A Origem da Energia - Ascender da Lenda escrita por OrigamiBR


Capítulo 1
Destino alterado


Notas iniciais do capítulo

Esse é o primeiro capítulo da parte final da saga da Origem. Se não leu os dois primeiros, eu peço que pare de ler aqui e vá ver os outros dois primeiros livros. Por mais que ele possa ser entendido sem precisar dos dois primeiros, você vai acabar perdendo muitas referências e personagens que foram introduzidos antes.
Esse livro, assim como os outros dois, é um "framework": ele serve de base para todo o universo que construí e trabalharei no futuro.
Aqui também a influência da mitologia nacional ficou bem mais forte que nos anteriores, mas mesmo que vocês não a conheçam, tenho certeza de que vão gostar bastante.
Com essas notas deixadas, espero que gostem, e aproveitem a jornada final!



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“O que é a Energia? Energia é simplesmente o que move o mundo. Nada funciona sem Energia. Desde seres vivos até aparelhos criados pelos humanos: tudo depende dela e ela depende de tudo para existir. ‘Nada se perde e nada se cria; apenas se transforma’. Ela existe em vários nomes: energia cinética, térmica, nuclear, cósmica e até espiritual. Mas ela é única; apenas é como diz na lei, ‘transformada’. Em nosso mundo, diferente do normal, existem pessoas capazes de utilizar Energia para vários fins. Essas pessoas especiais são chamadas de ‘Sensitivos’. São capazes de coisas incríveis, coisas que seres humanos normais não conseguiriam fazer (ou pelo menos não sem um árduo treinamento para ‘sentir’ essa Energia). Não se sabe muito como surgiu a Energia e todo seu conceito, mas que apenas que é coisa comum do mundo de Ryokun.

O que se sabe é que para a realidade se manter como deve, isto é, Universo como Universo e Ryokun como Ryokun, ambos os lados devem estar em equilíbrio. Porém, não foi isso que aconteceu nos últimos anos: algo ou alguém estava fortalecendo o lado ‘Yang’. E isso ocasionou no desequilíbrio entre os dois mundos, fazendo Ryokun se aproximar e entrar em fusão com Universo. O problema é que a fusão dessas duas dimensões provocaria uma explosão que aniquilaria ambas, comparável ao Big Bang, onde toda a Energia presente iria se condensar mais uma vez, para então se expandir de novo.

Foi aí que surgiu uma Profecia, que todos acreditavam que iria restabelecer esse equilíbrio. Ela prenunciava que ‘Seis jovens, que possuem um poder oculto conseguirão derrotar a tirania do mal dessa terra, ao liberá-los na hora certa’. Com tudo que estava acontecendo no continente, o desespero e a esperança das pessoas ajudaram a impulsionar os jovens que faziam parte dela, e assim conseguiram barrar o avanço com uma enxurrada de Energia e vontade para o lado ‘Yin’. Porém, surgiu outra força que pendeu mais a balança para o lado ‘Yang’, não ajudando o equilíbrio: Geardyne. E o pior de tudo: a Profecia que depositaram toda a esperança não se concretizou, se quebrando, separando os Heróis e enfraquecendo a Energia como um todo. Mesmo com a derrota da força que aumentava o poder do lado ‘Yang’, o mundo está face à junção e aniquilação das dimensões, mas ninguém sabe como impedir:  apenas esperar o inevitável.”

Ano desconhecido, mês também desconhecido:

Cabelos pretos cintilavam ao sol. Um corpo jazia imóvel. Tempo e espaço eram relativos. Não havia consciência. Apesar disso, havia vida. O coração funcionava, bombeando milhões de hemácias. Os pulmões expandiam e contraíam, levando o ar, o oxigênio para os membros. A consciência foi voltando aos poucos, com a Energia toda recuperada.

Ao levantar-se, viu que não estava mais no topo da montanha: estava sobre uma cama meio rústica, mas bem confortável. O aposento era formado por tijolos esverdeados e aparentes, com o chão em cerâmica e teto aberto, protegido apenas pelas telhas. Remexeu-se um pouco, e sentiu algo na cama. Era uma pessoa, que estava sentada numa cadeira também rústica e o tronco deitado próximo aos seus pés.

