Vapor escrita por Downpour


Capítulo 18
18. Drinks e perguntas




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CAPÍTULO 18

drinks e perguntas  

 

alissa fontes

 

         Se em algum momento alguém tivesse dito a Alissa que ela iria entrar em um relacionamento com um baixista de uma banda relativamente famosa em Sydney, e que por causa desse mesmo namorado ela iria acabar parando em um estúdio de tatuagem com cheiro de tabaco, bem, ela iria rir incrédula. Todavia, aquela era exatamente a cena que estava acontecendo naquele momento.

         Calum já tinha uma porção de tatuagens – bem bonitas por sinal -, que ela já conhecia. Então em um fatídico dia em que os meninos estavam de folga pela cidade, Michael e Calum resolveram ir em um estúdio fazer novas tattoos.

         A princípio Alissa não tinha nenhum interesse em tatuar o seu corpo, contudo enquanto Michael estava sentado na cadeira fazendo uma careta engraçada, Calum tinha lhe dado um livro com vários desenhos que poderiam ir parar na sua pele.

         — Doeu? — ela perguntou, desviando o olhar das páginas do portifólio para os orbes castanhos de Hood.

         Ele deu uma risada de leve.

         — Doer, dói. É uma agulha te furando. — disse com um breve dar de ombros — Mas eu diria que é uma dor que vale a pena.

         Ela piscou, perdendo seu olhar nas tatuagens na mão do namorado. Ele já tinha lhe contado que tinha as feito em homenagem aos seus pais. Na verdade Calum adorava dar significado aos desenhos em seu corpo, ele tinha lhe contado várias coisas em um momento em que ela deixou a ponta de seu dedo percorrer o desenho no corpo dele. Contou sobre sua descendência, os kiwi, os significados.

         — O que você acha que eu tatuaria? Tipo, — Alissa começou a dizer enquanto franzia o cenho — o que você imaginaria que eu escolheria?

         Calum deu um sorriso, surpreso.

         — Então você quer fazer uma tatuagem?

         Alissa deu de ombros timidamente, aquilo apenas fez o sorriso no rosto dele crescer.

         — Eu não quero ser a pessoa que irá escolher o que ficará marcado na sua pele para sempre. Vai depender apenas de você. Eu gosto de dar significado ao o que eu tatuo. Há quem não dê significado também. — disse suavemente, se divertindo com a confusão no olhar da menina.

         Ela suspirou.

         — Não é como se o seu discurso estivesse me ajudando a escolher algo, Cal. — resmungou batucando as unhas no caderno.

         — A Ali quer fazer uma também? — Michael perguntou, fazendo uma segunda careta de dor. O tatuador deu uma risada baixinha enquanto o platinado suspirava olhando para o teto.

         — Acho que sim. — ela murmurou, seus olhos estavam distraídos com um desenho em especial que tinha lhe chamado a atenção.

         — É a sua primeira vez fazendo uma tatuagem? — o tatuador perguntou, seu nome era Stan.

         Stan era um homem afroamericano de sorriso gentil, vez outra uma trança cobriam os seus olhos que sorriam junto de seus lábios. Alissa tinha a impressão de que o fato de ele ser um tatuador que lhe passava uma enorme tranquilidade foi um dos fatores que a convenceu de fato a fazer a tatuagem. De toda forma, Mike e Cal pareciam gostar bastante de Stan e conhecerem o homem há um bom tempo. Não havia porquê não fazer aquela tatuagem.

         — Sim. — admitiu dando um riso nervoso — Eu tenho uma tolerância muito baixa para dor. Mas o seu traço é muito bonito, eu estou tentada a fazer.

         — Você já sabe o que quer fazer? — Stan perguntou sem desviar os olhos do desenho que ele realizava na pele do Michael.

         Alissa mordeu o lábio olhando para o desenho.

         — Eu quero desenhar a coroa da rainha no xadrez.

         — Que pena, — Michael murmurou — achei que ela queria fazer uma de fisting.

         — Michael! — Calum exclamou horrorizado — Se você não estivesse deitado com uma agulha enfiada no seu braço eu iria acertar um tapa na sua cara.

         O platinado riu fraco.

         — Uma coroa, você tem certeza? — Hood perguntou erguendo uma sobrancelha enquanto olhava para a namorada. Pela entonação da sua fala era possível perceber que ele estava relacionando a coroa com o sobrenome da garota.

         — Não é nada do que você está pensando. — ela riu, sentindo suas orelhas esquentarem — É mais pelo significado que a minha avó escolheu para o meu nome. Alissa significa “majestosa” ou “que veio de uma linhagem nobre”.

         Calum olhou para ela com certa admiração e então sorriu.

         — Então você é uma rainha?

         — Se você diz que eu sou. Quem sou eu para negar? — ela ergueu uma sobrancelha com os lábios se esticando em um sorriso.

 

 

 

 

         Alissa pegou a sua mochila e começou a sair da sala de aula. A garota tinha acabado de sair de sua aula e como tinha conseguido enviar os seus trabalhos, e auxiliar na monitoria. Ela estava livre o resto do dia.

