A Origem da Energia - Ascender da Lenda escrita por OrigamiBR


Capítulo 3
Essência da Energia


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me a demora pra postar o capítulo. Ele já estava pronto e concluído, mas eu estou ainda fazendo o resto, e no momento sem escrever. Mas ao mesmo tempo eu queria reforçar o cliffhanger, então acabou me ajudando. De toda forma, fiquem com o capítulo.



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A expressão de choque foi o mínimo que passou pelo rosto de Vergil. Niéle arregalou os olhos e pôs as mãos na boca, como se também não acreditasse no que acabou de ouvir. Até Kai, que normalmente mantém a calma não escondeu a surpresa, se afastando um pouco do lutador como se ele fosse explodir.

— Como posso ser o Equilíbrio? Eu nem Energia tenho mais! Não sou mais um Sensitivo! – exclamou Vergil, confuso. Niéle e Kai o olharam, depois fitaram os membros da Ordem, pasmas.

— Uma pessoa jamais fica sem Energia, porque aí ela já estaria morta. Mas você não sentiu nada de diferente, depois que derrotou Alucard? – perguntou “Luz”, curiosa.

Vergil parou para pensar. Depois de derrotar o tirano, com a ajuda de seus amigos, ele não sentira mesmo nada de diferente, só um cansaço anormal. Ao voltar para seu mundo, Universo, via que ainda era um Sensitivo, mesmo que seus amigos tenham deixado de ser, com exceção de Cole. Estranhara, mas não tinha se importado muito, já que não tinha necessidade de usá-la. Mas quando voltou para Ryokun, depois de ter desenvolvido e treinado seus poderes, havia se sentido mais poderoso até a derrota de Geardyne, fora a vez que...

— Ah, eu usei dois elementos ao mesmo tempo! – revelou o garoto em súbita realização, batendo o punho na mão – Quando estava lutando contra Monai, usei Fogo e Trevas. Na hora eu não pensei direito, mas foi isso mesmo!

— Isso é bem incrível – exclamou “Fogo”, encarando o garoto com muito interesse.

— É, foi, mas não explica eu não conseguir usar Energia nenhuma mais... E mesmo depois de derrotar Alucard, quando eu ainda conseguia, eu perdi minha aptidão de Raio.

— Alguma coisa em seu íntimo deve ter mudado – afirmou “Água”, e os outros confirmaram com as cabeças – Já vimos isso antes.

— Tem haver com o estado emocional, então?

— Não só isso, mas sua própria Essência também.

Ponderou por alguns minutos, tentando lembrar-se do que estava sentindo naquele momento. Andou de um lado para o outro, recordando do que acontecia, mas as emoções não vinham. Era como se houvesse um bloqueio, como um estranho que estava fazendo aquelas coisas e não ele, e por isso não conseguia estabelecer uma ligação. Eram memórias de tempos diferentes, que bagunçavam suas lembranças pela diferença de tempo de Ryokun e Universo.

— Não consigo – resmungou Vergil, frustrado – Está faltando algo...

— Não tem problema – disse “Sombra” gentilmente – Nós podemos lhe ensinar.

— Sendo o Equilíbrio, tu tens a apelação suprema de usar a Energia de todo o mundo como se fosse tua – disse “Fogo” – Vai aprender a usar todos os aspectos possíveis da natureza.

— Curioso, quando começo? – perguntou Vergil, com um misto de curiosidade, ansiedade e apreensão.

— Imediatamente: estamos precisando do Equilíbrio mais do que nunca – disse “Sombra” um pouco exasperada, e saiu do pedestal, com os hologramas sumindo. Caminhou lentamente até o grupo dos três e pôs a mão no ombro do garoto – Mas antes, vocês precisam descansar...

Assim que a senhora o recordou, Vergil se lembrou de o quão cansado estava. Niéle e Kai também relaxaram e estavam sonolentas. O grupo se encaminhou para uma das salas e dormiu profundamente.

Novamente, o garoto sonhou com a mesma sala escura e as mesmas seis esferas. A do meio, a última, ainda mudava de estado como da última vez, oscilando rapidamente entre eles. Dessa vez a tocou, sua curiosidade vencendo sua razão, para saber o que aconteceria. Porém, foi recebido com um forte choque, só que não conseguia soltá-la e começou a gritar de dor. Gritou tanto que acordou também vociferando. Com o coração na boca, viu que Niéle estava com o rosto a centímetros do seu, a expressão preocupada. Segurava seus braços com firmeza, contendo o chacoalhar. Estava sem adornos no cabelo, com uma camisola de algodão leve de cor cinza, cortesia da Grande Sombra.

