Somos Nó(s) escrita por Anny Andrade, WinnieCooper


Capítulo 7
Abri os Olhos


Notas iniciais do capítulo

Oiiee leitores lindos!
Sabem o quanto vocês ajudam a gente a ter inspiração e vontade de escrever? Muito, cada palavrinha faz toda a diferença. Muita gratidão mesmo!

Apesar de ser narrado por um personagem único, podemos perceber muito sobre todos os outros personagens, espero que gostem.
Boa Leitura!!



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Sei mais do que eu quis, mais do que sou
E sei do que sei
Só não sei viver sem querer ser
Mais do que sou

Estou voando alto. Sinto o vento cortar meu rosto e não me importo. Quando se tem 11 anos estamos entre o querer ser criança e o não querer ser. Gosto de sentar no balanço que fica no fundo da casa dela. Gosto de apostar qual de nós dois conseguimos ir mais alto. Gosto de me arriscar pulando no último segundo e derrapando na grama que cobre o chão duro.

Seus cabelos estão curtos e uma franja quase toca em seus olhos. Suas sardas brincalhonas em seu nariz pequeno e frágil. Tão diferentes das minhas que tomavam conta quase do rosto inteiro.

As pessoas gostam de falar do primeiro amor, aquele dá infância, um tipo de amor que levamos pela vida toda. O primeiro. O mais puro. O que não sabemos nada sobre. Ali estava ela, meu primeiro amor. Balançado ao meu lado, rindo como se fosse muito mais divertido do que realmente era. Entregue ao vento.

― Lily, está nervosa para a escola? – Questiono e observo enquanto seu balanço vai perdendo forças até parar ao meu lado. Agora arrastamos os pés na grama.

Ela morde o lábio inferior, coça a cabeça e por fim respira fundo.

― Um pouco.

Ficamos em silencio por vários minutos, provavelmente ela estava pensando sobre a viagem de trem, sobre as vestes, sobre a seleção das casas. Eu estava pensando que Lily era a menina mais bonita que já virá em toda minha vida.

― Gosto de pensar que será uma aventura. – Ela suspira. – Vamos estudar em um lindo castelo e poderemos aprender mais sobre magia. É como...

― Um conto de fadas. – resmungo me culpando por ter sido o responsável por ela gostar tanto dessa fantasia.

― Exatamente. Quem sabe encontro príncipes encantados. – Ela suspira sonhadora.

Eu volto a balançar o mais rápido que consigo. Sabendo que nunca me encaixaria naqueles sonhos. Nunca seria seu príncipe porque eu era apenas o Hugo. Primo esquisito que gosta de coisas trouxas.

Pulo no momento errado e ao invés de cair em pé, saiu rolando deixando um rastro de arranhões em meu rosto, braços e pernas.

.

.

 

O fato é o ato da procura
E a cura não resiste só
O que era certo eu descobri
Nem sempre era o melhor

Eu sempre observei eles, meus pais, estão sempre implicando um com o outro, mas sempre estão se apoiando de forma singular. Vi quando meu pai teve que sair do ministério, minha mãe o abraçava mais frequentemente, parecia querer lhe dizer que estava tudo bem. Tudo bem se ele podia ter um horário mais flexível que o dela no trabalho, tudo bem se ele ganhava menos que ela. E ele a beijava lhe agradecendo com os olhos marejados. Todo dia no jantar faziam isso. Diziam que iam lavar a louça sem magia, só pra ficarem conversando sobre o que assombrava meu pai, falavam baixo, via os olhos dele apertados, ela apertava seus ombros. Eram o apoio um do outro.

Vi meu pai fazer a mesma coisa por ela pouco tempo depois quando minha mãe foi nomeada ministra da magia. Sim, minha mãe ministra da magia. Inimaginável e algo, completamente certo, Hermione Granger Weasley, a pessoa que mais lutava pelas minorias, que havia conseguido colocar regras e pagamento para os elfos, se transformou em ministra. Meu pai esbanjava orgulho. Muito mais que ela. Quando foi anunciada nova ministra ele estava ao seu lado. Seguravam a mão. Ele apertava a mão dela com muita força. Percebi porque os nós dos dedos de meu pai estavam brancos, e ela retribuía o aperto. Durante seu discurso inicial ele estava ao fundo a olhando todo orgulhoso com os olhos marejados. Teve certo momento que ela ficou sem fala, mas o olhou e logo prosseguiu. Eles eram assim. Apoio um do outro.

