Acidentalmente Apaixonados escrita por Lara


Capítulo 3
Acidentalmente Detentos


Notas iniciais do capítulo

Oii Cupcakes ♥! Aqui estamos com mais um capítulo. Espero que gostem! Boa leitura...



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"Numa ou noutra curva, o amor, aquele de verdade, encontrará você. No momento da sua maior distração, no segundo em que estiver com os olhos fechados, ao piscar."

Lavínia Lins

 

— Vocês terão que escrever uma redação de no mínimo sessenta linhas sobre a importância do esporte na vida das pessoas e terão que me entregar até o fim do dia. - Avisa o professor Tim Russ, encarando-nos daquele jeito ranzinza que me intimidava. Ele dá um soco no quadro, demonstrando que ainda estava furioso e eu acabo me encolhendo, assustada. - Somente assim vocês entenderam o mal que vocês causaram para o time de futebol americano.

— Mas sr. Russ, nós não... - Dallas tenta se justificar, mas é interrompido mais uma vez pelo professor de espanhol da escola.

 ¡Ya basta! - Grita o homem, batendo novamente na lousa. Chloe, uma das minhas colegas da aula de espanhol, havia me alertado de que o professor mais amargurado da escola sempre falava em sua língua materna quando estava furioso e a situação fica tão cômica que é difícil controlar o riso. E sinceramente, eu estava começando a entender o que ela quis dizer com isso. - ¡No quiero oír más excusas! 

— Mas professor, o que houve foi um mal-entendido. Nós... - Tento melhorar a situação, mas sou interrompida também.

— ¡Causaste el mayor desastre que pudo haber ocurrido! - Dramatiza o espanhol, andando de um lado para o outro. Dallas e eu nos encaramos e noto, que assim como eu, ele também segurava o riso. - ¡Oye! Presta atención a lo que estoy diciendo.

— Desculpa, sr. Russ. - Lamenta Dallas, engolindo em seco para não permitir que o riso escapasse de seus lábios.

— Estou de olho em vocês dois. - Resmunga o homem, fazendo o gesto com as mãos, enquanto seus olhos exibem toda a sua desconfiança. - Eu acho bom vocês fazerem essa redação e ficarem silêncio, porque se eu ouvir vocês falando pelo menos um "a" eu juro que vocês ficaram de detenção até o fim de suas vidas escolares ou eu não me chamo Timóteo Hernandez Guerrero Mendoza Russ.  

E novamente a vontade de rir se intensifica quando o professor se vira para pegar as folhas que usaríamos para fazer as redações e Dallas leva as mãos em direção ao rosto e mexe os indicadores, simulando o bigode ultrapassado com as pontas curvadas do espanhol. Levo a mão a boca e prendo a respiração para não acabar externando a minha risada.

Desconfiado, o professor se vira para nós novamente e rapidamente, Dallas leva as mãos a carteira, fingindo que não havia feito nada. O sr. Russ nos entrega as folhas e encara seu relógio de pulso e ao conferir as horas, aproxima-se da janela da sala, provavelmente tentando ver o campo de futebol da escola. Ele bufa, frustrado, e segue para a porta da sala.

— Eu vou assistir ao treino dos Bulldogs. Não ousem sair dessa sala sem me entregar a redação. E nada de conversas ou celulares!  - Avisa o professor, fazendo novamente o sinal de que estaria de olho em nós antes de sair.

Assim que ele fecha a porta, finalmente permito que o riso escape de meus lábios. Aquele professor era hilário. Ele não tinha mais do que um e cinquenta de altura, usava uma camisa social marrom estampada com flores na cor bege, calça social quadriculada também marrom, cinto e sapatos sociais pretos. O bigode curvado e os cabelos partido de lado para esconder os poucos cabelos do meio completavam o visual brega do professor, que descobri no primeiro dia de aula que é filho de uma espanhola e um americano, então tinha o nome semelhante a um texto. Sua personalidade estourada e o forte sotaque o tornava semelhante um pinscher. 

— Você é um idiota, Dallas! Eu quase ri na frente do professor. - Resmungo, limpando as lágrimas no canto dos meus olhos, depois de muitos minutos rindo.

