Somos Nó(s) escrita por Anny Andrade, WinnieCooper


Capítulo 8
Me Espera - I


Notas iniciais do capítulo

Nós resolvemos escrever duas partes de Me Espera porque achamos que fará muito sentido.
Espero que aproveitem essa leitura, temos um carinho enorme por esse personagem e gostamos de mostrar o quanto ele não é apenas um alivio cômico, sempre foi muito mais que isso.

Boa leitura.



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Eu ainda estou aqui
Perdido em mil versões irreais de mim

Estamos sentados na traseira de um carro trouxa que alugamos apenas para isso. Acho que chamam de caminhonete. Eu vejo o brilho nos olhos deles e também sinto uma euforia bem dentro de mim, vibrando por todos os meus poros. Ela por outro lado, parece que está se divertindo com nossas expectativas, como se vivesse isso sempre.

Nós ajeitamos cobertores na traseira, almofadas. Me deixo sentar ao meio, ela ao meu lado encostando a cabeça em meus ombros. Rose do outro lado sendo abraçada por mim, Hugo ao lado dela comendo bolinhas brancas que chamam de pipocas. Não entendo o sentido do nome, mas sei que gosto de comer assim como meu filho mais novo.

O sol começa a se despedir do céu tingindo tudo de laranja e rosa. É bonito de assistir. Ficamos aproveitando o momento. Quando já está escuro o suficiente a tela se acende, revelando um filme. Pelo que ela explicou, um filme infantil.

Rose ri animada assim como Hugo. E mais do que os dois eu dou gargalhadas, na maior parte do tempo. Quando o menino chama a ave de Kevin, quando o cachorro diz inesperadamente a palavra esquilo, tudo é bonito e engraçado. Tudo menos o começo.

No começo meus filhos me olham preocupados enquanto ela sorri para mim.

― É só um filme Rony. – Sua voz é suave, tem um fundo de compaixão. Eu sei que é um filme, mas quando aquela senhora não consegue engravidar choro. Quando eles gastam o dinheiro da viagem choro. E quando ela morre choro mais ainda.

— Tem certeza que isso é para crianças?- Pergunto enxugando minhas lágrimas.

Ela finalmente solta a risada que prendia.

― Quem diria... – Hermione toca em meu rosto. - Você trocou a colher pela xícara inteira.

Não entendo o que ela quer dizer. Hugo e Rose começam a rir do garotinho que bate na porta do senhor.

― Quantas versões de você serão capazes de me fazer te amar? – Ela pergunta.

— Espero que todas. – Dou um beijo em minha esposa, abraço minha filha mais forte e volto a prestar atenção no filme.

O filme que me fez rir e chorar. E pensar em toda nossa vida. Na minha. Na dela. Na que estamos construindo todos os dias.

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.

Estou aqui por trás de todo o caos
Em que a vida se fez

Ela está horrível. Naquele vestido azul que caiu tão bem, naquele salto que nunca a vi usar, com aquele cabelo liso que nunca mostrou para mim. Está fazendo tudo errado pela primeira vez na vida, ao dançar com ele e sorrir pra ele, interesseira, é isso o que ela é, e tenho certeza que essas palavras maldosas que ouvi na noite de hoje de diversas outras garotas são verdadeiras. Estou prestando atenção somente nela e acho que meu par de baile está cansando. Só escuto ela bufar, ou bater seus pés nos meus acidentalmente, como que para chamar a atenção já que só tenho olhos para Hermione Exuberante Granger. É quando ela se senta a mesa conosco. Abana a mão em seu rosto como que para confirmar que estava com calor, calor por dançar com Krum, calor por estar com ele. Ufg tenho vontade de vomitar. Só que o que faço é jogar na cara dela que está confraternizando com o inimigo. Porque de fato ela está, ele é inimigo de Harry e Hermione é amiga de Harry, me admira ela ser tão inteligente e não perceber isso. Que Krum a convidou por puro interesse em saber as estratégias de Harry. Estou tentando explicar isso para ela. Mas ela só grita comigo. Falou algo sobre biblioteca. Meu estômago embrulha. Ele estava indo pra biblioteca para tentar convidá-la para o baile. Ufg! Imagino eles juntando as mãos e encostando seus rostos e ela lhe explicando alguma coisa difícil ou só ensinando ele a falar seu nome. Ufg! Estou enjoando com essa imagem perturbadora em minha cabeça. Jogo mais verdades na cara dela e quase vejo-a chorar. Sua voz tá tão aguda. Quando o chamo de Vitinho é a hora d’água para ela sair de perto da gente.

