Vapor escrita por Downpour


Capítulo 24
24. Silhueta em uma fotografia




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CAPÍTULO 24

silhueta em uma fotografia

 

 

alissa fontes

 

 

            Voar do Brasil para a Austrália não era exatamente algo muito agradável, o vôo era longo e o fuso horário era de matar qualquer um. A menina se xingou mentalmente por ser chegado no aeroporto de Guarulhos com um short jeans curto e uma simples regata cropped, porque o ar condicionado do avião estava fazendo com que ela repensasse em todas as suas decisões ao longo da vida. Depois de horas e mais horas de uma viagem extremamente cansativa a garota chegou em Sydney quase no cair da noite. Antes que ela pudesse avistar Marina, a mais alta chegou correndo para abraça-la de supetão.

            — Ai meu Deus, Ali, você está linda! — a Gonzales disse animadamente enquanto apertava a amiga em seus braços, como se aquele abraço de urso fosse matar toda a saudade que tinha sentido dela todo aquele tempo — Deus, como eu senti a sua falta.

            — Eu também.

            — Caralho, você perdeu seu sotaque australiano. Eu não acredito. — disse gargalhando, achando o sotaque brasileiro da amiga algo extremamente fofo.

            Alissa sorriu e então desviou o seu olhar para as mãos da amiga e deu um tapa de leve no braço da mesma.

            — Você não me disse que Ashton tinha te dado um anel! Da Pandora ainda por cima!

            As bochechas de Marina coraram, era sempre assim. Ashton Irwin era um tópico que fazia ela corar com facilidade por mais que a mexicana não fosse lá muito tímida. Os dois já estavam namorando há mais de dez meses e ainda assim parecia que ambos estavam em uma bolha de amor apenas deles.

            — Ele comprou o anel recentemente, eu queria te mostrar pessoalmente, porque esse anel é a coisa mais linda do mundo.

            A Fontes deu um sorriso de canto.

            — Ashton realmente tem um gosto muito bom para presentes.

            — Eu adoraria ficar aqui parada no aeroporto falando sobre o meu namorado, mas sei muito bem que você está morrendo de cansada. Então vou te levar para casa para comer alguma coisa e dormir, no caminho a gente conversa mais.

            — Tudo bem, mãe. — Alissa revirou os olhos dando um sorriso de leve enquanto deslizava a mão para poder pegar a alça de uma de suas malas.

            Marina, por sua vez, não se abalou com o comentário da amiga.

            — Por favor, fale para sempre. Eu amei o seu novo sotaque.

 

 

 

            As duas teriam conversado bastante no caminho do aeroporto até o apartamento que Ashton e Marina dividiam, se o balançar do carro não tivesse feito Alissa adormecer quase que imediatamente. A Gonzales não teve outra opção senão sorrir de forma terna para amiga, acariciando seus cachos com delicadeza enquanto a outra dormia.

 

ash [20:43 PM]

alissa chegou bem?

deu tudo certo?

vcs já estão indo para casa?

 

            Um sorriso malicioso surgiu no rosto de Marina enquanto a mesma digitava.

 

marina [20:43 PM]

calum, pare de pegar o celular do Ashton

e sim, estamos bem

ela está morrendo de cansada, tá dormindo no meu colo

 

ash [20:45 PM]

que bom que ela está bem

e eu não sou o calum

 

marina [20:46 PM]

se você fosse realmente o meu namorado,

teria me mandado uma mensagem de boa noite e me chamado de meu amor 

 

ash [20:46 PM]

mas que droga marina

 

marina [20:46 PM]

seu segredo está a salvo comigo hood

...por enquanto

 

ash [20:52 PM]

ashton realmente te manda msg assim?

n vi nd nas conversas antigas 

 

Marina [20:52 PM]

não 

eu só tava jogando verde

 

ash [20:53 PM]

porra 

 

            A Gonzales bloqueou a tela do celular com um sorriso em seu rosto, era fofo como mesmo depois de quase um ano separados e tentando lidar da melhor forma possível com o término e os sentimentos, Alissa e Calum ainda sentissem algo um pelo outro. Como era amiga de ambos os lados, ela conseguia perceber o como os dois estavam ansiosos para finalmente se encontrarem depois daquele tempo. E ela não poderia torcer mais para tudo dar certo entre eles.

