Idiot, sweet idiot escrita por Any the Fox


Capítulo 4
O guarda costas de cabelo estiloso




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 Lá estava ele, o rapaz de cabelos longos, loiros e vaidosos penteados para cima a uma altura bizarra: Ranjiro Kiyama. Ele era o irmão mais novo de Rantaro, sempre extremamente possessivo e protetor. Tratava o irmão mais velho como um Deus e detestava quando alguém dizia mal dele ou o rebaixava. Talvez seja essa a razão de este não suportar Wakiya.

               - Ranjiro? Que você faz aqui? A mãe não disse que queria você em casa cedo hoje? – Rantaro pareceu surpreso em ver o irmão naquele local.

               - Não desconverse! Vim buscar você! Quando você se atrasou para o jantar soube logo onde o encontrar! – O tom do irmão mais novo era de raiva, a sua face estava rubra e olhava com um ar mortal para o rapaz que não era seu parente.

               - Boa noite, Ranjiro. Como está hoje? Se encontra bem? - O deboche era notório na voz de Wakiya. Ranjiro era uma pessoa que ele não suportava.

               Os dois loiros nunca se deram muito bem. Sempre que se encontravam sentia-se uma tensão repentina no ar que podia ser sentida a quilómetros. Ranjiro odiava o jeito que Wakiya tratava o irmão, sempre tão superior e rude… era insuportável continuar a ver que os dois continuavam a dar-se como amigos. Por outro lado, Wakiya não suportava o modo como o mais novo o distanciava do mais velho. Podia não parecer, mas ele fazia tudo para estar perto de Rantaro, no entanto, se o plano incluísse Ranjiro… Essa missão era muito mais difícil.

               - Não me dirija a palavra. – O mais novo foi direto.

               - Ranjiro! – Rantaro reprovou a fala do irmão – Já disse para não tratar Wakiya assim! Ele é nosso amigo por mais que você não aceite isso!

               Rantaro era assim, protetor, sempre. Sabia bem ser protegido por ele mesmo que por um assunto tão bobo como a birra do irmão.

               - Não tem problema, Ranjiro vai ser sempre essa criança ciumenta. – O alvo do desprezo provocou olhando a parte traseira de sua mão. O sorriso era confiante, marca registada de Wakiya Murasaki.

               - Wakiya! – Agora era com ele que Rantaro gritava. Não era inesperado, ele iria proteger o irmão também, não é mesmo? – Vocês dois não conseguem mesmo coexistir no mesmo espaço?!

               - Você passa a vida com esse idiota! Ele está sempre rebaixando você, você não vê isso, mano?! – Ranjiro argumentava chateado como se Wakiya não ouvisse e engolisse todas as sílabas que este pronunciara.

               - Não fala assim, Ranji- - Rantaro ia emendar o irmão calmamente, mas este o interrompeu.

               - Não! Rantaro, isto se repete faz tempo! Ele passou o tempo todo xingando você e o grupo inteiro! Esnobando o dinheiro que tinha em nossas caras e rebaixando todos nós ao nível de plebe! Você especialmente! – O irmão mais novo continuou o argumento, ainda ignorando a presença do outro.

               Wakiya sentiu-se atingido pelas acusações do outro. Especialmente porque era tudo verdade. Ele não era uma pessoa que nutrisse muita empatia, não era a natureza dele, mas apesar disso, anos de convivência com aquele grupo de rapazes deixou-o com o coração mais mole. Comentários afetavam-no muito mais facilmente do que antes de começar a sua jornada com os outros, a sua cabeça sempre ferveu em pouca água, mas neste momento era muito mais pessoal do que uma mera intriga. Ele tratava todo o mundo assim… Mas ajudava sempre que conseguia! E corrigiu algumas falhas. Todos sabiam o quanto ele se importava com os outros! Afinal, não é todo o mundo que sede o jato privado para ir procurar o amigo desaparecido no México! Mas Ranjiro não estava lá quando isso aconteceu, era muito novo para isso, e provavelmente não acreditaria que Wakiya tivesse realmente feito isso, mesmo que o irmão lhe tenha confirmado a história centenas de vezes.