Eu tenho tanta raiva dentro de mim. Não sei explicar o que está acontecendo. Como ela pode se mostrar tão. Tão. Tão perfeita quando está com ele. O resto da noite passou como um flash, meu par desistiu de mim para ir dançar. Krum apareceu e eu o dispensei. Percy estava nos deixando entediados. Andei com Harry e encontramos Hagrid. No fim vi ela novamente. Se despedindo dele, só conseguia pensar nos sorrisos que ela lançava para ele, nas suas bochechas erubescida com o toque dele em sua mão, ufg! Harry começou a conversar com alguém e eu segui ela quando vi que estava sem ele.

― Como se sente depois de uma noite como essa? – minha voz saiu tão trêmula, não sabia que podia sair assim.

― O que está dizendo? – ela virou para mim com o rosto completamente vermelho. Já estávamos no salão da Grifinória. Não me lembrava de ter chegado lá.

― Ora uma noite mágica. Vivendo um grande baile com um príncipe estrangeiro. Deve estar se sentindo realizada ao enganar todo mundo com aquele papo de “sou certinha, gosto de estudar, sou defensora dos elfos”. – tinha tanto desdém em minha fala. Não me surpreendi quando ela explodiu comigo.

― Você é um completo idiota Ronald Weasley! – gritou com os cabelos se desgrudando de seu penteado. – Eu sempre estive do seu lado. Você nem pensou em me chamar para o baile.

― Isso não tem nada a ver... – comecei a falar.

― Tem tudo a ver! Eu não sou sua última opção!

― Eu nem achei que você fosse uma opção. – confessei. Sentia meu rosto quente vermelho. – Eu só não gosto de te ver com Krum.

― Ora, se você não gosta, então sabe qual é a solução não sabe? – ela estava com raiva, casa vez mais vermelha.

― Ah é? – berrei no mesmo tom. – Qual é?

― Da próxima vez que houver um baile, me convide antes que outro garoto faca isso, e não como último recurso!

Tentei abrir a boca para falar alguma coisa, mas as palavras dela me atingiram em cheio. Enquanto ela pisava alto e subia para seu dormitório eu só pensava que queria ir ao baile com ela ao baile, só não queria admitir que ela estava certa como sempre. Reparei que o Harry estava do meu lado e simplesmente me fiz de desentendido fingindo que Hermione não tinha entendido nada, sendo que ela na verdade tinha entendido tudo.

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Tenta me reconhecer no temporal
Me espera

 É a minha primeira noite como o único responsável por eles. Estou morrendo de sono e aparentemente eles dormem tranquilamente. Mas quando estou prestes a sair do quarto um deles acorda. Acho que é Hugo, ele é muito apegado a mãe, foi extremamente difícil faze-lo fechar os olhos. Mas na verdade é Rose, que saiu da cama e estava na porta olhando assustada para mim.

Ignoro meus olhos quase fechando e volto para perto dela. Ela segura minha mão com suavidade e voltamos para o quarto. Seus olhos ainda arregalados. Ajeito os travesseiros e a coloco na cama apertando o cobertor em volta de seu corpo a transformando em um casulo de Rose.

― Estou com medo papai. – sua voz fininha sussurra como se alguém pudesse escutar.

― Querida, está tudo bem. – tiro o cabelo de sua testa. – por que está com medo?

Ela respira fundo e aponta para a janela. E eu sinto um arrepio terrível. E descubro o que não está deixando minha garotinha dormir. Eu provavelmente não dormiria com aquilo me encarando e me atormentando a noite inteira.

