CAPÍTULO 14

posso te chamar de minha namorada

calum hood

Calum não tinha mentido quando disse que sabia cozinhar alguma coisa. Na mesa do café da manhã haviam ovos fritos, bacon, suco de laranja e torradas. Ele sentou-se de frente para a pequena mesa redonda de madeira, e então sorriu para Alissa como se pedisse para que ela se juntasse a ele.

            — Uau — ela murmurou surpresa enquanto puxava a cadeira para poder se sentar de frente para o moreno.

         Os dois tomaram café da manhã enquanto conversavam, ora ou outra dando risada de alguma coisa. Alissa acabou excedendo a cota de elogios que ela tinha delimitado momentos atrás, porque Calum estava certo, ele certamente não cozinhava melhor que a Fontes, mas o pouco que ele sabia cozinhar era realmente muito bom. Assim que os dois terminaram de comer, eles começaram a lavar a louça.

         Alissa lavava a louça na pia enquanto Calum secava e guardava, já que era ele que sabia onde cada coisa ficava guardada nos armários da cozinha. O moreno aproveitou aquele momento para poder falar com a garota o que ele queria dizer desde a noite passada.

         — Ali, nós meio que temos dois assuntos pendentes de ontem a noite.

         Alissa engoliu em seco, ela meio que sabia qual era um dos assuntos pendentes, afinal tinha sido ela quem tinha proposto conversar sobre aquilo quando ele estivesse sóbrio. Todavia, o fato de ele ter mencionado um outro tópico que ela desconhecia fez com que uma onda de ansiedade percorresse pelo seu corpo.

         — Tudo bem. — ela respondeu hesitante.

         Hood virou-se para ela enquanto apoiava as suas costas no balcão cinza da cozinha, um pequeno sorriso cruzou o seu rosto quando ele percebeu que tinha deixado ela sem graça.

         — Primeiro de tudo, você me prometeu que iria assistir How I Met Your Mother comigo, então eu estou te obrigando a vir aqui no final de semana que vem para fazer uma maratona. Ashton me disse que você saber fazer um doce muito gostoso, e que você fez pra ele não para mim então...

         — Ashton te falou sobre o brigadeiro? — Alissa disse dando risada da expressão enciumada no rosto de Calum.

         — Sim, ele gosta de se exibir. — disse enquanto fazia uma expressão emburrada.

         — Bem, eu não sei se você se lembra, mas meio que a gente já tinha combinado passar o final de semana juntos para fazer o trabalho de Psicologia Jurídica. — a garota inclinou a cabeça para o lado enquanto ria da expressão confusa de Calum. Ele era meio desleixado com a faculdade, era óbvio que Hood nem se lembrava do trabalho que os dois tinham que fazer. A sorte dele era que Alissa era muito boa com prazos e também era muito estudiosa, assim, ela estaria disposta a ajuda-lo no que precisasse.

         — Nós podemos estudar e depois fazer a maratona. Você prometeu. — ele olhou para ela com uma expressão pidona e a garota acabou concordando, era muito difícil dizer um “não” olhando para Calum Hood.

         — Certo, — a garota disse fechando a torneira da pia, indo atrás de um pano para secar suas mãos — e qual era o outro tópico?

         De repente as mãos de Calum pareciam começar a suar, subitamente ele tinha se sentido nervoso. Quando ele estava bêbado tinha sido mil vezes mais fácil dizer que não queria ver Alissa com ninguém senão ele, contudo os dois sabiam que Alissa merecia algo melhor do que uma declaração de um cara alterado. Ela merecia a verdade pura, merecia saber ao menos parte da imensidão que ele estava sentido. Só que era muito mais difícil fazer isso quando se estava sóbrio.

