Idiot, sweet idiot escrita por Any the Fox


Capítulo 8
Uma prova de amizade




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A semana de exames foi atribulada, stressante e correu com os percalços normais de pessoas que estudam. Mas no fim, passou num ápice, tão depressa que não deu tempo para os jovens se prepararem atempadamente para o acampamento que se avizinhava. Andaram numa azafama para conseguir encontrar tudo o que precisavam para terem um acampamento confortável, memorável e seguro (afinal, nenhum deles queria lembrar-se do acampamento pelos piores motivos). E assim, nem sabem muito bem eles como, conseguiram na devida segunda-feira estar todos prontos no local marcado… Ou quase todos.

            Os dez jovens juntaram-se à porta da casa de Valt, cada um conferindo aquilo que ficara a seu cargo. Shu revia novamente os mantimentos para a semana - ficara encarregue da alimentação do grupo - Por seu lado, Ken, tratava dos elementos necessários para a animação e Daigo dos primeiros socorros. Rantaro e Ranjiro enchiam a carrinha de Free com todas as malas e materiais que pensavam levar (mas provavelmente ia falhar alguma coisa). Cyrus não tinha grande vontade de ir com eles, mas acabou por aceitar ser o motorista. Já que estava no Japão, ia visitar mais uns sítios. Aiger sentia-se um pouco de parte naquela confusão toda, já que não tinha propriamente uma função, acabando por ficar a falar com Toko, o irmão do Valt ao qual já não via há algum tempo.

Toko não ia ao acampamento, como era de prever. Grande parte daquela geração não alinhou em ir, já que era mais uma coisa dos rapazes de último ano, mas Ranjiro insistiu que tinha de ir fazer de vela. E lá estavam eles, no meio dos finalistas. Deu sorte que de última hora o Fubuki confirmou a sua presença, ele estava de momento a ajudar o Shu com a comida, era difícil ver o moço separado do ídolo por muito tempo.

Todos os trabalhos pareciam bem encaminhados e estavam sem qualquer baixa. A pouco e pouco todos os rapazes começavam a ocupar o seu lugar dentro da carrinha de Cyrus… Mas Rantaro continuava relutante em entrar, revirando a bagagem à procura de qualquer razão para não irem ainda. Por vezes levantava a cabeça e olhava em redor, como se procurasse algo. Seria mesmo verdade? Wakiya não vinha?

— Vai demorar muito aí, Rantaro? – Cyrus perguntou impaciente colocando a cabeça fora da janela.

— Só um momento… - O loiro respondeu, ainda procurando uma desculpa para não entrar ainda.

— Depressa, só está faltando você! Sempre a mesma coisa, Rantaro… Se vai atrasar todo mundo, vá a pé! - O motorista de cabelos verdes resmungou se metendo para dentro e agarrando de novo ao volante.

E enquanto Rantaro desesperava internamente por prever um acampamento romântico destruído, o seu irmão mais novo esfregava as mãos de felicidade. Não havia qualquer sinal do Wakiya naquela zona… E isso era maravilhoso! Sem o irmão para controlar, ele podia aproveitar esta semana para ele próprio ter um acampamento romântico com Aiger… A ideia não lhe soava nada mal, uma semana inteira sem Wakiya e com Aiger era ouro sobre azul para o jovem punk. Alheio a esse pensamento egoísta, Valt, que se sentava no lugar da frente com Cyrus, reparou na inquietação do amigo lá fora. Ele tinha estado assim a semana inteira e sabia que não era pelos exames… Rantaro e Valt eram melhores amigos, não escondiam nada um do outro. Valt já sabia da situação de Rantaro com Wakiya.

…………………

Cinco dias antes daquele encontro, quando os exames ainda eram uma realidade, ambos tinham uma rotina de se juntar para estudar. Rantaro estava com dificuldades em adiantar-se com Matemática, então Valt aproveitou para fazerem uma seção de estudo conjunta em sua casa... Vai que o milagre se dava e ambos conseguiam passar no calcanhar de Aquiles de todo o clube bey!

Foi numa dessas seções de estudo que, a meio de perguntas e problemas, que Rantaro e Valt se tornaram mais próximos na sua amizade:

— Valt… Wakiya sempre vai? – O loiro perguntou hesitante, desfocando os olhos dos problemas matemáticos para focar nos seus.

— Você sabe como é Wakiya – Valt começou – só saberemos se ele aparecer no dia ou não.

Valt não tirava os olhos do seu trabalho, focado como era em tudo na vida. É estranho para alguém que o conheceu a vida toda vê-lo tão concentrado em algo tão teórico e abstrato quando ele sempre quis saber apenas de beyblade. Mas foi essa paixão que o trouce para mais perto dos estudos, nunca iria ser um bleyder de renome e respeitado se não desse o exemplo. E o maior exemplo que ele queria dar, era nos estudos. Se vários jovens bleyders se dedicassem à escola como ele se dedica ao Beyblade… Com certeza eram mais felizes.

— Eu sei… - O suspiro foi mais longo do que o loiro previu, demasiado distraído, alunado… Tanto que chamou a atenção de Valt, desviando-o dos seus estudos e direcionando toda a sua atenção para a face triste e distante de Rantaro.

Observou os movimentos ausentes de Rantaro, como quem os faz sem pensar. Parecia que há muito tempo que ele já nem se estava a tentar focar na matéria e sim em algo muito mais abstrato que a Matemática. Desenhava círculos com o lápis enquanto apoiava a cabeça no seu braço esquerdo sustentado pelo cotovelo.

— Rantaro… O que se passa? – Valt questionou pousando o seu lápis para melhor dar assistência ao outro.

