Acidentalmente Apaixonados escrita por Lara
"As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar."
Leonardo da Vinci
Os fascinantes olhos de Cassidy não saíram de minha mente desde o instante em que a vi pela primeira vez. O arrepio que percorreu meu corpo ao ouvir sua voz doce e aveludada dizer o meu nome foi indescritível. Mesmo em meio a chuva e todo o caos que nos cercava, Cassidy era incrivelmente bonita e angelical. Era como se ela realmente tivesse sido enviada dos céus para me alegrar naquele dia tão complicado.
Depois do incidente, ela se lamentou profundamente pelo ocorrido e fez questão de me acompanhar até a pizzaria para explicar o que aconteceu ao meu chefe e arcar com o prejuízo do dia. Tivemos que chamar um guincho para levar a lambreta e permanecemos mais tempo na chuva do que deveríamos. O resultado foi uma forte gripe que me deixou de cama por cinco dias, impedindo que eu fosse trabalhar ou ir para a escola. Não que eu tivesse achado ruim ficar afastado desse último lugar.
Não é que eu odeie a escola, mas também não é o meu lugar favorito no mundo. Eu sou o que as pessoas chamam de invisível ou o zero a esquerda do lugar. Ser o aluno mediano, de personalidade e aparência comum, faz com que eu seja apenas mais um no meio da imensidão de pessoas. Eu não sou inteligente o bastante para que as pessoas me procurem, nem o mais engraçado, tampouco o mais atlético. Não realizo nenhum atividade extracurricular na escola e também não sou fraco o suficiente para me tornar alvo dos valentões da escola.
A verdade é que eu sempre preferi me manter afastado. Depois de mudar tanto de cidade e de escola, eu já não tinha mais emocional para lidar com as despedidas e menos ainda com todo o processo de me enturmar. É doloroso e desgastante. No fim, todo o esforço é em vão e eu acabo sendo o único a enfrentar a solidão novamente. Por isso, após entrar na minha oitava escola, eu decidi que me tornaria invisível. Muito mais prático e menos excruciante.
Por isso, assim que chego na South East High School, passo em meu armário apenas para deixar o meu lanche e pegar meus livros dos três primeiro horários e sigo diretamente para a sala de aula. Sento em uma cadeira qualquer no fundo da sala, ignorando a conversa dos poucos alunos que havia na sala. Ainda era cedo e demoraria algum tempo até a aula começar. Como de costumo, pego meus fones de ouvido e o celular que estava dentro da minha mochila. No volume máximo, cruzo meus braços sobre a mesa e abaixo a cabeça para assistir a mais um dos vídeos sobre Krósvia e todo o caos que o país estava enfrentando.
Concentrado nas cenas de guerra que tem assolado a capital do país, acabo pulando assustado ao sentir uma mão pegar em meu ombro. Com o coração pronto para sair pela boca, encaro a pessoa que havia tido a brilhante ideia de vir me incomodar. No entanto, surpreendo-me ainda mais ao reconhecer os fascinantes olhos azuis que tem habitado minha mente nos últimos dias.
— Cassidy? - Sussurro, sem acreditar no anjo que meus olhos estavam vendo.
Ela parece falar alguma coisa, mas eu não consigo ouvir nada. E pela minha expressão confusa, ela deve ter percebido, pois começa a rir e se aproxima, puxando um dos lados do meu fone. Eu estava tão deslumbrado com a beleza da loira que somente nesse momento é que percebo que a culpa por eu não ser capaz de ouvir Cassidy era do fone que eu usava.
— Você parecia não estar ouvindo, então... - Cassidy aponta para o lado do fone que ela tirou e dá de ombros, como se estivesse justificando suas ações. Ela se senta na cadeira ao meu lado e parece um pouco envergonhada.
— Não... é... tudo bem. - Respondo, um pouco atordoado. Permanecemos em silêncio por alguns instantes e minha mente parecia em branco. Eu queria dizer alguma coisa, mas nada parecia ser bom o bastante. Suspiro, frustrado, enquanto guardo meu celular e os fones de ouvido de volta em minha mochila.