— Você está bem? – disse a mulher, soltando seus braços.

— E-estou agora – respondeu ofegante, e olhou para sua mão trêmula, virando-a para os lados. Ainda estava inteira, ou seja, não passara de um sonho. Mas parecia real demais para ser de mentira. E a dor com certeza fora muito real.

Antes que pudesse se dar conta, Niéle lhe abraçou. Ele ainda respirava acelerado, mas o corpo quente dela somado ao conforto e carinho que passava conseguiu o acalmar. Com o ouvido no coração da garota, viu o quanto estava acelerado, mas não sabia se era apenas sua preocupação ou nervosismo dela.

Eles ficaram assim por alguns poucos minutos até ele conseguir controlar a respiração, quando ela lhe soltou e saiu, com um sorriso tranquilizador em meio aos cabelos cacheados.

—-

Acordou cedo e se levantou logo, mas sem deixar de ponderar sobre o sonho, que pareceu tão real. Também pensou sobre a atitude da mulher: era como se soubesse o que estava sentindo naquele momento. Resolveu não se preocupar por enquanto, pois tinha outros problemas que lhe assolavam no momento, mas fez uma anotação mental para perguntar a ela sobre o fato. Dirigiu-se para a área externa: um pátio extenso e bem ventilado, com algumas grades, pêndulos, cordas e troncos. O piso era de terra batida. Haviam algumas pequenas pedras soltas, como se a montanha estivesse despontando. Tudo para um treinamento digno do exército. A Grande Sombra o esperava. Estava com a expressão preocupada, mas se aliviou quando notou o lutador caminhando até si.

— Bom dia, as roupas serviram?

— Sim, senhora – ao levantar-se, vira roupas novas dobradas perto de sua cama, com um bilhete lhe avisando que era suas. Uma camisa preta de mangas longas e ligeiramente justas, com uma calça branca bem folgada e larga. Uma faixa vermelha ficou amarrada na cintura, com o nó virado para frente, e outra faixa, desta vez branca, ficou para a cabeça, tirando o cabelo grande do rosto.

— Tem certeza que não quer que cortemos seu cabelo? Pode atrapalhar bastante nas lutas.

— Hm, por enquanto está bom. Agradeço o pedido.

— Certo, então vamos começar liberando seu acesso à Essência.

— Essência? Seria de onde vem a Energia de nós? Lembro de terem falado ontem...

— Quase isso. A Essência é a forma de Energia mais pura e direta de seu corpo. Podemos chamar também de Energia da alma, pois está diretamente ligada à força vital.

— Mas não é perigoso usá-la assim? Quer dizer, você está mexendo diretamente com sua vida...

— Não, não, meu jovem. Veja: você ter acesso à Essência significa que você acessa todo seu potencial de Sensitivo, toda sua Energia pura. O corpo de uma pessoa comum normalmente limita esse potencial, para proteger o usuário. Quando nascemos, nunca acessamos tudo que somos capazes. Assim, à medida que se vai treinando, seja fazendo exercícios físicos ou participando de disputas lógicas e mentais, esse potencial latente vai liberando aos poucos, assim fazendo a pessoa em questão se tornar um Sensitivo, e ganhando uso da Energia. Mas isso não é tudo que ela pode fazer: existe um patamar maior. Quando essa pessoa treina por bastante tempo, ou ganha experiência em combate, ou mesmo se torna uma mente incrivelmente intelectual ou rápida, ele tem acesso à sua Essência, se tornando assim um Elevado.

“O Elevado é o Sensitivo que tem acesso à Energia do mundo. Ele tem pleno controle de suas capacidades mentais e físicas, e por isso usa a Energia de uma forma um pouco diferente de um Sensitivo comum. Por isso o Equilíbrio não é exceção: ele deve ter acesso à Essência, pois só ele é capaz de modificá-la para usar cada elemento que compõe o mundo. E é associado diretamente ao estado emocional, pois é isso que modifica sua Energia.”

— Ah – entendimento passou pela cabeça de Vergil – No caso, explica porque pude usar também Fogo naquela hora. Eu estava muito irritado.

