A Origem da Energia - Ascender da Lenda escrita por OrigamiBR


Capítulo 4
Cordilheira Zero


Notas iniciais do capítulo

Aqui eu tenho um capítulo que pode sofrer modificações futuras, mas seriam bem poucas e bem no começo dele. Não postaria agora, mas como não gosto de deixar ponto sem nó, vou mandar logo, hehe.



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Chegaram à costa do mar da Lua Marinha em poucos minutos, impulsionados pela Energia, saltando pelos troncos caídos, desviando das árvores apertadas e descendo e subindo morros de variadas altitudes. Chegaram no poste decaído pelo tempo e fizeram o mesmo ritual, invocando a jangada-lancha novamente. Porém, antes de embarcarem, Vergil pediu um tempo para as duas, pensando numa estratégia.

— Esse barco vai também para outras partes do continente?

— Sim, vai, mas por quê? Tem algum ponto de início em mente? – perguntou Kai, pensativa.

— Acho preferível começar pelo topo do mundo: Arteris possui o Santuário da Água, na Cordilheira Zero. Já em Ryokun, teremos o Santuário do Ar, em Ailieno, e o da Luz em Leautar, isso tudo antes de chegar em Uranos. Em Heatgrave, teremos o Santuário da Terra e na Ilha Traedyr o de Fogo, terminando com o de Trevas entre Orquídea e o Ferrão do Escorpião, na Depressão Privadarte.

— É um bom plano, na verdade – comentou Niéle – Assim, não perderíamos tempo voltando.

— Na verdade, perderíamos tempo ainda assim, pois teremos que voltar e visitar o Santuário de Tupã, Tau, Porã e Iara.

— Mas já não há o Santuário de Tupã aqui por perto de Uranos? Por que não começar por ele?

— Ela disse que seria melhor começar pelos dos elementos, lembra?

— Ah, é – disse Niéle, envergonhada.

— Vergil: o barco não chega até Arteris, mas mesmo que chegasse, não acho que aguentaríamos ficar sentados nele até lá.

— Tudo bem. É melhor irmos pelo continente até lá. Quanto mais perto conseguirmos parar, melhor.

Com o comando de Kai, a jangada desviou para a direita, levando-os perto da costa, mas seguindo a linha da praia. Rapidamente, passavam por florestas em vales, pequenos montes com algumas vilas isoladas até verem ao longe as Escarpas Vulcânicas. De noite, passaram ao lado do Pico Leautar, imponentemente perfurando o céu. Pararam perto da cidade portuária de Sulra. Arrumaram acampamento dentro da mata vicinal e dormiram quase imediatamente, aconchegados numa cama de folhas secas e solo fofo. Levantaram cedo, ainda meio doloridos da viagem, mas bem mais descansados. Sem demoras, foram para a cidade e entraram no porto, procurando alguma embarcação para fretar.

Sulra era uma cidade pequena, com poucas casas amarelas espalhadas numa pequena elevação, mas continha um grande mercado perto do porto, com galpões de considerável tamanho para armazenar as mercadorias que vinham do desenvolvido continente de Arteris. Também era o único porto de Ryokun que conseguia suportar navios de grande porte, abastecendo o continente com várias especiarias, peles e carnes da terra fria.

Apesar da grande confusão que perdurava por lá, com marinheiros transportando caixas e mais caixas de materiais, eles conseguiram falar com um pequeno mercador para levá-los até a cidade de Esquife. Partiram um dia depois, alojados juntos à carga.

— Sei que o mundo está em perigo de colapso, mas não acham estranho não ter acontecido nada ainda? – perguntou Vergil, deitado numa rede. Niéle se virou para ele, um olhar confuso, mas pensativo.

— É bem estranho mesmo – falou a garota – Mas acho que sei o porquê.

“Depois de você ter derrotado Dyne, que fazia o mundo entrar em colapso, o avanço da força deve ter parado. E não sinto nenhum ponto de caos.”

