Vapor escrita por Downpour


Capítulo 15
15. Reencontros e dualidades




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CAPÍTULO 15

reencontros e dualidades

 

alissa fontes

 

         — Como as coisas por aí tem andado? — Alissa perguntou para a mãe pelo telefone.

         Naquele momento já tinha se passado das dez da noite enquanto a garota estava sentada na grama do parque perto ao seu dormitório, ela tinha aproveitado o horário para poder ligar para a mãe sem que o fuso horário atrapalhasse a conversa.

         — Bem corridas para falar a verdade. As coisas aqui no editorial estão insanas, e quando eu não estou trabalhando, estou cuidando da minha mãe.

         Aquilo fez o coração de Alissa murchar por alguns momentos. Aquele era justamente o motivo pelo qual ela tinha pedido a transferência para o Brasil. Sua mãe tinha tentado argumentar, dizendo que a garota não precisava abrir mão do seu sonho que era fazer faculdade em Sdyney, todavia a garota era muito leal a sua família materna, sua avó importava o mundo para ela, e saber que a mãe de Alessandra – sua avó - estava adoecida lhe partia o coração. Já fazia mais de um ano em que ela estava nessa situação, e por conta da idade avançada, Alissa temia o pior. Nunca se perdoaria caso nunca visse sua avó novamente, então pela família que lhe acolhia e amava, ela abriria mão de tudo.

         — E você querida, tem falado com Victor?

         Sua mãe tinha tido um tempo difícil para superar Victor quando ele decidiu ir embora, e talvez fosse por isso que Alissa amaldiçoasse seu pai até então. Porque para ele tinha sido tão fácil partir, enquanto para elas tinha sido tortuoso ser deixada só. Era terrível ligar a televisão e sempre ver a pessoa que era a culpada de seus traumas. Era horrível que quem quer que fosse de fora nunca pudesse entender como aquele homem bonito, engraçado e sorridente poderia ter deixado cicatrizes feias em outras pessoas.

         Por muito tempo as duas evitavam falar aquele nome, o nome do homem que tinha as machucado. Que tinha achado uma família australiana que beirava a perfeição de um comercial de margarina.

         Era justo dizer que o primeiro homem que tinha abandonado Alissa, fora seu pai.

         Porém a garota não nutria tanto raiva dele por isso, e sim por ter deixado a sua mãe sozinha. Ela até conseguiria lidar com a dor de ter sido deixada para trás, contudo o que mais doía nela era ver a sua mãe passar várias noites chorando sozinha por um homem que não a merecia. Era ainda pior saber que aquele homem era seu pai, que parte do DNA dele, estava nela. Todavia já fazia um bom tempo em que Alissa não o considerava mais como um pai, e sim um progenitor. Desde que conheceu Phill anos atrás, e viu o como aquele homem não só amava a sua mãe, como também se importava com o bem estar dela como se ela fosse filha dele. Alissa finalmente encontrou um pai.

         — Ele sempre liga mas eu nunca atendo. — respondeu com sinceridade, tentando não ser perder em pensamentos. A verdade era que ela evitava tanto pensar em

Victor, que muitas vezes seus pensamentos se distorciam e como numa forma de defesa, iam parar em algo completamente diferente.

         — Ah querida, talvez você finalmente devesse ceder e conversar com o seu pai.

         — Mãe, ele não merece nada de mim. Nada.Pagar a minha estadia aqui é no mínimo a obrigação dele, e nem isso ele quer fazer.

         A outra mulher ficou alguns momentos em silêncio do outro lado da ligação. Alissa não estava errada, seu pai tinha se comprometido a pagar sua estadia no campus.Todavia algo tinha mudado, agora Victor parecia estar louco de vontade de juntar suas duas famílias: os King e sua filha esquecida, Alissa, debaixo do mesmo teto como se não fosse ocorrer atrito nenhum.

         A história ainda conseguia ficar pior, claro, mas Alissa não tinha a intenção de continuar se lembrando do passado.

         — Eu sei meu anjo, mas acho que talvez fosse melhor fazer o que ele quer...Tente negociar com ele, apenas um jantar...

         — Então você está propondo que eu manipule ele? Ok, essa opção parece mais atrativa. — um sorriso malicioso brincou no rosto de Alissa. Do outro lado da linha, sua mãe conseguiu vislumbrar perfeitamente a expressão maldosa no rosto da filha.