A mulher tinha cabelos de cor laranja, cacheados e longos, com pele morena. Assim que ele fez menção de levantar o tronco, ela se levantou mais rápido. Virou o rosto pequeno e inocente para ele, coçando um olho. O outro se abriu, revelando uma íris grande e de cor vermelho vivo, acentuada pelos raios de sol. A expressão de letargia durou só um segundo: quando os olhares se cruzaram, seu olho aberto mostrou surpresa. O garoto não pôde fazer nada para reagir, sendo engolfado pelo abraço apertado dela:

— ELE ACORDOU! ELE ACORDOU! – gritou por cima do ombro.

Passos apressados ecoaram no corredor, até que a porta foi aberta com violência, quase saindo das dobradiças. Uma menina, quase mulher, emergiu do arco. Cabelos ruivos intensos balançavam quando ela procurou o garoto. Imediatamente um sorriso muito bonito se espalhou por seu rosto triangular e foi até seu encontro.

Assim que se desvencilhou da mulher, tentou falar:

— O-o que aconteceu? – disse com a voz embargada. Parecia que não falava...

— Há 1 semana que você tentou passar pela torre... – começou Niéle, e Vergil engoliu em seco.

— Um clarão se seguiu depois, a torre estava destruída, e você estava estirado no chão, apagado. – continuou Kai – Tentamos reanimá-lo, mas nada dava certo.

— Trouxemos você para Potentia e esperamos... – disse Niéle meio triste, mas retomou o habitual sorriso que tinha – E agora você está bem!

— C-certo... – disse Vergil, tentando absorver as informações – Espere, o que houve com Geardyne?! E onde estão os outros?!

As duas hesitaram. O lutador receou que não havia nada bom por vir, ou pelo menos nada bom pra ele. Apesar disso, as duas deram uma risadinha.

— Lillian se aposentou – respondeu Niéle, coçando o canto da cabeça com um sorriso – Depois de tudo, foi cuidar do filho.

— Pera, pera, Lillian tinha um filho?!

— Tinha.

— E ainda assim nos acompanhou... Nem imagino a difícil decisão que teve que tomar.

— Ela agradeceu por ter tido a oportunidade de nos acompanhar. Disse que cresceu bastante como pessoa, e mesmo com a circunstância, ela pôde reencontrar Jim. Então não se preocupe.

— Entendo. – comentou Vergil e depois de um tempo, disse – Agradeço pelo que fizeram para me ajudar, obrigado mesmo. De coração.

Disse a última frase com um sorriso, visivelmente agradecido. NIéle fixou os olhos no dele com um próprio, o que o deixou envergonhado. Desviou momentaneamente o contato, coçando atrás da cabeça e rindo abobado.

— Mas então: o que iremos fazer agora? – perguntou Kai, ignorando o vermelho de ambos.

— “Iremos”? – questionou Vergil – Não, não... Não posso tomar mais o tempo de vocês... Sei que me ajudaram bastante, mas--.

— “Vocês não precisam fazer isso, se não quiserem me acompanhar, eu resolvo sozinho e blá, blá, blá...” – numa imitação perfeita da voz grave de Vergil, Niéle conseguiu arrancar uma gargalhada da séria Kai.

— Não precisa disso – respondeu Kai, limpando uma lágrima do canto do olho – Nós que fizemos essa escolha.

— Mas--

— Nada que disser vai nos fazer desistir, Vergil – disse Niéle com veemência, encarando-o com seus olhos de duas cores, que pareceram chamejar e congelar ao mesmo tempo – Sei que acha que essa batalha é só sua, mas você não está sozinho nessa. Nós decidimos e vamos com você.

O garoto ficou surpreso pela atitude, mas se sentiu agradecido e mirou a fresta da janela fechada, vendo um risco do céu azul, que o fazia se sentir tão bem em meio a toda aquela nebulosidade. Enquanto relaxava, levantou algumas questões para si: “Por que elas ainda querem me seguir, se já conseguimos derrotar Geardyne?”, “Por que ainda estou em Ryokun? O que será que ainda querem de mim?”, “Como voltarei para casa? Aquela torre deve ter se destruído...”, “E que sensação estranha é essa que venho sentindo? Como se não tivesse...”.

— Bem, vejo que não vão recuar – disse Vergil, balançando a cabeça e se dando por vencido – Então: onde vou encontrar algo ou alguém que me ajude a ir para casa? Vocês conhecem?

Niéle balançou negativamente a cabeça, mas Kai confirmou que sabia, apesar de parecer insegura nisso.

— Conheço, mas é da ordem que eu fazia parte... A Ordem dos Assassinos da Floresta.

Engoliu em seco. Lembrava vividamente das noites mal dormidas, os momentos de tensão ao andar no continente de Arteris e a disputa do Ultima Duellum, na cicatriz do mundo. Se apressou a sugerir outra coisa.