         — Eu não sei se vou conseguir ser mais direto do que isso... A questão é, eu não quero te ver com outras pessoas. Eu... não consigo mais te ver como uma amiga. — ele disse rapidamente, por sorte a sinceridade era o seu forte. Contudo, por mais que tudo o que ele dissesse fosse a verdade, ainda não era exatamente o que ele gostaria de dizer. Havia uma série de sentimentos queimando em seu peito que ele gostaria que Alissa tivesse ao menos noção, todavia, não fazia a mínima ideia de como traduzir aqueles sentimentos em palavras para que ela compreendesse.

         Os ombros de Alissa ficaram tensos e seu coração começou a bater mais rápido do que o normal.

         — Eu também não quero te ver com outra pessoa Cal. É só que... Você acabou de sair de um relacionamento, tem certeza de que quer ficar exclusivo de alguém assim tão rapidamente? — fora difícil para Alissa dizer aquilo, porque ela certamente não gostaria de ver Calum saindo com outras pessoas que não ela, contudo aquilo era o certo a se fazer. Algumas pessoas precisavam de um tempo para respirar quando saíam de um relacionamento, ainda mais quando o namoro tinha sido conturbado como o de Calum e Aimee. Apesar de tudo, ainda havia uma vozinha em sua cabeça que insistia dizer que Cal apenas estava com ela porque estava carente e entediado, e as vezes ela se pegava pensando se aquela voz não estava certa. Se um dia ele não se enjoaria dela, que nem os outros.

         Hood piscou surpreso. Na verdade ele nunca tinha pensando muito em tirar um tempo para respirar depois de seu relacionamento com Aimee. Talvez porque os dois já sentiam que o namoro tinha acabado muito antes de ter terminado. Era fato de que ele tinha ficado com outras pessoas depois de ter terminado com Aimee, contudo nenhuma dessas outras garotas o prenderam como Alissa.

         Porém, o que o surpreendeu acima de tudo, foi o fato de Alissa falar como se não conseguisse imaginar o porquê ele gostaria de ser exclusivo dela.

         — Ali, antes mesmo de eu e a minha ex colocarmos um fim no relacionamento, já estava tudo acabado. Eu não tinha a mínima intenção de me envolver com mais ninguém até você aparecer. Desde a primeira vez que eu te vi naquele quarto com a sua amiga eu soube que estava atraído por você, que havia algo em você que conseguiu chamar a minha atenção de forma sutil e silenciosa. E quando eu te conheci de verdade, foi como se essa chama estivesse aumentando cada vez mais.

         “Então respondendo a sua pergunta, não. Eu não quero perder meu tempo com outras garotas sendo que a única que consegue me prender de tal forma é você. Não faria o mínimo sentindo, eu só estaria me enganando. Não quero estar com mais ninguém senão você.”

         A garota piscou, visivelmente abalada pelas palavras que Calum tinha direcionada a ela. Era difícil para Alissa compreender que alguém poderia gostar dela e querer ficar com ela, querer que outras pessoas vissem que os dois estavam juntos. Aquela era uma questão que ia muito além de autoestima, afinal com o passar do tempo Alissa tinha aprendido a se amar e amar seus cabelos e tom de pele.

         — Calum-

         Ele sorriu se aproximando dela, ergueu suas mãos, moldando o rosto da garota.

         — Você pode baixar suas barreiras comigo, Lissa.

         Um riso baixo escapou os lábios dela.

         — Me chamar de Lissa é golpe baixo. — ela disse erguendo os olhos castanhos para poder olhá-lo melhor, seu coração estava a mil e apesar do nervosismo, ela nunca tinha se sentindo tão bem como naquela vez. — Cal, você realmente quer estar comigo? A maioria dos caras nunca me assumiria... p-pela minha descendência, meu tom de pele... eu sempre vou ser uma estrangeira aqui.

         Calum desceu uma de suas mãos, depositando-a na cintura de Alissa. Ele olhava para a garota com a compreensão brilhando em seu olhar. Na noite passada ele se pegou indagando o porquê de Alissa se conter diante dele, e agora ele podia compreender melhor a situação.