         — Alissa Fontes. — sua mãe disse seu nome em uma forma ameaçadora que somente mães conseguiam falar, e então deu uma risada. Era sempre assim, a Sra. Fontes apesar de ser rígida, sempre tinha um sorriso carinhoso para oferecer para a

sua filha. As duas eram muito unidas, pois sempre suportaram infortúnios juntas, sempre tinha sido assim.

         — Tudo bem mãe, talvez eu tente conversar com ele, um dia. Esse dia não será hoje. — a garota disse dando um sorriso debochado.

         As duas conversaram por pelos mais dez minutos até que a mãe de Alissa desligasse, alegando que tinha que voltar ao trabalho. Por fim a garota desligou a ligação,

ficando sozinha no parque enquanto desejava que sua mãe ao menos estivesse mais feliz do que ela. Alissa sacrificaria toda a sua felicidade apenas para ver a sua mãe sorrir.

Sua mão escorregou para o bolso da calça, retirando um cigarro junto com um isqueiro cor de rosa. Ela mal percebeu o que tinha feito, fumar quando estava estressada ou melancólica tinha se tornado algo tão natural, um hábito que estava dando as caras novamente.

         Já tinham se passado dois meses de que Calum e Alissa tinham começado a namorar, e com o começo do namoro as vezes em que ela tinha se sentido nervosa ou sozinha tinham se reduzido a praticamente zero. Contudo, nem mesmo um relacionamento iria conter o seu nervosismo com o fim do semestre. Apesar de detestar o curso de Direito, Calum tinha dado o seu melhor no trabalho que tinha que entregar com a namorada, já que era visível a forma como ela se esforçava tanto para ter ótimas notas. O moreno as vezes se pegava sorrindo quando via a ambição brilhar nos olhos de Alissa enquanto ela estudava a matéria que tanto amava silenciosamente, sua namorada era uma mulher brilhante, disso ele tinha certeza.

         Já Alissa procurava sempre apoiar Calum com a banda, quando não estava estudando ela sempre comparecia nos ensaios dos meninos ou nos shows que eles faziam em busca de divulgação. Com o passar do tempo os shows se tornavam mais lotados, cheio de pessoas entoando músicas que Calum tinha composto de madrugada quando não conseguia dormir, pensando em sua namorada. Nesses momentos Alissa não poderia evitar sorrir, ela se sentia mais do que orgulhosa do quanto os meninos estavam conquistando.

 

 

calum hood

 

         Calum estava deitado em um sofá com um chapéu de pescador sob a cabeça, um claro sinal de que ele estava cochilando e não queria que os garotos o acordassem. Ao seu redor Michael arranhava alguns acordes em sua guitarra enquanto Luke estava mexendo em seu celular com uma expressão de tédio.  Naquele dia os meninos estavam no estúdio, o ensaio tinha acabado de terminar e Ashton tinha sido o primeiro a sair do local.

         O semestre tinha acabado bem, Calum tinha conseguido notas boas o suficiente para passar sem gerar nenhum atrito com os seus pais – ainda mais porque Alissa sempre esteve ao seu lado, o ajudando a estudar – e agora os meninos estavam prestes a sair em uma turnê ao redor da Austrália. Iria ser um grande momento para eles como uma banda.

         Dentro de alguns momentos ele iria sair com a namorada, tinha irritado a Fontes o suficiente para leva-la em um restaurante chique no último encontro deles antes da turnê. Já faziam dois meses que eles estavam namorando, mas mesmo assim Calum não se cansava de mimar e surpreender Alissa.

         — Cal, você não vai sair? — fora Michael quem perguntou.

         O garoto dos cabelos vermelhos tinha guardado a sua guitarra, agora ele estava concentrado no amigo que estava deitado no sofá. Era fato que Ashton sempre o fora o melhor dos três em conseguir ler os sentimentos e expressões de Calum, contudo com um pouco de treino, Michael conseguia entender o que ele estava sentindo. Apenas precisava que ele começasse a falar.

         — Eu já vou. — a voz dele saiu abafada pelo chapéu.

         — Qual é o problema? Você adora sair com a Alissa para onde quer que for, então por que está tão relutante agora? — Calum era uma pessoa direta, então para chegar em algum lugar, Michael teve que fazer uma pergunta direta. O Hood não era muito fã de ficar andando em círculos sem chegar a lugar algum.

         Calum tirou o chapéu de seu rosto, sabendo que não iria mais adiantar fingir que estava dormindo. Seus olhos castanhos ficaram fitando o teto enquanto o seu rosto estava impassível como sempre.

