A Origem da Energia - Ascender da Lenda escrita por OrigamiBR


Capítulo 7
Caminho dos ventos


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo já estava pronto há algum tempo. Demorei mais porque tive que fazer umas correções, mas já está pronto.



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Finalmente haviam chegado ao planalto Ailieno, e sua exploração iria iniciar no amanhecer do dia seguinte. Não se sabe quem foi o primeiro que deu o nome e visitou o local, mas o Planalto Ailieno é muito conhecido por seus ventos poderosos e sua fauna hostil, sobrevivente ao ambiente perigoso. Ao amanhecer, os raios de sol perfuravam suas pálpebras à medida que iam vencendo a elevação da encosta, precedendo o planalto. Os passos eram lentos e firmes, para se proteger das repentinas lufadas errantes. Algumas vezes, Vergil quase foi arrancado do chão, mas suas parceiras estavam lá para lhe segurar. Niéle teve dificuldades com seu cabelo grande, entrando nos olhos e boca, mesmo depois de amarrá-los. Kai puxara seu pano de rosto, e liderava a expedição.

Subiram até ver uma silhueta enorme, que supunham ser uma rocha. Mas rochas não se movem naquele vento girando. Quando virou, surgiu um longo pescoço esverdeado e uma cabeça de tartaruga. O par de olhos encarou os três e se agigantou, mostrando as patas grossas reptilianas suspendendo aquele casco de pedra acinzentada. Logo depois, mais seis pescoços idênticos ao primeiro saíram de onde deveriam ser essa parte da anatomia. Os três conheciam esse ser. Por mais que não fosse da mesma fonte, os três estavam diante de um Lendário do Caos: o Teju Jagua.

— Ora, ora – uma voz profunda e retumbante resoou sete vezes diante deles, mas era muito tranquila: um contraste com a figura assustadoramente gigante e ameaçadora logo à frente.

— E-Esse é o Teju? – perguntou Vergil, sem tirar os olhos do Lendário. Teju era lagarto em Tupi, e de lagarto a tartaruga não tinha nada.

— Sim – disse Niéle, surpreendentemente calma. – Ele é um dos filhos de Tau, assim como Monai. Mas ao contrário da natureza dos seus irmãos, com exceção de Jareté, ele é pacífico.

As sete cabeças subiram e desceram com o ar tremendo pelo volume, numa tentativa simplificada de dizer “sim”.

— Mas, o que ele está fazendo aqui? Quer nos impedir? – disse o lutador, com as pernas retesadas, prontas para saltar. Sua Energia fervilhava e gotículas de água começavam a se acumular em seu braço esquerdo, tudo isso instantaneamente.

Teju Jagua se ajeitou nas suas patas enormes, impassível com o vento forte, e suas sete cabeças viraram de um lado a outro, dizendo “não”. Depois, ele começou a falar, mas a voz saía na cabeça deles, como uma comunicação telepática.

— O Equilíbrio está diante do mundo novamente... – disse a mesma voz profunda e retumbante – Se atravessar Ailieno é sua missão, então deverá procurar como caminhar entre os mortais, pois nem mesmo os guardiões são capazes de ascender aos deuses. Vrask é procurado por aqueles que devem sentir o peso de suas responsabilidades.

O garoto parou por um tempo, pensativo, e perguntou para as duas.

— Do que ele tá falando? – disse, confuso.

— Ah, do cipó de Vrask, que nasce perto de Mesater, a caverna dos segredos! – explicou Niéle, animada – Ele é bem leve, mas quando é cortado, fica mais pesado que ferro. Não tinha pensado nisso antes.

— Mas fica longe irmos para Mesater agora. Vai ser outro Santuário por lá – disse Kai.

— É verdade – disse Vergil, lembrando onde estavam pelo mapa – Mas se não dá pra usar esse cipó, o que poderemos usar?

— Ah, o Equilíbrio permanece em dúvida, sendo que ele é mais poderoso do que acha. Uma rede que protege e prende será essencial até encontrar seu caminho.