― Uma aranha papai... – Ela esconde o rosto nas cobertas. E sinto que as lágrimas estão prestes a sair de seus olhinhos tão azuis quanto os meus.

Tento resgatar a coragem que me colocou na Grifinória, torcendo para não ter sido apenas um legado e preguiça do chapéu seletor em pensar um pouco mais sobre mim. E me levanto segurando minha varinha pronto para atacar.

Odeio aqueles olhos me encarando, aquela teia asquerosa sujando os vidros. Vou com passos lentos e sussurro um feitiço para que a janela se abra, outro feitiço para que o bicho nojento voe para o mais longe possível. Fecho a janela e volto para perto de Rose. Minha filha parece aliviada. Eu preciso de um banho para desinfetar meu corpo de qualquer poeira infectada por aquele animal que possa ter ficado em mim.

― Pronto querida, agora pode ficar tranquila. – Digo isso, mas anoto mentalmente que no dia seguinte terei que fazer algo a respeito. Vai que a aranha tenha deixado filhotes perdidos pela casa prontos para atacar minha família.

Mentalmente questiono, porque sempre aranhas. Borboletas são muito mais bonitas e coloridas. Além de possuírem pouco tempo de vida.

― Obrigada Papai. – ela me abraça. – Te amo.

E sinto que poderia enfrentar todas as aranhas do mundo. E somente duas pessoas tinham sido responsáveis por isso.

Volto para meu quarto. Hermione ainda está apagada após a poção que tomou para se recuperar de uma forte gripe. Ela estava exausta por fazer tantas coisas. Beijo sua testa.

Parado em minha porta vejo Hugo.

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.

 

Tenta não se acostumar eu volto já
Me espera

Ela estava nervosa. Seu rosto vermelho. Gritava comigo querendo Me impor suas verdades e eu rebatia. Gritávamos sem importar se nossos filhos estavam ouvindo. Ou os vizinhos.

― Qual é o seu problema?! – sua voz esganiçada. Seus cabelos se bagunçando. – Humilhar o menino daquele jeito.

― Você queria que eu fizesse o que?! Aceitasse o Draco como namorado da Rose?! – e eu berrava na mesma intensidade que ela.

― ELE NÃO É O DRACO! – urrou raivosa. – É um menino gentil. Me trouxe flores, elogiou minha comida.

― Tudo ensaiado! Não quero entregar Rose para um comensal.

Ela bufou. Ficou mais vermelha. Achei que ia começar a me bater.

― Abra sua mente! Pelo amor de Deus! Ele não é o pai. Parece que não entende a gravidade do que fez. Perguntar da marca negra dele. Ronald Weasley, achei que tivesse evoluído seu senso, mas pelo visto eu estava enganada. – ela cruzou os braços. Podia ver algumas lágrimas de ódio se formando no canto de seus olhos.

― Eu sei o que está acontecendo com você. Está preocupada com sua carreira política. – ela começou a negar com a cabeça indignada pela verdade que jogava na sua cara. – Já posso imaginar a manchete amanhã. “Marido de primeira-ministra da magia humilha filho de ex-comensal da morte”.

― Não a matéria sairá assim “Primeira-ministra permite que marido humilhe o namorado da filha por ser filho de ex-comensal. Onde está a palavra de um mundo sem preconceitos que ela tanto prega?”.

― Não te disse? Está pensando na sua carreira. – é a gota d’água. Ela pega a primeira coisa que vê e lança em minha direção. No caso o livro que estava em sua cabeceira.

― Vai voltar ao Opugno?! – perguntei sarcástico não querendo perder a discussão.

― Não. Você vai dormir no sofá hoje! – ela me começa a me empurrar para fora do quarto. Mas eu, muito mais forte que ela não me mexo.

― Não vou sair. Se quiser você que vá!

― Ótimo! – ela começa a me dar socos. Socos e mais socos. Começa a chorar de raiva e eu seguro seus braços. Não permito que ela continue a fazer isso.

― Hermione se acalme. – peço com a voz bem menos raivosa.