— Como assim?

— Sabe, antes só vivia na sombra de Dyne e suprimindo minha Energia, mas agora que consegui acesso à minha Essência, venho sentido algo que não sentia faz anos. – respondeu a mulher, encolhida – Não fui chamada de Herdeira do Caos à toa pelo pessoal do castelo: eu voltei a sentir a instabilidade da Energia.

— O que?! – exclamaram o lutador e a ninja.

— Err... – começou ela, envergonhada – Antes, quando meu pai estava por aí, eu conseguia sentir pontos de caos pelo continente, onde o conflito acontecia, onde havia o choque entre Yin e Yang. Mais tarde, meu pai descobriu o quão útil seria saber das revoltas de Ryokun.

— Isso explica bastante... Era assim que Alucard sabia exatamente onde nos encontrar – disse Vergil, pensativo.

— Foi assim que descobri também como você estava... Naquela noite – começou a mulher, mas falou baixinha a última frase, envergonhada.

— M-Mas porque de repente ele parou de nos atacar até bem perto do castelo? – disse o garoto, percebendo e também ficando envergonhado.

— Ele nos mandou para longe, sabe... Quero acreditar que foi ele como pai que fez isso... – terminou com uma nota de pesar, mas ao mesmo tempo de resolução, como se tivesse feito as pazes consigo mesma.

— Tenho certeza que foi.          

Vergil não disse mais nada, só deu um sorriso amigável, que lhe foi correspondido. Niéle se virou e antes de dormir comentou que no momento não sentia nada de instável na Energia. O garoto estava conflitado por toda essa responsabilidade, mas de nada adiantaria ficar pensando se não pudesse resolver. Deu boa noite para Kai e foi tentar dormir. A conhecida sala com as esferas podia ter povoado seu sonho, mas agora era apenas uma antiga lembrança. Estava segurando a do meio sem medo, e por mais choques que passassem por ela, não lhe machucavam.

Acordou suavemente, com o leve sacolejar do navio e raios de sol penetrando algumas frestas do convés. Saltou e subiu para ver o ar congelado e sentir o frio do continente branco: Arteris.

—--

Chegaram à costa de Esquife, o agitado porto fervilhando de pessoas, com suas embarcações dos mais variados tamanhos. O local tinha uma aura de metrópole, não minimizado pelo frio cortante, com pessoas andando para todos os lados, agitados. A água salgada quebrava na costa do cais, jogando sais pelo ar e deixando o local com um cheiro de mar, peixe e praia.

Desembarcaram sem problemas, agradecendo o comerciante e indo em direção a uma loja de roupas com urgência por causa da temperatura. Compraram com o dinheiro restante novas roupas para as meninas, já que estavam bem avariadas com a viagem. A ninja estava vestida com uma calça escura e justa, para manter o calor no corpo, completando com uma camisa de lã grossa de manga longa verde com gola alta e um casaco de várias camadas de couro de touro-bétula. A maga vestiu uma camisa de mangas longas também, mas ao invés de fechar na mão, ela abria em um cone e detinha um leve decote. Também pegou uma calça de tecido grosso e escuro para usar, mas nenhum casaco. Ao comprar um casaco de lobo-pontar para si, com botas do mesmo material e luvas, Vergil se perguntou o porquê da decisão, mas aí a viu respirando fundo, se concentrando e exalando uma fumaça meio vaporizada e muito quente.

— Vamos... – disse a mulher, folgando a camisa, um pouco corada pelo calor que sentia.

Atravessaram as ruas de blocos amarelos, passando pelas casas de telhado altamente inclinado e paredes escuras até chegarem numa imensa montanha, onde a estrada passava de pavimentada a um caminho traçado apenas pelo trânsito de carroças, com poucas ou nenhuma pegada de viajantes. Puxaram o grande mapa mais uma vez.

— Aqui – disse Vergil, limpando o rosto da neve que se acumulou em seus cílios – Temos que andar mais alguns quilômetros na estrada até chegarmos à cordilheira.