É claro também que eles eram brigas. Brigas ridículas como quando minha mãe chegava do trabalho e a casa estava de pernas pro ar e ela começava a ter um ataque de pânico. Brigas quando minha mãe achou melhor trocar de casa, por não ter tanta segurança onde morávamos por ela ser Ministra e ser um alvo. Meu pai amava nossa casa, minha mãe queria algo maior e mais seguro num bairro completamente bruxo.

― Tínhamos combinado de vivermos nos dois mundos. – ele implorou.

Ela começou a gritar com ele. Parecia mais estressada que o normal, disse que ele só queria morar lá porque gostava de energia elétrica, televisão, geladeira e o fato de pedir comida por delivery e eles entregarem em casa. Ele gritou que gostava de tudo isso mesmo e que ela estava sendo muito injusta, querendo acabar com nossas vidas só porque sua carreira era mais importante. Minha mãe começou a chorar. Nunca a vi chorar dessa maneira. Soluçava diante das palavras do meu pai. Ronald Weasley, se arrependeu na mesma hora do que disse e abraçou. Beijou sua testa e ficou a acariciando deixando que ela chorasse. Só então ele percebeu que eu estava os observando.

― Hugo! Vá para seu quarto. – ordenou. Eu fui. Comecei a subir as escadas. Mas eu amava observar. Sentei no topo da escada. Num lugar escondido nas sombras, e que me permitia observar sem ser julgado por isso.

― Eu não quero te ver chorar pela pressão. – meu pai disse muito baixo, mas mesmo assim consegui definir suas palavras.

― Eu pre-ciso do seu a-poio. – ela se afogava em suas lágrimas, sua voz abafada pelo rosto tampado no peito de meu pai.

― Eu sempre vou te apoiar. Podemos pensar em algo mais simples que mudar dessa casa. – ele acariciava os cabelos dela ao mesmo tempo que passava suas mãos por toda sua costa. – Você precisa parar de se cobrar tanto. Se cobrar de sempre estar 100% em todas as decisões no trabalho, se cobrar de seguir o protocolo nas entrelinhas, se cobrar para mudar a vida de pessoas e criaturas necessitadas. Você é incrível. A primeira nascida trouxa que virou ministra. Sabe a grandiosidade que significa isso? Você é única. E eu sempre estarei aqui para afogar suas lágrimas. Eu te amo.

Ela desencontrou a cabeça do peito dele, parecia ter controlado seu choro. Passou os dedos pelo rosto de meu pai, parecia agradecida por todas suas palavras por todo seu apoio.

― Eu não te mereço, você é maravilhoso em tantas proporções. – ele prontamente negou com a cabeça. Ela não deixou ele falar nada. – você é tão grandioso que nem nota, cuida dos nossos filhos muito melhor do que eu, consegue organizar nossa casa mesmo muito errado às vezes, porque eu estou fora o tempo todo, nunca me repele quando estou cansada, e preciso só de seu abraço, é tão compreensivo comigo. Ao mesmo tempo às vezes quero arrancar sua cabeça.

Meu pai ri, ele ri tanto que ela começa a dar tapas em seus ombros.

― Pare com isso. – ela estava quase rindo também. – Eu te amo, obrigada.

Ele parou de rir e a olhou mais apaixonado se possível. E a beijou. Não fiquei mais perto para observa-los já estava invadindo demais a privacidade deles. Quando fui pro meu quarto só pensei em quanto meus pais eram abençoados por terem um ao outro. Eu desejei ter aquilo um dia.