               E claro que tratava Rantaro de um jeito diferente. Ele o enxergava de um jeito diferente! Não o podia tratar como os outros quando o que sentia era maior e mais forte. Ele queria estar mais próximo e conhecê-lo melhor, chamar a sua atenção… E a única maneira que conhecia de fazer isso era competindo com ele, provocando ele… Não sendo simpático.

               Ranjiro não poupava nas palavras e insultos. Era grosso. Falava como se Wakiya não estivesse presente, discutia como se não se importasse de afetar os sentimentos do rapaz. Rantaro tentava acalmar o irmão, visivelmente desconfortável, atrapalhado e apressado. Ele não queria piorar a relação entre os outros dois, que nunca foi boa. Na verdade, ele gostaria que eles se dessem bem, como todo o mundo. Mas a missão parecia impossível e quanto mais ele tentava acalmar Ranjiro, mais este insultava o amigo.

               A ira na face de Wakiya começava a ser visível e a sobrepor-se à sua faceta confiante, superior e egocêntrica. Ele normalmente engolia e filtrava os comentários de Ranjiro, para que não o afetasse, mas naquele dia. Realmente não era o dia! Tinha descoberto que Rantaro ia para a Europa, seus amigos iam para longe, estava tento um momento com Rantaro… E aquele intruso aparece! Não estava com cabeça para as cenas de Ranjiro. Não estava com disposição para os ataques daquele moleque de quinze anos! Naquele dia não!

               - Chega! – Gritou Wakiya, perdendo a sua compostura, mas nenhuma lágrima, chamando a atenção dos irmãos que discutiam

               Wakiya segurou o choro antes de continuar:

— Eu sou muito mais que um riquinho mimado! Eu ajudo as pessoas! Ao contrário de você, moleque, que apenas idolatra seu irmão e joga de rebelde! Pois eu lhe digo, tanto você como seu querido irmão não são nada! Nada!  - Se arrependeu no momento de ter dito isso, mas não quis voltar atrás. Orgulho era a única coisa que lhe sobrava. – E fique sabendo, Ranjiro, que os únicos idiotas que estou vendo aqui, são vocês dois!

               O rapaz que argumentava espantou-se com o que tinha acabado de dizer. Porquê? Porquê insultar Rantaro também? Ele nem devia estar fazendo isso com Ranjiro, mas aquele pirralho o punha no limite. Mas Rantaro não tinha feito nada… Olhou para os dois à espera de reação, esforçando-se para não perder a expressão facial. Rantaro, encarando o chão, pegou no ombro do irmão e direcionou o discurso para Wakiya.

               - Wakiya… Acho que está na hora de você ir para casa. Fala o que tinha para me contar amanhã. – Ele disse muito sério, sem o encarar.

               “Desculpe, eu não quis dizer aquilo” ou “é melhor, estou um pouco exaltado” era o que ele queria dizer, mas nada disse. Apenas se limitou a colocar o código que abria o portão e logo depois entrar em casa. Não disse nada, não pronunciou um som, apenas fez soar a porta quando bateu. Só quando estava finalmente dentro de casa, longe de todos os olhos de julgamento, se desfez em lágrimas. O que ele tinha feito? Porque tinha deixado que aquilo fosse tão longe? Ele não queria ter insultado tanto Rantaro… Aquele idiota… Agora o tinha perdido de vez, de certeza.

……

               Do lado de fora, Rantaro ainda encarava o chão, com uma expressão não decifrável. Ranjiro estava meio abalado com o que acontecera, não esperava uma perda tão grande da compostura da parte de Wakiya, que sempre se mostrava indiferente, ou até inflado, perante os seus comentários. Lentamente, e mantendo o semblante sério e indecifrável, o mais velho virou-se para encarar o mais novo.

               - Era preciso isso tudo? – Foi frio e direto ao perguntar.

               - M-Mas, mano… Eu não tinha noção de que ele ia reagir assim. – O outro ainda não tinha voltado a si depois da explosão a que assistiu.

               - Você sempre o insulta na frente de todo o mundo. Queria o quê? – A frustração de Rantaro era de quem já tinham passado pela mesma situação algumas vezes, mas desta vez, os resultados tinham sido maiores.

               Respirou fundo.