— Isso. Você ter usado Fogo mostra que acessou um aspecto de sua Essência universal, mesmo que antes da hora. Bom, hoje vamos aprender a acessar sua Energia da forma que os Elevados fazem. Depois, cada um de nós irá lhe treinar no aspecto que representam, para que assim você possa restaurar a harmonia do mundo e derrotar essa ameaça que Alucard estava se preparando para enfrentar.

— Certo!

— E vocês duas podem participar – disse a Grande Sombra olhando para a porta. Um grito de susto saiu de lá, com Niéle caindo por cima de Kai enquanto a porta era aberta. A velha não estava brava, apenas mirava as garotas com um olhar divertido – Eu iria chamá-las depois, mas como já estão aqui... – respondeu com certa ironia.

Niéle deu um riso embaraçado e Kai desviou o rosto, também com vergonha, mas ambas se juntaram lado a lado do lutador.

— Com todos aqui, vamos começar. Sentem-se.

“Acalmem suas mentes, deixem-nas relaxar. Sintam cada fibra, nervo e vaso de seu corpo. Tenham consciência que é tudo uma entidade única: Energia e corpo. Mente e alma. São coisas diferentes, mas juntas formam o que define você... Controlem a respiração e sintam como o fluxo percorre todo o universo que é você e o mundo...”.

Concentrado, a mente de Vergil flutuou para aquela mesma sala. Só que dessa vez, a sala estava branca e as esferas ao redor da central eram de um tom mais escuro, mas agindo da mesma forma. Da outra vez, levara um choque terrível, então hesitou ao fazer o que sentia. Toda vez era como se ele fosse puxado até essa bola central, como uma mariposa à luz. Dessa vez, venceu o medo e esticou o braço, tocando o globo. Nada aconteceu, mas sentiu que era quente, acolhedor, como se estivesse esperando por muito tempo ele estar preparado. Tocou com a mão toda. Sentiu um leve choque e recuou um pouco o braço em reflexo, mas não o machucou. Foi mais como um gatilho para que juntasse a outra mão, com tudo brilhando e não mostrando mais nada. Quando abriu os olhos, respirando rápido, não acreditou no que via, quase chorando de emoção: estava envolvido em sua Energia! Fluía por toda a superfície do corpo como uma calma chama de vela. Era como se tivesse ativado o Primeiro Nível, mas não ventava ou fulgia, uma camada escarlate lhe cobrindo como uma segunda pele. Niéle também estava com um fluido, só que de cor laranja. Seus cabelos pareciam que estavam debaixo da água, esvoaçando devagar. Kai meditava, parecendo que flutuava, envolvida em um fluido verde, o rabo de cavalo desgrenhado pelo fluxo de Energia.

— Viu só? Você mantendo essa concentração por pelo menos por 5 minutos por dia, até se acostumar com a sensação, vai acabar ficando natural a ponto de acessar a Essência tão rápido quanto pensamento.

— I-Incrível... – admirou-se Vergil – Me sinto como um Sensitivo de novo. Só que diferente... Parece que estou com o Primeiro Nível ativo o tempo todo, mas não fico nem um pouco cansado...

— Isso. O Primeiro Nível é uma forma de acessar a Essência temporariamente. Ao ativá-lo, seja como um mecanismo de defesa ou voluntariamente, você acessa todo seu potencial repentinamente, dobrando seus poderes mesmo sem que seu corpo aguente. E é por isso que você fica cansado ao usá-lo e pode até ficar inconsciente. Mesmo que você seja um Elevado, com acesso à Essência, o Primeiro Nível ainda dobra a sua emissão de Energia.

— O que acontece se for mais? – inquiriu Vergil, recedendo o fluido e encarando a velha.

— Como assim, meu jovem? – disse a Grande Sombra, curiosa.

— Eu já consegui atingir o Segundo Nível.

Aquela senhora, gentil e poderosa, como alguém que já tinha visto de tudo no mundo, arregalou os olhos em surpresa, de um modo que o lutador jamais imaginaria. Conseguiu ver a palidez gravada nas linhas de expressão da Grande Sombra, em perplexidade. E tão subitamente como veio, ela voltou seu olhar para o garoto, mas ainda nervosa e suando frio.

— E-Eu não deveria estar surpresa, afinal você é o Equilíbrio, mas... Você fala como se sempre pudesse...

— Junto com meus amigos, eu consegui atingir o Segundo Nível, para derrotarmos Alucard. Eu talvez não conseguiria se eles não estivessem lá.