— Certo – correspondeu Niéle, e Kai acenou com a cabeça.

Com a passagem, os ventos ficaram mais intensos e o clima mais frio. Viram uma cabana abandonada de um lado da planície gotejada por alguns pinheiros, ipês roxos e figueiras. Após quase ser levado pelo vento, Vergil esticou o braço para a esquerda e bradou “Lupus Clausus”: um escudo vermelho e convexo se projetou de sua mão e se ajeitou num grande retângulo, bloqueando o vento congelante. Continuaram a andar, vendo os flocos de neve reboar no escudo até vislumbrarem um caminho entre as montanhas que subia serpenteando. Forçando os músculos cansados das pernas, eles foram subindo calmamente, mas algumas sombras passaram por suas cabeças. Imediatamente, se preparando para o combate.

Diante deles estavam dois lobos-tira: sua pelagem era totalmente feita de espinhos como de um ouriço, mas estranhamente maleável. Era branco, para se camuflar, mas tinha algumas pintas cinza espalhadas nos aguilhões. Os animais eram especialmente grandes, quase passando do tamanho de um homem adulto, com presas afiadas do tamanho de uma mão. Não chegavam a babar, mas a respiração controlada e o olhar intimidante eram suficientes para afirmar que estavam com muita fome.

Sem demora, Vergil saltou diante de um deles, bloqueando o avanço com um bastão vermelho conjurado do nada. Estocou, visando os olhos, mas ele era ágil, desviando para o lado enquanto avançava com a boca aberta. Criou um escudo pequeno circular, onde bateu os dentes do inimigo. Concentrando Energia na mão, golpeou com a palma, explodindo no impacto e lançando o lobo para trás. Nisso, o outro saltou sobre a sombra do parceiro, mirando no pescoço do lutador.

Glacies Muralis! – gritou Niéle, apontando o cajado. Espetos de gelo brotaram do chão bem à frente do lutador formando uma parede, onde o lobo atacante bateu com um estampido, ganindo depois. Saltou logo depois, visualizando Kai logo atrás do primeiro que o atacou e aplicando uma facada fatal direto no olho dele. Vendo o parceiro morrer, o outro lobo procurou fugir, se embrenhando por dentro das passagens da montanha.

Niéle deu um toque na parede gigante de gelo, desfazendo-a. Kai e Vergil foram se adiantando. A ninja não fez menção de tirar a pele ou de aproveitar a carne do lobo, deixando a carcaça num lado longe do caminho. Aparentemente era venenosa ou não própria para uso.

— O que foi, Vergil? – disse Niéle, notando a preocupação no olhar do lutador, que estava um pouco vago.

— Só que... Apesar de ser agora o Equilíbrio e de ter conseguido me tornar um Elevado, não sinto nada de diferente.

— Acho que é só porque você não se acostumou com a ideia – disse a menina – Você passou um bom tempo desacostumado com batalhas.

— Eu posso lhe ajudar a retornar seus instintos de combate – disse Kai, virando o rosto para ele, de olhar determinado.

— Obrigado, meninas, mas vamos nos apressar: esse frio não tá me fazendo bem.

Passando o tempo deles se dirigindo pela encosta elevada, o frio parecia piorar, e sem sinal do Santuário. Segundo o mapa (já quase todo rígido pelo frio), eles já deviam ter vista do local, mas só aparecia a face das montanhas, fora a grande parede branca da nevasca. Kai, mesmo bem agasalhada e acostumada com o tipo de clima, sofria com a temperatura. Niéle, mesmo levemente vestida, ainda suportava, mas cristais de gelo começavam a se acumular em sua pele, e sua respiração estava mais ofegante pelo gasto de Energia. Vergil nunca teve resistência ao frio, e mesmo com o fascínio que sentia pela neve, sua constituição já reclamava bastante, e ele tremia, com o calor sendo roubado de seu corpo a cada rajada. Mesmo com a Energia fortalecendo sua resistência, não era mais o suficiente para contrabalancear a hipotermia.

