ♥

Espero muito que gostem ;)

PS: Como essa fanfic é uma fanfic pra explorar os relacionamentos entre os personagens, eu editei o título de todos os capítulos com os personagens principais de cada (ou, em alguns casos mais raros, do único personagem principal do conto). Acho que ajuda leitores novos a se orientarem para exatamente o que querem ler e até os leitores antigos, caso queiram reler alguma coisa...



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Com seu jetpack ligado, ela era apenas um ponto luminoso cruzando o céu noturno de Mandalore. Fora de Sundari e sobrevoando o imenso deserto sem fim em que Mandalore havia se tornado, ela se sentia ainda mais sozinha e desolada do que toda a situação, por si só, já a forçava a se sentir. Mas, mais do que isso, havia outra coisa que estava sentindo. Algo diferente, que apertava o seu peito, formava um nó em sua garganta, fazia a sua alma sangrar e fazia lágrimas escorrerem de seus olhos. Um sentimento ao qual ela não estava acostumada, mas que parecia que jamais teria fim. Uma sensação à qual ela não era habituada. Culpa.

Por fim, após muitos minutos, ela identificou o acampamento de seus Nite Owls: pequenos galpões improvisados rodeados por naves, a quilómetros de Sundari, com quase nenhuma luz acesa, uma forma de evitar serem localizados pelos soldados de Mauls. Após localizar o seu destino, Bo-Katan foi, gradativamente, perdendo altitude até que, por fim, chegou ao solo, caminhando ao encontro de seus soldados, que vinham em sua direção. Ao longe, ela removeu o capacete e enxugou as lágrimas antes que eles a pudessem vê-las.

Com seu capacete em suas mãos, Ursa Wren foi a primeira a chegar até Bo-Katan. Não houve cerimônia alguma no reencontro. A mulher dirigiu-se à sua líder da forma mais direta e clara possível.

— Estamos com o corpo.

A notícia fez um calafrio percorrer a espinha de Bo-Katan. Seu coração acelerou em seu peito como se quisesse rompê-lo e pular para fora de seu corpo (o que, por alguns instantes, ela até desejou que acontecesse... Quem sabe, assim, ela deixaria de sentir toda aquela dor e aquela culpa que pareciam se intensificar mais e mais a cada segundo, sem nenhum indício de melhora?). Ela respirou fundo e, então, fez um sinal com a cabeça para que Ursa a conduzisse.

Caminhando por entre seus soldados, Bo-Katan evitou olhar para eles. Por debaixo de seus capacetes, ela acreditava que todos eles conseguiam ver o que ela sentia. Como era possível que não vissem se tudo aquilo a estava esmagando? Mas, mais do que isso, ela imaginava que seus soldados a estavam julgando por sentir tudo aquilo. Por se sentir daquela forma por uma inimiga. Mas eles não entendim... Jamais entenderiam...

Quase como conseguisse ler a mente da mulher, Ursa se adiantou para ela, sussurrando-lhe ao ouvido.

— Antes de ser nossa adversária, Satine era sua irmã – disse a mulher.

Ursa era uma mulher de poucas palavras, mas aqueles haviam sido suficientes para que Bo-Katan entendesse o que ela queria dizer: estava entre amigos e, como tais, todos ali entendiam e respeitavam a sua dor. Claramente, aquilo não era o suficiente para que Bo-Katan se sentisse confortável para chorar. Afinal, era orgulhosa demais pra isso... Mas seu medo de que qualquer demonstração de fraqueza naquela situação pudesse leva-la à sua destituição foi extinto.

Por fim, o grupo chegou a um container de metal com uma única porta lateral. Antes que Bo-Katan pudesse entrar, Ursa se adiantou, adentrando o container. Do lado de fora, Bo-Katan pôde ouvir a amiga dizer “Saiam, agora” e, instantes depois, dois soldados que faziam a guarda do corpo passaram pela porta, sendo seguidos de perto por Ursa, que parou ao lado de Bo-Katan.

Ursa, enfim, colocou a mão sobre o ombro dela e, novamente, sussurrou:

— Achei que fosse querer ficar sozinha. Fique o tempo que quiser. Não estamos com pressa.

Assim, ela se afastou, permitindo que Bo-Katan avançasse em direção à entrada do container.

A cada passo, Bo-Katan sentia seu coração acelerar. Um rio de suor gelado escorria por suas têmporas. Mesmo debaixo das luvas, as pontas de seus dedos estavam frias e ela podiam sentir seus joelhos tremerem e falharem. Temia cair antes mesmo de entrar no container. De mostrar fraqueza diante de seus soldados, que tanto valorizavam a força que ela sempre tivera. Tinha medo de destruir a imagem que lutou por anos para criar. Mas, apesar disso, tal medo parecia infantil e insignificante. Como se nada mais na galáxia tivesse importância alguma. Como se aquele guerra não mais tivesse valor algum.

Após engolir em seco, Bo-Katan avançou.

O interior do container era escuro, sendo iluminado por apenas algumas lâmpadas que piscavam e pela pouca luz da luz que entrava pela porta. O espaço era pequeno, mas, ao fundo, Bo-Katan conseguia ver uma maca e, nela, uma pessoa repousava. A mulher já sabia o que veria quando se aproximasse, mas nada na galáxia poderia tê-la preparado para aquele momento.

