A Origem da Energia - Ascender da Lenda escrita por OrigamiBR


Capítulo 2
Busca pela verdade


Notas iniciais do capítulo

Bem, vou só adicionar esses dois capítulos até o momento. Há coisas que preciso continuar na história para poder postar os outros.



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— Mostre-nos o caminho, Kai – pediu Vergil. A mulher acenou com a cabeça e correu na frente, saltando pelas árvores. O lutador tentou ir junto, mas sem usar Energia não conseguiu as acompanhar por muito tempo. Parou para recuperar o fôlego, mas as perdeu de vista. Tentou se concentrar para usar a Percepção, porém não conseguia: parecia ter perdido mesmo sua Energia. As duas pararam e retornaram, vendo que Vergil não estava junto.

— Ainda sem conseguir, Vergil? – perguntou Niéle, prestativa.

— É... – disse desconcertado.

— Tudo bem, vamos andando normal mesmo.

Ele assentiu, mas realmente queria poder acompanhá-las. Não sabia o que estava acontecendo. Atravessaram troncos caídos, repletos de líquen, cortinas de vinhas que escureciam a visão mesmo com o forte sol de meio-dia. Deram uma parada numa área mais elevada. O clima era abafado, com umidade excessiva e calor excedente, parecendo uma estufa.

Kai retornou em alguns minutos com dois animais caçados, um javali da montanha, bem escuro e pesado, e um lagarto-prego, com três pares de patas e cor marrom. Tratou as peles e carnes e pôs para cozinhar. Niéle procurou e encontrou algumas plantas comestíveis, para incrementar o sabor. E Vergil ficou encarregado de talhar os pratos e utensílios, usando uma das facas da ninja. Pelas lições de sobrevivência, fez o trabalho bem a tempo de o cozido ficar pronto.

Assim que almoçaram, prosseguiram montanha acima até chegarem numa escadaria natural.

— Os Passos Etéreos – disse a ninja calmamente – Estamos perto.

Os degraus subiam em espiral, dando uma visão panorâmica da Ilha, que era enorme. Não foi fácil subir, com o frio aumentando, os ventos se intensificando e o ar ficando rarefeito. Vergil e Niéle sofreram com a respiração até chegar ao topo.

Depararam-se com uma construção que parecia uma mesquita islâmica, mas também tinha algumas torres de aspecto cristão, fora os pilares que compunham o caminho, que com certeza eram indígenas. Por mais multicultural que fosse, o local era harmônico, sem que nada parecesse fora do lugar. Não parecia com um covil de assassinos e sim um templo miscigenado.

— V-vamos entrar? – questionou Vergil, batendo os dentes de frio. Estranhamente, nem Niéle nem Kai pareceram se importar.

— Ainda não – disse Kai, e sua respiração estava lenta, soltando fumaça – Teremos que esperar eles abrirem. É um sinal de respeito.

Antes que o lutador falasse, um ranger poderoso chamou a sua atenção, quando os portões abriram. O movimento pareceu tremer toda a montanha, mas não provocou nenhum deslizamento. Abriu-se apenas o necessário para passarem e assim o fizeram.

O corredor era ligeiramente escuro, iluminado apenas por tochas nas paredes e pilares, mas pelo menos era quente. Caminharam com Kai liderando, mas Vergil notou que estavam sendo observados.

— Não precisa disso, jovem lutador – uma voz profunda e macia ecoou pelo ambiente. Pelo tom, era feminina.

— G-Grande Sombra... – disse Kai, engolindo em seco, parando.

Com um flash, todo o corredor brilhou instantaneamente, como se fosse iluminado com holofotes. Um pedestal estava à frente deles, com outros seis formando um arco côncavo. Diante deles estava uma mulher idosa, de pele negra, não muito alta, mas bem fisicamente. Cabelos grisalhos curtos refletiam na luz de dentro, mas estavam bem cuidados, transparecendo vitalidade mesmo sem melanina. Estava trajada com uma túnica vermelho escura, de algodão rústico. Os olhos tinham cor âmbar, meio foscos pela idade.

