Acidentalmente Apaixonados escrita por Lara


Capítulo 5
Acidentalmente Intrigados




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"O amor e o desejo são as asas do espírito das grandes façanhas."

Johann Goethe

— Se tivermos o produto da soma pela diferença de dois termos, poderemos transformá-lo numa diferença de quadrados. O produto da soma pela diferença de dois termos é igual ao quadrado do primeiro termo, menos o quadrado do segundo termo. - Explico, usando o exemplo do livro para mostrar a Dallas o que eu queria dizer. - Entendeu?

— Você estava falando o mesmo idioma que eu? - Questiona Dallas, encarando-me confuso. Acabo rindo de seu desespero e ele suspira, parecendo frustrado. - Eu desisto. matemática não é para mim. Isso não entra na minha cabeça de jeito nenhum.

— Calma. Tudo é questão de encontrarmos uma nova forma de te explicar. Logo você vai perceber que não é tão difícil assim quanto parece. - Afirmo e ele joga o corpo para frente sobre a mesa, choramingando que não aguentava mais.

Um pouco mais de um mês se passou desde que começamos a trabalhar juntos e nos tornamos ainda mais próximos. Dallas estava se mostrando um amigo incrível. Divertido, animado, excelente ouvinte e de coração gigantesco, quando eu estou com ele, sinto que todos os meus problemas desaparecem. Era como se ele tivesse o dom de me fazer rir e acalmar meu coração. 

Trocávamos mensagens todos os dias, íamos trabalhar juntos e sempre que possível, estudávamos juntos para as provas que tínhamos em comum. Durante esse tempo, ele realmente respeitou meu momento e espaço. Ainda assim, sempre que tinha a chance, ele deixava claro que ainda não havia desistido da ideia de irmos a um encontro.

Austin também havia parado de insistir em me contatar desde o dia em que conheci Dallas. Talvez tivesse entendido que não havia volta. Ainda que eu continuasse a amá-lo, uma parte de mim, que aumentava cada vez mais conforme o tempo passa, sabia que era preciso seguir em frente. Eu dei o meu melhor em nosso relacionamento, mas Austin e eu vivemos em mundos diferentes. Aparentemente, não fomos feitos um para o outro.

Observo o cabelo castanho de Dallas que estava próximo de mim e por impulso, acabo levando a minha mão a sua cabeça. Acaricio os fios macios e sorrio ao ouvi-lo suspirar, aproveitando o carinho que recebia. Já estávamos há horas na biblioteca estudando para a prova de matemática que teremos semana que vem e era inevitável não sentir o cansaço sobre nós.

Dallas então vira o rosto para me encarar, enquanto eu continuava a acaricia sua cabeça. Aos poucos, criávamos essa intimidade que era difícil de explicar, mas que eu gostava e muito. Seus olhos chocolates me observam com carinho, daquela forma que me deixa envergonhada. Ainda assim, eu era incapaz de desviar o olhar. Era como se seus olhos enxergasse além de minha alma e me atraísse como um buraco negro. 

O rapaz ainda era um mistério para mim. Nós passávamos cerca de doze horas juntos e eu ainda não sabia nada além de que ele foi criado pela avó e que mora em uma das regiões mais perigosas da cidade. Todas as vezes que eu fazia alguma pergunta mais pessoal, ele desviava a conversa ou me respondia de maneira vaga. Também era difícil saber o que se passava em sua mente. Eu queria saber mais sobre ele, entender suas ações, mas ele não parecia disposto a me ajudar a entendê-lo.

— O que foi? Parece preocupada. - Comenta Dallas e eu paro de acariciar sua cabeça. Ele resmunga e pega minha mão, colocando de volta em sua cabeça. Rio de seu comportamento infantil. - Quem disse que podia parar? Continua. É muito bom.

— Você é muito manhoso. - Respondo, dando uma risada anasalada. Ele me lança uma piscadela, mas ainda exibe aquele olhar sério, esperando minha resposta. - Eu só estava pensando em como eu não sei nada sobre você.

— Isso não é verdade. Você sabe que eu sou uma negação em matemática e que sou incrivelmente charmoso. - Brinca e eu o encaro com ar sobrancelhas erguidas, antes de rir. Era sempre assim. Ele sempre acabava fazendo graça e eu não conseguia resistir. 