— Mas e Lillian? Ela nos ajudou bastante, não foi? Será que ela não sabe de nada?

— Ela disse que também não sabia – respondeu Niéle, dando de ombros – Perguntamos a ela essa possibilidade, já que ela fazia parte da associação que vigiava o portal.

— C-certo. Então vamos para essa Ordem. Acha que vão fazer algo contra nós, Kai? – perguntou o garoto, enquanto se levantava da cama e se alongava. Uma semana sem se mexer o deixou bem rígido, e seus membros estalavam com o menor movimento.

— Se realmente quisessem, teriam mandado outro assassino... – disse Kai numa simplicidade que o assustou – Acho que estão nos esperando por lá.

Ficou um silêncio desconfortável, só quebrado pelo barulho das pessoas na rua e o remexer das roupas.

— Por Tupã, parece que vamos pra a forca – reclamou Niéle – Vamos lá, animação!

E deu uma forte tapa nas costas dos dois. Kai pareceu incomodada, mas Vergil se animou (apesar da pancada ter doído).  Mesmo indo visitar um quartel general de assassinos, seu instinto estava confiante de que não iriam fazer nada consigo. Só ficou preocupado com a ninja: não sabia da política deles com desertores.

—-

Descobriu que estavam na cidade de Potentia. E era bela: assim que saíram da estalagem, se depararam com ruas em curvas perfeitamente circulares. Estradas retas eram raridade, quase inexistentes. Haviam pequenas variações de altura no terreno, que as casas faziam questão de acompanhar, deixando uma harmonia esperada de cidades menores. As construções eram em predominância azuis, mas haviam brancas, amarelas e outras cores menos comuns, como roxo. Uma grande cidade, com o comércio no topo de um morro e uma praça enorme no centro de um vale. Tinha o mesmo ar de cidades históricas do interior do Brasil, mas com um quê de metrópole, com um movimento grande de pessoas por todos os lados.

— Ali é a Praça da Lenda – disse Niéle, acompanhando o olhar de Vergil ao vislumbrar a praça.

— Nossa... Será que podemos dar uma olhada de perto?

— Sim, podemos.

Os três desceram a ladeira por uma rua curva, vendo principalmente cidadãos comuns, não-Sensitivos. Poucas pessoas andavam armadas, e os que andavam pareciam relaxados. Vergil se lembrava da guerra civil entre as cidades com a queda de Alucard, mas aqui parecia que nunca havia acontecido. As pessoas pareciam felizes e tranquilas, como se também não houvesse criminalidade. Chegaram em poucos minutos e viram o monumento central: era uma estátua com uma forma estranha, feita por pilares e formas geométricas retorcidas de pedra, mas que transbordava poder. Embaixo, havia uma pequena placa rústica de madeira com os dizeres “Praça da Lenda – Monumento ao Equilíbrio”. Prestando atenção nas formas, pareciam quatro estátuas distintas, com mais uma ao centro que servia de suporte.

— Aqui representam os nossos deuses: Tupã, Iara, Porã e Tau. E no meio está Nhanderu, que fez tudo isso possível – disse Niéle, soando como uma guia turística.

— Uau – maravilhou-se Vergil. Não sabia o motivo, mas aquele lugar lhe atraía, como se ali fosse obter as respostas que queria. Era como se ali fosse lhe mostrar o que seu destino revelava e para onde deveria ir. Foi acometido por uma paz interior, que lhe deu ímpeto para continuar.

Depois de um tempo observando, os três foram seguindo caminho. Atravessaram uma rua mais larga, compartilhada com carros de transporte de mercadorias puxados por mulas, com poucos viajantes. A cidade de Potentia, a antiga capital de Ryokun, foi ficando para trás, enquanto caminhavam em direção à cidade dos caçadores ao descerem o planalto.

Após várias horas de viagem, eles saíram da estrada principal e armaram acampamento. Foram pescar alguns peixes para o jantar e algumas frutas das proximidades. De noite, conversaram sobre alguns assuntos variados e foram dormir. No dia seguinte, levantaram acampamento cedo e continuaram a andar, passando por áreas ligeiramente elevadas. De seu lado esquerdo, dava para ver as densas florestas que compunham a base do gigantesco Pico Leautar, onde havia tido sua batalha contra Geardyne. Bem mais à frente via as cinzas das Escarpas Vulcânicas, o local que era o “inferno na terra”, a “cicatriz do mundo”, que enfrentaram provações tanto físicas como mentais.

