Vapor escrita por Downpour


Capítulo 17
17. Sobre não ser boa com cálculos




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CAPÍTULO 17

 sobre não ser boa com cálculos 

 

alissa fontes

 

       Calum tinha saído em turnê, e pela primeira vez Alissa estava sem o seu namorado por pelo menos um mês. Era claro que o garoto vivia fazendo ligações por Facetime com ela e com a família para informar que estava bem. Ele era muito grato a Alissa por ter o ajudado com as notas no último semestre, pois assim ele não tinha enfurecido os pais quando anunciou que ficaria um mês viajando e realizando shows. Contudo, Alissa não estava sozinha sentada em um sofá se perguntando quando ele iria voltar, muito pelo contrário.

       Era óbvio que ela sentia a falta de Calum, contudo os dois tinham um acordo silencioso de se apoiarem um no outro enquanto cresciam. Ela nunca deixaria de crescer.

       Alissa passou aquele tempo no departamento de pesquisa científica do setor de psicologia, ela era apaixonada por neurofisiologia e neuropsicologia então estava tendo uma ótima experiência. A garota conseguiu conquistar o cargo de monitora o que também a deixou imensamente feliz. Seu currículo ficaria maravilhoso com todas aquelas conquistas.

       Quando não estava trancada em um laboratório ou ajudando sua professora favorita com o material do próximo semestre, Alissa passava o tempo com sua melhor amiga, Marina. De alguma forma o tempo que Calum ficou afastado fez com que as duas se falassem mais, coisa que Marina não julgou a amiga por fazer. Era normal que no começo do namoro o casal ficasse grudado para todo canto, ela mesmo já tinha sido assim.

       As duas frequentavam o paintball favorito de todo a cidade, assistiam filmes juntas e como estavam de férias, as vezes arriscavam ir tomar um sol nas praias de Sydney.

       Naquele dia em especial, Alissa estava com um biquíni azul escuro deitada sob uma toalha enquanto Marina colocava seus óculos de sol quadrados no topo da cabeça.

       — Eu gosto disso, você parece estar mais feliz do que meses atrás. — Marina comentou dando um breve sorriso.

         Alissa piscou surpresa e então ficou levemente pensativa. Ela tinha aprendido a desabafar mais com Marina, contar o que estava sentindo ou simplesmente sobre as surpresas do dia a dia que Calum fazia para ela quando estava por perto. Também tinha contado para a amiga como tinha sido encontrar Victor depois de bons anos de distância. Marina sempre fora compreensiva, sempre tinha prezado pela felicidade dela. Então nunca a julgou.

         — Acredite, se Victor não estivesse no meu pé e minha avó não estivesse doente, tudo estaria perfeito. Mas acredito que desejar isso seja pedir demais. — a garota suspirou cansada, como se aquele pensamento tivesse passado pela sua mente centenas de vezes.

         — Você já pensou em negociar com ele? — Marina propôs.

         Ali balançou a cabeça negativamente.

         — Minha mãe disse a mesma coisa, acredita? Ela acha que eu posso conseguir manipular ele, e fazer com que ele pare de encher o meu saco.

         A Gonzalez ficou pensativa por alguns momentos, e então deu de ombros ao falar.

         — Acho que ela está certa. Seu pai está desesperado tentando te agradar, só que esse agradar envolve trazê-la para perto da família dele. Se você fizesse uma jogada inteligente, conseguiria dar o que ele quer e ao mesmo tempo se livrar da insistência dele por pelo menos um tempo. Assim ele não teria como não pagar a sua estadia na universidade.

         Alissa mordeu o lábio. Aquela ideia não era exatamente algo novo, na verdade ela tinha pensado naquilo um pouco antes da mãe propor. Era uma forma rápida e fácil de acabar com tudo aquilo, mas nada lhe vinha a mente, além do fato de ela nunca se sentir muito confortável em estar perto de Daphne King.

         — O que você propõe Marin?

         Aquela pergunta surpreendeu a outra. Não estava esperando que Alissa realmente levasse aquilo a sério. Marina sabia o que estar perto de Victor impelia, era como pegar uma ferida que estava demorando para cicatrizar, abri-la novamente com uma faca e jogar álcool em cima. Iria doer muito. Ela só não sabia se aquela dor iria valer a pena.

         — Eu não sei. — murmurou com sinceridade.

         Alissa apoiou o queixo com as mãos, sentando-se como se aquilo fosse ajuda-la a pensar. E então de repente ela teve uma ideia do que fazer, porém aquilo tinha grandes chances de dar errado.

         — O Natal.

         — Natal? — Marin arqueou as sobrancelhas confusa. Elas estavam na metade do ano, ainda iria demorar um bocado para o Natal chegar.