— Você entendeu o que eu quis dizer. - Retruco, dando um tapa leve em sua nuca, antes de voltar a mexer em seu cabelo. Ele dá uma risada baixa e suspira, fechando os olhos. - Por que você nunca fala sobre você?

— Eu não sou tão interessante assim. - Afirma, voltando a abrir os olhos. Ele se levanta e encara o teto da biblioteca. Não havia ninguém além de nós no lugar e pelas janelas era possível ver que muito em breve o Sol iria se pôr. 

— Eu não acho isso. - Confesso, atraindo a atenção de Dallas. - Todos temos alguma característica nossa que é interessante e única. Eu sou muito boa de luta, por exemplo. Na Charterhouse, eu era a melhor aluna de esgrima que eles tinham. Ganhei diversos prêmios pela minha desenvoltura com a espada e o florete. 

— Esgrima? Impressionante. - Comenta Dallas, sorrindo pensativo. - Acho que preciso tomar cuidado com você. Vai que eu deixo você furiosa e acabo ficando sem a cabeça?

— Eu no seu lugar também teria medo. - Brinco, fazendo a minha expressão mais ameaçadora. Dallas ri, divertindo-se. - Mas e você? No que você tem talento?

— Eu? - Repete Dallas, fechando o livro de matemática e o caderno. Ele parece pensar no assunto, enquanto guarda seus materiais. Guardo os meus, sabendo que já era hora de irmos para a pizzaria. - Acho que não há nada que eu seja especial. Parando para pensar, acho que sou uma pessoa bem medíocre.

— Isso não é verdade! - Nego, olhando-o com repreensão. - Você é muito bom lidando com pessoas, é engraçado, gentil e muito bonito. 

— Uau. Você acha mesmo que eu sou muito bonito? - Questiona Dallas, sorrindo presunçoso. - Interessante. Muito interessante.

— Dallas! - Repreendo o rapaz, envergonhada. - Foca! 

Ele ri e se levanta, levando a mochila as costas. Observo-o por alguns instantes, mostrando que eu não sairia da biblioteca até que minha resposta fosse devidamente respondida. Dallas suspira e encara a paisagem pela janela ao nosso lado.

— Eu não sou bom em muitas coisas. - Começa, voltando a se sentar. Presto atenção em cada gesto do rapaz, interessada em saber mais sobre ele. - Minhas notas são medianas, não sei desenhar, cantar ou tocar algum instrumento musical. Mas gosto de dançar e acho que consigo me virar bem na cozinha.

— Você sabe cozinhar? - Pergunto, interessada. 

Eu amo cozinhar desde criança e sempre pensei que gostaria de me casar com um homem que soubesse cozinhar. A ideia ficou para trás quando conheci Austin. Ele era um péssimo cozinheiro. Tão ruim que ele conseguia queimar até a panela quando tentava cozinhar. Isso aconteceu todas as três vezes que ele tentou cozinhar enquanto nós namorávamos. Então eu logo entendi que se quisesse continuar com Austin, teria que ser a responsável pela cozinha.

— Sim. Inclusive, eu acho que você deveria aceitar ir jantar comigo e eu preparar a comida para nós e você comprovar o meu dom para cozinha. - Joga Dallas, dando aquele sorriso presunçoso.

— Quem sabe um dia. - Digo, ainda que estivesse bem curiosa para ver Dallas cozinhando. 

— E dançar? Eu acho que você ia se surpreender e muito com as minhas habilidades de dança. Podíamos ir a Basement Night Club. O lugar é incrível. Lá nós podemos curtir ótimos drinks, boa música e simplesmente esquiar numa pista de gelo dentro dessa balada ou ainda jogar boliche e ainda poderíamos esquiar ou jogar boliche. O que acha? - Sugere o rapaz, encarando-me esperançoso.

— Você não desiste, não é mesmo? - Respondo, rindo. Pego minha mochila e me levanto, fazendo sinal para que pudéssemos ir trabalhar.

— Desistir por quê? Você só me rejeitou dezenove vezes. Mas quem está contando, não é mesmo? - Revela Dallas, enquanto seguíamos para a saída da biblioteca. 

— Você é estranho. - Comento, observando-o com um sorriso divertido. Despedimos-nos da bibliotecária e seguimos para a parada de ônibus próxima a escola para irmos para o Loco's Pizzaria.