Valt era um amigo próximo. Dedicado e observador. Umas semanas antes ele mesmo reparou num comportamento peculiar enquanto estudavam para um dos testes finais de Física. O loiro estava também perdido, alunado e distante… Mas a sua face, em vez de esboçar um ar ansioso, tinha um sorriso sereno. A mão que distraidamente desenhava círculos, nessa altura desenhava cuidadosos corações por todas as páginas. O rapaz de cabelo espetado suspeitou na altura de uma paixão do melhor amigo, mas respeitou o seu sigilo. Hoje, essa paixão parecia inquieta, dolorosa e angustiante. Teria subido de paixão para desgosto. E Valt não se podia calar perante tal agressão ao amigo.

— Comigo? Comigo não se passa nada… - Rantaro revirou os olhos, pensando para com o seu orgulho que realmente não se passava nada. Era com Wakiya que se passava. Ele não dizer se ia ou não… Parecia que estava a brincar com os sentimentos dele… Mas o que ele ganharia com isso? Ele também tinha passado um pouco dos limites ao tratar Wakiya assim… Não admira que sabendo que ele ia, Wakiya o fosse evitar a todo o custo. No entanto, não gostava nada da ideia de deixar o Japão de costas voltadas com o loiro, este acampamento podia ser a última oportunidade que tinha para se reconciliarem antes da sua partida.

— Rantaro, te conheço há mais de dez anos. Eu sei quando se passa alguma coisa. Me diga, quem é ela e o que ela lhe fez? Lhe deu com os pés? Traiu? Me conta! Sou seu melhor amigo, eu quero ajudar. – O azulado exigiu, se levantando bruscamente da mesa com ambas as mãos apoiadas na mesma, olhar sério e preocupado (não exaltado) bem fixo em Rantaro.

Os olhos do mais velho arregalaram. “Ela”? O rapaz sentiu o peso da realidade lhe cair em cima enquanto sua face avermelhava. Ele realmente nunca tinha tido esta conversa com Valt. Não que achasse que ia correr mal, mas nunca achou necessário. Mas o jovem Rantaro recusava-se a admitir que ele e o seu irmão tinham um problema em comum. Ambos tinham o péssimo hábito de não comunicar o que sentiam. Ranjiro por ser orgulhoso, Rantaro por achar que todos conseguiriam compreender a sua simplicidade. Mas a verdade é que não é assim tão simples de se ler a mente de uma pessoa, diria que é impossível mesmo.

Deparando-se com o olhar fixo e sério do amigo, ponderou fugir à pergunta. Inventar uma desculpa sobre os exames e que aquilo não era mais que uma fanfic da cabeça dele. Que jamais aconteceria. Mas Valt tinha acertado quase em cheio, e não só, era o seu melhor amigo. Até aquele momento na sua amizade, este tópico nunca tinha ocorrido, mas agora, se o evitasse, seria como estar conscientemente a mentir-lhe… Já que Valt não descobriu por ele próprio, estava na altura de lhe contar. Largou o lápis com que desenhava e se recostou na cadeira, de braços cruzados e face rubra de lado virada para o chão, sem manter contacto visual. Era um pouco constrangedor contar assim a cru… Mas talvez fosse mais fácil, já que o assunto surgiu naturalmente.

— O que o faz achar que é uma moça? – Rantaro perguntou, achando-se bastante específico, mas mostrou-se bem ambíguo.

— E não é óbvio?! – Valt continuou, mais preocupado que exaltado, mas expressando alguma na voz. Não entendendo o real intuito da pergunta do colega. – Semana passada você desenhava corações em todo o lado, mas esta semana está ansioso com tudo, está completamente distante e fica questionando sobre a viagem a toda a hora! Me diga, foi a Chris? O que ela lhe fez? Eu falo com ela se for preciso! Não, espera, foi o Wakiya, não é!? Vocês se chatearam por uma moça, por isso você está sempre perguntando se ele vai! Eu sabia, eu vou falar com ele e-

Valt continuava dizendo todas as teorias que lhe vinham à cabeça. O turbilhão de informações incoerentes que passavam pelos ouvidos do punk eram inacreditáveis, ele nem tinha processado ainda que o amigo não tinha intendido a declaração e já estava a tentar processar todos os casais que o outro fez e as intriguices que inventou. Ele ouvia absurdos demais, insultos demais. A maneira como ele falava de Wakiya era demais… Uma ira incontrolada crescia dentro dele, uma ira formada por toda a sua frustração acumulada em dias e dias de incertezas e arrependimentos. Ela tinha de sair. Tinha de sair e expressar-se ao mundo, descompondo o Rantaro calmo e sereno que todos conhecem.

— Para! – Rantaro gritou, parando de imediato o desvaneio estressado e incoerente de Valt. Agradeceu por o outro ter negado a sua ideia de ir para a Biblioteca, aquele berro com certeza iria cair mal lá.

O ex-campeão mundial parou sobressaltado. Não esperava um berro vindo da pessoa mais paciente que ele conhece. Depois de cair em si e recuperar do pequeno susto, assimilou o grande headcannon que tinha criado e de como pode ter ido longe demais… Então olhou para o amigo, esperando uma resposta, uma justificação. Os seus olhos espelhavam uma ânsia de ajudar, preocupação e expectativa. Esperou pacientemente o silêncio de segundos de Rantaro acabar, até que o loiro, ainda recostado e de braços cruzados, focou toda a sua coragem numa face séria, apenas ligeiramente rubra na zona superior das bochechas. Olhou Valt de frente, e com todo o foco do mundo disse:

— Mais uma vez: O que o faz achar que é uma moça?

Os primeiros segundos em que o jovem observou o recetor da mensagem, viu clara confusão por ele ter devolvido a mesma pergunta, mas essa face logo mudou para espanto e logo depois para resolução – Eles nunca tinham realmente falado sobre isso.


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