            — Anjinho, está na hora de acordar. Acabamos de chegar.

            — Hum. Eu dormi? — Alissa perguntou com a voz rouca e uma expressão grogue.

            — Sim, os quarenta minutos inteirinhos de viagem. — Marina sorriu.

            — Droga, desculpa Marinn. É que o fuso horário me matou.

            — Deu pra ver. — deu um riso nasalado enquanto ajudava a amiga a sair do carro. As duas fizeram um certo esforço – com ajuda do taxista – para tirar as bagagens do porta malas, e então entraram no condomínio.

            Apesar de estar sonolenta, Alissa sorriu olhando para os arredores.

            — Uau, aqui é realmente muito bonito.

            — Ah você vai amar ver o apartamento-

            Marina não conseguiu terminar de falar porque Ashton apareceu na sua vista. O moreno não sabia se sorria para a namorada ou para a amiga de longa data que não via a tanto tempo. Ele se aproximou das duas, dando um selinho em Marina e por fim parando na frente de Alissa.

            — Eaí Ali, como vai?

            — Ah por favor. — Alissa riu, indo abraçar o amigo. — Senti sua falta, Ash.

            — Acredite, eu também senti. — Irwin disse retribuindo o abraço — Quem mais me daria conselhos no meio da madrugada enquanto fuma um cigarro?

            A Fontes gargalhou.

            — Bem, eu acabei de encomendar lasanha para o jantar. Espero que você não se importe.

            — Nem um pouco.

 

 

            Alissa passou aquela primeira noite na casa da melhor amiga. Ashton tinha aberto uma garrafa de vinho para as duas beberem – ele tinha resolvido parar de consumir bebidas alcóolicas – enquanto jantavam, e foi necessário apenas um taça para que a sonolência tomasse conta de todo o corpo da garota. Aquela noite tinha passado mais rápido do que tinha imaginado e no dia seguinte, teve que se despedir dos dois, agora iria passar uma semana na casa do pai, embora isso não a impedisse de encontrar os amigos durante o dia.

            Ela negou a carona do pai, disse que iria ir até a casa dele de metrô. A verdade era que ter passado um ano inteirinho em São Paulo fez ela se acostumar com o metrô, na verdade Alissa até que gostava desse meio transporte – quando não era o famoso horário de pico, claro. Como era fim de ano, o vagão estava bem vazio porque uma boa parcela da população estava de férias, logo a viagem acabou não durando tanto.

            O fato de não estar estremecendo de ansiedade ou praticamente vomitando fez com que Alissa se sentisse um pouquinho melhor, isso significava que suas terapias estavam surtindo efeito e que ela estava aceitando um pouco melhor o fato de ter que conviver com a família de seu pai por uma semana.

            Acabou se surpreendendo quando se deparou com seus dois meio irmãos esperando na porta do casarão, Andrew e a pequena Melanie.

            — A Alissa chegou! — a garotinha exclamou correndo para seus braços.

            Alissa deu risada, pegando a garota em seu colo.

            — Ei, tudo bem com você pequena?

            — Agora eu estou ótima! — a King caçula disse gesticulando com animação.

            — Estou feliz que tenha vindo Alissa. — Victor King se aproximou, e ao lado dele estava sua esposa, Daphne King que sorria calorosamente para a menina.

            A garota acenou com a cabeça enquanto ainda brincava com a irmã em seus braços.

            — Você vai fazer brideiro para mim de novo?

