Acidentalmente Apaixonados escrita por Lara


Capítulo 6
Acidentalmente Nostálgicos




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"Nada é pequeno no amor. Quem espera as grandes ocasiões para provar a sua ternura não sabe amar."

Laure Conan

— Uau! Você está ainda mais bonita do que de costume. - Elogio, sem conseguir parar de sorrir diante da beleza de Cassidy.

Ela estava encantadora. Usando um vestido preto rodado que ia até um pouco acima do joelho, salto alto da mesma cor e uma leve maquiagem que destacava seus lindos olhos azuis, Cassidy mais parecia um anjo. Seus longos cabelos loiros caiam ondulados pelas costas e seu perfume suave me inebriava e me encantava.

— Obrigada. - Ela agradece, sorrindo timidamente. Suas bochechas estavam coradas, mas seus olhos brilhavam como estrelas. Cassidy então me analisa e seu sorriso se alarga. - Você também está muito bonito, Dallas.

Sorrio em agradecimento. Estendo minha mão para a garota e a conduzo até o táxi que nos esperava de frente ao prédio onde ela mora. Nesse momento, sinto falta de ter um carro para termos mais liberdade para sairmos. Felizmente, Cassidy não pareceu se importar e até mesmo sorriu animada quando eu abri a porta do carro para ela.

Oriento o motorista a seguirmos para o Irvine Spectrum Center, assim que entramos no carro. Durante todo o trajeto, Cassidy e eu conversávamos sobre banalidades. Era incrível como nunca faltava assunto entre nós, como naturalmente conseguíamos conversar sobre qualquer coisa, ainda que passássemos o dia todo juntos. Estar com ela era sempre divertido. E naturalmente, meus sentimentos por ela só aumentavam.

Cassidy é linda, divertida, inteligente e risonha. Mesmo não sendo difícil arrancar seus risos, eu ainda me sentia a pessoa mais especial do mundo ao ver como ela gargalhava a cada piada terrível que eu contava ou brincadeira idiota que eu fazia, porque eu tinha sido o motivo de seu sorriso alegre e verdadeiro.

— Onde nós estamos indo? Você fez mistério a semana toda. - Cassidy não conseguia esconder sua curiosidade. Rio de seu comportamento e ela empurra meu ombro, rindo. - Fala logo.

— Você vai ver. Eu tenho certeza de que você vai gostar. - Afirmo, puxando a garota pelo pulso para entrarmos no shopping.

Eu queria algo romântico. Um encontro único que ela jamais fosse esquecer, mas sabia que Cassidy ainda não estava pronta para aceitar meus sentimentos. Não havia sido uma tarefa fácil convencer a loira a sair comigo, por isso, eu sabia que precisava respeitar o seu desejo. Essa era uma oportunidade que eu não podia desperdiçar ou colocar em risco por agir de maneira precipitada.

Assim, decidi que iríamos lanchar em um local único que não a pressionasse tanto. O Melody Diner é o novo restaurante e lanchonete com tema musical que abriu no shopping no último mês. Todos os garçons e garçonetes cantam as promoções e o cardápio do restaurante para os clientes. Além disso, ele também tem um incrível karaokê, onde os clientes podem cantar e se divertir. Não era exatamente um lugar romântico e era a minha primeira vez indo ao local também, mas eu esperava surpreender Cassidy de maneira positiva.

No entanto, ao pararmos de frente ao restaurante e ver o brilho ansioso nos olhos de Cassidy, soube no mesmo instante que havia feito a escolha certa. Ela sorri e me encara, impressionada.

— Que lugar... é esse? – Questiona, rindo eufórica.

Não era para menos. Cassidy havia comentado diversas vezes sobre seu amor pela música. A entrada do restaurante possuía uma fachada com luzes de led coloridas e o nome Melody Diner se destacava. Haviam notas musicais e microfones também que brilhavam. Sorrio e estendo minha mão para a loira, que a pega, animada.

— Bem-vinda ao Melody Diner. - Respondo, puxando-a para mais perto. Cassidy ri e encara o enorme restaurante, embasbacada. - Soube que eles cantam o cardápio e fazem apresentações, enquanto servem os pratos. 

— Nunca esteve aqui? Parece divertido. - Comenta Cassidy, com o tom de voz divertido.

— Ele inaugurou recentemente. - Conto, procurando uma mesa disponível para nos sentarmos. - Achei que seria divertido vir com você, já que é apaixonada por música e ama hambúrgueres. Pensei que você gostaria de ir a um lugar onde tivesse as suas duas coisas preferidas no mundo.

— Você lembrou? - Questiona Cassidy, parecendo emocionada. Sorrio e assinto, enquanto nos sentamos em uma mesa próxima ao palco de karaokê. - Isso foi tão fofo. 

