Idiot, sweet idiot escrita por Any the Fox


Capítulo 2
Não ser egocêntrico doi




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O lanche dos colegas se perlongou no tempo, acabando por anoitecer no entretanto. Estava ficando tarde para os jovens rapazes, o que fez com que, pouco a pouco, os mesmos se fossem ausentando do local. Ken foi o primeiro a sair, tinha um espetáculo para dar com a família, não demorou muito para que todos os outros precisassem voltar para seus lares também. Depois de umas despedidas rápidas, cada um seguiu seu caminho... Exeto Wakiya e Daigo, que se mantiveram no local.

O silêncio era incómodo. Acabavam de ver seus amigos virar costas e seguir seus caminhos, mas Wakiya se mantinha encostado ao pilar da arena enquanto Daigo repousava num dos bancos próximos da mesma. O rapaz de cabelos negros mantinha o seu ar ausente, sereno, pensativo, como se estivesse à espera que o amigo começasse a falar, no entanto o loiro achava que isso não era a função dele. Na verdade, ele achava que não tinha de falar nada para Daigo. Sua vida lhe cabia a ele, e se Daigo tinha tão grande capacidade de perceber os problemas, ele que se virasse em saber o que se passava com ele!

Wakiya não era uma pessoa de falar dos problemas, lhe doia muito no ego. Mas Daigo não era pessoa para deixar um assunto a meio, então um deles teria de ceder. Daigo sabia que o amigo estava escondendo algo mais.

— Você não vai dizer nada, Wakiya? – O rapaz de estilo sombrio iniciou a conversa, cansado de esperar que o orgulho do outro cedesse.

— Não é da sua conta, Daigo... – Wakiya mostrava se contrariado, mas não tão convicto como de costume. Parecia pensativo.

— Se não tem nada para me contar, porque se deixou ficar para trás? – Daigo olhou diretamente para o companheiro com intenção de o fazer se render. O ego dele... Não estava inflado, por alguma razão.

O loiro suspirou. Daigo era sempre tão acertivo... Esconder algo dele era uma missão impossível, mesmo que fosse um assunto que seria de interesse geral não ser partilhado. Deixou as suas costas deslizarem pelo pilar até ao chão e se recostou, estendendo a cabeça para trás sem nunca olhar diretamente para o amigo e finalmente começou a sua conversa.

— Que quer que eu diga? Você entendeu tudo sem a minha ajuda.

Um pequeno silêncio, não muito longo, apenas para o colega recolher e analisar informação. Mas faltava algo, para Daigo, a informação da paixonite de Wakiya por Rantaro não era o suficiente para ele estar tão abalado... Ter o seu ego tão desinflado... Ter um conflito tão grande... Havia algo mais fundo nisso.

— Ele sabe? – Foi a primeira pergunta que lhe veio à mente.

— É claro que não. Eu não conseguiria olhar para o rosto dele se ele sequer suspeitasse. – O loiro tapou a face com o cabelo enquanto pronunciava tais palavras, não conseguia imagnar um mundo onde Rantaro soubece tal informação.

O dono da bandana vermelha olhou atentamente para Wakiya. O garoto estava realmente numa péssima posição. Rantaro era um rapaz especial com certeza, marca presença onde está e brilha mesmo onde a luz encandeia. Mas também era uma verdadeira cabeça no ar. Nunca se iria ligar que os sentimentos do amigo por ele eram já muito mais do que amizade. E se continuasse assim, com Rantaro fazendo as malas para a Europa, também nunca iria saber a dor que iria causar no pequeno (mas ainda existente) coração de Wakiya. Daigo não sabia muito bem como aconcelhar Wakiya em sair daquela enrascada, mas de uma coisa sabia, Rantaro teria de saber, ou ele não poderia seguir em frente.

— Wakiya, – O mais baixo pronunciou levantando -se e se posicionando do lado do amigo, lhe tocando no ombro – você tem de lhe contar, você sabe disso.

O loiro não respondeu, apenas baloiçou a cabeça de um lado para o outro negativamente.

— Wakiya, ele vai para a Europa no final do Verão. Você quer mesmo ficar o resto de sua vida pensando no que poderia acontecer, apenas porque nunca teve coragem de lhe perguntar? – Daigo estava genuinamente preocupado. Eles podiam não ser os mais próximos do grupo, mas se preocupava igualmente com todos eles e sabia que aquela decisão baseada no seu ego o iria afetar, mesmo que não fosse por muito tempo, iria deixar a sua marca.

