Acidentalmente Apaixonados escrita por Lara


Capítulo 2
Acidentalmente Encrencados




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"As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar."

Leonardo da Vinci

 

Os fascinantes olhos de Cassidy não saíram de minha mente desde o instante em que a vi pela primeira vez. O arrepio que percorreu meu corpo ao ouvir sua voz doce e aveludada dizer o meu nome foi indescritível. Mesmo em meio a chuva e todo o caos que nos cercava, Cassidy era incrivelmente bonita e angelical. Era como se ela realmente tivesse sido enviada dos céus para me alegrar naquele dia tão complicado.

Depois do incidente, ela se lamentou profundamente pelo ocorrido e fez questão de me acompanhar até a pizzaria para explicar o que aconteceu ao meu chefe e arcar com o prejuízo do dia. Tivemos que chamar um guincho para levar a lambreta e permanecemos mais tempo na chuva do que deveríamos. O resultado foi uma forte gripe que me deixou de cama por cinco dias, impedindo que eu fosse trabalhar ou ir para a escola. Não que eu tivesse achado ruim ficar afastado desse último lugar.

Não é que eu odeie a escola, mas também não é o meu lugar favorito no mundo. Eu sou o que as pessoas chamam de invisível ou o zero a esquerda do lugar. Ser o aluno mediano, de personalidade e aparência comum, faz com que eu seja apenas mais um no meio da imensidão de pessoas. Eu não sou inteligente o bastante para que as pessoas me procurem, nem o mais engraçado, tampouco o mais atlético. Não realizo nenhum atividade extracurricular na escola e também não sou fraco o suficiente para me tornar alvo dos valentões da escola.

A verdade é que eu sempre preferi me manter afastado. Depois de mudar tanto de cidade e de escola, eu já não tinha mais emocional para lidar com as despedidas e menos ainda com todo o processo de me enturmar. É doloroso e desgastante. No fim, todo o esforço é em vão e eu acabo sendo o único a enfrentar a solidão novamente. Por isso, após entrar na minha oitava escola, eu decidi que me tornaria invisível. Muito mais prático e menos excruciante.

Por isso, assim que chego na South East High School, passo em meu armário apenas para deixar o meu lanche e pegar meus livros dos três primeiro horários e sigo diretamente para a sala de aula. Sento em uma cadeira qualquer no fundo da sala, ignorando a conversa dos poucos alunos que havia na sala. Ainda era cedo e demoraria algum tempo até a aula começar. Como de costumo, pego meus fones de ouvido e o celular que estava dentro da minha mochila. No volume máximo, cruzo meus braços sobre a mesa e abaixo a cabeça para assistir a mais um dos vídeos sobre Krósvia e todo o caos que o país estava enfrentando.

Concentrado nas cenas de guerra que tem assolado a capital do país, acabo pulando assustado ao sentir uma mão pegar em meu ombro. Com o coração pronto para sair pela boca, encaro a pessoa que havia tido a brilhante ideia de vir me incomodar. No entanto, surpreendo-me ainda mais ao reconhecer os fascinantes olhos azuis que tem habitado minha mente nos últimos dias. 

— Cassidy? - Sussurro, sem acreditar no anjo que meus olhos estavam vendo. 

Ela parece falar alguma coisa, mas eu não consigo ouvir nada. E pela minha expressão confusa, ela deve ter percebido, pois começa a rir e se aproxima, puxando um dos lados do meu fone. Eu estava tão deslumbrado com a beleza da loira que somente nesse momento é que percebo que a culpa por eu não ser capaz de ouvir Cassidy era do fone que eu usava.

— Você parecia não estar ouvindo, então... - Cassidy aponta para o lado do fone que ela tirou e dá de ombros, como se estivesse justificando suas ações. Ela se senta na cadeira ao meu lado e parece um pouco envergonhada.