         — Sim. O meu pai nasceu em uma família cristã, ele ama o Natal e a sensação de união desse feriado. — a forma como Alissa falava era quase como calculista, como se seu pai fosse uma equação e ela estivesse prevendo as possibilidades de resultado — Ele vai não só se comover como adorar se eu propor passar o feriado com eles. E como o Natal vai demorar para chegar, eu ainda consigo ficar no dormitório por bons meses sem olhar na cara dele, da mulher dele e dos filhos.

         — Você sabe que está adiando isso, não? — Marina perguntou. Ela estava surpresa com o planejamento da amiga, aquilo mostrava o como era cuidadosa com a forma em que aquela situação iria machuca-la. Quase como se ela estivesse tentando calcular a menor chance de sair machucada daquela situação. Era um infortúnio que Alissa não fosse boa de cálculos.

         — Eu sei que estou adiando, mas estou cultivando esperança no Victor e comprando mais tempo para lidar com os meus sentimentos. — Alissa olhou para a amiga quase que desolada — Eu estou tentando comprar um pouco de paz para a minha mente.

 

 

        

         As duas amigas realizaram maratonas de filmes várias vezes naquelas férias, elas tentavam assistir todo tipo de gênero possível mas na verdade sempre acabavam voltando para as comédias românticas. Vez ou outra elas sempre acabavam vendo filmes como “o amor não tira férias”, “simplesmente acontece” ou até mesmo o clássico “dez coisas que eu odeio em você”.

         Algumas vezes as sessões de filmes elas acabavam comprando comida, normalmente uma caixa de pizza e uma garrafa de vinho. Nos dias em que a saudade de Calum apertava, Ali normalmente realizava ligações bêbadas e ria com o namorado pelo outro lado da linha enquanto dizia o como ela sentia falta dos braços dele ao redor dela.

         — É sério. — Alissa fez um biquinho infantil com a boca enquanto olhava para a horizonte da sacada. —  A Marinn colocou aquele filme agora pouco, e agora eu estou com a sua falta. E isso é culpa única e exclusiva sua, Calum Hood.

         Calum riu, ele estava deitada na cama de um hotel sorrindo, tentando imaginar como a namorada estava naquele momento. Se apegando a todas as memórias que tinha dela para poder montar a imagem melhor, para poder fazer ser real.

         — Sabe, quando Aimee veio falar comigo meses atrás, ela me disse que a distância entre nós dois seria um problema para mim. — a garota disse com dificuldade, não só porque aquilo deixava seus sentimentos e vulnerabilidades a mostra, mas também porque era algo que ela nunca tinha falado para o namorado antes — Mas agora que eu estou falando com você, e você está do outro lado do país cheio de coisas para fazer e ainda assim conseguiu achar um tempo para conversar com a sua namorada bêbada... Eu só sei sentir que a distância me fez te querer muito mais.

         Calum soltou o ar que não sabia estar segurando. Aquela declaração fez o seu coração se preencher com um quentinho confortável.

         — Eu fico surpreso que coisas tão simples e cotidianas consigam te ganhar com tanta facilidade. — ele admitiu em voz baixa. A verdade era que no dia em que tinha levado Alissa para um restaurante japonês chique no centro, ela tinha ficado mil vezes mais feliz com Duke do que com o jantar em si. Não que ele tenha ficado magoado com aquilo, muito pelo contrário. Aquilo apenas fazia com que ele a admirasse mais a pessoa quem ela era, e fazia ele ter certeza de que era Alissa quem ele queria ao seu lado no final do dia.

         — Acho que quando se tem coisas simples negadas por um tempo, nós passamos a dar mais valor quando finalmente as conquistamos. — ela disse serenamente, não haviam muitos rastros de dor em sua fala e sim de uma dor antiga que já não a incomodava tanto assim.

         Calum se pegou lembrando a forma em que ela hesitou, em como Alissa perguntou se ele realmente queria assumi-la. Para ele não fazia sentido que ninguém nunca tivesse se apaixonado por aquela garota antes, que ninguém nunca quisesse trata-la como uma rainha. Contudo, quando ele entendeu o lado dela, de uma estrangeira e de uma pessoa negra em um meio majoritariamente branco, as coisas começavam a fazer mais sentido para ele.

         Ele queria dar mais e mais motivos para deixar ela feliz, para fazer com que ela soubesse que merecia ser amada.

         — Oh meu Deus, Cal você não vai acreditar — ela disse pausadamente e de uma forma dramática que apenas uma pessoa bêbada poderia falar.

         — O que foi?

         — Marina está deitada no sofá, abraçada com uma almofada de coração, chorando enquanto fala o nome de Ashton. — a garota disse chocada olhando para a amiga pela sacada.

