Idiot, sweet idiot escrita por Any the Fox


Capítulo 6
Os irmãos Kiyama




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Ranjiro esperou ouvir a porta de seu quarto fechar, queria ter a certeza de que Aiger não ouvia a conversa com o irmão. Não que estes tivessem segredos, mas se Rantaro queria falar a sós, por alguma razão seria. Após receber a confirmação sonora, dirigiu-se até à mesa onde anteriormente Daigo estava sentado e olhou para o semblante sério do irmão mais velho que se apoiava na bancada da cozinha virado para ele.

            - Para que foi aquilo? – O mais velho perguntou com um tom autoritário. Rantaro sempre era paciente com o irmão, tentava compreender o seu ponto de vista e nunca ser duro demais no seu discurso, mas agora ele tinha passado dos limites da sua paciência.

            - Aquilo o quê? Não posso querer acampar com Aiger e todos afora também? Daigo me convidou, não foi? – Retorquiu, tentando parecer natural enquanto falava, talvez conseguisse convencê-lo que não o fazia por Wakiya,

            - Ranjiro, você não é tolo a esse ponto. Eu sei que você não tem qualquer interesse no acampamento e só vai para me controlar a mim e Wakiya. – Foi direto, tentou manter a calma o mais que podia, mas a cólera que sentia sobre o irmão naquele momento era visível nos seus olhos.

            Ranjiro fingia-se confuso e alheio a isso, mas era difícil driblar os olhares fulminantes de Rantaro e pretender que era algo completamente diferente. Olhou então fundo nos olhos do irmão e fez questão de se manter firme.

            - Ele não lhe merece! – Foi ríspido – Wakiya só inferioriza você, não quero ver meu irmão se rebaixando por aquele idiota.

            Rantaro inspirou fundo, alto, serrando os olhos com força, mantendo os dentes rangendo e esmurrando a mesa com algum preção para baixo, quase se esquecendo de espirar. Era inadmissível, Ranjiro tivera passado dos limites. Ele não tinha nada a ver com Wakiya.

            - Ranjiro, você esqueceu toda a conversa que tivemos ontem? – Ele perguntou num limiar entre o autocontrolo e a impaciência – Não é. Da sua. Conta! Eu pedi para você não se meter, não foi?! Porque é que por uma vez não se mete na sua vida!?

            - E acha que é fácil para mim? Rantaro, eu vejo ele te maltratar por anos e você rastejando por ele! Quer que eu fique quieto vendo meu irmão se afundar? – Ranjiro agora refletia as emoções do outro, os ânimos aumentavam naquela cozinha.

            - Ele não me maltrata, Ranjiro! Ele tem o seu feitio, mas nunca maltratou ninguém! Não fale como se o conhecesse! E vá-se habituando, porque pelo que depender de mim, o Wakiya vai ser bem mais presente nas nossas vidas, e você vai aceitar isso! – Rantaro impôs uma ordem, como nunca impusera ao irmão antes.

            Ranjiro deu um passo atrás. Rantaro nunca o tivera repreendido assim. Nunca tinha visto o irmão tão zangado… Ele sabia que o irmão negaria a sua decisão de ir no acampamento, mas nunca pensou que chegaria a um ponto que despoletaria reações até então desconhecidas no irmão. O mais velho virou-se de costas, ainda apoiado na bancada, olhando para baixo completamente frustrado. Ele nunca tinha visto o irmão assim, nem mesmo nos torneios que ele costumava não ganhar.

            - Que mal eu lhe fiz, Ranjiro? – Rantaro suspirou num misto de desilusão e frustração. – Sou um mau irmão para você? Está se vingando de alguma coisa? Porque insiste em desiludir-me assim?

            As palavras abafadas pela tristeza de Rantaro atingiram Ranjiro como uma bala. Duras, frias… sentiu a desilusão nas palavras do irmão, sentiu o fracasso enquanto pessoa e a dor da rejeição por uma das pessoas a quem mais amava. Ele queria ajudá-lo não magoá-lo, e acabava de o colocar na situação mais lastimável que o tivera visto até então. Levantou-se calmamente da cadeira, a medo e envergonhado sem saber muito bem porquê, e dirigiu-se ao irmão que encarava o balcão ponderando entre o choro e a apatia.