— Fiquei surpresa de te encontrar por aqui. - Felizmente, Cassidy é a primeira a quebrar o silêncio. - Jamais imaginei que estudaríamos na mesma escola e que estaríamos no mesmo ano.
— Como me reconheceu? - Pergunto, curioso.
— Não reconheci. - Responde a loira, rindo. Ela estende uma borracha preta e me observa com os olhos brilhando em divertimento. - Quer dizer, não até você levantar o rosto. Eu queria te perguntar se essa borracha é sua.
— Entendi. E não. A borracha não é minha. - Digo, sorrindo.
— Bom. Então ela é sua. - Responde a garota com um sorriso arteiro, colocando-a sobre a minha mesa. - Pense nisso como o meu presente para você.
— Muito obrigado. Foi muito gentil da sua parte me dar uma borracha achada no chão e que não sabemos a quem pertence. - Ironizo e Cassidy gargalha. Naquele momento, o som da sua risada é quase como uma bela melodia para os meus ouvidos. Analiso Cassidy e ela estava ainda mais linda do que no dia em que nos conhecemos. Ela usava uma calça jeans escura com a barra dobrada, tênis branco e uma blusa rosa com branco de botões. Seus cabelos loiros estavam presos em um coque e a pouca maquiagem que usava destacava seus brilhantes olhos azuis. - Você mudou recentemente para a escola?
— Sim. Eu estudava na Marino High School, mas me transferi esse semestre para cá. - Conta, mas parece desconfortável com o assunto. - E você? Desde que as aulas começaram, eu não vi você por aqui.
— Eu fiquei gripado no dia seguinte do acidente e acabei ficando de cama a semana toda. - Respondo e Cassidy me encara com preocupação. - Mas eu já estou bem melhor.
— Eu sinto muito. A culpa foi toda minha. - Lamenta a garota, suspirando. Ela se encosta na carteira e resmunga irritada. - Droga, Cassidy. Por que você tem que ser tão desastrada?
— A culpa não foi sua. A não ser que minha teoria de você ser um anjo esteja certa e você tenha o poder de controlar a chuva que cai em Miami Beach. - Brinco e ela ri, ficando com o rosto ainda mais avermelhado. Voltamos a ficar em silêncio, observando os alunos que conversavam animados, contando sobre as novidades do fim de semana. Aperto a borracha que ela tinha me dado e me viro para ela. - Seja bem-vinda ao South East High School. Acredito que você vai se dar bem com as pessoas.
— Obrigada. - Agradece, dando um leve sorriso. - Os alunos daqui parecem ser boas pessoas.
— Acho que sim. - Respondo, sem realmente saber o que responder. Eu nunca havia conversado com nenhum dos meus colegas de classe sobre algo além dos trabalhos em grupo e eu só estava na escola há cinco meses, sendo que durante esse período, passamos três meses de férias.
— Oi Dallas. - Cumprimenta Kimmy, a presidente do grêmio estudantil da escola. A garota de olhos puxados, longos cabelos lisos e negros e óculos redondos me encara com um leve sorriso. Kimmy Lee é uma das poucas pessoas que eu ainda troco algumas palavras na escola, já que temos a maior parte das aulas juntos. Ela é uma pessoa gentil e bastante responsável.
— Olá, Kimmy. - Respondo, observando-o sem realmente estar interessado. - Algum problema?
— Não. Eu apenas gostaria de saber se você está bem. Você não veio semana passada. - Comenta a garota parecendo estar sendo sincera.
— Eu estou bem. Foi apenas uma gripe. - Respondo e a garota assente, concordando.
— Fico feliz que esteja melhor. Eu realmente fiquei preocupada com o seu sumiço. - Afirma Kimmy, dando um fraco sorriso. Ela suspira e então se vira para a loira ao meu lado. - Oi Cassidy. O sr. Reed pediu que fosse na sala dos professores durante o intervalo para você pegar os livros que faltam.
