E então Ranjiro subiu as escadas, irritado com ele próprio. Não gostava de perder uma discussão com o irmão, era frustrante, mesmo que soubesse que ele tinha razão. E detestava que o irmão o provocasse sobre Aiger. Não era da conta do irmão se ambos estavam juntos ou não, não era da conta de ninguém na verdade! Eles eram maioritariamente platónicos… E era um assunto dos dois de qualquer jeito. Abriu a porta do quarto ao fundo das escadas e se deparou com Aiger sentado no parapeito mirando para fora da janela, desviou a atenção para ele quando reparou que chegara, parecia confuso e pensativo sobre a situação.

            - Que queria Rantaro? – Perguntou calmo e recetivo com o intuito de tentar perceber o que tinha acabado de acontecer.

            - Queria falar do acampamento… Ele não achou muita piada à ideia de você e eu irmos junto com a galera. – Ranjiro desabafou com o outro enquanto se dirigia para a janela também e se sentava no parapeito, perto do outo.

            - Sinceramente, foi uma decisão muito súbita. O que é que lhe deu? – Aiger tentou entender, queria ao menos saber o porquê de ir num acampamento tão repentinamente.

            Ranjiro respirou fundo. Ele estava farto daquela conversa, mas tinha de a explicar mais uma vez, muito brevemente, de maneira que Aiger entendesse para onde ia e porque é que ia.

            - Você sabe que eu preciso manter um olho no meu irmão e no Wakiya… Eu… acho que Wakiya não é a pessoa certa para Rantaro. – Foi franco, como é com muito pouca gente, mas sempre é com Aiger.

            Aiger deu um sorriso de consolo enquanto se aproximava do loiro. Viu os olhos dele encararem o chão com incerteza, quase medo. O rapaz sabia o que o preocupava, ninguém conhecia Ranjiro melhor que ele. Conseguia ler cada olhar do amigo, cada movimento e perceber o que ele queria dizer por baixo das palavras ditas. Colocou-lhe a mão nas costas e tentou dizer-lhe da maneira mais doce possível:

            - Ranjiro… Rantaro te ama mais do que alguma vez vai amar alguém. Você não tem de se preocupar com isso, não é por ele ter Wakiya que vai dar menos atenção em você.

            - Eu não tenho ciúmes de Wakiya! – Ele se apressou a corrigir –Ele maltrata meu irmão e eu me preocupo com ele!

            A reação de Ranjiro já era esperada por Aiger, que nem se surpreendeu com a mesma. Ele sabia dos problemas de ciúmes que ele tinha, apesar de nunca o assumir. Ranjiro era um rapaz orgulhoso e isso o impedia de aceitar coisas tão obvias sobre ele próprio. Deixava-o muito inseguro pensar que de um dia para o outro ele podia falhar em algo e ficar sozinho, perder tudo… Mas não havia ninguém que ele tivesse mais medo de perder que o irmão. Irmão que tanto admirava e respeitava… E que agora se estava a ir embora. Estava a perdê-lo tanto para Wakiya quanto para o tempo… Seu irmão ia embora para a Europa e ele não podia nem mostrar que se importava. Mas Aiger percebia muito bem o quanto isso o afetava.

            - Está tudo bem. – Aiger disse enrolando o braço em torno das costas de Ranjiro para lhe dar conforto, Ranjiro apoiou-se no seu ombro instintivamente. – Rantaro vai estar sempre aqui para você como você está para ele… Ou vai me dizer que você se esqueceu de seu irmão quando começou a sair comigo?

            O tom de voz de Aiger era desafiante, o favorito de Ranjiro. O loiro levantou uma sobrancelha em tom de escarnio. Ambos trocavam um olhar profundo e desafiador.

            - Começamos saindo? Não sei do que fala. Eu estou solteiro, não estou saindo com ninguém em específico. – O loiro respondeu. Os dois não tinham nada oficial, mas que adorava a relação que tinha com o amigo não podia negar.

            - Aí não? Então acho que esse seu plano para a sua casa vazia de hoje era um pouco ousado para apenas dois amigos, não? – Aiger provocou com um sorriso manhoso envolvendo o loiro num abraço que mesmo sugerindo certa inocência, não a tinha.

            Ranjiro sorriu com a investida do outro, colocando um sorriso agradável e divertido nos lábios. Aiger sabia aliviar o mood dele como nenhuma outra pessoa, conseguia deixar qualquer conversa mais leve e afastá-lo dos problemas numa questão de segundos. Era bom tê-lo por perto, não conseguia sentir-se mais agradecido por Aiger o querer ao seu lado. Agarrou firmemente o braço que envolvia o seu peito como para retribuir todo o carinho naquele gesto e continuou o jogo de provocações que Aiger começara. A preocupação com Rantaro e Wakiya podia ficar para depois, nada ia estragar a sua tarde com o seu quase companheiro.

            - O quê? Jogar beyblade? Parece-me um plano bastante razoável para uma terça-feira à tarde. – O sorriso na face do punk passou agora a ser matreiro, entusiasmado, queria saber até onde esta brincadeira de provocações iria.

            - É, estou vendo… Você sabe que já ninguém engole essa história de “beyblade and chill”… - Aiger estava agora mais próximo, o seu nariz roçava no pescoço do companheiro traçando um caminho divertidamente.

            Ranjiro arrepiava-se com o contacto do mais novo, senti-lo tão próximo e dentro do seu espaço íntimo era agradável, revigorante. Aiger estava tão próximo que conseguia sentir o suave perfume de Ranjiro. Perfume fresco e aconchegante, o que ele sempre usava, Aiger estava acostumado a ele, todas as roupas de Ranjiro tinham o mesmo cheiro, mas ele nunca se fartava.

            - Foi por isso que você se assustou com o meu irmão e Daigo na cozinha? – Ranjiro provocou colocando a cabeça para trás e sorrindo com gosto pelos carinhos do outro.

            - Não brinca, você me disse que eramos só nós! E você se surpreendeu também! – Aiger resmungou num tom risonho enquanto se afastava do pescoço para encarar o par nos olhos.

            Ranjiro riu, adorava as reações de Aiger. Aiger sorriu, gostava de roubar uma risada de Ranjiro quando ele estava triste. Ambos se olharam nos olhos profundamente e brotaram em ambos os lábios sorrisos de quem se conhece há imenso tempo e se compreende mutuamente. Ambas as testas se tocaram e os olhos fecharam, mãos dadas com os dedos interlaçados. O momento era deles, sem acampamento, sem Wakiya e sem Rantaro.

            - Acho que não vai dar para jogar beyblade hoje… - Ranjiro interrompeu o silêncio lembrando que o seu irmão tivera chegado mais cedo que o previsto.

            - É… Mas acho que podemos ter o chill ainda. – Aiger esboçou um sorriso sugestivo.

            Ranjiro corou enquanto deixava fugir uma leve risada envergonhada. Aiger era um grandessíssimo idiota, o seu idiota, e ele adorava esse tipo de comportamento nele. Então, mantendo o sorriso e a vontade de estar com o outro, afirmou:

            - Claro. Um pouco de chill nunca fez mal a ninguém.