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Abri os olhos
Não consigo mais fechar
Assisto em silêncio
Até o que eu não quero enxergar

E eu estava lá, apaixonado. Não sei quando isso aconteceu. Eu sempre só tive olhos para a Lily, nunca permiti que nenhuma garota chegasse perto de meu coração. Mas ela abalou tudo que tinha em mim. Talvez tivesse sido minha vontade louca de cura-la. E eu observava seu rosto cheio de micro cicatrizes. Tentava desenha-la. Ela encarava o sol nascendo e tinha os olhos fechados. Como se absorvesse toda aquela luz e quisesse colocá-la dentro de si aquecendo seu coração.

Não me controlei. Estiquei meus braços e a toquei no rosto. Passei meu dedo por cada cicatriz. Ela sorriu ainda de olhos fechados.

― Você é único não é Hugo? – perguntou mais para si mesma. Eu não respondi.

Ela me encarou e só conseguia pensar no quanto queria protege-la.

― Mora aqui comigo? – pedi quase desesperado.

Ela negou com a cabeça com um sorriso nos lábios. Se levantou e se aproximou de mim. Começou a me beijar. E eu retribui. Seus beijos eram sempre desesperados. E eu correspondia com o mesmo desespero.

― Achei que nunca se apaixonasse. – disse assim que saiu de meus lábios.

― Todas as outras não eram você. – confessei hipnotizado.

Queria fazer com ela o que vi meu pai fazer a vida inteira. A apoiar em meio aos choros, lhe abraçar sempre que possível, cuidar dela. Precisava cuidar dela. Eu precisava no entanto tirar um segredo de dentro de mim que poderia a afastar para sempre.

― Preciso te contar algo. – pedi assim que ela se lançou para me beijar novamente.

― Tem que ser agora? – perguntou me ignorando. Beijando meu pescoço, bagunçando meus cabelos.

― É algo meio sério. – falei tentando controlar meus impulsos de a beijar com a mesma intensidade.

― Vai me pedir em casamento? – ela começou a rir e me encarou.

E eu pensei mesmo, em casamento, nossa própria casa, eu com ela sem ninguém podendo a machucar. Mas precisava dizer algo antes.

― Eu sou bruxo.

Ela me olhou intrigada pela minha fala. Começou a rir. Ria tanto que eu me sentia péssimo e cada vez menor. Expliquei a ela que existiam dois mundos. E que eu amava viver nos dois. Ela prestava atenção em cada palavra, mostrei minha varinha, mostrei o feitiço de levitar. Ela não expressava nenhuma reação a me ver explicar meu mundo, a me ver demonstrar magia. Eu só torcia para que ela não se afastasse de mim depois disso tudo.

.

.

Não sei afastar
A dor de saber
Que o saber não há
Só não sei dizer
Se esse meu ver
Se pode explicar

“É sempre você. Você que me conhece como ninguém. Que me resgata toda vez. Que parece me embalar em seus braços com palavras certas e gestos certos. Você que me conhece do pior jeito, da pior forma e não se afasta, não tem medo. Na verdade permanece, me reergue, me direciona a prosseguir. Apesar dos erros, apesar de sempre o massacrar. Eu queria ser a melhor pessoa para você. Queria ser a sua pessoa. Queria fazer a mesma coisa que faz por mim. Porque você é único Hugo. O melhor amigo que alguém poderia ter, o melhor primo, com certeza o melhor filho, o neto preferido. Você é incrível e merece muito mais do que eu. Merece muito mais do que posso ser pra você. Eu não te mereço, mesmo me dizendo que não existe isso de merecimento. Me desculpe por te beijar. Me desculpe por massacrar seu coração pela milésima vez. Eu preciso partir, ficar um tempo longe, me reencontrar sem você. Te desejo felicidade em seu relacionamento com a garota dos cabelos coloridos que até onde percebi, não te deixa triste e nem deixa seu coração fragmentado. Acho que se uma palavra te definisse seria essa: Fragmentos. Tenho fragmentos de você em mim. Quero permanecer com esses fragmentos. Eu te amo. De um jeito não banal, do jeito mais verdadeiro possível. Espero que me ame ainda. Lily”

 

.

.

 

 

Enquanto eu penso, tanto entendo
Que é mais fácil não pensar
O que era certo, eu aprendi
A sempre questionar

Estamos sentados em uma micro sala, olhando para uma micro mesa enquanto esperamos pela comida. E apesar de tantas pequenezas o seu sorriso estava maior do que nunca.