— Tudo bem. Obrigada, Kimmy. - Agradece Cassidy, sorrindo com gentileza.
— Não foi nada. Se tiver alguma dúvida, pode me procurar. - Avisa Kimmy, sorrindo. Cassidy assente e a presidente do grêmio estudantil da escola se despede acenando, antes de voltar para o seu lugar.
— Ela combina bastante com o cargo do . - Comenta Cassidy, apoiando o rosto sobre o punho com o cotovelo sobre a mesa.
— Sim. - Concordo, dando de ombros.
— Acho que ela gosta de você. - Fala a loira, encarando-me como se me analisasse.
— E eu acho que você está enganada. - Afirmo, imitando sua posição. Nós nos encaramos por alguns instantes em uma guerra silenciosa para ver quem seria o primeiro a desviar o olhar. Cassidy acaba rindo e eu a acompanho. - Eu não converso com ninguém dessa sala. Acho difícil alguém ao menos lembrar o meu nome.
— Por quê? Você não parece ser o tipo de pessoa tímida demais para conversar com as pessoas. Na verdade, você exala aquele ar de garoto popular que todas as garotas fariam o possível para ter a sua atenção. - A loira me encarava com os olhos cheios de curiosidade. Rio de sua imaginação e encosto minha cabeça na parede, encarando o teto.
— Eu tenho quase certeza de que você está exagerando, mas eu realmente não sou uma pessoa tímida. Ficar afastado é mais um estilo de vida, sabe? É a minha forma de atrair a atenção das garotas bonitas que oferecem borrachas usadas para os outros. Como pode ver, a minha tática sempre dar certo. - Brinco e ela ri, revirando os olhos.
— Fala sério! - Resmunga a garota, empurrando levemente o meu ombro. Rio e suspiro, dando de ombros. - Por que se mantém afastado da turma.
Eu não sabia o porquê, mas por algum motivo, eu me sentia à vontade para conversar com Cassidy. Talvez fosse a sinceridade existente em seus olhos azuis que me atraem tanto ou o sorriso doce em seus lábios. Talvez fosse a gentileza de Cassidy que me transmitia uma confiança que nunca experimentei antes com os meus colegas de turma. O fato é que eu de repente, eu sentia vontade de falar sobre a minha vida complicada.
— Bom, eu... - Antes que eu começasse a explicar sobre as constantes mudanças de escola, sou interrompido pela voz do homem de estatura mediana, corpulento e com muitos fios de cabelo faltando em sua cabeça.
— Muito bem, alunos! Todos em seus lugares. A aula vai começar. - Avisa o professor de literatura colando três livros pesados sobre a grande mesa próxima ao quadro da sala.
— Conversamos depois. - Sussurro para Cassidy, que assente, concordando.
— Abram seus livros de Literatura Clássica na página trezentos e quinze. Hoje iremos a ascensão do Realismo que ocorreu entre 1860 e 1914. - Orienta o sr. Sheedy, escrevendo o conteúdo que veríamos na aula.
Suspiro e pego o livro que ele havia solicitado. Sorrio ao ver que deixei cair a borracha que Cassidy me deu. Ela lança aquele sorriso divertido, pegando a borracha para me entregar. Abro o livro e vejo a loira prestando atenção no professor, enquanto anotava o que ele falava em seu caderno. Noto que ela estava sem livro e me lembro da fala de Kimmy.
— Quer dividir o livro? - Sussurro para Cassidy, que desvia o olhar de seu caderno e me encara surpresa.
— Obrigada. - Responde, trazendo sua carteira para mais perto de mim com cuidado para não chamar a atenção dos outros alunos e do professor.