— Que coisa feia, Cassidy. O professor disse nada de conversas e você só esperou ele sair para quebrar a regra. - Brinca Dallas, fazendo uma falsa expressão de decepção, enquanto balança a cabeça negativamente.

— Engraçadinho. - Ironizo, pegando meu estojo dentro da minha mochila. - Ele é sempre assim?

— O quê? Mentalmente instável, insuportável e sem qualquer senso de moda? - Questiona Dallas com sarcasmo.

— Eu ia dizer excêntrico, mas isso serve também. - Respondo, rindo. Dallas me encara por alguns instantes, parecendo perdido em pensamentos, assim como quando estávamos na sala de aula e o professor pediu para quele ele lesse o trecho do livro e ele nem mesmo sabia qual era. - Tem alguma coisa em meu rosto?

— Não. Não há nada em seu rosto. - Ele responde, dando um sorriso amável. 

— Então por que está me olhando assim? - Questiono com curiosidade. 

— Assim como? - Pergunta o rapaz, apoiando o cotovelo sobre a carteira e o rosto em seu punho, enquanto continua a me observar com intensidade. 

— Não sei. Como se... se eu tivesse alguma coisa valiosa ou...

— Você é muito bonita, Cassidy. - Dallas me interrompe e sua fala é tão sincera que acabo sentindo meu rosto esquentar. Eu não sabia como reagir ao seus olhos castanhos expressando toda aquela doçura e carinho. 

— Obrigada. - Respondo, envergonhada. Volto minha atenção para a folha que estava sobre minha carteira.

— Cassidy. - O rapaz me chama e preciso de algum tempo para me recompor e finalmente encarar seus olhos. - Você quer sair comigo?

Surpreendo-me com a pergunta direta. Dallas estava sério e analisava meu rosto como se estivesse fascinado. Pisco algumas vezes, sem saber como reagir. Dallas parece ser uma pessoa incrível. Ele é engraçado, espontâneo, gentil e muito bonito. Qualquer garota em meu lugar, provavelmente aceitaria ao seu pedido sem pensar duas vezes. No entanto, eu ainda não me sentia pronta para seguir em frente. Parecia errado. 

— Eu... eu não posso, Dallas. - Respondo, dando um fraco sorriso. Suspiro e desvio o olhar, porque era covarde demais para encarar os olhos gentis do rapaz.

— Por quê? - A pergunta vem de forma suave. Ele não parecia chateado, apenas... curioso, eu acho. Volto a observar seu rosto e ele permanecia com aquela expressão amável em seu rosto. - Você não pode porque você não quer ou por acaso você tem namorado?

— Não é que eu não quero. - Digo, desconfortável. Suspiro e me viro para o rapaz. - Eu terminei meu último relacionamento há três meses. Não foi um término fácil e eu ainda gosto muito de Austin. Então, eu ainda não estou pronta para sair com ninguém. 

— Então o seu ex-namorado se chama Austin? - Sussurra Dallas, pensativo. Ele sorri e suspira, dando de ombros. - Bom, tudo bem. Eu posso esperar. 

— Esperar? - Repito, surpresa.

— Você é interessante, Cassidy. É a primeira garota que me desperta tanta curiosidade. - Conta, sorrindo como uma criança traquina. - Talvez eu não fique nessa escola por muito tempo. Ainda assim, eu quero ter a certeza de que não deixei a oportunidade passar. 

— Por que você não ficaria nessa escola? Isso tem a ver com o motivo de você se manter afastado da turma? 

A minha curiosidade estava aflorada. Dallas era como um daqueles personagens misteriosos e incompreendidos das histórias de romance que quanto mais a gente tenta desvendar mais frustrados nos sentimos, porque nada é claro com eles. Há sempre uma razão oculta que desperta o nosso interesse e nos deixa quase que obcecados em saber o que eles escondem.

— Por causa de alguns problemas familiares, eu preciso estar frequentemente mudando de escola. - Responde Dallas de forma evasiva. Ele desvia o olhar e parece incomodado com o assunto. - Essa deve ser a quinta escola que estudo desde que entrei no ensino médio. Eu nunca sei quando vou precisar mudar de novo.