A ninja ajoelhou de imediato, olhando para o chão. Vergil continuou em guarda: apesar de não sentir sua Energia, sabia que esta senhora era uma poderosa Sensitiva, pela presença que tinha. Niéle sentia o mesmo e apertou a mão no cajado, preparada para sacá-lo. A senhora ignorou os dois e chegou até a mulher ajoelhada, caminhando metodicamente. Seus passos não faziam barulho, mesmo com todos os grãos de areia e neve que tinha pelo chão.

— Levante-se, criança. Você não deve nada a mim.

Como um robô, Kai se levantou e encarou diretamente a velha, com uma cara incrédula. Permaneceu imóvel até que o lutador, com a postura mais relaxada, falou, chamando a atenção da senhora.

— Sabe por que estamos aqui?

— Tenho uma ideia, mas me diga – respondeu com um sorriso maroto.

— Nem sei por onde começar. Ryokun, Energia, casa...

— Vou lhe explicar tudo que souber, mas preciso dos outros membros para lhe contar.

Ela se locomoveu com passos lentos até os pedestais e ficou no do centro. Tocou na superfície dele e um pulso de Energia se espalhou pelo local. Poucos instantes depois, figuras holográficas começavam a ocupar os espaços, figuras de pessoas. Um símbolo que já estava lá brilhou, representando um trigrama, e logo abaixo o nome do elemento da natureza que se referia em latim ficou visível.

As sete pessoas viraram para a do centro. A velha então se apresentou, junto com os outros numa única voz. Lembrava um conselho de anciãos ou de parlamentares, que fosse decidir o destino de um país.

— Saudações...

— S-saudações – respondeu Vergil.

— Algumas de suas respostas apenas virão com o tempo, pois sua compreensão ainda é pouca – disse o homem do pedestal “Água”. Tinha um rosto delicado, com cabelos castanhos escorridos e um pouco longos, meio azulados, com os olhos de um azul tranquilo e acolhedor – Por ora, nós responderemos o que lhe aflige.

— Por que tentaram me matar?

— Nós tentamos lhe matar porque você era uma ameaça para o equilíbrio do mundo – disse a velha do meio, que estava escrito “Sombra”.

— Quando soubemos da morte de Alucard pelas mãos dos heróis da Profecia, mandamos um de nossos assassinos para verificar se o rumor era verdade – disse o homem do pedestal “Ar”, com cabelos brancos, curtos e esvoaçantes, e olhos verdes bem abertos.

— Tentamos conversar com ele, mas ele não nos escutava! – exclamou Vergil, exaltado – Solicitamos audiências, visitas, mas nada! Só queríamos ir para casa e perguntar a ele como!

— Se acalme, garoto... – a Grande Sombra advertiu o lutador, levantando a mão e olhando calmamente.

— Ok, ok, mas por que Alucard pôde fazer todas aquelas atrocidades e ficou impune? Por que ele nos atacou sem ao menos perguntar o que queríamos? – nesse momento, Kai olhou interessada, pois também não entendia a atitude da Grande Sombra.

— Alucard fazia parte do fluxo do destino. Admito que seus métodos eram extremos, mas ele tinha suas razões para isso – disse uma mulher, no pedestal de “Terra”. Tinha braços definidos, pele morena e cabelos curtos e castanhos espetados para baixo. Seus olhos eram também castanhos, mas de uma cor mais escura, quase preta.

— Mas qual era esse motivo?

— I-isso nós não sabemos dizer – disse uma mulher de cabelos longos, lisos e pretos, com olhos de íris e pupila branca, com a palavra “Luz”. Parecia hesitante.

— Entendo – disse Vergil, meio enfezado. Custaria muito a engolir a desculpa com Alucard, mas tinha outros problemas em mente. – E quanto à Geardyne, foi pela mesma razão?

— Não – disse uma mulher ruiva, com olhos vermelhos e intensos e cabelos de tamanho médio, de nome “Fogo” – A parada com ela foi totalmente o contrário.

— O que aconteceu? – perguntou Niéle, se manifestando pela primeira vez – Ela foi alvo de eliminação de vocês também?