Com Cassidy próxima de mim, sinto o aroma envolvente de seu perfume cítrico invadir o meu olfato e me inebriar. E assim de perto, a garota se tornava ainda mais linda e atraente. Seus lábios carnudos pintados pelo gloss labial brilhavam e atraiam minha atenção. Seus olhos incrivelmente azuis se alternavam entre encarar o quadro, o livro e seu caderno. E por mais que eu tentasse desviar o olhar e prestar atenção na aula, meus olhos permaneciam presos em Cassidy. Incapaz de disfarçar todo o meu fascínio.
— Sr. Miller. Poderia ler o próximo parágrafo? - A voz do professor ecoa pela sala e de repente me torno o alvo da turma.
Demoro alguns instantes para conseguir me situar e entender que o homem falava comigo. Cassidy me observava com curiosidade e tudo o que faço é encarar o professor completamente sem graça. Quer dizer, eu nem mesmo sabia que estávamos acompanhando a leitura de um trecho do livro e menos ainda em que parte estávamos.
Cassidy sorri e aponta discretamente para um dos parágrafos. O professor continuava a me encarar, esperando que eu continuasse a leitura. Respiro fundo e trago o livro para mais perto. Ignorando o nervosismo que eu sentia naquele momento e passo a ler o parágrafo que Cassidy havia indicado.
Depois do pequeno deslize cometido por mim que ocasionou em mais atenção do que eu gostaria, a aula prosseguiu de forma tranquila. Eu ainda recebia alguns olhares curiosos e vez ou outra Cassidy me encarava divertida, provavelmente se lembrando de meu desespero. Ao fim do primeiro horário, cada um seguiu para a sua próxima aula. E como eu já imaginava, passei os outros dois horários, completamente perdido em pensamentos envolvendo Cassidy.
Suspiro e guardo meus materiais na mochila assim que a aula termina e o sinal anuncia o intervalo. Coloco minha mochila em minhas costas e desviando de todos os adolescentes agitados que brincavam e gritavam, enquanto seguiam para a lanchonete da escola. Passo em meu armário para trocar os livros, pegar meu lanche e decido ir para o meu lugar preferido da South East High School: o laboratório de ciências abandonado do terceiro andar da escola.
— Dallas! - Ao reconhecer a voz da garota que passou a primeira parte da manhã inteira ocupando a minha mente, viro-me e encontro o sorriso brilhante de Cassidy. - Indo lanchar?
— Sim. - Respondo, erguendo o saco pardo com o meu lanche. - E você?
— Preciso passar na sala dos professores primeiro para pegar meus livros. - Conta a loira, apertando as alças da mochila rosa em suas costas. Ela então se vira para mim e parece prender o riso. - Inclusive, obrigada por compartilhar seu livro comigo.
— Pode rir. Eu sei que você está querendo rir do que aconteceu na aula de Literatura. - Digo e não demora muito para que a loira deixasse escapar as risadas.
— Você precisava ver a sua cara de desespero quando o professor falou o seu nome. - Cassidy ri ainda mais. Sua risada era tão contagiante que eu acabo a acompanhando.
E é por estarmos rindo tanto que não prestamos atenção no grupo de alunos que carregavam grandes maquetes pelo corredor da escola e gritavam para todos tomarem cuidado se aproximando de nós. Para evitar atingir os dedicados alunos, Cassidy me puxo para o lado. O grande problema é que ela me puxou tão forte que eu não consegui equilibrar meu corpo. E tudo só piorou com o piso molhado a nossa frente.
Cassidy e eu tentamos manter o equilíbrio, mas acabamos escorregando e atingindo o grupo de atletas que estava encostado no armário, conversando. E então veio o efeito cascata da desgraça. Não bastou nós empurrarmos o capitão do time de futebol americano da escola. A gente tinha que derrubar os outros quatro jogadores que estavam ao seu redor. O resultado? Trevor Howard, o capitão da equipe de futebol americano, com o tornozelo torcido, um capitão do time furioso e Cassidy e eu acabamos de detenção depois tentarmos argumentar com professor mais ranzinza e puxa saco das equipes esportivas da escola, sr. Tim Russ.
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