Seus olhos brilhando. Suas roupas não mais pretas, não mais largas, não mais escondendo todas as cores que sempre teve dentro de si. E eu estou encantado com essa nova imagem que ela me apresenta.

Rose, sempre tinha opiniões fortes sobre assuntos importantes, enfrentava nossa mãe de frente, era capaz de descobrir meus problemas com apenas um olhar. Ela era nosso pai, emocionalmente. Eu era ele, fisicamente. Mas mesmo sendo tão forte, minha irmã se escondia dentro de roupas feias, camisetas que cobriam seus braços, tentando se manter invisível mesmo que fosse impossível com tudo que tinha a oferecer ao mundo.

Quando ele coloca os pratos em nossas frente e beija o ombro descoberto dela eu percebo que somente Scorpius foi capaz de enxergar o que ela insistia em esconder.

― Você está diferente. – Digo porque parece o certo. Parece o justo.

Ela sorri e aperta minha mão. Como sempre fazia quando eu ficava irritado com o mundo.

― Estou? Eu acho que me libertei. – Ela começa a comer sem medo do meu olhar, sem medo do olhar de Scorpius.

Em nossa casa ela sempre começava a comer depois que todos terminavam, ou quando nossa mãe saísse da mesa. Ela vivia presa na cozinha ou em seu quarto. Quando estava em Hogwarts eu percebia que suas refeições nunca eram com a nossa, uma vez vi ela entrando na cozinha. Os Elfos, diferentes das pessoas, não julgavam.

― Como eu faço isso?

Preciso saber. Porque por mais que eu tente continuo preso a memórias e a desejos. Sempre buscando o que não tenho, desprezando o que me é oferecido. E apesar de manter os olhos abertos pareço não conseguir enxergar.

― Hugo, eu não sei. – Ela ri. – acho que acontece naturalmente. A vida de prende, te sufoca, você briga com ela. De repente a vida te solta. Te mostra o que importa. Esfrega na sua cara quem importa. Te ajuda.

Scorpius parece hipnotizado com as palavras. Perto dela ele sempre parece hipnotizado.

― A vida te mostra, mesmo quando não quer enxergar.

Suas palavras me fazem sorrir. E enquanto imploro para que a vida seja mais rápida porque não estou aguentando essa demora, meu telefone toca.

Número desconhecido.

Rose começa a rir.

― Talvez seja a vida.

.

.

 

Abri os olhos
Não consigo mais fechar
Assisto em silêncio
Até o que eu não quero enxergar

Estou na sala da diretora. E pelo visto preciso controlar meus instintos. Logo eu que fico sempre observando os outros, logo eu que nunca entro em confusão. Deixo isso para os outros membros da família. Meus primos são bons em arrumar confusão e minha irmã se esconde quando o assunto é ela, mas adora debater com os professores, na verdade com todos os adultos. Mas agora sou eu que tenho que controlar meus instintos.

Estou segurando um pano com gelos sobre meus dedos, já que antes da enfermaria fui arrastado para a diretoria. O quadro de Dumbledore sorri e pisca para mim como se aprovasse meus atos. Alguns outros balançam a cabeça em negativa a mim ou talvez a aprovação do antigo diretor.

Quando Mcgonagall retorna sei que estou perdido. Porque ela não volta sozinha. Logo atrás dela Hermione Granger-Weasley possui a face carrancuda e os olhos estreitos. E se isso já parecia ruim, Ronald Weasley sorria admirando o escritório que a muito não via.

Cada um sentou de um lado. Eu, no auge dos meus 14 anos, me sentindo minúsculo no meio dos dois.

― Gostaria de saber porque são sempre os filhos de vocês. – A diretora perguntou cruzando as mãos embaixo do queixo.

― Sinceramente. – minha mãe me encara. – Me pergunto isso todos os dias.

Vejo meu pai reprimir uma risada. E sei que isso não é um bom sinal. Risadas só faram mamãe ficar ainda mais brava.

― Hugo, o que aconteceu? – ele pergunta ignorando as mulheres e eu fico aliviado com sua presença.