Observo-a por alguns instantes, encantado com a beleza da mulher. Ela parecia tão feliz e a vontade. Era muito bom saber que eu acertei na escolha do lugar. Os garçons passeavam de um lado para o outro, sempre apresentando suas coreografias e músicas com os nomes dos pratos do dia. 

Os homens usavam blusa social e chapéu de cozinheiro pequeno brancos, gravata borboleta preta assim como a calça jeans escura e avental laranjado. As mulheres usavam vestidos laranja de botões, um avental branco na cintura com uma nota musical preta e o mesmo chapéu que os homens. 

— Sejam bem-vindos ao Melody Diner. Eu sou... Dallas? - A garçonete arfa assim que me viro para ela. 

— Amy? - Questiono, surpreso ao reconhecer a garota. Ela continuava com os cabelos negros longos e olhos castanhos brilhantes. Seus lábios carnudos exibiam um sorriso animado.  - O que você... uau! Quanto tempo!

— Sim! Eu não acredito que está aqui. A última vez que nos vimos foi em Cleveland. - Comenta Amy, sorrindo nostálgica. Um silêncio incômodo se instala entre nós e ela acaba dando um sorriso sem graça ao notar a presença de Cassidy. - Bom, e vamos ao cardápio do dia.

Amy coloca os cardápios em nossa frente e apresenta as opções com uma música divertida. Assim que ela termina, é inevitável não bater palmas, impressionados com a criatividade. Como era de se esperar, Cassidy escolhe um dos hambúrgueres e eu decido me arriscar no prato chamado Chicken Parmesan on a Bed of Linguini. Amy anota os pedidos, recolhe os cardápios e se despede com um aceno.

— Vocês namoraram? - Pergunta Cassidy, assim que ficamos sozinhos. Encaro a loira a minha frente e me surpreendo por ela ter acertado. - Parece que estou certa.

— Ela foi minha primeira namorada. - Comento, sorrindo um pouco envergonhado. - Não durou muito tempo. Três meses, para ser mais exato.

— Por quê? - Questiona a loira, curiosa.

— Eu tive que me mudar. - Respondo, dando de ombros. Cassidy fica pensativa, encarando a garota que agora estava em uma mesa mais afastada, cantando o cardápio novamente.

— Ela é muito bonita e canta muito bem. - Comenta Cassidy, parecendo um pouco incomodada.- Agora que ela está aqui, podem voltar a se encontrar.

— Por que eu faria isso se eu gosto de você? - Retruco, tentando transmitir o máximo de sinceridade possível. Vejo as bochechas de Cassidy assumirem uma tonalidade escarlate. Sorrio, pegando em suas mãos que estavam sobre a mesa. - O que eu senti pela Amy ficou completamente no passado. Você pode ainda não gostar de mim ou me vê apenas como um amigo, mas quanto mais eu te conheço mais eu tenho a certeza de que eu gosto mesmo de você, Cassidy. E é por isso que eu não me importo de esperar. Não sei muito sobre o que aconteceu com você enquanto namorava Austin, mas eu estou disposto a te ajudar a superar todos os traumas e cicatrizes que ganhou ao lado dele.

— A culpa não foi dele. - Afirma Cassidy, dando um fraco sorriso. A loira suspira e, ao contrário do que pensei, ela aperta em minhas mãos como se buscasse apoio. - Austin é uma pessoa incrível. Ele tem um forte senso de justiça, é divertido e muito carismático. Mesmo com a pose de rebelde, ele tem um coração gentil e é muito bonito. Então é claro que ele era bastante popular na escola. Todas as garotas queriam namorar com ele. Principalmente, Brooke Clark, a filha do diretor da Marino High School. 

A forma como Cassidy disse o nome da garota me fazia sentir toda a sua mágoa e raiva. Observo-a com atenção. A loira estava tensa. As memórias recentes de seu término parece incomodá-la. Permaneço quieto. Aquela era a primeira vez que Cassidy realmente parecia disposta a contar seu passado com o ex-namorado.

— Quando anunciamos nosso namoro para a escola, é claro que mais da metade das meninas da escola ficaram possessas. Eu estava longe de ser o modelo de garota que elas achavam que combinava com Austin. E hoje eu percebo que elas estavam certas. - Conta Cassidy, pensativa. Ela suspira e me encara com os olhos expressando toda a dor da época. - Austin tentou me proteger, mas eu me fazia de forte. Eu achava que conseguiria lidar com patricinhas mimadas. Mas eu subestimei Brooke. Ela era muito mais perversa do que eu poderia imaginar. 