― Não vou me acalmar. – sua voz sai entrecortada devido ao choro, isso corta meu coração.

Eu a abraço. Ela tenta se esquivar no começo, mas acaba cedendo e me abraça ainda deixando lágrimas escorrerem de seus olhos.

― O garoto realmente gosta dela.

― Eu sei. – não queria admitir, mas ele tinha coragem em aceitar meu desafio do xadrez.

― Ele parece querer cuidar dela.

― Eu sei. – não queria admitir, mas reconheci o olhar dele sob Rose assim que entrou em casa. Era o mesmo olhar que Hermione me lançou antes de me beijar pela primeira vez.

― Ele não é o pai.

― Eu sei. – não queria admitir, mas apesar de ser a cara do pai o garoto era completamente diferente dele naquela idade.

― Ele deve sofrer muito por causa do preconceito de seu sobrenome.

― Eu sei. – não queria admitir, mas eu mesmo ainda cultivava esse preconceito.

― Devemos mandar algo como pedido de desculpas e chama-los para um jantar.

― Eu sei. – terminei. Não podia ser um ignorante para sempre e não querer que Rose crescesse e tivesse alguém para ama-la. Alguém que estava disposto a enfrentar o pai e ouvir barbaridades. Alguém que não se importava por ela não ter uma beleza padrão.

Por fim, ficamos abraçados durante um bom tempo. Eu acariciando seus cabelos ela deitada sob meu peito. Às vezes é preciso crescer e deixar que os preconceitos vão embora. Eu só não estava ainda preparado para uma coisa.

― Vou ter que pedir desculpas nesse jantar?

― Com certeza. Você conseguiu deixar Rose chateada com você. Coisa que nunca aconteceu antes.

Não sabia que o maior desafio de minha vida fosse na meia idade tendo que aturar o sogro de minha filha e ter que lhe pedir desculpas. Preferiria enfrentar aranhas.

.

.

 

Eu que tanto me perdi
Em sãs desilusões ideais de mim

Ele carregava aquele maldito boneco trouxa. Aprendi a apreciar muito a cultura dos trouxas, as maneiras como conseguiam tornar a vida deles mais fáceis, principalmente quando se tratava de entregas de comida na porta. Mas nunca iria entender o jeito que cultuavam homens esquisitos que destruíam cidades inteiras dizendo que estavam tentando salvar o mundo, e o pior deles era aquele que seu filho carregava por toda a casa.

Hoje seria o dia de enfrentar aranhas por todas as partes.

Deixo Hermione dormindo e pego o pequeno Hugo nos braços. Voltamos para o quarto, agora Rose dorme tranquilamente. E meu filho me olha sorrindo com pequenas sardas em seu nariz, quando olho para ele me reconheço no mesmo instante. Meus irmãos mais velhos sempre que nos encontramos dizem o quanto eu tive cópias de mim.

― Papai o homem araranha não quer mimir. – Ele diz esticando o boneco em minha direção.

― Talvez pudéssemos joga-lo na privada, quem sabe ele dormiria. – Falo brincando, mas talvez querendo realmente fazer isso.

― Não... – ele abraça o boneco e vejo seus olhos lacrimejarem e sei que sou um péssimo pai.

― Era brincadeira Hugo... – Me deito na cama minúscula tentando deixar o máximo de espaço para meu filho e o tal homem aranha. No final desisto e me sento no chão.  – O que podemos fazer para que ele consiga dormir?

Meu filho pensa por um momento e sorri.

― Uma historinha... – Ele suspira esperançoso.

― E um bom chocolate quente. – Sei bem o que meu filho espera que acompanhe suas historinhas. Mesmo com três anos posso perceber que seu gosto por bebidas quentes e doces é bem parecido com o meu.

Descemos para a sala. Ele abraçado ao boneco, de mãos dadas comigo. Somos uma dupla de exploradores. Acendo a luz da cozinha e faço tudo que preciso fazer. Depois sentamos na poltrona de Hermione perto dos livros, Hugo em meu colo, o boneco no colo dele. Vejo meu garotinho bebendo todo o líquido cremoso, vejo seus dedos apontando para um livro específico, um que eu não conheço, mas que aparentemente é seu preferido.