            — Só se a sua mãe deixar. — Alissa disse para Melanie, a garotinha por sua vez, virou-se para a mãe com uma expressão pidona.

            — Mamãe, por favor deixa a Ali fazer brideiro para mim.

            Daphne balançou a cabeça enquanto sorria, a forma como seus filhos tinham se entrosado com a meia irmã tinha sido uma surpresa para ela. Ver aquela conexão tinha aquecido seu coração, e depois de ter passado um tempo com sua afilhada, Daphne tinha sido capaz não só de se encantar pela menina como também compreendê-la.

            — Claro que sim.



A semana e o feriado passaram de forma tranquila, Alissa saiu algumas vezes com Marina só que em momento algum as duas encontraram os meninos. Elas tinham decidido que precisavam de momentos apenas delas para poder compensar o ano que tinham passado separadas. As duas mulheres saíram para fazer compras, caminhadas na beira do mar e comer sorvete, e assim como Dona Amélia, Marina arrastou a amiga para poder comprar biquínis novos por sua conta. Era mais do que óbvio que as duas queriam que Alissa impressionasse o Hood.

Ao se despedir dos King, Alissa teve que prometer para Melanie que retornaria novamente. A pequena tinha adorado o presente que ela tinha lhe dado de Natal - uma boneca que vivia aparecendo nas propagandas infantis. No final das contas, aquela viagem tinha sido mais tranquila do que ela imaginava que realmente iria ser.

Ashton e Michael pegaram a Fontes na porta da casa.

— Ei, feliz Natal para vocês dois. — Alissa sorriu acenando para os dois rapazes enquanto Ashton encostava o carro.

—  Alissa! — Michael saltou para fora do carro e deu um abraço apertado na menina — Nós sentimos muito a sua falta nas partidas de truco.

Um sorriso de canto surgiu no rosto da menina.

— Não se preocupe, vou garantir que a gente jogue bastante truco nesse meio tempo. E eu joguei bastante truco na faculdade esse ano, então se prepare para perder.

Ele piscou, enquanto pegava as malas dela e as direcionava para o porta malas. Ashton por sua vez, colocou seu óculos de sol no topo da cabeça e pôs a cabeça para fora da janela do carro.

— Entra aí Ali.

Alissa assentiu e sentou-se no banco de trás ao mesmo tempo em que Michael terminava de guardar as malas no carro.

— Para onde estamos indo? — ela perguntou. A verdade era que até então ninguém tinha especificado onde seria exatamente a viagem, apenas que seria em uma casa de praia. Não era exatamente muito específico.

— Para a praia. — Michael disse com seu típico sorrisinho de quem não daria o braço a torcer e então começou a mexer no rádio do carro, colocando uma música natalina.

Os toques iniciais de Last Christmas preencheu o ambiente, o platinado começou a cantarolar a música com sua típica energia contagiante enquanto Ashton gargalhava e dava partida. Alissa se viu obrigada a entrar na onda de Clifford, estalando seus dedos no ritmo da canção e cantarolando junto dos dois. Era engraçado em como os três tinham uma dinâmica meio caótica, cantando e gesticulando com as mãos fazendo com que toda a cena ficasse bem cômica.

Depois de mais algumas boas músicas na playlist de Natal de Michael, os dois estacionaram na frente de um condomínio que Alissa conhecia muito bem. Era o condomínio de Calum.

Só o pensamento fez com que o coração da garota se apertasse, ela já tinha ido ali tantas vezes que tinha se tornado quase que sua segunda casa. Era muito estranho passar na frente daquele local e não entrar ali.

Estava tão perdida em seus pensamentos sobre o ano anterior, que acabou não reparando quando Luke e uma garota apareceram na frente da janela do carro. 

— Eai, quem vai no carro de quem? — pela forma em que o loiro passava os braços ao redor dos ombros da garota, Alissa supôs que aquela fosse sua namorada. — Ah, oi Ali. Tudo bem com você? — Luke lhe direcionou um sorriso cheio de covinhas.