Observo o céu alaranjado, encantada com o bonito fim de dia. Enquanto Dallas e eu dividíamos o fone de ouvido de seu celular - um hábito que adquirimos desde que começamos a ir juntos para a pizzaria -, desvio o olhar para encará-lo pelo canto do olho, vendo-o cantarolar a música animada que tocava naquele momento.

Dallas é realmente muito bonito. Os olhos castanhos sempre exibem uma alegria única. Os lábios carnudos, a mandíbula marcada, os seus um metro e oitenta e cinco de altura, o sorriso fácil e os cabelos sedosos completavam o charme encantador do rapaz. Sinceramente, quanto mais tempo passo ao lado de Dallas, mais bonito ele fica aos meus olhos. É como se pouco a pouco, ele me mostrasse mais da sua beleza e me conquistasse profundamente.

Observo a cicatriz próxima a boca e levo minha mão para tocá-la. Dallas me encara surpreso e sorri. Essa era mais uma coisa que me deixava confusa. Essa minha necessidade de tocá-lo. Eu nunca experimentei algo tão incomum. Quer dizer, é claro que eu gostava de tocar em Austin, mas parece que o meu desejo por estar sempre em contato com a pele de Dallas era surreal.

— Onde conseguiu essa cicatriz? - Pergunto ao notar que era alvo de seu olhar curioso.

— Quando eu tinha seis anos, um mastiff inglês me atacou, enquanto eu tentava brincar com ele. A mordida dele foi tão profunda que deu para ver meus dentes, língua e gengiva do outro lado da minha boca. - Conta Dallas e eu arfo, surpresa.

— Que horror! Você deve ter se assustado tanto. - Comento, tentando imaginar a cena. Estremeço só de pensar como deve ter sido traumatizante a experiência.

— Eu não me lembro com tantos detalhes dessa época, mas acho que o cachorro nem mesmo sabia o que estava fazendo. Eu tenho alguns flashes desse acontecimento. Lembro de alguém indo para cima para tentar me afastar do cachorro. E então ele inclinou a cabeça para o lado, parecendo tentar entender o que tinha acontecido. Algumas pessoas diziam que deveriam se livrar do cachorro, mas eu chorava, dizendo que não foi culpa dele. - Explica Dallas, sorrindo nostálgico. - E sabe o que é mais engraçado?

— O quê? - Pergunto, animada por ele finalmente estar me contando alguma história sobre ele.

— Eu chorei tanto para ficar com esse cachorro, que minha avó acabou deixando. Ele era um cão de rua e ninguém queria ficar com ele. Falavam que era perigoso demais. 

— Isso é sério? - Questiono, sem acreditar na coragem do garoto. 

— Ele era um bom garoto. Dudley ficou comigo até os meus catorze anos e acabou morrendo de velhice. Ele já era adulto quando veio morar comigo. - Responde, sorrindo um pouco melancólico. - Eu fiquei tão triste quando ele morreu que eu nunca mais tive coragem de adotar outro cachorrinho.

— Deve ter sido difícil para você. - Comento, observando os olhos entristecidos de Dallas. O nosso ônibus chega e somos obrigados a interromper nossa conversa brevemente. Assim que conseguimos lugares para nos sentar, volto a encarar o rapaz. - Eu sinto muito pelo Dudley.

— Obrigado. - Agradece Dallas, sorrindo com doçura. De repente, vejo a dor em seus olhos. Discreta, mas que ainda esfriava um pouco do calor de seu olhar. - E não se preocupe. Depois de tudo, aprendi a lidar melhor com a morte.

Dallas exalava uma melancolia tão intensa que seu sorriso não chegava aos seus olhos como de costume. E novamente, sinto aquele desejo inexplicável de tocá-lo e descobrir mais sobre seu passado. Então, como vinha acontecendo com frequência, abraço-o sem nem mesmo me importar de estar sendo invasiva demais. No mesmo instante, Dallas corresponde ao abraço, afundando seu rosto na curvatura de meu pescoço. 

Era sempre assim. Ele nunca rejeitava meus toques como qualquer pessoa em seu lugar faria. Afinal, nós nem nos conhecemos direito. Mesmo convivendo diariamente, não sabemos nada da vida um do outro. Ainda assim, ele sempre me abraça com tanto carinho e calor, que eu acabo me aproveitando por mais tempo do que deveria. Talvez porque nos braços de Dallas eu encontro o aconchego que tanto busquei desde que era uma criança.