— Foi, mas porque estava destruindo tudo que Alucard estava fazendo com o mundo. Acabamos demorando a fazer isso, pois já tínhamos mandado Kai, nossa melhor assassina, e não conseguimos contatá-la – e a “Sombra” apontou para a ninja – Iríamos nos ocupar com Geardyne assim que possível, já que ela era tão poderosa quanto o pai já foi; precisaria de toda nossa força combinada para opô-la. Inclusive tentamos recrutar mais gente para aumentar nossas chances de sucesso, mas sem muito êxito.

Houve uns minutos de silêncio, enquanto o garoto absorvia as informações, e daí lembrou-se de algo que vinha lhe incomodando desde que voltara a Ryokun. Niéle estava em silêncio também, aparentemente fazendo as relações que as novas informações tinham consigo.

— Tem uma coisa que vem me incomodando desde que vim parar aqui nesse mundo: o que são as Profecias? – perguntou Vergil com determinação – Uma delas foi o motivo de eu e meus amigos virem parar aqui, em Ryokun.

— Profecias são a forma escrita da vontade da Energia, ditando o fluxo do destino. Mesmo que pareça estranho uma força como essa ter vontade própria, essa mesma força conduz o mundo para o equilíbrio – disse a mulher de cabelos brancos e longos, cacheados perto da ponta, mas tinha olhos de um infinito negro, como um buraco negro. Com o nome “Trevas” no seu altar, sua voz era etérea, como se anunciasse o fim dos tempos – Se ela diz que “Seis jovens, que possuem um poder oculto conseguirão derrotar a tirania do mal dessa terra, ao liberá-los na hora certa”, então quer queira ou não, ela irá acontecer.

Vergil expressou surpresa ao se lembrar da Profecia que envolvia ele e seus amigos há algum tempo. E realmente acontecera, com eles enfrentando o “grande mal” que era Alucard. Mas se Alucard fazia aquilo e era apoiado pela Ordem dos Assassinos, como poderia ser o “grande mal”? E porque então a Ordem não os impediu antes de tudo, mesmo já sabendo da profecia? Tinha algo que não batia na história...

— Mas aconteceu algo que nunca houve antes – disse a “Terra” – A Profecia foi quebr--

— Espere, Terra – pediu a “Sombra”, visivelmente surpresa – Vamos falar mesmo?

— Não vejo motivo nenhum para esconder, Grande Sombra. Além de ele estar envolvido demais, é um direito também da filha saber o que o pai era.

— O que meu pai “era”? – perguntou Niéle, temerosa.

— Seu pai, minha jovem – disse a “Sombra”, se ajeitando no pedestal, como se não quisesse dar uma notícia ruim – Era o “Equilíbrio”...

— Equilíbrio? – perguntou Vergil, não notando que Kai havia arregalado os olhos. Só virou-se quando ouviu o suspiro de Niéle que havia tampado a boca, surpresa – Espera aí! O que é o “Equilíbrio”?! – disse, ficando assustado, enquanto seu olhar vagava entre as meninas e os membros da Ordem.

— Você sabe quem somos, certo? – disse o homem “Água”, encarando-o diretamente.

— A Ordem dos Assassinos da Floresta.

— Esse é o nome que os cidadãos adotaram para nós, mas nosso propósito é muito mais profundo que isso – disse “Trevas”.

— Somos a Ordem do Equilíbrio – disse “Ar”, adotando um ar sereno, mas direto – Cuidamos de manter o Yin e Yang em conflito eterno e em igualdade, garantindo que seja seguida a vontade da Energia, de acordo com as Profecias.

— E como acaba envolvendo também assassinatos, eliminando indivíduos que irão prejudicar o ritmo do destino, ganhamos esse nome – disse “Terra”, apoiando a mão no queixo.

— Antes de haver nós, havia apenas Nhanderu, o supremo, que iniciou a criação de tudo. Para ajudá-lo nessa tarefa, em um momento que não sabemos, ele criou a partir de sua Essência os quatro deuses maiores: Tupã, Iara, Porã e Tau. Só que sem alguma base ou ponto de início não seria possível. Assim, o supremo se tornou a própria Energia, deixando a tarefa de moldá-la para seus descendentes.  – disse “Água”.