Mesmo tendo sido assassinada a poucas horas, Satine já estava terrivelmente pálida. Mais pálida do que naturalmente era. Uma palidez mórtica e fantasmagórica completamente fora do normal. Uma palidez que fez a espinha de Bo-Katan congelar e a fez solta o seu capacete, que caiu ao chão com um baque surdo. Os lábios e as pontas dos dedos da ex-duquesa de Mandalore estavam arroxeados e, ao tocar a pele da irmã, Satine a sentiu gélida, desfazendo todas as suas imaturas esperanças de que ela estivesse apenas dormindo.

A culpa que já corria o coração da mulher, nesse momento, tornou-se um monstro incontrolável. As lágrimas que ela tanto tentara esconder minaram de seus olhos sem que ela tivesse controle algum sobre elas. Por mais que seu peito se movimentasse com velocidade, ela tinha a impressão de que molécula alguma de oxigênio entrava em seus pulmões. Suas pernas tremiam e ela já não sabia por mais quanto tempo conseguiria se sustentar em pé.

Era doloroso demais... Perverso demais... E saber que ela mesma tinha uma parcela de responsabilidade imensa na sequência de eventos que haviam levado àquilo era ainda pior. Todas as lembranças felizes que as duas um dia haviam compartilhado, agora, pertenciam apenas a ela. Seriam dela por muitos anos, até que a idade já não mais lhe permitisse ter memórias para chamar de suas. E, então, em algum momento, essas memórias desapareciam, deixando a existência junto com Bo-Katan.

— Me desculpe, irmã... – ela conseguiu balbuciar entre os soluços.

Mas a própria Bo-Katan achava aquilo ridículo. Não havia perdão pelo que havia feito... Onde estava com a cabeça? Era minha irmã! Mas já não havia mais o que fazer e a culpa que a assolava sabia disso. O futuro é um destino com um sentido único e a culpa sabia disso. Sabia e usava isso quando, a cada soluço, apertava mais e mais o seu coração, como se estivesse tentando esmagá-lo. E, no fundo, Bo-Katan sentia que merecia isso. Merecia cada segundo da dor que estava sentindo. Merecia sentir aquela dor pelo resto da vida. E ela sabia que ia sentir.

Com o rosto encharcado pelas lágrimas, a mandaloriana se curvou sobre a irmã e depositou um beijo em sua testa. E aquele era o seu adeus. Silencioso, discreto e pacífico. Muito diferente do que ela era, mas muito semelhante ao que Satine fora em vida. E Bo-Katan não via outro jeito para se despedir da irmã que não esse. Não outro, pelo menos, que honrasse o legado da mulher que jazia morta à sua frente.

— Apesar dos pesares, eu sempre te amei – ela sussurrou, ainda curvada.

Quase como se, em algum lugar próximo, Satine pudesse ouvi-la.

Enxugando as lágrimas, ela se abaixou para pegar seu capacete e, então, retornou à postura ereta.

— Ursa? – Bo-Katan chamou.

Sabia que a amiga não a deixaria sozinha. Sabia que ela estaria do lado de fora do container.

Poucos segundos depois, Bo-Katan percebeu que não estava mais sozinha no container.

— Sim? – perguntou Ursa.

— Consegue preparar uma pira funerária? – perguntou Bo-Katan, quando se virou para encará-la. – Antes de partirmos, eu queria dar um destino digno para o corpo. Se enterrarmos ela, Maul irá procurá-la e irá expor o corpo amarrado pelos pés no telhado do palácio, e eu não quero isso. Acho que... que cremá-la vai ser o melhor fim possível para evitar esse tipo de humilhação.

Quando perguntou isso, Bo-Katan jamais se questionara como seus soldados reagiriam ao realizarem um cortejo fúnebre para aquela que fora sua inimiga por tantos anos. Sabia que o ato poderia repercutir mal entre alguns, mas sabia que seus seguidores mais leais entenderiam e a apoiariam.

— Vou providenciar agora mesmo – Ursa respondeu.

A mandaloriana se virou e saiu do container. Novamente, sozinha, Bo-Katan se virou para o corpo de Satine. Ela encarou a irmã morta por alguns segundos e apertou a sua mão fria, suavemente disposta sobre seu abdome apunhalado. O vestido ainda manchado de sangue.

— Eu daria tudo pra que tivesse sido eu e não você – disse Bo-Katan.

E, assim, Bo-Katan punha o ponto final no relacionamento com a sua irmã. Ela soltou a mão de Satine e recuou sem tirar os olhos dela, ainda com a esperança de que tudo aquilo apenas fosse mais uma das brincadeiras de mal gosto que a irmã lhe fizera na infância. Ao se convencer de que não era, Bo-Katan se virou e colocou seu capacete enquanto caminhava para a saída do container.

Afinal, não poderia deixar que seus soldados vissem o seu rosto naquele estado.


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Notas finais do capítulo

A Bo-Katan é uma das minhas personagens favoritas de star wars e ela ter finalmente aparecido em live action tem me dado algumas idéias hahahahaha

Sei que esse conto foi um pouquinho mais pesado do que de costume, mas eu já vinha pensando nele a algum tempo. O episódio da Bo-Katan em Mandalorian só me deu o gás que faltava haha Acho que vocês já perceberam por alguns dos contos mais recentes que eu sou uma pessoa que fica INCOMODADÍSSIMA com relacionamentos entre personagens que não tiveram um ponto final e eu precisava escrever um ponto final pra relação das irmãs Kryze. E... bem... essa foi a única forma que eu encontrei de fazer isso. Um pouco chocante sim. E não é o ponto final que ninguém queria. Mas é um ponto final, mesmo assim né.

Espero muito que tenham gostado ♥

Beijinhos e até o próximo ;)



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