—  Venha, está ficando tarde e a mãe vai querer que ainda jantemos em casa. – O mais velho falou começando a caminhar, o tom de chateado agora era evidente na sua face e na sua voz.

               - Mas o que eu disse é verdade! Ele é um idiota q-

               - Chega, Ranjiro! – Mais uma vez foi interrompido no meio de um argumento, desta vez pelo próprio irmão, muito frustrado. – Eu já lhe disse, eu agradeço muito sua preocupação, mas deixe a mim e Wakiya em paz! Eu ando me metendo entre você e Aiger, por acaso?

               O mais novo avermelhou quando o irmão, ainda chateado, mencionou o “caso” que este tinha com o seu melhor amigo. Sentiu a chantagem, apesar de ambos não terem nada assumido, ambos concordavam que tinham uma ligação muito forte que já tinha transcendido a amizade. Decidiram chamar-lhe relação platónica, mas nem eles próprios sabiam o que sentiam.

               - Minha relação com o Aiger é meramente platónica e ele não passa a vida inferiorizando os outros. – Ranjiro reagiu de imediato, direto como se a resposta estivesse pronta.

               - Aí não? Bem, então acho que esse trabalho cabe a você! Que era tão bom para estar no clube bey que teve de fundar os Wild Beys, não é mesmo?! Parece muito o que você critica no Wakiya, não é mesmo? Não o ouvi criticar exatamente os Sunbat United por isso no outro dia?! – Rantaro estava genuinamente irritado, argumentando já com factos de há muitos anos atrás de tanta raiva. Alguns deles possivelmente já passados de prazo.

               Os dois irmãos caminhavam em direção ao seu lar, Ranjiro caminhava atrás de seu irmão que dava passos pesados e frustrados. Rantaro não tinha gostado de ouvir os argumentos de Wakiya. Que ele era um idiota. Não era de se espantar que fosse o que pensassem dele, afinal, nunca se mostrou realmente muito diferente de um idiota. E deixar que o irmão, ainda por cima mais novo, se descontrolasse assim, sem tomar controlo da situação, só lhe dava menos credibilidade. Ele não conseguia ficar chateado com o irmão, mas estava extremamente frustrado com o que ele fizera. Ele não tinha muito tempo para passar com o loiro, não queria ninguém atrapalhando.

               - Eu só acho que tem gente melhor para você… - Ranjiro finalmente disse, um pouco cabisbaixo.

               Rantaro olhou para o irmão. Suspirou e finalmente parou para o confrontar. Ranjiro parou também, olhando e esperando atentamente o que o irmão lhe quisesse dizer.

               - Eu sei que você só quer o meu bem, mas você tem de parar de se meter nesses assuntos… - Parou um pouco antes de continuar – Eu vou começar a achar que é ciúme, sabe?

               O mais novo filtrou o que ouviu e talvez sentisse um ponto de verdade nessas palavras. Ele talvez tivesse um pouco de ciúme da atenção que Wakiya roubava dele. Partilhar o cuidado de Rantaro era uma coisa em que ele não gostava de pensar. Mas tinha a certeza que falava mais forte a sua falta de simpatia por Wakiya e o seu baixo senso de empatia. A seu ver, ele nunca seria merecedor do afeto do irmão.

               - Você sabe que eu não gosto dele. – Ele respondeu assertivo. Era um ponto que ele sentia que o irmão precisava de ter em mente.

               - Eu sei, - O irmão deu-lhe um sorriso sincero - não é você que tem de gostar, sou eu.

Com isto, voltou a chamá-lo para caminhar em direção a sua casa. O mais novo arfou, como se tivesse perdido mais uma vez, mas não se dado totalmente como derrotado. Sabia que caminhava para o abismo e que não seria ele a mudar os sentimentos do irmão, mas não podia evitar ter a sua birra com a crush dele.

               - E em relação ao trabalho na Europa? O que vai fazer? Levar o entulho com você? – Indagou Ranjiro voltando a caminhar com o irmão, agora, lado a lado.

               - Não, mano, – suspirou no meio de um pequeno sorriso triste – se tudo correr bem, Wakiya não suspeitará de nada até ao final do Verão, e nos esqueceremos um do outro com o passar do tempo.


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