Espero ele acabar o líquido, somente quando estamos confortáveis, ele deitado com a cabeça em meu peito começo a ler de onde acredito que eles tenham parado. Era algo que faziam toda noite, Hermione sempre lia histórias para nossos filhos.

Seus cabelos laranja caem sobre os olhos que brilham assim que começo a ler. A história tem piratas e fadas, não como as fadas que conhecemos, as fadas dos trouxas são seres de luz, asinhas fofas e bondosas, não compreendo. Sigo lendo palavra atrás de palavra porque apesar de todas as diferenças a história é interessante.

Quando termino a terceira página sinto a respiração pesada de Hugo, adormecido em meu colo, abraçado com o boneco horrível. Sinto meu coração se encher de algo que não têm explicação.

― Te amo meu baixinho. – Digo o abraçando com cuidado.

Quando o coloco na cama ele aperta ainda mais o boneco. Dou um beijinho em sua testa. E penso o quanto eu sou sortudo.

Hermione também dorme. Eu também beijo sua testa. Também digo que a amo. E então resolvo terminar o livro porque agora não tenho mais sono.

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.

 

Não me esqueci de quem eu sou
E o quanto devo a você

Ela esta linda. Naquele vestido Lilás que lhe caiu estupidamente bem. Naquela sandália de salto que só a vi usar uma vez. Está linda com aquele cabelo liso e sedoso, com aquela maquiagem simples e perfeita em seu rosto. Não consigo me controlar e expresso meu espanto por sua beleza. Ela me cutuca falando “sempre o tom de surpresa”. Com certeza estou apaixonado, não acredito que tia Muriel a crítica e nem que Viktor Krum tenha aparecido. Búlgaro nojento no casamento de meu irmão. Não era algo que esperava que acontecesse. Com certeza está tentando provar que é melhor que eu e que Hermione o olharia em relação a mim. Ufg! Tenho vontade de lhe dar um soco no nariz quando ele elogia ela. Minhas orelhas estão vermelhas tenho certeza disso. Finalmente a cerimônia vai começar e arrasto Hermione para sentar ao meu lado e de Harry num dos bancos. Me certifico que Krum está bem longe. Ela se emociona na cerimônia e quando o juiz fala “unidos para toda vida” quero segurar sua mão, mas como um covarde que sou não o faço. Ela está com lágrimas nos olhos.

Acho uma mesa bem longe da visão de todos para que Krum não nos ache. Sentamos com Luna. Só que quando acho que me livrei ele aparece. Começa quase a humilhar a família excêntrica de nossa amiga. Não aguento, estou com medo dele me vencer de novo. Encaro Hermione e peço para dançar com ela. Ela parece surpresa, mas aceita. Só no meio do caminho para a pista de dança que me lembro que não sei dançar, que não sei no que fazer e que não tem nenhum capítulo em “Doze maneiras seguras de encantar bruxas” que tenha o passo a passo do que fazer numa dança.

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Tenta me reconhecer no temporal
Me espera

 Ela está me olhando chorar. Estou desesperado. Não Aguento mais ver minha mãe calado. Meu pai trancado na garagem. Minha irmã fugir de seus problemas. De George fechar os olhos para não se ver no espelho. Não aguento ter que ser o irmão são da casa. Que tenta colocar ordem na dor da morte de Fred. Foi tudo tão difícil, está sendo muito mais difícil voltar a rotina depois da morte dele. Ela senta-se ao meu lado, limpa cada uma de minhas lágrimas. Quero lhe dizer para não se acostumar com esse meu eu. Que eu volto logo a ser o Rony que faz piadas nas horas mais impróprias que lhe arranca um sorriso em meio a guerra, mas não o faço. Ela parece entender e me dá um beijo no rosto e diz:

― Eu te espero.