         — Não tem problema algum, não por enquanto. — respondeu com sinceridade — É só que... A minha ex terminou comigo por causa da distância, então...

         A compreensão passou pelo olhar de Michael. Luke que antes estava entediado, bloqueou a tela do celular para ouvir a conversa dos dois.

         — Então você está com receio de como a Ali vai reagir a distância entre vocês.

         — Algo assim. — respondeu contragosto.

         Calum não gostava de se sentir daquela maneira, porém não havia muito que ele poderia fazer. Diferente de Aimee, Alissa não só entendia o sonho dele, com também o apoiava em tudo que ele fazia. Ela era tão doce com ele, que jamais iria cobrar demais dele. E algo nele, como que sua intuição, dizia que ela merecia um pouco mais do que aquilo. Dizia que Alissa merecia mais presença, mais carinho.

         Não que ela tenha se mostrado descontente com o relacionamento, muito pelo contrário. A garota que antes vivia trancada em seu dormitório estudando, agora saia com o namorado e com a melhor amiga. Ela que antes era tão séria e silenciosa, agora estava sorrindo mais. E por Deus, como Calum amava a forma em que Alissa sorria. Desde o breve inclinar de cabeça, os seus olhos diminuindo conforme as maças do rosto se levantavam e o inclinar sutil de lábios. Lábios esses que ficavam imensamente mais bonitos quanto estavam contra os dele.

         — Alissa não é a Aimee. — Luke disse quebrando o silêncio e atraindo a atenção dos dois — Eu sei que vocês não levam muito a sério os meus conselhos, até porque a minha vida amorosa é uma tristeza. Mas nisso eu sei que estou certo, Alissa não é Aimee. Eu já perdi as contas de quantas vezes Alissa já se sentou conosco e nos ouviu falar atentamente sobre algo que ela não fazia a mínima ideia do que era, Aimee nunca foi assim.

         “Alissa é paciente Calum. Ela vai esperar aqui por você, porque ela não só te apoia como acredita em você. Dá pra ver pela forma que ela te olha quando você pega um contrabaixo e sobre em um palco.”

         “Se você está relutante com a distância, então deveria falar para ela. Até por que Alissa ficaria feliz em saber que você vai sentir a falta dela nesse meio tempo.”

         Michael piscou surpreso. Para alguém como Luke, aquele tinha sido um conselho e tanto. Calum por sua vez, sentou-se no sofá ajeitando a sua coluna e então deu um suspiro. Ele não era exatamente a melhor pessoa do mundo no quesito demonstrar o que estava sentindo, mas tinha de admitir que Hemmings estava certo.

         — Tudo bem, vocês ganharam.

         Os dois sorriram, contentes em ver que apesar de Calum não querer sentir a falta dela, isso significava algo bom. Significava que ele ficaria com saudades.

 

 

        

         — Então Calum Hood sabe fazer surpresas? — Alissa perguntou.

         A garota estava sentada no banco de passageiro do carro de Hood, lugar onde os dois tinham construído diversas memórias. Para ela era engraçado pensar que quando tinha entrado no carro de Calum pela primeira vez, quando ele tinha derrubado seu café da manhã no chão, ela estava na verdade, entrando no carro de seu futuro namorado.

         Naquele dia ela estava linda, embora Calum achasse que Alissa era linda todos os dias.

         Alissa vestia um pequeno vestido de seda que realçava não só o delineado da cintura, como também os seios da garota. Era difícil para Calum vê-la naquele vestido e não querer agarrar a namorada ali, naquele exato momento e esquecer o encontro.

         A única coisa que estava o segurando de avançar nela era o fato de que as reservas para aquele restaurante tinha sido caras, e bem, o fato de que Alissa também gostava da comida que o restaurante servia também devia ser considerado. Aquele fim de tarde tinha sido arquitetado justamente para agradá-la.

            — Por você eu faço um esforço. — ele disse piscando para ela, que corou.

         Era engraçado continuar corando mesmo depois de ter passado dois meses ao lado de seu namorado, mas Alissa corava como se aquela fosse a primeira vez que Calum flertava com ela. Talvez simplesmente porque Calum gostava tanto de vê-la desconcertada que sempre a surpreendia com um elogio, ou com sussurros que deixavam o seu corpo quente. Ele era especialista na arte de tirá-la do sério.