— Não... é... tudo bem. - Respondo, um pouco atordoado. Permanecemos em silêncio por alguns instantes e minha mente parecia em branco. Eu queria dizer alguma coisa, mas nada parecia ser bom o bastante. Suspiro, frustrado, enquanto guardo meu celular e os fones de ouvido de volta em minha mochila.

— Fiquei surpresa de te encontrar por aqui. - Felizmente, Cassidy é a primeira a quebrar o silêncio. - Jamais imaginei que estudaríamos na mesma escola e que estaríamos no mesmo ano. 

— Como me reconheceu? - Pergunto, curioso.

— Não reconheci. - Responde a loira, rindo. Ela estende uma borracha preta e me observa com os olhos brilhando em divertimento. - Quer dizer, não até você levantar o rosto. Eu queria te perguntar se essa borracha é sua.

— Entendi. E não. A borracha não é minha. - Digo, sorrindo. 

— Bom. Então ela é sua. - Responde a garota com um sorriso arteiro, colocando-a sobre a minha mesa. - Pense nisso como o meu presente para você. 

— Muito obrigado. Foi muito gentil da sua parte me dar uma borracha achada no chão e que não sabemos a quem pertence. - Ironizo e Cassidy gargalha. Naquele momento, o som da sua risada é quase como uma bela melodia para os meus ouvidos. Analiso Cassidy e ela estava ainda mais linda do que no dia em que nos conhecemos. Ela usava uma calça jeans escura com a barra dobrada, tênis branco e uma blusa rosa com branco de botões. Seus cabelos loiros estavam presos em um coque e a pouca maquiagem que usava destacava seus brilhantes olhos azuis. - Você mudou recentemente para a escola?

— Sim. Eu estudava na Marino High School, mas me transferi esse semestre para cá. - Conta, mas parece desconfortável com o assunto. - E você? Desde que as aulas começaram, eu não vi você por aqui. 

— Eu fiquei gripado no dia seguinte do acidente e acabei ficando de cama a semana toda. - Respondo e Cassidy me encara com preocupação. - Mas eu já estou bem melhor.

— Eu sinto muito. A culpa foi toda minha. - Lamenta a garota, suspirando. Ela se encosta na carteira e resmunga irritada. - Droga, Cassidy. Por que você tem que ser tão desastrada?

— A culpa não foi sua. A não ser que minha teoria de você ser um anjo esteja certa e você tenha o poder de controlar a chuva que cai em Miami Beach. - Brinco e ela ri, ficando com o rosto ainda mais avermelhado. Voltamos a ficar em silêncio, observando os alunos que conversavam animados, contando sobre as novidades do fim de semana. Aperto a borracha que ela tinha me dado e me viro para ela. - Seja bem-vinda ao South East High School. Acredito que você vai se dar bem com as pessoas.

— Obrigada. - Agradece, dando um leve sorriso. - Os alunos daqui parecem ser boas pessoas.

— Acho que sim. - Respondo, sem realmente saber o que responder. Eu nunca havia conversado com nenhum dos meus colegas de classe sobre algo além dos trabalhos em grupo e eu só estava na escola há cinco meses, sendo que durante esse período, passamos três meses de férias.

— Oi Dallas. - Cumprimenta Kimmy, a presidente do grêmio estudantil da escola. A garota de olhos puxados, longos cabelos lisos e negros e óculos redondos me encara com um leve sorriso. Kimmy Lee é uma das poucas pessoas que eu ainda troco algumas palavras na escola, já que temos a maior parte das aulas juntos. Ela é uma pessoa gentil e bastante responsável.

— Olá, Kimmy. - Respondo, observando-o sem realmente estar interessado. - Algum problema?

— Não. Eu apenas gostaria de saber se você está bem. Você não veio semana passada. - Comenta a garota parecendo estar sendo sincera. 

— Eu estou bem. Foi apenas uma gripe. - Respondo e a garota assente, concordando. 

— Fico feliz que esteja melhor. Eu realmente fiquei preocupada com o seu sumiço. - Afirma Kimmy, dando um fraco sorriso. Ela suspira e então se vira para a loira ao meu lado. - Oi Cassidy. O sr. Reed pediu que fosse na sala dos professores durante o intervalo para você pegar os livros que faltam.