Permanecemos assim por tempo indeterminado. Em silêncio, apenas apreciando a respiração e os batimentos cardíacos um do outro. Suas mãos acariciavam os meus cabelos, compartilhando aquele sentimento de presença que somente Dallas era capaz. Ele então deixa um beijo demorado em minha testa e se afasta. Nesse instante, vemos uma criança entrar no ônibus com a mãe segurando-o pela mão até encontrar um lugar para que se sentassem. 

Vejo os olhos de Dallas acompanhar a família, com a mente distante. Pego em sua mão e ele finalmente volta a me encarar, dando um fraco sorriso. Uma coisa que eu havia aprendido com Dallas era que o assunto família era um tópico proibido entre nós. E no início eu estava feliz com isso, mas a necessidade de descobrir mais sobre Dallas me faz querer saber e compartilhar sobre a minha origem deprimente.

— Eu sou filha de um político com uma garota de programa. - Começo, surpreendendo Dallas. - Então, eu basicamente sou o fruto de uma traição que poderia ocasionar em um grande escândalo. Por causa disso, minha mãe tentou diversas formas interromper a gravidez. No fim acabou não conseguindo. Preocupado com a possibilidade de ter a sua candidatura prejudicada, meu pai deu o apoio financeiro a minha mãe até que eu tivesse idade suficiente para viver em internatos, já que a mulher que me trouxe ao mundo não tinha o mínimo desejo de cuidar de uma criança, que, como ouvi diversas vezes, apenas atrapalharia sua vida. E o resto você já sabe. Fui para um internado na Inglaterra ainda criança e ao ter a minha tão desejada emancipação, eu pude retornar para os Estados Unidos.

— Cassidy... - Dallas parecia não saber o que dizer.

— Eu nunca contei isso a ninguém. - Confesso, dando um sorriso nervoso. Eu não sabia como Dallas iria reagir e tinha medo que ele acabasse se afastando de mim por causa disso. - Na verdade, eu nem mesmo sei o motivo de estar falando sobre isso. Eu só... não sei. Por favor, não...

— Não se preocupe. Eu não vou contar para ninguém. - Afirma Dallas com sinceridade. Ele então compartilha os fones de ouvidos que estava em volta de seu pescoço. Uma música lenta passava ao fundo e eu o observo com alívio ao ver que os olhos de Dallas continuavam a exibir o seu característico sorriso gentil. - Você não tem culpa de como nasceu e nem a família que tem. Eu não me importo com isso, Cassidy. Tudo isso faz parte de quem você é. Então não se sinta mal.

— Obrigada. - Agradeço, voltando a abraçar Dallas. Ele encosta a cabeça dele na minha e aperta os abraços em minha volta. 

— Infelizmente, Cassidy, existem partes da minha história que eu não posso revelar. - Explica Dallas, encarando-me com seriedade. - E por mais estranho que isso possa ser, você poderia esperar? Eu juro que quando for o momento certo, eu revelarei tudo o que você deseja saber sobre mim. Até lá, você aceitaria que eu contasse um pouco mais sobre mim em um encontro?

Sorrio e paro para pensar. Se ele estiver certo, essa é a vigésima vez que ele me convida para ir a um encontro com ele. Pondero sobre meus sentimentos e todo o mistério que Dallas faz sobre a sua vida. Ainda assim, saber sobre o passado dele é tão importante assim? 

— Tudo bem. - Falo e ele me encara surpreso.

— O quê? - Balbucia, surpreso.

— Eu aceito sair com você. - Respondo e ele abre um lindo sorriso.

— Isso! - Comemora Dallas, animado.

— Mas com uma condição. - Digo e o sorriso dele vacila. Dallas me encara confuso e inseguro. 

— Que seria...? - Incentiva o rapaz, preocupado com a condição que eu iria impor.

— Iremos como amigos. Eu ainda estou bem confusa. Então, não quero que crie falsas esperanças. - Explico e Dallas sorri, aliviado.

— Só isso? - Questiona Dallas e eu assinto, concordando. - Está tudo bem. Eu não me importo de esperar. 

— Por quê? Por que ainda insiste? - Indago com curiosidade.

— Porque é você, Cassidy. Por você, vale a pena esperar. Eu sinto que não importa quanto tempo passe, no fim, eu sei que não irei me arrepender de ter esperado por você. 


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