Respiro fundo. A raiva está voltando. Lembro de Lily chorando dizendo que o idiota do seu namoradinho estava fazendo sofrer, prendendo ela, não deixando que ela brilhasse como a luz que era. Fecho minhas mãos com força. Respiro fundo novamente. Faço isso até me acalmar. Eu já tinha quebrado a cara dele, de qualquer forma.

― Lily precisava de ajuda. – Resmungo. Eu sempre ajudaria minha prima, deveriam saber disso.

― Não poderiam conversar? Resolver as coisas assim? Violência só gera mais violência. – Minha mãe começa. – A diretora Mcgonagall teve que intervir. Eu e seu pai deixamos nossos empregos...

― Querida... – Meu pai a toca. – Acho que ele já entendeu.

― Ronald, pare de apoiar os erros de seus filhos. – ela diz nervosa. – Estou tentando mostrar que isso está errado.

― Ele sabe que está errado. Veja como está a mão dele. Ele estava defendendo a prima e se bem me lembro de uma certa garota deu um soco em um certo garoto insuportável na época da escola.

O rosto de minha mãe ganha uma tonalidade vermelha. E ela disfarça um sorriso. Está voltando aos velhos tempos. A diretora parece se lembrar também o que proporciona um momento constrangedor de todos os adultos saudosos. Sou liberado. Eles permanecem conversando.

Do lado de fora da sala sou recepcionado por um abraço, um beijo no rosto. Migalhas que sempre são suficientes para me abastecer.

Lily sorri.

E eu sei que faria tudo novamente.

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.

Abri os olhos
Não consigo mais fechar
Assisto em silêncio
Até o que eu não quero enxergar

Ela aceitou, vir a casa de meus avós e ser apresentada como minha namorada. Ela estava hipnotizada observando todos os detalhes da Toca, meu avô hipnotizado perguntando vários detalhes da vida trouxa pra ela. Ela sorria. Eu segurava suas mãos e sorria. Rose me olhava feliz. Grávida de seu primeiro filho, parecia orgulhosa que seu irmão estava se permitindo amar e ser correspondido. Em meio a todos os parentes, todos os primos e seus agregados, a todos nossos tios, mais de trinta pessoas nos observando, conversas altas e risadas, música da cantora preferida da vovó. Reparei nela. Estava incomodada, engolia em seco toda vez que meu avô perguntava algo diferente e ela respondia sorrindo, suspirava toda vez que Rose dizia que ela era incrível no trabalho que tinha e o quanto me fazia feliz, se contorcia na cadeira toda vez que beijava a mão dela ou relava com carinho em seu cabelo colorido. O ápice foi quando disse que estávamos noivos e pedi para casar na toca. Como nossa velha tradição pedia. Todos nos deram parabéns. Ela correu para os jardins. Eu sabia que algo estava errado. Então, assim que vi Íris, se distrair com o relógio da família com Lucy explicando tudo a ela. Fui atrás dela.

Estava num lugar que íamos muito quando crianças. Um lugar escondido perto do lago, entre duas árvores, afastado da casa. Ela estava suspirando com os olhos fechados, sentada no chão com o vento assoando seu cabelo grande e liso. Estava linda como sempre foi. Então percebi uma lágrima escorrendo.

― Não me deu os parabéns. – percebi que ela se assustou com minha fala. Abriu os olhos, mas não me encarou.

― Parabéns! – disse soando falsa.

― Eu não podia te esperar pra sempre. – disse a verdade que sabia.

― Eu sei. – ela voltou a fechar os olhos. Sentei ao seu lado.

― Talvez mesmo sabendo você ainda desejasse o oposto.

Ela me olha como se eu tivesse revelado segredos obscuros.

― Me acha tão egoísta assim?

― Você sempre soube o que eu sentia? – No lugar de respostas eu faço outra pergunta. Porque sempre achei que todos sabiam inclusive ela.

― Eu percebi. Quando quebrou o nariz daquele garoto em Hogwarts. – Lily confessa deixando de me olhar.

― Tínhamos 14 anos, Lily. – Falo calmamente. – Estamos muito longe dessa idade. E eu passei quase vinte anos te amando. Porque antes mesmo disso eu já te amava.