O lutador olhou para a ninja, e ela confirmou com um aceno de cabeça. Havia ainda a possibilidade de ele criar uma rede de Energia englobando os três, como havia discutido antes. Mas ainda tinha o problema de não saber exatamente onde está o Santuário.

— Err, sr. Jagua? Você sabe onde está o Santuário de Pólo?

O Lendário virou as sete cabeças de lado, dizendo “não”, mas a voz ressoou na mente deles.

— Vocês devem superar os ventos mortais e sempre olhar para o céu, pois a resposta de vocês está entre as nuvens.

Com essa fala, Teju Jagua se virou e saiu andando, cada passada retumbando no solo, como mini terremotos.

—--

Lupus Custodia...— disse Vergil, determinado. Energia brotou de seu corpo, fluindo através de várias cordas avermelhadas e brilhantes, se tecendo e entrelaçando como se estivessem vivas. Concentrado, ele deixou que elas se expandissem em área, cobrindo as duas mulheres que lhe acompanhavam, com ele como centro. No fim, o lutador deixou apenas uma ligação com seu corpo, tentando manter a eficiência no gasto e a menor concentração necessária. A rede era vazada para respirarem, mas tinha a propriedade de repelir toda fonte de Energia externa. E isso incluía os ventos mortais de Ailieno.

Iniciaram a caminhada, desbravando as áreas isoladas. Ailieno era de baixa visibilidade, pela quantidade de poeira levantada, e muito barulhenta. Apesar disso, ainda tinham resquícios de natureza por lá. Haviam árvores, geralmente de baixa estatura e inclinadas, repletas de liquens e folhas finas, adaptadas às condições. Os poucos animais que encontraram eram rastejantes, sempre se mantendo dentro ou próximo ao solo, como lagartos-encouraçados e tatus-brilhantes. O céu tinha algumas nuvens, mas estas sempre estavam em movimento, muitas vezes se desfazendo, espiralando e se refazendo mais ao longe. O sol mantinha uma iluminação suave, mesmo quando chegaram perto de meio-dia, apesar de alguns raios perfurarem as írises. Niéle estava atenta para qualquer monstro que pudesse aparecer, e Kai estava com a Percepção ativa, procurando qualquer fonte de Energia concentrada localizada em elevação. Mesmo com a barriga a roncar pela fome, Vergil continuou concentrado, mantendo a rede estável o suficiente para que pudessem andar. As constantes lufadas na proteção ocasionalmente faziam um vinco, mas o lutador tratava de corrigir a forma logo com um pensamento.

Cerca de uma hora depois, já meio debilitado pelo gasto de Energia, Kai deu um aviso:

— Achei! – e apontou para um ponto no céu, com visibilidade prejudicada pela poeira, mas ainda era possível de ver aquela estrutura grandiosa flutuando no céu: um castelo flutuante, suspenso em um pedaço de solo, impassível aos ventos do planalto. Talvez Kai e Niéle não soubessem, já que eram de Ryokun, mas Vergil imediatamente identificou como sendo de arquitetura inca, lembrando Machu Picchu. Um zigurate Mesoamericano flutuando no ar, cortando os raios de sol. As pedras estavam desgastadas pela ação da natureza, mas ele não parecia antigo. Mesmo com todo esse vislumbre maravilhoso, ainda havia um problema: como subir até lá?

— Kai, como que chegamos lá?

— Não sei, Vergil – disse a ninja, olhando para cima – É a primeira vez que vejo o Santuário de Pólo com meus próprios olhos... E não me lembro da Grande Sombra falar como se entrava nele.

— Aposto que se eu lançar uma labareda, eles conseguem ver – disse Niéle, excitada com a ideia. Parecia a mais empolgada, com a menção de subir num templo voador.

— A poeira e os ventos são muito fortes. Você acha que consegue? – perguntou Vergil, preocupado.