         Nem precisou sair da sala de aula para receber uma mensagem de sua melhor amiga, Marina iria passar aquela noite fora com Ashton novamente, o que intrigava Alissa era o fato de que apesar de os dois estarem se vendo constantemente até então não havia rolado uma oficialização de compromisso. Talvez Ashton estivesse tentando respeitar o tempo da Gonzáles, que meses atrás tinha acabado o relacionamento com um babaca.

De toda forma, Alissa iria passar aquela noite no apartamento de Calum, então aproveitou para avisar a amiga de que o dormitório estaria vazio caso ela precisasse.

Ela agradeceu mentalmente os pais do Hood pelo apartamento ser próximo do campus, a verdade era que Alissa estava cansada depois de um dia bem longo correndo para todo canto do campus indo para aulas e para realizar monitoria, tudo o que ela queria agora era comer algo gostoso e descansar. A garota foi caminhando em passos lentos até a casa do namorado, e só pode suspirar aliviada assim que chegou ao local.

         Naquele dia estava fazendo frio, então ela teve de se encolher em seu casaco gigantesco enquanto subia o elevador até o andar de Calum. Um sorriso pequeno surgiu em seu rosto quando ela abriu a porta do apartamento e encontrou Duke correndo em direção aos seus pés.

         — Sentiu minha falta? — riu se agachando para poder afagar o cachorro que latia, tentando lamber seu rosto.

         Enquanto ela se ocupava fazendo carícias no animal, Calum parou a sua frente com um sorriso terno. Ele tinha passado praticamente o dia inteiro sozinho em sua casa com Duke, só de ver a menina com uma expressão cansada a sua frente aliviou o seu dia monótono.

         — Incrível como ele só respeita eu e você. Ashton veio conhecê-lo esses dias e quase levou uma mordida no pé.

         Alissa tombou a cabeça para trás dando uma risada gostosa.

         — Acho que Duke só gosta de estar ao redor dos pais. — ela disse dando um sorrisinho meigo, erguendo o rosto na direção do namorado. Deixou seus olhos pairarem sobre ele, Calum estava vestindo suas roupas usuais, blusa e calça de moletom cinza e por mais incrível que pareça um avental de chef. Ao perceber aquilo ela franziu o cenho — Você estava cozinhando?

         Calum abriu a boca sem conseguir formular uma frase que pudesse explicar o que ele tinha tentado preparar.

         — Surpresa? — disse em um tom de dúvida.

         Alissa sorriu novamente, ficando de pé e em seguida, roubando um beijo do namorado.

         — Você é um amor Cal.

         — Eu... Só queria passar um tempo com você e bem... eu não cozinhei tudo, você sabe como eu sou um caos na cozinha...

         — Está tudo bem, quer que eu te ajude? — ela indagou fechando a porta atrás de si enquanto Duke abanava o rabinho, retirando-se de cena depois de ter conseguido o carinho que tanto queria.

         — Já estava terminando, mas tudo bem.

         Os dois foram em direção a cozinha, e lá Alissa percebeu que ele não tinha mentindo. Calum tinha tentado preparar um jantar, parte da comida ele tinha encomendado – um espaguete −, algumas garrafas de bebidas alcóolicas e por fim uma sobremesa que ele estava tentando fazer. Os lábios de Alissa tremeram enquanto ela tentava segurar o riso ao perceber que ele na verdade estava tentando reproduzir uma de suas sobremesas favoritas; o brigadeiro. Só que como Calum não era brasileiro e certamente só tinha visto a namorada fazer aquele doce uma vez ou outra, era meio difícil que ele conseguisse fazer tudo sozinho e com perfeição.

         — Eu sei que é um doce fácil, — ele começou a falar, tentando ao máximo não se embolar nas palavras — e você me disse que é um de seus favoritos. Mas eu sinceramente não entendo como você consegue fazer tudo ficar numa textura tão perfeita... Juro, eu procurei em tudo quanto é lugar e ainda assisti alguns vídeos de culinária.

         A sobrancelha de Alissa se ergueu furtivamente com aquela ultima informação.

         — Você estava tão entediado assim?

         Hood revirou os olhos ao perceber a malícia no tom de voz dela, e então resolveu fazer uma de suas coisas favoritas que às vezes deixava a menina de cabelos em pé, lhe dar o benefício da dúvida.

         — Hum. — Alissa resmungou enquanto separava os ingredientes sob a bancada. — Já que você não me responde, vou acreditar que você fez isso porque estava morrendo de saudades de mim.

         Calum deu risada, olhando para a namorada pelo canto do olho.

         — Alguém aqui está ficando muito convencida.

         — Não era esse o seu objetivo? Me mimar?

         — Touché. — Calum riu soprado enquanto erguia as mãos em um sinal de rendição.

         Alissa inclinou sua cabeça para o lado com um sorriso terno no rosto.

         — Cal, você está fazendo isso errado. Deixa que eu te ajudo. — ela disse cutucando as costas dele.