            - Ei… Eu não… Eu não queria causar isso em você… De todo. – O mais novo disse com algum nervosismo agarrando o nome do irmão, tentando se desculpar.

            - Bem, parabéns. Você falhou completamente. – O mais velho disparou com o intuito de magoar e ofender, mas controlou-se o máximo que pode no tom de voz.

            - É sério, é só… Eu não gosto de ver você com Wakiya, okay?! Eu sei que não é da minha conta e você me pediu para não interferir, mas não dá! Eu não consigo ver meu irmão estando com alguém que não o merece, não consigo ver meu irmão com… com… - Ranjiro parou por um momento, como se tivesse a ganhar consciência do que estava prestes a dizer.

            Rantaro percebeu a paragem súbita na justificação do menor e de como o seu tom de voz se tinha alterado de irritado para indeciso. Se virou para o irmão, perdendo completamente o tom irritado e adotando um muito mais confuso.

            - Com?... – Perguntou encarando o outro nos olhos.

            Ranjiro olhou no fundo dos olhos vermelhos do irmão. O seu irmão mais velho que todos os dias cuidava dele. Toda a atenção daqueles olhos vermelhos tinha sido dele até então… Mas agora ele tinha de partilhar isso com alguém… E talvez fosse esse o problema. Ou então não… Provavelmente não. É, de certeza que não! O problema era Wakiya e o seu jeito mal-agradecido!

            - Com alguém tão enjoado como ele! – Ranjiro acabou por dizer enraivecido, bochechas ainda rosadas do que acabara de pensar.

            O irmão mais velho estranhou a súbita mudança de temperamento no outro, mas ao ver as bochechas rosadas contrastarem com a sua face zangada, voltou a pôr o seu sorriso caloroso na cara. Ranjiro era um idiota, sem dúvida, mas ainda era o seu irmãozinho. Irmãozinho que nunca iria assumir que tinha ataques de ciúmes.

            - Entendi – Rantaro sorriu matreiro percebendo então o que se passava, desencostou-se do balcão e passou andando do lado de Ranjiro, na direção da sala – se você quiser me apontar essas tais de “Red flags” que vir no acampamento, esteja à vontade. Só se lembre de não interferir na minha relação.

            Ranjiro ficou confuso. Rantaro mudou completamente a sua disposição sobre ele ir no acampamento. Ele realmente achou que o irmão o ia impedir de ir, mas não insistiu em nada. Na verdade, até parecia bem indiferente a se ele ia ou não agora. Não estava fazendo sentido para Ranjiro.

            - O quê? Não vai me impedir de ir? Não vai dizer mais que Wakiya é boa pessoa e eu estou interpretando mal? – O mais baixo perguntou muito confuso.

            Rantaro parou o seu caminho do lado da ombreira da porta, se virou para o irmão atrás de si e encostado ao seu lado direito com uma enorme confiança perguntou:

— Você vai cumprir com o que eu pedi?

Ranjiro pensou um bocadinho, mas não demorou muito para acenar um sim hesitante.

— Então não tenho com que me preocupar! – Foi a última coisa que o mais velho disse antes de sorrir de orelha a orelha e voltar ao seu caminho.

O mais novo estava confuso, sozinho na cozinha. Ele acabara de perder um argumento com o seu irmão? Parecia que sim, mas Rantaro tinha ficado estranho… Como se tivesse entendido algo de que Ranjiro ainda não sabia.

— Ah, verdade! Quando for “jogar beyblade” com o Aiger, vejam se não fazem tanto barulho como da última vez! Se ouvia tudo do meu quarto. – Ranjiro ouviu o irmão gritar em provocação no corredor, rindo de fundo.

— É platónico! – Gritou em resposta, sentindo-se completamente envergonhado pelo comentário. Rantaro gostava de inventar para o provocar.

Dirigiu-se assim irritado para as escadas que levavam ao seu quarto, onde Aiger o aguardava pacientemente. O seu verdadeiro destino ao chegar aquela casa.


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