Sem responder, a maga levantou o braço além da rede. Ele foi jogando para os lados, mas ela o conteve bem, os músculos retesados no trabalho. Então, concentrou Energia na palma e gritou “Flamma Iaculat!”. Um disparo cilíndrico de fogo partiu de sua palma com bastante força e calor, mas não foi muito longe, se dispersando poucos metros depois de lançado.

— Acho que não botei Energia o suficiente – disse ela, dando uma respirada funda.

Dessa vez deu para ver visivelmente a Energia se juntando em seu braço e se concentrando na palma, mas mesmo depois de tentar, lançando uma torre de fogo de largo calibre, não foi muito mais longe que sua primeira tentativa.

— Pare, Niéle – advertiu Kai – Vai acabar com sua Energia e não vamos conseguir nada.

— Mas o que devemos fazer? – disse a maga, meio ofegante – Se não sairmos daqui logo, estaremos com problemas... Vergil não vai aguentar muito mais tempo sendo atacado pelos ares assim.

— Primeiro vamos sair daqui: o Santuário já se moveu um pouco.

O grupo andou acompanhando de perto aquele suntuoso templo voador. Mesmo se sentindo fraco por estar defendendo das rajadas violentas, eles saíram das áreas mais intensas do planalto. Foi aí que teve uma ideia maluca, imprudente e até suicida.

— Eu tenho uma ideia, mas é muito perigosa – comentou o lutador, hesitante.

— O que seria? -  perguntou Niéle, curiosa.

— Nos deixaríamos levar pelo vento até o Santuário.

Por um momento, só o ruído das correntes de ar foi ouvido. As meninas ficaram sem palavras, até que a maga se ajeitou e disse pausadamente para Vergil:

— Você... Perdeu a cabeça?

— Err, não, mas eu tenho uma razão para isso.

“O treino com a Água começou comigo tentando entender o elemento. E tive que buscar as sensações que provocava. Eu sinto que devemos nos deixar levar. Sei que Kai falou que era perigoso, mas eu não acho que fazer isso vai nos matar. Se vocês se sentirem inseguras, eu as protegerei.”

Kai o olhou diretamente nos olhos, como que considerando a ideia. Já Niéle quis desistir, mas viu a determinação emanando do garoto. Não era uma decisão fácil, e por mais confiante que quisesse estar, Vergil estava pensando em como tudo podia dar horrivelmente errado. Mas a ninja deu um aceno com a cabeça, acatando com a decisão e segurando no braço dele. A maga balançou a cabeça para os lados, ainda hesitante, mas segurou o outro braço dele. Tremia levemente.

— Assim que eu der o sinal, façam de tudo para não se mexer. Eu vou prender uma linha de Energia para sabermos onde estamos e fazer algo caso precise. Só espero que dê certo...

Respirou fundo, o coração batendo forte a cada segundo. E então soltou a rede que os mantinha ancorados. A primeira sensação foi de leveza, com os pés descolando do chão devagar, e então depois veio o descontrole, sendo jogado em uma direção com toda a força, girando parado no lugar e depois sendo arremessado em outra totalmente diferente. Perdeu a orientação de onde estava o chão e o céu, pois os raios solares que furavam a intensa tempestade estavam girando junto com ele. Sabia onde estavam as meninas, mas não tinha noção da direção que a gravidade estaria os puxando. Começou a achar que a ideia que teve iria os condenaria a um baque fulminante e certamente fatal. Mesmo com a recomendação de falar para elas não usar a Energia, não as ia deixar morrer. Mesmo sem conseguir ver nada devido à poeira, ele iria salvá-las, custe o que custar. Então, sem externar essa força, começou a juntar Energia no centro do corpo. Mas quando menos esperou, o sacolejar cessou de vez. Tão de repente que sua concentração vacilou e a Energia voltou para si. Arriscou abrir os olhos depois de limpá-los, e o que viu tirou seu fôlego.


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Notas finais do capítulo

Estou mandando um capítulo duplo, que vai ser colocado logo depois desse, então já já os verei novamente. Até!



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