Continuaram o caminho por um vale que dava diretamente para o Pico das Almas. Não era a maior elevação do continente, mas com certeza era a mais falada, com todos os mistérios que a circundavam. Contornar a montanha tomou mais tempo que o esperado também, pois haviam desmoronamentos ao redor, inclusive um maior de todos, que ele se recordava bem, pois fora de sua autoria: de frente à vila abandonada de Menorad havia um deslizamento na encosta da montanha, onde lançara um guerreiro inimigo com um cometa de raios.

Atravessaram a rota, passando pelos Montes de Mithral, os “calombos da terra”, que dizem guardar metais especiais, e no dia seguinte, pela manhã, eles viram os muros dourados no horizonte. Chegaram por volta de meio-dia, indo diretamente para um restaurante. Depois de estufados, procuraram uma estalagem para poder escolher o próximo passo.

— Não lembrava que era tão longe de lá até Uranos – comentou Vergil, relaxando num sofá.

— Viemos quase diretamente da costa norte de Ryokun – disse Niéle, sentada numa poltrona – Natural que demoramos praticamente 1 mês pra chegar aqui.

— Ainda é bem demorado...

— Daqui, nós iremos pegar um barco especial – disse Kai, se manifestando baixinho – Nele, iremos direto para a Lua Marinha.

— Certo. Há alguma coisa em especial que precisamos fazer quando chegamos lá?

— Não, nada. Deixem que eu cuido disso – garantiu a ninja, depois de ponderar por alguns segundos.

Passaram a noite se recuperando da longa viagem. Vergil sonhou que estava numa sala escura, com seis luzes esféricas brilhando fracamente, cada uma de uma cor, e uma no meio, disforme. Ora parecia que crepitava, ora fluía pelos lados, de tempos em tempos se espalhava quase sumindo, outra hora parecia dura e rígida, tudo isso ininterruptamente. Caminhou até ela e tentou tocá-la, mas acordou imediatamente, com o braço levantado. Ainda estava escuro no quarto da estalagem, com poucos raios de sol pelas frestas. Resolveu levantar, já que não sentia mais sono.

Esperou as duas também levantarem para então saírem. Andaram pelas ruas concêntricas da cidade até chegar ao porto, mas não seguiram até as docas: ao invés disso, desceram um pouco por um trecho com mato alto, após a cerca. Caminharam alguns metros quando viram um único poste de madeira, velho e furado pelo tempo. Kai se aproximou e bateu numa sequência de pontos no corpo do mastro, e imediatamente ele ganhou vida, brilhando com uma luz amarela e se renovando, como se voltasse ao tempo que foi colocado lá. A luz encadeou intensa por um tempo, mas voltou para um fraco brilho constante.

— Pronto – disse Kai, se afastando – Agora é só esperar o barco. Não deve demorar muito...

Em poucos minutos um barco pequeno de madeira sem mastro, parecendo uma jangada, se materializou diante deles. Era verde-escuro na parte de baixo, com madeira cinza servindo de esqueleto. Assim que subiram, três correntes fantasmagóricas os seguraram pela cintura. E logo depois partiram rapidamente, como um Jet-Ski.

Atravessaram a distância até a Lua Crescente, a ilha em forma de meia-lua com seus monstros e caminhos exóticos, em poucos segundos, vendo outras embarcações pequenas saindo e entrando da doca de lá. A essa velocidade ficou rapidamente visível outra massa de terra, muito maior que a ilha anterior, com densas florestas e uma persistente névoa. Haviam visto também várias elevações, típico de regiões montanhosas.

— Nossa! – exclamou Vergil, se equilibrando na minilancha ao vislumbrar a imensidão do local.

— É aqui a Lua Marinha, o lar dos Assassinos da Floresta! – gritou Kai, ao apontar para o pequeno poste no horizonte, extremamente similar ao que viram.

O sol se punha no ponto mais alto que podia e assim que atracaram, saíram da jangada, que sumiu depois, tudo isso vendo a provação que iriam passar.


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Notas finais do capítulo

E é isso... As postagens dessa história não ficarão tão consistentes, em vista que estou trabalhando nela ainda, mas ainda assim, peço paciência. Eu tenho já uma quantidade relativamente boa de capítulos já feitos, e com os comentários, eu me sinto mais estimulado mesmo para completar todos os mistérios e pormenores que desenvolvi durante as duas primeiras histórias.
?”-
Mais uma vez, obrigado!



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