— Tudo bem. Obrigada, Kimmy. - Agradece Cassidy, sorrindo com gentileza.

— Não foi nada. Se tiver alguma dúvida, pode me procurar. - Avisa Kimmy, sorrindo. Cassidy assente e a presidente do grêmio estudantil da escola se despede acenando, antes de voltar para o seu lugar.

— Ela combina bastante com o cargo do . - Comenta Cassidy, apoiando o rosto sobre o punho com o cotovelo sobre a mesa. 

— Sim. - Concordo, dando de ombros.

— Acho que ela gosta de você. - Fala a loira, encarando-me como se me analisasse. 

— E eu acho que você está enganada. - Afirmo, imitando sua posição. Nós nos encaramos por alguns instantes em uma guerra silenciosa para ver quem seria o primeiro a desviar o olhar. Cassidy acaba rindo e eu a acompanho. - Eu não converso com ninguém dessa sala. Acho difícil alguém ao menos lembrar o meu nome. 

— Por quê? Você não parece ser o tipo de pessoa tímida demais para conversar com as pessoas. Na verdade, você exala aquele ar de garoto popular que todas as garotas fariam o possível para ter a sua atenção. - A loira me encarava com os olhos cheios de curiosidade. Rio de sua imaginação e encosto minha cabeça na parede, encarando o teto.

— Eu tenho quase certeza de que você está exagerando, mas eu realmente não sou uma pessoa tímida. Ficar afastado é mais um estilo de vida, sabe? É a minha forma de atrair a atenção das garotas bonitas que oferecem borrachas usadas para os outros. Como pode ver, a minha tática sempre dar certo. - Brinco e ela ri, revirando os olhos. 

— Fala sério! - Resmunga a garota, empurrando levemente o meu ombro. Rio e suspiro, dando de ombros. - Por que se mantém afastado da turma.

Eu não sabia o porquê, mas por algum motivo, eu me sentia à vontade para conversar com Cassidy. Talvez fosse a sinceridade existente em seus olhos azuis que me atraem tanto ou o sorriso doce em seus lábios. Talvez fosse a gentileza de Cassidy que me transmitia uma confiança que nunca experimentei antes com os meus colegas de turma. O fato é que eu de repente, eu sentia vontade de falar sobre a minha vida complicada. 

— Bom, eu... - Antes que eu começasse a explicar sobre as constantes mudanças de escola, sou interrompido pela voz do homem de estatura mediana, corpulento e com muitos fios de cabelo faltando em sua cabeça.

— Muito bem, alunos! Todos em seus lugares. A aula vai começar. - Avisa o professor de literatura colando três livros pesados sobre a grande mesa próxima ao quadro da sala.

— Conversamos depois. - Sussurro para Cassidy, que assente, concordando.

— Abram seus livros de Literatura Clássica na página trezentos e quinze. Hoje iremos a ascensão do Realismo que ocorreu entre 1860 e 1914. - Orienta o sr. Sheedy, escrevendo o conteúdo que veríamos na aula. 

Suspiro e pego o livro que ele havia solicitado. Sorrio ao ver que deixei cair a borracha que Cassidy me deu. Ela lança aquele sorriso divertido, pegando a borracha para me entregar. Abro o livro e vejo a loira prestando atenção no professor, enquanto anotava o que ele falava em seu caderno. Noto que ela estava sem livro e me lembro da fala de Kimmy.

— Quer dividir o livro? - Sussurro para Cassidy, que desvia o olhar de seu caderno e me encara surpresa.

— Obrigada. - Responde, trazendo sua carteira para mais perto de mim com cuidado para não chamar a atenção dos outros alunos e do professor.