         — Bom, como eu sei que você não vai me dizer para onde estamos indo. Então me diga como foi o seu dia. — ela disse, inclinando-se na direção dele, demonstrando que estava toda a ouvidos.

         Calum deu um sorriso tímido. Alissa tinha um certo efeito sobre ele que era 8 ou 80, ou ele dava sorrisos tímidos ou sorrisos maliciosos seguido de alguma piscadinha. Ela amava aquela dualidade contrastante.

         — Eu não fiz nada demais hoje. Eu e os meninos passamos boa parte do tempo no estúdio ajeitando o que sobrou para antes da turnê, depois eu saí e fui buscar parte da surpresa de hoje a noite. E foi basicamente isso. — disse com simplismo, procurando não entregar exatamente o que ele tinha planejado para aquela noite.

         Os olhos castanhos escuros de Alissa brilharam, ela amava a forma como Calum a tratava. Como se apesar de já ter conquistado a namorada, ele continuava conquistando-a cada vez a cada dia que se passava.

         — E você, o que fez hoje? — perguntou casualmente.

         A Fontes sorriu.

         — Terminei de entregar alguns trabalhos, tive o meu projeto de iniciação científica aprovado e compartilhei um brinde com a minha mãe pelo facetime. — a garota disse revirando olhos enquanto ria, pensando em como o seu dia tinha sido relativamente bom. Era sempre assim, Alissa se cobrava bastante em todos os projetos que estava desenvolvendo, mas sempre conseguia dar um jeito de acabar bem e com um suspiro de alívio ao perceber o quão bem ela tinha ido. Se um dia ela conseguisse controlar seu nível de ansiedade e estresse, sentia que poderia ter um rendimento ainda melhor.

         — Eu gostaria de fazer parte desse brinde. — Calum fez uma careta e a namorada riu.

         — Minha mãe iria gostar de você, — ela disse de repente e logo em seguida sentiu suas orelhas queimarem de vergonha — bem, ela já gosta de você só pelo que me ouve falar então...

         — Você falou sobre mim? — ele perguntou surpreso, um sorriso genuíno surgiu em seu rosto.

         Ela assentiu, subitamente se sentindo tímida.

         — Minha mãe também adoraria você. Na verdade, é bem capaz de ela te adotar para a família e decorar a sua comida favorita, apenas para te agradar. — ele sorriu, o fato de juntar duas pessoas que ele gostava muito no mesmo lugar lhe deu uma sensação de quentinho no coração — Acho que o que ela mais gostaria em você é a sua determinação.

         — Por que você acha isso? — Alissa perguntou, tentando conter suas emoções, caso contrário deixaria as lágrimas desmancharem a maquiagem que Marina tinha ajudado a fazer com afinco.

         Calum riu soprado, como se uma série de memórias boas invadissem sua mente.

         — Porque isso é uma das coisas que ela mais admira em mim também.

         — Então acho que eu e ela temos algo em comum. — ela disse ao mesmo tempo em que sorria, com milhares de sentimentos queimando em seu peito.

 

 

 

         Alissa tinha amado o restaurante. Ela não se lembrava em que momento Calum ouviu que ela era apaixonada pela culinária japonesa, mas ficou feliz apenas com o fato de que ele tinha decorado aquela informação apenas por sua causa. Aquilo significava que apesar de ser meio fechado e não demonstrar seus sentimentos a todo momento, Calum gostava dela e dava o seu melhor, a forma em que se sentia a sua maneira.

         Naquele fim de tarde os dois conversaram sobre basicamente tudo e nada. A refeição foi tomada por sorrisos, tocar de mãos e corpos inclinados na mesma direção como que guiados por um magnetismo.

         Alissa sentia que poderia explodir de felicidade por estar se sentindo daquela forma, de mãos dadas com alguém finalmente sentia o mesmo por ela. Alguém que a apreciava por quem ela era, por dentro e por fora.

         Ela estava tão alheia e feliz que mal viu uma figura parar na frente da mesa dos dois. Uma figura notável que fez com que todos os presentes no restaurante desviassem o olhar com atenção, figura essa que preencheu o local com burburinhos.

         — Alissa, querida, por que tem ignorado as minhas ligações?

         Quando a garota ergueu o olhar para poder ver aquele homem, sentiu que tudo ao seu redor poderia desmoronar em questão de segundos. Ali, olhando para ela com aqueles olhos csstanhos faiscantes, estava o homem que tinha a abandonado e também um dos homens mais famosos da Austrália.

         Seu pai.

 


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