― Se me amou por tanto tempo, como de repente deixou de sentir?

Como explicar que não deixei de sentir, que apenas se modificou dentro de mim. Que o amor foi deixando de ser paixão, de ser idealização, de ser necessidade, se transformando apenas em lembranças.

― Como me trocou por ela? – Lily finalmente falou o que seus olhos diziam desde o instante que minha noiva adentrou a Toca.

Eu colhi um flor. No meio do caos em que me encontrava encontrei ela que parecia ter enfrentado tempestades e ventanias, que deixavam suas pétalas murchas, arranhadas, destruídas. Uma flor que não tinha sido cuidada como deveria, mas ainda trazendo cores e perfumes que até então eu desconhecia. Mas não era uma flor alta. Não era uma flor padronizada. Não era uma flor que se vestia como as outras. Era uma flor com curvas um pouco a mais, menos como Lily, mais como Rose. Porém também não como Rose. Única.

Enquanto percebo que estou cercado de flores em minha vida, penso em tudo que sei sobre mim. Sobre Lily. Sobre Íris.

― Porque não escolheria ela? – Questiono sabendo o quanto somos perfeitos um para o outro.

E é nesse momento que sinto seus lábios nos meus. Sem aviso. Seu corpo junto ao meu. A pressão de sua boca. E nada de borboletas. Nada de coração acelerado. Nada de estrelas. Apenas um beijo como todos os outros que dei durante anos, até encontrar minha flor preferida.

Nos separamos. Eu sei que ela sabe.

― Nosso tempo passou. – Ela define.

Eu afirmo.

O tempo não espera, ele vai seguindo sem pausa.

.

.

 

Sei mais do que eu quis
Mais do que sou
E sei do que sei

Abri os olhos não consigo mais fechar

Quando volto para a sala estou com meus olhos marejados. Entre todas as minhas observações essa sempre é a pior. Observar as pessoas que eu amo envelhecendo. Talvez essa seja algo que compartilhamos com os trouxas. Ninguém ensina a entender esses momentos da vida. Não importa se somos bruxos ou não. O envelhecer nos pega sem aviso, nos deixa perdidos.

― Hugo? – Sua voz me acerta como se eu estivesse de volta ao porão.

Ele senta ao meu lado e coloca os braços em volta de mim.

― Ela me confundiu com você. – Falo sem conseguir me controlar. – Ela está se esquecendo de nós? Dos netos?

Não importa qual idade nós temos. Perceber que estamos sendo esquecidos dói mais do que muitas coisas.

― É um momento complicado. – Meu pai parece prestes a quebrar. Claro. Ela pode ser minha avó, mas é a mãe dele. Podemos esquecer isso as vezes. – Ela está esquecendo muitas coisas, mas jamais vai esquecer o sentimento que vivemos juntos.

― Sempre dizem que somos parecidos.

E somos. Fisicamente.

Escuto sua risada. Ele parece rejuvenescer alguns anos.

― Não gosta de se parecer comigo?

― Só acho que exageram. Somos parecidos fisicamente...

Ele me abraça apertado.

― Sinto orgulho sempre que dizem que se parece comigo. Somos fisicamente parecidos, mas somos mais do que isso. – Ele ri. – Eu também achava que era o filho menos amado. Pense como é difícil ter seis irmãos, cinco mais velhos e especialmente uma irmã mais nova. Também sentia que era sempre o segundo. A segunda opção em tudo. Nunca bom o bastante.

Sinto suas lágrimas molhando meu pescoço, mas o que escuto são risadas.

― Você é muito melhor do que eu. – Ele diz. – Inteligente, gentil, observador, o neto preferido de Arthur Weasley. Eu sinto orgulho quando te acham parecido comigo, é uma honra.

Então eu percebo. O motivo dela ter me chamado de Rony. E sinto vontade de sempre ser lembrado dessa maneira.


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Notas finais do capítulo

Estamos aguardando a opinião de vocês ansiosamente...
E o próximo capítulo talvez faça com que caiam ainda mais de amores por um certo patriarca.

Até o próximo!



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