Com Cassidy próxima de mim, sinto o aroma envolvente de seu perfume cítrico invadir o meu olfato e me inebriar. E assim de perto, a garota se tornava ainda mais linda e atraente. Seus lábios carnudos pintados pelo gloss labial brilhavam e atraiam minha atenção. Seus olhos incrivelmente azuis se alternavam entre encarar o quadro, o livro e seu caderno. E por mais que eu tentasse desviar o olhar e prestar atenção na aula, meus olhos permaneciam presos em Cassidy. Incapaz de disfarçar todo o meu fascínio.

— Sr. Miller. Poderia ler o próximo parágrafo? - A voz do professor ecoa pela sala e de repente me torno o alvo da turma. 

Demoro alguns instantes para conseguir me situar e entender que o homem falava comigo. Cassidy me observava com curiosidade e tudo o que faço é encarar o professor completamente sem graça. Quer dizer, eu nem mesmo sabia que estávamos acompanhando a leitura de um trecho do livro e menos ainda em que parte estávamos. 

Cassidy sorri e aponta discretamente para um dos parágrafos. O professor continuava a me encarar, esperando que eu continuasse a leitura. Respiro fundo e trago o livro para mais perto. Ignorando o nervosismo que eu sentia naquele momento e passo a ler o parágrafo que Cassidy havia indicado.

Depois do pequeno deslize cometido por mim que ocasionou em mais atenção do que eu gostaria, a aula prosseguiu de forma tranquila. Eu ainda recebia alguns olhares curiosos e vez ou outra Cassidy me encarava divertida, provavelmente se lembrando de meu desespero. Ao fim do primeiro horário, cada um seguiu para a sua próxima aula. E como eu já imaginava, passei os outros dois horários, completamente perdido em pensamentos envolvendo Cassidy.

Suspiro e guardo meus materiais na mochila assim que a aula termina e o sinal anuncia o intervalo. Coloco minha mochila em minhas costas e desviando de todos os adolescentes agitados que brincavam e gritavam, enquanto seguiam para a lanchonete da escola. Passo em meu armário para trocar os livros, pegar meu lanche e decido ir para o meu lugar preferido da South East High School: o laboratório de ciências abandonado do terceiro andar da escola.

— Dallas! - Ao reconhecer a voz da garota que passou a primeira parte da manhã inteira ocupando a minha mente, viro-me e encontro o sorriso brilhante de Cassidy. - Indo lanchar?

— Sim. - Respondo, erguendo o saco pardo com o meu lanche. - E você?

— Preciso passar na sala dos professores primeiro para pegar meus livros. - Conta a loira, apertando as alças da mochila rosa em suas costas. Ela então se vira para mim e parece prender o riso. - Inclusive, obrigada por compartilhar seu livro comigo.

— Pode rir. Eu sei que você está querendo rir do que aconteceu na aula de Literatura. - Digo e não demora muito para que a loira deixasse escapar as risadas.

— Você precisava ver a sua cara de desespero quando o professor falou o seu nome. - Cassidy ri ainda mais. Sua risada era tão contagiante que eu acabo a acompanhando.

E é por estarmos rindo tanto que não prestamos atenção no grupo de alunos que carregavam grandes maquetes pelo corredor da escola e gritavam para todos tomarem cuidado se aproximando de nós. Para evitar atingir os dedicados alunos, Cassidy me puxo para o lado. O grande problema é que ela me puxou tão forte que eu não consegui equilibrar meu corpo. E tudo só piorou com o piso molhado a nossa frente.

Cassidy e eu tentamos manter o equilíbrio, mas acabamos escorregando e atingindo o grupo de atletas que estava encostado no armário, conversando. E então veio o efeito cascata da desgraça. Não bastou nós empurrarmos o capitão do time de futebol americano da escola. A gente tinha que derrubar os outros quatro jogadores que estavam ao seu redor. O resultado? Trevor Howard, o capitão da equipe de futebol americano, com o tornozelo torcido, um capitão do time furioso e Cassidy e eu acabamos de detenção depois tentarmos argumentar com  professor mais ranzinza e puxa saco das equipes esportivas da escola, sr. Tim Russ. 


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