Mais alguns minutos subindo e ele tropeçou, não conseguindo se mexer devido à temperatura extrema. Ofegava profusamente e tremia de frio. Preocupada, Niéle pôs o braço dele por cima de seu pescoço e tentou arrastá-lo, mantendo um pouco do seu calor junto dele.

— Ali! – gritou Kai, a voz abafada pelo vento. Adiante deles, bem escondido, elas viram o Santuário da Água.

O Santuário era um templo feito no lado da montanha. Era feito de formas ligeiramente arredondadas, de telhado alto e bem inclinado, com arcos dourados e um pátio aberto. Vergil conseguiu discernir uma ponte de madeira azulada antes de sua consciência falhar e ele apagar.

—--

Acordou com os olhos meio pesados, mas estava bem quente. Levantou devagar, e várias peles grossas em camadas estavam sobre seu corpo. Levantou fácil, vendo que estava num aposento bem diferente do que estava acostumado: o quarto era pequeno, mas muito acolhedor. As paredes eram feitas de madeira, para isolar o calor. Estavam pintadas de azul-escuro, com alguns desenhos marítimos, como ondas e navios. Mas não de uma forma simples, parecendo que havia sido um profissional que tivesse decorado. A cama era feita também de madeira, mas a forma lembrava uma palafita, com gravetos finos servindo de suporte. Colocou os pés no chão, e este não era gelado. Parecia que tinha entrado num resort de inverno, e não num templo. Saiu do quarto e foi atacado por uma mulher muito preocupada, que lhe abraçou fortemente. Seu corpo estava muito quente, e os cabelos cacheados cobriram seu rosto.

— Você gosta de matar a gente do coração, não é? – comentou uma voz feminina etérea, e Kai saiu das sombras do corredor, vindo falar com ele.

— É, desculpe. Nem pareço o Equilíbrio, não é? – deu uma risada seca.

— O problema não é esse – disse Niéle, após soltá-lo, fitando-o com um olhar choroso e dando um soco no peito dele – O problema é essa sua atitude...

— Que atitude? – questionou o garoto, sem entender e preocupado.

— Você sempre quer fazer tudo sozinho, e acaba não pedindo a ajuda de ninguém. Se estivesse ruim, era só ter falado... Eu teria lhe ajudado, Kai teria lhe ajudado...

— Ah... – a culpa começou a se formar em seu interior. Baixou a cabeça em resignação, tocando levemente o pulso da maga, sem saber o que responder. Niéle fungou, antes de continuar.

— Se você entendeu, então tudo bem. Não me dê um susto desses de novo.

— Isso também faz parte do crescimento dele como Equilíbrio, senhorita Dorman – disse uma voz masculina e melodiosa.

Ao longo do corredor decorado com conchas do mar, aberto ao pátio central com uma fonte de pedra jorrando água quente estava o homem que haviam visto apenas como projeção na Lua Marinha. O homem de cabelos longos e lisos, extremamente sedosos e de cor castanha, abriu um sorriso leve para eles, enquanto abria os olhos de um intenso azul, mas tranquilizador. Usava uma túnica branca de mangas abertas e longas, marcado com linhas azuladas num padrão quase fluido. Era amarrado na cintura com uma faixa fina de cor preta, lembrando um quimono cerimonial.

— Senhor, desculpe-me pela falta de tato em não me apresentar – apressou-se Vergil em dizer, arrumando as roupas e se curvando, mas o homem levantou uma das mãos e pediu silêncio.

— Não se preocupe, Equilíbrio. Estou bem a par da sua situação, e não nutro injúrias por meras “formalidades”. Por favor, vamos iniciar seu treinamento para proteger nosso mundo.


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Notas finais do capítulo

Esse é um livro de aventura, um estilo um pouco diferente que adotei com relação ao primeiro e o segundo. O que estão achando?



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