"Suas torturas começaram fracas, com provocações e mentiras sendo espalhadas pela escola. Depois, passou a destruir meus materiais, sumir com as minhas roupas durante o banho após a educação física, jogar tinta e lixo em meu armário. Eu não era exatamente uma garota muito popular antes de namorar com Austin, mas todos se afastaram de mim ao ver que Brooke estava contra mim. Ninguém tinha coragem de desafiá-la. Eu não conseguia fazer trabalho em grupos. As únicas pessoas que falavam comigo eram Austin e seus melhores amigos, Dez e Trish.

Até esse momento, eu ainda era capaz de suportar seus ataques. Austin também fazia ao máximo para me proteger. No entanto, Brooke decidiu pegar pesado. Eu passei a ser perseguida fora da escola também. Sob suas ordens, destruíram minha casa, acabou com o vestido que eu usaria no primeiro baile que eu iria em minha vida. Ela colocou os garotos da escola também a me assediarem. Eu não conseguia mais sair de casa. Tinha medo de interagir com Austin na escola e alguém acabar me machucando. E então veio a última gota que faltava para transbordar a água do copo e me fazer entender que não era tão forte assim e que não conseguiria ficar ao lado de Austin.

Brooke descobriu sobre meu pai e a família dele. Ela ameaçou contar para a mídia toda a verdade. Eu me desesperei. Ela tinha uma gravação minha conversando pela última vez com meu pai. Não seria difícil para as descobrirem sua identidade. Se as pessoas já me perseguiam apenas namorando Austin, o que fariam comigo se descobrissem sobre a minha origem? Como uma covarde, eu aceitei os termos de Brooke. Terminei com Austin sem dar qualquer explicação, arrumei minhas coisas, mudei de escola e de endereço. Durante três meses, Austin me procurou incansavelmente. Tentou contato de todas as formas, mas nunca fui capaz de o atender. Eu covardemente decidi fugir de meu passado e recomeçar minha vida." - Cassidy suspira e eu limpo com o polegar a lágrima solitária que desce pelo seu bonito rosto. - Eu sinto muito, Dallas. Você é uma pessoa incrível. Merece alguém...

— Por favor, não continue essa frase idiota. - Interrompo Cassidy, suspirando. Aos poucos, eu conseguia entender muito de seu comportamento. A sua insegurança de se aproximar das pessoas, o medo de atender mesas onde há apenas homens no Loco's, o seu costume de andar de forma desconfiada na rua. - Você é muito forte, Cassidy. A pessoa mais forte que eu conheço. Não é fácil criar coragem para recomeçar, mas você o fez. Mesmo depois de tudo o que aconteceu, você ainda sorri e permitiu que eu me aproximasse de você. Se antes eu já te achava impressionante, você se tornou uma pessoa extraordinária. Eu admiro você, Cassidy, por ser essa mulher forte e determinada.

— Você não me acha... covarde? - Questiona a loira, surpresa.

— O quê? É claro que não. Você está longe de ser covarde, Cassidy. Tudo o que você suportou foi muito além do que qualquer pessoa conseguiria. Mais do que deveria, na verdade. - Respondo, sentindo-me irritado por imaginar o quanto ela deveria ter sofrido e guardado durante esse tempo. 

Respiro fundo e acaricio o rosto de Cassidy, que parecia tão vulnerável naquele momento. Ela fecha os olhos e parece aprovar o carinho que recebia. A minha vontade era de arrancar toda a dor que a consumia. Apagar todos os traumas que um simples relacionamento lhe causou. Eu odiava Brooke Clark e todos aqueles que ousaram machucar uma pessoa tão doce e amorosa quanto Cassidy. Não era justo. Ela não merecia nada daquilo. 

— Obrigada, Dallas. - Cassidy abre seus olhos e eles pareciam brilhar mais intensamente que as estrelas. Permaneço sem reação por alguns instantes, completamente hipnotizado pelo sorriso genuíno da loira.

— Por que está me agradecendo? Eu não disse nada demais. - Respondo com sinceridade. Ela sorri e suspira, parecendo um pouco mais aliviada por dizer o que vinha guardando desde que se mudou. Pego a mão de Cassidy e a beijo, fixando meus olhos nos dela. - Eu sempre vou estar com você, Cassy. Seja como amigo ou quem sabe um namorado...

— Você é terrível. - Afirma a garota, rindo chorosa.

— O que eu quero dizer é que, gosto de você. Talvez eu até mesmo a ame. É a primeira vez que me sinto assim. Então, eu darei o meu melhor para fazer você se apaixonar por mim e um dia ser capaz de corresponder aos meus sentimentos. - Continuo, encarando-a com intensidade. Cassidy parecia surpresa com a minha declaração. Ela então sorri e desvia o olhar, envergonhada.

— Não se preocupe. - Sussurra Cassidy, erguendo o olhar. Surpreendo-me com a quantidade de emoções presentes naquele mar de doçura e intensidade. Ela sorri mais confiante e sinto que meu coração parecia prestes a sair pela minha boca. - Não está tão longe assim disso acontecer.


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