         — Ali, eu não sei como foram as suas experiências anteriores, eu realmente não sei. Mas você é uma garota incrível, inteligente, bonita e engraçada. Quem deveria estar perguntando “você realmente quer estar comigo?” sou eu. Você é brilhante garota. Você é o tipo de pessoa que deixaria a minha mãe orgulhosa.

         Aquela última frase fez Alissa se arrepiar, e antes que ela mesma percebesse, uma lágrima solitária desceu de seu olho esquerdo e deslizou por sua bochecha indo parar nas mãos dele. Ninguém nunca tinha falado algo assim para ela, ninguém nunca tinha tido a intenção de assumi-la.

         Antes que fosse começar a chorar mais ainda, Alissa passou seus braços ao redor da cintura de Calum e o abraçou. Talvez porque ela estava tão sem palavras que aquela fosse a única forma de ela conseguir demonstrar seus sentimentos para ele.

         — Isso foi um sim, Lissa? — ele murmurou brincalhão contra os cabelos dela que riu, sendo abafada pela camiseta dele.

— Sim, Cal, isso foi um sim.

         Hood sorriu contente.

         — Então agora eu posso finalmente chama-la de minha namorada.

alissa fontes

         Ela sentia que estava tão leve que poderia sair flutuando caso um vento muito forte soprasse contra o seu corpo.

         Quando terminaram a conversa, os dois ficaram bons minutos a sós apenas trocando beijos e carinhos até que a garota se lembrasse de que precisava ver como sua amiga estava. Acabou que ela saiu do apartamento de Calum com a camiseta dele e sua saia de couro, o top ficou em algum lugar do quarto.

         O percurso de carro até o apartamento da garota não era muito longe, então logo Calum estacionou na frente do prédio.

         — Obrigado por ter passado a noite comigo.

         Alissa sorriu, inclinando-se para depositar um selinho nos lábios entreabertos do namorado.

         — Eu que te agradeço por tudo Cal.

         — Ok, vai lá. Sua amiga está precisando de você e eu preciso ir para o estúdio.

         Os dois se despediram com um beijo longo, e então Alissa saiu do carro e foi em direção ao prédio. A garota se sentia levemente hesitante enquanto subia no elevador, sua amiga não tinha sido muito especifica sobre o que aconteceu pelas mensagens, apenas tinha deixado claro que precisava conversar sobre alguma coisa.

         Apesar de não estar sentindo nenhum pressentimento ruim, Alissa ainda estava preocupada. Afinal, tanto Ashton quanto Marina eram seus amigos.

         Parou alguns momentos diante da porta, e então abriu. O local estava silencioso, ainda era de manhã então Alissa não se surpreendeu ao encontrar Marina sentada sozinha na cozinha enquanto mordiscava um croissant. Ela não parecia estar acabada como se alguém tivesse a magoado, e sim pensativa.

         — Ei, eu voltei. — anunciou enquanto adentrava a cozinha.

         — Hey. — Marina sorriu nervosamente, colocando o croissant em cima de um prato. — Tudo bem com o Calum? Nem tente fingir, você está com uma expressão mais feliz do que o normal. Pode começar a falar.

         Alissa suspirou, ela parecia estar em um tipo de êxtase.

         — Ele me pediu em namoro.

         — E você aceitou? — Marina gritou empolgada, sem se importar se estaria incomodando os vizinhos.

         Alissa assentiu com a cabeça enquanto sorria, fazia tempo que Marina não a via sorrir daquela forma.

         — Ai meu Deus eu sabia que isso ia acontecer. Só de ver vocês dois lado a lado pela primeira vez, eu percebi que havia alguma coisa entre vocês. — disse empolgada. Depois de tudo o que andava passando, Alissa merecia alguém que a tratasse bem.

         — Mas eu não vim aqui falar de mim, pode desembuchar. O que aconteceu ontem a noite? — a garota perguntou, sentando-se de frente para Marina que subitamente ficou muito quieta com as bochechas coradas.