Sei que estou pedindo muito. Ficar esperando por outro alguém por tempo indeterminado. Mas quando nos tocamos me lembro que é isso que fizemos o tempo todo. Ficamos esperando o momento certo, perdendo vários momentos que teriam sido incríveis. Eu esperei o último minuto para a convidá-la para o baile de inverno e perdi a oportunidade. Ela esperou o muito tempo para me dizer algo e perdeu meu primeiro beijo. Nós dois desperdiçamos nossos primeiros beijos em pessoas que nunca entenderiam tão bem quem somos.

Ela segura meu rosto entre suas mãos.

― E você? Me espera?

Hermione tem planos. Ela sempre está um passo a frente de todos nós. Eu sei que é pedir demais para uma pessoa esperar. Mas como poderíamos ter outra opção nessa altura do campeonato. Depois de aprender que sempre voltamos um para o outro. Seja na amizade. Seja no amor.

Eu aceno afirmativamente e a beijo entre todas as lágrimas que não posso mais controlar. Elas escapam antes que eu tenha tempo de me policiar. Elas apenas escapam. A garota em minha frente também chora e nosso beijo tem gosto de lágrimas.

― Para sempre. – Falo quando terminamos de nos beijar. – Te espero o tempo que for preciso.

Ela se aninha em mim. Respira profundamente.

― Eu também o tempo necessário.

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.

 

Tenta não se acostumar eu volto já
Me espera

 Sinto todo o peso da idade. E quando olho em volta percebo o quanto a vida nos prega peças, vivemos ela como se não houvesse fim, vemos os anos passando sem realmente percebemos o quanto passam rápido e o quanto cada ano nos leva mais perto do adeus.

É como um soco no estômago. Não importa quantas vezes aconteça, nós nunca nos acostumamos com esse adeus. Com a partida. Tento ignorar a dor nas costas, as pernas cansadas, os olhares em cima de nós. Estou olhando para frente com as lágrimas secas, já tinham caído com tanta frequência que aparentemente precisavam de uma folga para se recuperaram, de certa forma um alento aos meus olhos vermelhos.

E estou ao seu lado dando apoio para que ele permaneça de pé, mas sei que o maior apoio é o jovem ruivo que ainda tem lágrimas para derramar e as derrama sem cerimônia. Ele o segura com facilidade, o mantém firme. E sei que agora talvez ele seja sua maior âncora para se manter aqui, com todos nós. Por mais que a família seja grande e ele ainda tenha tantos filhos, netos e bisnetos somente meu Hugo é capaz de manter Arthur Weasley aqui.

Sua esposa ainda tem os cabelos coloridos, como se tivesse roubado todas as cores do dia, um dia triste, um dia cinza, um dia sem Molly Weasley.

Vejo quando ela se aproxima de nós três. Vejo o beijo que deposita na bochecha de meu filho, vejo seu sorriso em minha direção. Vejo ela dando as mãos ao meu velho pai, sua voz suave pede que ele a acompanhe. Uma trouxa em meio a uma despedida bruxa. Ela finalmente parece sair do transe em que se encontrava.

― Me espera. – sussurra em uma voz fraca, baixa. Para o vento. – logo voltaremos a ficar juntos.

Minhas lágrimas resolvem voltar. Ele se permite ser acompanhado por minha nora, por meu filho. Todas as outras pessoas se aproximam para se despedir, deixar que o vento leve mensagens através do ar. Quando sua mão me toca entendo perfeitamente a frase que meu pai disse. Porque as vezes esperar é mais difícil para quem pede do que para quem espera.

Beijo Hermione novamente com sabor de lágrimas, porque ao longo dessa vida, que pode ser tão breve, perdi as contas de quantas vezes nos apoiamos nos momentos mais difíceis. Sinto o vento em meu rosto, ele brinca em seu cabelo. E por um segundo voltamos as ter dezessete anos. No momento seguinte as rugas reaparecem e eu amo cada uma delas.

Mesmo quando eu descuido (me desloco)
Me desmando (perco o foco)
Perco o chão (e perco o ar)
Me reconheço em teu olhar (que é o fio pra me guiar)
De volta, de volta

...


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Notas finais do capítulo

Esperamos que tenham gostado.
Até a próxima...



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