A garota saiu do carro e o cumprimentou com um abraço. Os dois teriam tido uma conversa como tinham sentindo saudade um do outro, quando um latido específico chamou a atenção dela.

— Duke! — Alissa exclamou no exato momento em que a pequena bola de pelos pulou em suas pernas descobertas. Ela não pode evitar gargalhar, sentindo seu coração se preencher de amor enquanto fazia carinho no animal — Ah filho, eu senti a sua falta. 

Duke estava deveras agitado com a sua presença, pois ele estava com a coleira solta, o que significava que ele tinha se soltado de quem quer que estivesse segurando ele. Mesmo assim, a Fontes estava tão distraída matando as saudades do animalzinho que não reparou quando uma loira alta e um tanto intimidadora apareceu em sua frente.

— Quem diria que esse cãozinho ranzinza seria tão afetuoso assim. — ela disse tombando a cabeça para o lado enquanto oferecia um sorriso tímido para Alissa.

— Oi! — Alissa se pôs de pé rapidamente, ainda afetada com a forma em que aquela mulher lhe passava uma sensação de familiaridade. — É… eu sou a dona do Dukey. Na verdade, uma dos donos.

A loira balançou a cabeça enquanto ria.

— Eu sei quem você é bobinha. Calum não tinha me dito que você era tão linda. Parece que estou na frente de uma modelo.

Os meninos ao redor deram risada do que a mulher tinha falado, concordando com a fala. Já Alissa, por sua vez, agradeceu ao universo por não ser branca, porque caso contrário estaria vermelha tal qual um pimentão.

— Hm… obrigada…

— Mali, eu te falei que não era para você deixar o Duke-

A voz familiar fez com que o coração de Alissa falhasse algumas batidas, o dono da voz estava vindo na direção, que estava de costas, e quando percebeu quem era a pessoa a sua frente virando a cabeça em sua direção, sentiu tudo ao seu redor congelar.

Se sequer fosse possível que Calum Hood estivesse mais bonito e alto do que no último ano… bem, então ele tinha alcançado todas as possibilidades com maestria. Ele ainda tinha os cachinhos na ponta do cabelo castanho, que estava mais curto. Seus braços estavam mais musculosos, o que indicava que ele andara se exercitando. E seus olhos… eles brilhavam como se estivessem presos em algum tipo de transe.

— Lissa. — ele balbuciou. Seu olhar tentando captar tudo que fosse possível na garota, como se ele quisesse gravar sua silhueta em uma fotografia. E… que merda, ele não deveria estar chamando a garota pelo apelido íntimo daquela forma. Era assustador perceber que aquele simples apelido ainda conseguisse mexer com ela de forma descomunal.

Sem que pudesse se conter, os lábios de Alissa se esticaram em um sorriso tímido enquanto seu corpo, inconscientemente, dava um passo na direção do rapaz.

Como se ela fosse uma miragem, Calum passou os braços ao redor da cintura da garota, braços estes que se encaixavam perfeitamente ali, da mesma forma em que ele se recordava, e então a puxou para um abraço. Ele pouco se importava se os dois não tinham mais intimidade para se abraçarem dessa forma, não se importava se exs não devessem agir assim, Calum apenas não podia impedir. Alissa, por sua vez, aceitou o abraço, deixando seus braços rodearem a cintura do rapaz que era bem mais alto que ela.

Alissa inalou o perfume dele, deixando o cheiro entrar em suas vias respiratórias.

— Feliz Natal. — sussurrou, sentindo o rapaz se arrepiar contra o seu corpo.

Calum apertou sua cintura mais forte, de repente o corpo dela tinha ficado um pouco mais quente.

— Feliz Natal, Lissa.

Enquanto os dois se separaram de forma desengonçada, Marina apareceu do lado de Ashton com um sorriso no rosto.

— E então Calum, já podemos sair?


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