A velha nada disse, só ficou pensativa. Não sabia que existia alguém além do Primeiro Sensitivo que fosse capaz do Segundo Nível. Naturalmente, Alucard era capaz por causa do seu status como Equilíbrio, mas ainda assim era uma situação muito rara, e em todos esses anos só havia visto dois indivíduos, fora seus colegas da Ordem.

— O Segundo Nível é além do contato com a Essência: é como se acessasse o choque de Energia que há no corpo – disse a velha, ainda um pouco nervosa – Todo Sensitivo usa a Energia produzida pelo choque entre as capacidades físicas e mentais. Ao ativar o Segundo Nível, você consegue acessar perto o suficiente esse choque e liberar cerca de cinco vezes seu potencial máximo, sem que passe pelo corpo. Mas é muito perigoso: qualquer flutuação na determinação pode fazer com que a Energia exploda de vez, machucando seriamente o usuário, podendo até mata-lo.

Vergil engoliu em seco. Passara por essa situação duas vezes e nas duas foi por uma mudança de emoções. Mas aí ele lembrou que havia conseguido se manter focado com o objetivo, sem duvidar de si mesmo. Supunha que tenha sido isso que o ajudou a não morrer. E ser ameaçado de morte era um bom estímulo.

—-

Conforme os dias iam passando, ele ia treinando o uso da Energia, já se acostumando na maneira como ela ia fluindo por seu corpo. Em pouco menos de uma semana, já conseguia acessar sua Essência de forma automática. Era sua amiga, sua aliada, uma parte de si.

Nesse meio tempo, também estava treinando o Primeiro Nível e mal se cansava ao usá-lo. Ainda tinha dificuldades, mas conseguiu atingir algumas vezes o Segundo Nível, expandindo o fluido de poder numa aura escarlate fulgente e surpreendendo a Grande Sombra. Arriscou também uma tentativa de usar o aspecto do Raio novamente, porém sem sucesso. Resolveu deixar para lá, e ao término dessa semana, a Grande Sombra o chamou, junto com Niéle e Kai, que também haviam treinado nesse tempo, aperfeiçoando seu acesso à Essência e aumentando a eficiência no uso da Energia.

— Com sua preparação inicial terminada, você deve seguir para os Santuários. Cada um de nós o espera. Tome – e entregou um mapa de todo o mundo, não somente Ryokun: o papel era extenso, e tiveram que colocar no chão para poder vê-lo todo. Continha todo o continente tropical-úmido no canto esquerdo-inferior do mapa, marcado de cor verde. Em cima dele, estava o continente de Arteris, representado por uma cor branca, pelos seus ventos gélidos e clima frio. Na direita, estava o continente desértico da Origem, Kal, na cor amarela. Logo acima, a Grande Anêmona e Ilhas Tufão, fora também outros detalhes que não conhecia, e pelas expressões das duas mulheres, também não. Prestou atenção nos pontos marcados em vermelho, indicando onde seriam os tais Santuários, e viu que eram em bom número e estavam bem espalhados.

— Nossa, eles são muitos... – comentou o lutador, baixinho.

— Visite na ordem que puder, mas deixe os Santuários dos deuses maiores para depois. Se apresse: o mundo precisa de você mais do que nunca...

— Certo! Vamos!

— Ah, antes de saírem – disse a Grande Sombra – Vergil, você deixou isso cair quando lutou contra Alucard.

O garoto não conteve sua surpresa ao ver as duas lâminas que havia coletado ao enfrentar o Sentinela Córtex na Lua Crescente, após tentar atacá-lo e não conseguir, deixando pra Lillian cuidar dele depois. Eram de madeira, com vários espinhos ao longo da lâmina, mas ao tocarem seu corpo, se modificaram bruscamente, se enrolando como se fossem feitos de água no seu braço e tomando a forma de duas braçadeiras com textura de metal, polida e reluzente, mas incrivelmente leves.

— N-nossa...

— As armas de um Sentinela podem ser usadas caso se misture muito com a Energia de alguém que o enfrentou, como se tivesse a conquistado. Agora, vá: aprenda a usar todos os aspectos da Energia para restaurar o Yin Yang e evitar que o mundo seja destruído!

O portão se abriu, arrastando ruidosamente na neve e areia. De lá, saltaram os três, vento esvoaçando suas roupas e cabelos, prontos a iniciar a jornada o quanto antes para salvar Ryokun.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi muito bom de escrever porque coloco muito sobre o mundo, mas ainda não revelei tudo. Afinal, (tentar) ser um bom escritor se baseia nas nuances que quer apresentar, não é? Até o próximo.



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