 

 

 

 

 

         O jantar fora realmente agradável, e apesar de estar um pouco cansada, Alissa conseguiu relaxar enquanto comia um pouco e conversava com o namorado sobre coisas banais. Ao final da refeição Calum apareceu com alguns drinks que ele posicionou sob a mesa.

         — O quê é tudo isso?

         — Lembra de quando a gente estava em uma festa, na época em que os meninos ainda moravam na república? — Calum perguntou tornando a se sentar de frente para ela.

         Não foi preciso de muito para que Alissa entendesse o que ele queria fazer, e aquilo despertou um sorriso em seu rosto. Atualmente os garotos tinham conseguido um outro ambiente para morar, contudo naquela época em que ainda moravam na república da universidade, Alissa conseguia se lembrar como se fosse antes do dia em que ela se sentou no jardim da república com Calum enquanto os dois conversavam. Naquele dia eles tinham feito uma forma diferente de se comunicar, um shot por algum pensamento.

         — Um shot por um pensamento? — ela indagou e ele assentiu com a cabeça. — Tudo bem, vamos lá. Você começa.

         Calum riu, abrindo a garrafa enquanto depositava a bebida no copo pequeno de shot, tomando-o logo em seguida.

         — Como foi seu dia?

         — Cansativo. Eu tive que ficar correndo pelo campus, fui para o estágio e quase derrubei café no psicólogo chefe do hospital e quase cheguei atrasada na turma em que estou dando monitoria. — Alissa fez uma careta enquanto falava.

         — Um dia bem corrido então. — Calum disse tentando não rir do fato de que a namorada quase tinha derrubado café no seu chefe.

         Em seguida, ela pegou a bebida e preparou o seu shot.

         — Agora é a minha vez, eu vou demorar um pouco para pensar em algum coisa. — assim que disse aquilo a menina tomou o seu shot e ficou alguns momentos em silêncio até pensar em alguma pergunta — O que você queria ser quando criança?

         Calum franziu o cenho com aquela pergunta tão repentina e então respondeu;

         — Eu não sei exatamente, eu sempre quis ser várias coisas cada dia diferente. Mas acho que o que pegou mesmo foi a música, meio clichê mas eu sempre quis trabalhar com algo que eu gostasse. E bem, meus pais me apoiaram bastante na minha decisão. Para falar a verdade até a minha irmã resolveu seguir o mesmo caminho que o meu. — a forma como Calum falava da família fazia com que Alissa sentisse o seu coração ficar quentinho.

         — Então você não foi uma criança muito indecisa. — comentou.

         — Não, eu sempre fui firme nas minhas decisões.

         Alissa sorriu e então preparou o shot do namorado.

         — Sua vez. — disse arrastando o copo na direção dele.

         Calum deu um típico sorriso preguiçoso enquanto tomava o seu shot, ele apoiou seus cotovelos na mesa e então olhou para a namorada por um certo tempo silenciosamente, como se quisesse observá-la e gravar o rosto dela na sua memória como se fosse uma tatuagem.

         — Você gostou de End Up Here? — perguntou suavemente, como se estivesse atento para reparar na forma em como ela iria reagir.

         Alissa piscou surpresa.

         — Calum Thomas Hood, — disse o nome inteiro do namorado pausadamente — você realmente está me perguntando se eu gostei da música que você escreveu sobre nós?

         — Acredito que sim. — ele deu risada baixinho.

         — É óbvio que eu amo essa música. Até então eu não fazia a mínima ideia do que era ter alguém que escrevesse uma música sobre mim, e que essa música fosse tocada em shows, no rádio... É surreal. É como se o que a gente sentisse repercutisse.

         Apesar de ter a fama de ser um “ogro”, Calum se viu derretendo com aquelas palavras sinceras da garota.

         — É impossível que nunca tenha escrito uma música sobre você.

         — Cal, você foi e é meu único namorado sério. A única vez que eu me relacionei antes disso foi com um garoto que tinha medo de assumir, tudo era feito as escondidas até eu descobrir que ele tinha assumido uma outra garota no meu lugar. Alguém que eu nunca poderia ser. — apesar da dor, a forma que Alissa abordava aquele assunto era distante. Calum percebeu que aquilo tinha sido uma questão muito grande na vida dela por muito tempo, mas que eventualmente ela tinha encontrado suas forças para poder superar e lidar com aquilo sozinha — Então acho que disso você consegue perceber que eu jamais iria fazer pouco caso de demonstrações de afeto de alguém sendo que eu nunca tive muitas. Eu aprecio tudo o que você faz por mim Cal.

         Hood sorriu surpreso, por um instinto sua mão captou a mão do namorado que estava pousada na mesa. Seus dedos longos acariciavam suavemente as costas da mão dela.

         — Eu espero lhe dar todo o carinho que você merece. — disse com uma sinceridade avassaladora, talvez porque ele já estive um pouco alterado, até porque ele já estava bebendo antes da namorada chegar na casa. Todavia, Alissa sorriu aceitando o carinho dele de todo o seu coração.

 


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