         A Gonzalez desviou o olhar, pensando em como colocaria aquilo em palavras e então ela ergueu o olhar e resolveu dizer tudo de uma vez.

         — Eu e Ashton transamos.

         — Meu Deus, Marinn, você está corando.

         — Oh, cale a boca Fontes.

         Alissa sorriu surpresa, ainda estava muito chocada com a informação que a amiga tinha acabado de lhe fornecer, contudo resolveu ficar em silêncio para motivar Marina a continuar falando.

         — Quando eu estava bêbada e sozinha com ele na festa, eu não sei... Eu senti que precisava tentar alguma coisa com ele... Nós somos amigos há tanto que eu...

         — Espera, — Alissa acabou interrompendo sem querer — isso era algo que já estava acontecendo? Tipo antes de você-sabe-quem?

         — Meu ex não é o Lorde Voldemort, — Marina revirou os olhos — você pode dizer o nome daquele bastardo. E... bem... eu sempre achei o Ashton bonitinho, mas eu sei lá... nunca achei que ele fosse querer também...

         — Por que você nunca me contou? — a Fontes indagou curiosa. Se Marina tivesse dito aquilo desde o começo as coisas com certeza teriam sido mais fáceis, já que ela poderia tentar juntar os dois.

         Marina riu de nervoso.

         — Você sempre estava tão ocupada com os seus problemas Ali, eu não queria te interromper e atrapalhar com algo tão banal.

         — Nada que é importante para você é banal para mim. — a outra respondeu.

         Marina não se aguentou e foi na direção da amiga abraça-la.

         — Meu Deus, você é muito preciosa, eu ganhei a sua amizade na loteria.

         Alissa deu risada do exagero da amiga enquanto retribuía o abraço.

         — Certo, mas agora continue me contando o que aconteceu enquanto você termina o seu croissant, eu estou ficando curiosa. — disse com um sorriso meigo no rosto.

         A outra garota assentiu, tornando-se a sentar-se na cadeira enquanto tagarelava sobre a noite passada.

         — Enfim, nós dois ficamos boa parte da festa e em algum momento eu decidi que iria para casa com ele. Acabei aproveitando que você iria ficar no apartamento do Calum e trouxe ele aqui. No princípio o Ashton não quis nada, mas eu como eu estava bêbada, acabei falando tudo. Sobre o como eu não ia perder aquela chance de ficar com ele porque talvez não tivesse coragem de fazer o mesmo olhando nos olhos dele enquanto estivesse sóbria. Ele acabou cedendo sabe Deus porquê, e então aconteceu. — Marina disse com as bochechas começando a queimar, ela ficou em silêncio por alguns momentos, como se estivesse presa na memória da noite passada, e então mordeu os lábios desviando o olhar — Ash foi embora de manhã, as coisas ficaram um pouco estranhas quando nós acordamos e eu ainda estou com uma ressaca terrível, então ele me fez prometer que nós iriamos conversar um outro dia.

         — Marin, isso é ótimo! — Alissa exclamou — Céus, você não tem noção do quanto eu quis ver vocês dois juntos, sério.

         Marina tirou uma mecha loira de cabelo do rosto, colocando-a atrás da orelha. Ela poderia simplesmente passar o resto do dia falando sobre o como a sua noite com Ashton fora, contudo, ela conhecia Alissa. E conhecendo a garota, era de saber que para ela ceder e aceitar o pedido de namoro de Calum, significava que ela tinha deixado ele passar por uma de suas barreiras que ela tinha construído com tanto esforço. Então, acabou sorrindo de uma forma quase maternal, orgulhosa pela amiga.

         — Ali, eu estou muito feliz que você e Calum estejam juntos agora. Sério, me preenche o coração saber que você está deixando alguém entrar. Você merece tudo o que está acontecendo agora. Nunca duvide disso.

         O sorriso de Alissa estremeceu enquanto a garota tentava conter as lágrimas.