Idiot, sweet idiot escrita por Any the Fox


Capítulo 9
A dádiva de um confidente




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“Os primeiros segundos em que o jovem observou o recetor da mensagem, viu clara confusão por ele ter devolvido a mesma pergunta, mas essa face logo mudou para espanto e logo depois para resolução – Eles nunca tinham realmente falado sobre isso.”

Valt assumira desde o princípio que era uma menina… Mas nada indicava diretamente que o fosse. Sentia-se um bocado idiota por não saber tal facto sobre o melhor amigo. Não que fizesse qualquer diferença, mas pareceu-lhe algo que ele devia ter reparado em tantos anos. Voltou a sentar-se na cadeira e tentou evitar ao máximo a conversa constrangedora da saída do armário. Agora todas as perguntas sobre o acampamento estavam fazendo sentido.

— É por isso que você queria tanto saber se Wakiya ia…? Você… Gosta dele? – Valt perguntou tentando disfarçar a estranheza, olhava para a mesa e não para o amigo. Estava um pouco envergonhado pelo que dissera antes e não sabia muito bem como reagir nesta situação.

Rantaro sentiu o pequeno desconforto do outro. A sério que não ia comentar? A sério que a única dedução foi que ele gostava de Wakiya? Enfim, de longe era uma dedução errada, na verdade era certíssima. Mas ele ia mesmo continuar com aquela naturalidade? Mesmo sentindo todo aquele constrangimento no ar?

— Sim. Me apaixonei por Wakiya… Nós discutimos e… Não sei como me sentir em relação ao acampamento. – Rantaro respondeu diretamente. Escolhendo a palavra “apaixonei” propositadamente, para ver que reação causava no outro.

Valt ouviu o que o loiro tinha a dizer, mas não pareceu mudar a expressão ou o raciocínio. Prosseguindo com a conversa.

— Estou vendo… E vai fazer quanto tempo que sente isso? – Valt perguntou levantando a cabeça, agora o encarando, ainda mantendo toda a normalidade que conhecia.

Rantaro deu de ombros.

— Uns meses? Uns anos? Não sei ao certo… Acho que comecei a gostar dele e nem notei. Um dia olhei e não tinha mais volta. – Respondeu pragmático, ainda desconfortável com o comportamento do outro.

— Entendo… - Valt respondeu nitidamente desconfortável.

Um silêncio de poucos segundos ficou no ar, Valt encarando a mesa e Rantaro olhando para ele, tentando decifrar o que o melhor amigo ia fazer a seguir.

Não é que Valt estivesse desconfortável com a orientação sexual do outro. Isso era lhe completamente indiferente. Estava era um pouco desconfortável por ele nunca lhe ter contado… Pensou que falavam de tudo. E no fim, Rantaro omite que gosta de um amigo deles? Por meses? Anos? Estava confuso e deveras desconfortável. Pensava se poderia nunca ter dado abertura para esse tipo de conversa, se não o deixou à vontade… E ainda se sentia mal por apenas ter assumido algo e ter acusado a paixão dele de lhe fazer mal, sem fundamento. Eles eram melhores amigos e tinha-se exaltado. Olhava para a cara inexpressiva de Rantaro e não percebia se ele estava zangado, triste ou desiludido. Mas com certeza não estava calmo e sorridente como de costume. Há muito tempo que não via esse rapaz.

— Rantaro, me desculpe… Eu não sabia, bem… Nunca me contou e nunca lhe perguntei, mas… Eu não sabia que… - O azulado atropelava-se a falar, sem saber muito bem o que dizer ou como se expressar, não queria levar a parecer que o problema era a sexualidade do outro.

— Que eu sou gay? – Rantaro foi cru e direto. Evitou por anos esta conversa, por achar desnecessária. Porque ele teria de dizer que é gay? Ninguém lhe teve de dizer que era hétero.

Valt parou um bocadinho como se o raciocínio tivesse voltado ao lugar. Não, não era isso que era importante. Era outro assunto. Então logo procedeu, decidido e sem rodeios:

— Que você gostava de Wakiya.

O punk arqueou as sobrancelhas em espanto com a resposta. Valt tinha um ponto, ele não lhe tinha contado, mas pensava que essa não era a razão do desconforto do azul. Olhou para o outro com um semblante curioso, convidando-o a continuar.

— Rantaro, não me interessa que sexualidade você tem, – Valt afirmou com uma grande convicção – mas não saber de quem você gosta, ainda por cima… Um amigo nosso… Isso sim me magoa. Pensei que tínhamos abertura para falar de tudo… Porque duvidou?

            - Eu não duvidei – Rantaro disse sem grande hesitação – eu apenas… Sempre achei que não fosse relevante. É a minha vida pessoal, cada um tem a própria. E ninguém realmente se interessa por o que o “side character” faz… Nem Wakiya se interessa…

            Rantaro encarava agora os borrões que fez no caderno. Sentiu pequenas lágrimas formarem-se em seus olhos, mas conteve-as. Não ia chorar. Valt dirigiu-se então até ao lado do rapaz e dobrou os joelhos até estar ao seu nível, colocando um braço em volta do outro.

            - Rantaro… Sua vida me interessa e muito. Claro que gosto quando você se abre comigo – Valt sorriu no seu sorriso mais honesto – e tenho certeza que você não é um personagem secundário na vida de Wakiya. Você com certeza tem um apartamento na mente dele sem nem pagar renda.

            Valt virou então as páginas do caderno do outro para trás, mostrando os corações que Rantaro tivera desenhado noutras seções de estudo. O loiro riu, fungando pelo nariz.

            - Você acha mesmo? – Rantaro perguntou num tom simultaneamente esperançoso e duvidoso.

            - Eu tenho a certeza. – Valt afirmou, lembrando-se de quando foi convidar Wakiya à sua mansão para o acampamento – E até diria: Muito provavelmente ele vem connosco ao acampamento.

            Rantaro estremeceu. Essa afirmação era muito forte. Mais do que ele podia lidar… Olhou para a face de Valt nervoso, depois assentiu com a cabeça, como se dissesse um mudo “obrigado” e voltou-se para o caderno, colocando nas páginas mais recentes dos seus apontamentos.

            - Matemática não se aprende sozinha… - Rantaro expressou, dando fim aquela conversa íntima. Queria ele próprio digerir a informação.

            - Pois claro. – Valt sorriu, voltando para o seu lugar, entendendo que a conversa tinha acabado.

            Os dois jovens estudaram assim em silêncio o resto do dia, e o tópico não voltara a aparecer em qualquer seção futura. Mas agora era o dia. Era o dia do acampamento e nada de Wakiya…


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