—  Por isso você acha mais fácil não se envolver. - Suponho e ele assente, concordando.

— Do que adianta fazer amigos se eu vou precisar me mudar? As pessoas dizem que vão manter contato, mas é complicado, porque sou eu quem não pode manter contato. Tudo é muito desgastante e frustrante. - Confessa Dallas e consigo sentir a dor em sua voz. - Não escolhemos nossas origens e por mais que a gente queira mudar o nosso destino, ainda há coisas que nos impedem de fugir de quem nós realmente somos.

— Eu entendo o que quer dizer. - Respondo, relembrando o quanto eu havia lutado para ignorar o meu passado, a forma pecaminosa a qual vim ao mundo, mas no fim, foi esse segredo que guardei com tanto afinco que me levou a fugir mais uma vez da minha realidade. - Eu vivi dez anos da minha vida em um internato na Inglaterra e quando eu finalmente pensei ter ganhado a minha tão sonhada liberdade, eu descobri que a vida é muito mais cruel do que atrás daqueles muros altos e sombrios da Charterhouse. 

— Charterhouse? - Repete Dallas, parecendo achar graça do nome. 

— É um internato católico inglês feminino que mais se assemelha a uma prisão. Haviam tantas regras que eu me sentia como um ratinho de laboratório, apenas seguindo ordens das freiras. - Resmungo, relembrando o quanto eu me sentia sufocada. - A rotina era sempre a mesma. Acordávamos as seis, tomávamos banho, oração, café da manhã, oração de agradecimento pelo alimento, aulas, almoço, estudos religiosos à tarde, lanche, atividades extracurriculares, oração, jantar, tomar banho, oração e o toque de recolher era as nove horas da noite.

— Você nunca saía da escola? - Pergunta Dallas, observando-me com atenção.

— Não. Nunca. - Nego, suspirando melancólica. Encaro Dallas e ele me transmitia tanta confiança que de repente eu me via querendo justificar o que acontecia comigo. - Diferente das outras garotas, eu não tinha... convívio familiar. Pai, mãe ou irmãos. Eu nunca convivi com pessoas assim. Eu... eu tenho, sabe. Mas...

— Mas é complicado. - Completa o rapaz de sorriso doce. - Eu sei como é. Eu também não convivi com os meus outros familiares. Eu sou criado pela minha avó desde que eu tinha quinze anos. Se não fosse por ela, não sei o que teria sido da minha vida. Ela impediu que muitas coisas ruins acontecessem comigo. Por isso, mesmo precisando nos mudar com frequência, eu faço sem questionar. É o melhor que nós podemos fazer.

— Sua avó parece ser uma pessoa incrível. - Comento ao ver o carinho e a admiração com a qual Dallas falava sobre a mulher. Ele sorri e assente.

— Sim. A dona Morgana é osso duro de roer. Mesmo com todos os seus problemas de saúde e tudo o que já passou na vida, ela continua sempre a sorrir e a tentar ver o lado positivo da vida. - Conta Dallas, esboçando todo o orgulho que sente da avó. - Ela é a minha maior inspiração.

— Gostaria de ter alguém assim. - Sussurro, suspirando. - Às vezes eu me sinto completamente sozinha. Não importa quantas pessoas tenha ao meu redor, é como se não fosse o suficiente. Sempre parece faltar alguma coisa dentro de mim. Essa sensação diminuiu um pouco quando conheci Austin, mas depois de um tempo, ela voltou a se fazer presente. 

Dallas então se levanta e se aproxima de mim. Ele estende a sua mão e eu o encaro, tentando entender o que ele planejava fazer. Como resposta, o rapaz pega em minha mão e me puxa, obrigando que eu me levantasse. Em seguida, sou surpreendida por seus braços ao redor do meu corpo, em um abraço caloroso e aconchegante.

— Eu não sei o que aconteceu em seu passado e nem a história de sua família, mas sempre que se sentir sozinha, quero que me procure. - Sussurra Dallas contra meu ouvido. - E eu estarei aqui para dar um abraço apertado e garantir que você nunca mais estará sozinha. A partir de hoje, não importa como me veja, Cassidy, e nem o que o futuro nos reserva, eu sempre estarei com você. Eu prometo. 


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