         Até mesmo Calum ficou levemente surpreso, embora um sorriso de canto tivesse surgido em seu rosto.

         — Ela está pensando nas dez coisas que odeia nele?

         A piada nem tinha sido tão boa assim, mas fez com que Alissa risse bastante.

         — Acho que alguém finalmente ganhou o coração da minha amiga. — ela murmurou, sentindo-se subitamente feliz.

 

 

 

         As férias acabaram rapidamente, logo Alissa e Marina retornaram as aulas. As garotas foram surpreendidas pelos meninos ainda naquela semana com os garotos anunciando que iriam fechar um contrato definitivo com a gravadora. A turnê tinha sido um sucesso e eles tinham conseguido fechar um outro contrato onde iriam abrir shows para uma banda muito famosa, logo não tinha mais sentido ficarem presos a faculdade.

         Alissa tinha que admitir que a faculdade não seria a mesma coisa sem se encontrar nas salas de aula com Calum, jogar baralho com Luke, ouvir Michael falar sobre suas composições ou simplesmente topar com Ashton no parque a noite. Ela iria sentir falta de tudo aquilo, só que acima da falta que ela iria sentir daqueles eventos estava também o orgulho de ter visto os meninos chegarem até aquele patamar. Se eles tinham chegado ali, então eles conseguiriam qualquer coisa.

         Estavam sentados em um café, Alissa, Calum, Marina e Ashton. Ainda não havia nada estabelecido entre Ashton e Marina, contudo toda vez que Alissa estreitava os olhos nas marcas de mordidas ou nos chupões que estavam por todo o pescoço da amiga, Marina corava fortemente e desviava o olhar inquieta. Era adorável ver que a sua melhor amiga tinha se apaixonado lentamente por Ashton, que esteve todo aquele tempo de olho nela.

         Os braços de Calum estavam ao redor dos ombros de Alissa, puxando a garota para si. Naquela pequena distância ela podia sentir a fragrância do perfume dele que tanto gostava.

         — E End Up Here fez muito sucesso. Sério. — Ashton disse enquanto tomava um gole do seu chá gelado.

         — Talvez porque a música foi inspirada na Alissa. — Marina piscou rindo do como Alissa ficou levemente desconcertada.

         — Que não seja por isso, haverão mais músicas. — Calum piscou.

         — Você compôs mais músicas sobre mim? — Alissa não conseguiu conter o sorriso ao olhar para o namorado.

         Calum não era exatamente a pessoa mais romântica do mundo, mas a forma em que ele demonstrava seus sentimentos através da música era simplesmente arrebatadora. Alissa adorava ouvir as músicas que ele compunha quando estava inspirado. As vezes um simples solo de baixo era o suficiente para fazer com que ela sentisse uma ideia do que ele estava sentindo no momento que juntou as notas, era mágico.

         — É claro. — ele disse beliscando a ponta do nariz dela carinhosamente — Mas esse cara aqui, Ashton Irwin, também tem escrito algumas letras...

         — Sem spoilers. — Ashton anunciou com um sorriso brincalhão.

         Alissa riu ao mesmo tempo em que Marina ergueu a sobrancelha.

         — E que spoilers seriam esses, Irwin? — Marina cruzou os braços com uma expressão de curiosidade no rosto.

         O Irwin desviou o olhar, ele não costumava ficar envergonhado com muito facilidade, mas um simples olhar da mexicana o tirava do sério com uma facilidade fora do normal. Fuzilou o melhor amigo com os olhos, como se dissesse “isso aqui é culpa sua”. Calum deu de ombros, ocupado demais com a conversa que estava tendo com a namorada sobre as novas composições.

         — Irwin? Achei que já estivéssemos passado da fase de usar sobrenomes. — ele provocou.

         Marina piscou.

         — Eu uso o seu sobrenome quando estou brava com você.

         “Isso é terrivelmente parecido com a minha mãe”, Ashton pensou com um meio sorriso.

         — Admita Gonzalez, você diz o meu sobrenome porque gosta do som que ele faz ao sair da sua boca.

         Ela corou, perplexa com aquelas palavras.

         — Meu Deus gente, — Alissa riu olhando para os dois — se vocês precisam de um pouco de privacidade é só falar. Quer saber, eu e Calum já estamos de saída. Aproveitem e tentem resolver a questão da tensão sexual de vocês.

         A palavra “tensão sexual” conseguiu deixar os dois terrivelmente vermelhos.

         Marina abriu a boca para retrucar mas Alissa ergueu a mão, interrompendo.

         — Nada de retrucar, eu sou a estudante de psicologia aqui. — e com um sorriso convencido no rosto, ela e Calum saíram da cafeteria dando risada dos dois que deixaram para trás.

 


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