— Esses quatro que fizeram o mundo, saca? Criando rios, lagos, continentes, bichos, monstros, luz e escuridão – disse “Fogo”, abrindo os braços e um sorriso – E criaram os deuses menores para que cuidassem de parte do domínio deles, e deixassem a grande base que tinham mais bela e legal.

— Além de fazer o mundo e os deuses, eles são responsáveis por escolher um representante da humanidade, que será a ligação entre o divino e o mundano, com poder comparável ao deles para manter o mundo como é de verdade, como um mediador entre a Energia e a vontade da sociedade e Sensitivos – disse “Sombra” – Esse ser é o “Equilíbrio”.

Mais uma vez, houve um momento de silêncio, que foi quebrado ao questionamento.

— Então, com Alucard sendo o Equilíbrio, ele estava mantendo a ordem no mundo? – disse Vergil, confuso – É meio difícil de engolir...

— Mas é a verdade – disse “Terra”, trocando de braço – Ele havia visto uma ameaça ao conflito eterno do Yin e Yang que não sabemos qual era, mas estava se preparando para combatê-la, conseguindo unificar todo o continente, mesmo que na tirania. Porém, ele morreu antes de cumprir o objetivo, sem sabermos dessa ameaça e sem meios de enfrentá-la... Geardyne piorou a situação colocando Ryokun num estado de caos, incitando a independência e egoísmo nas pessoas, o que piorou o equilíbrio. Estamos frente a uma crise sem precedentes.

— Só posso oferecer minhas desculpas: nunca, jamais quis que nada disso acontecesse com ele. A ideia de acabar com a vida de outro ser humano me deixa enojado. Não quero ter que fazer isso mais nenhuma vez. E não sei o que posso fazer para compensar isso.

— Não há nada, infelizmente. O que passou não podemos mudar. Só podemos pensar no futuro – disse “Sombra”, limpando a garganta.

— Esperamos que seja possível enfrentá-la – disse “Luz”, olhando para a mulher – Mas não temos certeza. Se ele, sendo o Equilíbrio, precisava de um exército pra enfrentar a ameaça, temo que não sejamos capazes...

— Vocês vão conseguir – disse o garoto, dando uma afirmação que não sabia de onde vinha, mas que tinha certeza que seria verdade. Ponderou um tempo e abordou a questão que queria assim que decidiu ir para a Ordem, se sentindo um pouco egoísta – Mas... E quanto a eu ir para casa? Eu não consegui passar pela torre de transporte. Ela explodiu quando tentei.

Os sete fecharam os olhos e a luz do local feneceu subitamente, dando só para distinguir os vultos deles. Logo depois, faixas e mais faixas de Energia pura e multicolorida surgiram dos lados e os circularam, girando e provocando uma fraca ventania. De repente, um raio partiu para os céus, de cores verde, amarela, preta e azul, espiralando até atingir o teto, mas sem destruí-lo. E tão subitamente como começou, os feixes se apagaram e a luz voltou ao normal. Porém, as expressões de todos ficaram surpresas e incrédulas:.

— C-como é possível? – disse “Sombra”, perplexa.

— M-mas é a verdade! – falou “Fogo”, surpresa.

— É realmente inesperado... – comentou “Água”, atônito.

— Já imaginava algo assim... – discursou “Terra”, esboçando um leve sorriso – Afinal, derrotaram Alucard...

— Afinal, o que vocês tanto comentam? – disse Vergil, mas sua voz soou alta e como a de um estranho, como se não fosse ele quem tivesse falado. Ficou imediatamente vermelho e envergonhado.

— Os deuses nos falaram agora: o mundo jamais fica sem o Equilíbrio, pois é a única forma de se manter como mundo – disse “Ar”, mas sem a expressão sonhadora.

— E quem é ele?

— Você.


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Notas finais do capítulo

Eu sei, eu sei, é maldade eu deixar a história num cliffhanger, mas não se preocupem que até o momento da postagem desse capítulo, eu tenho pelo menos 9 feitos.



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