O rapaz dono do seu ego reagiu mal ao concelho. Ele sabia perfeitamente essa informação! Na verdade, essa informação era, naquele momento, o maior problema. Isso, e o coração grande e mole de Rantaro. Para além que não tinham de o lembrar de que o amigo se ia embora no final do Verão.

Amigo? Maneira estranha de se referir a Rantaro... Dolorosa até. Aquele idiota era mais que um amigo... Levantou-se, desconcentrando o rapaz que o tentava apoiar, espantando-o. Wakiya não tinha qualquer expressão .

— Eu vou andando. Esta conversa... Fica entre nós, okay? Nenhum deles tem de saber disto. Especialmente o Rantaro... – fez uma pausa, seus olhos agora exprimiam certa tristeza, a maior que Daigo alguma vez vira naqueles olhos azuis - ... Ele é um coração mole... Se ele sabe que a ida dele para a Europa me destroiria... Aquele idiota... Ficava cá.

Dito isto, seguiu seu caminho em direção a sua casa. Daigo não o impediu, na verdade, entendeu-o perfeitamente. Rantaro era o tipo de pessoa que pensava primeiro nos outros, era bem possível que ele desistisse de toda a sua carreira na Europa apenas para ver seu amigo feliz, mesmo que não correspondesse aos seus sentimentos, o punk nunca conseguiria ver o seu companheiro de equipa sofrer tanto por sua causa. Se Daigo já percebia a relutância de Wakiya em esclarecer tudo com o parceiro, agora entendia ainda mais. Por primeira vez desde que se lembrava, Wakiya estava a pensar primeiro nos outros e não nele.

Era duro para Wakiya. Muito duro. Umas horas antes o que lhe pesava no peito era o seu ego, o não querer contar porque o mancharia, o rebaixaria... Agora, o que lhe pesa no peito é a vontade de lhe contar, de lhe implorar para ficar... Mas não poder. O rapaz, tão orgulhosamente egocêntrico, nunca pensou que o seu problema seria estar preocupado com o outro e não com ele. E a passos lentos ia se direcionando para casa, olhar focado no chão e a mente em Rantaro... Então era isto que ele sentia? Rantaro sempre pensava primeiro nos outros. Ele estaria constantemente sentindo aquela dor? A dor de... querer ser egoista, mas por alguma razão, não conseguir.

— Wakiya? – Uma conhecida e calorosa voz invadiu os ouvidos daquele rapaz.

Sentiu um arrepiu percorrer-lhe a coluna, a face esquentar e rosar ao ouvir o seu nome ser pronunciado por tais lábios. O seu tom de voz era doce, carinhoso, quente... E chamava o seu nome...

— Rantaro? – Respondeu no milésimo segundo seguinte à sua recomposição. – Está longe da explunca a que chama casa, não?

Wakiya não era... A melhor pessoa a mostrar sentimentos. Nunca fora o seu forte, nem parecia que algum dia viria a ser. Acabara de experimentar a sensação de pensar primeiro no outro e era tão má que queria cortar se de qualquer aventura dentro do género.

— Acompanhei o Valt até casa e acabei ficando para trás. Mas e você? Já não devia estar no seu palacete? – O loiro respondeu aproximando-se mais do colega.

Rantaro andou até estar lado a lado com Wakiya. O dono dos olhos azuis apreciava a sua presença, tão próximo... Quase sentia o calor de seu corpo naquele inicio de noite em que começava a esfriar. Olhar os olhos vermelhos dele de perto, ver aquele idiota bem do lado dele... Tinha os dias contados. Em Setembro ele deixaria o Japão e nada daquilo seria mais uma realidade.

— Fiquei falando com Daigo. Estavamos... Falando sobre o futuro. – A resposta foi vaga, porém, não mentiu.

— Estou vendo. – Rantaro não parecia querer abordar o tópico, o que agradou e muito Wakiya – Vai querer companhia até casa?

A pergunta apanhou o outro desprevenido.

— O quê? Para quê?– Uma reação de espanto saiu dos lábios dele. Rantaro se estava oferecendo para o levar até casa.

— Se quer companhia, até casa. Poxa, vocês ricos não entendem o que é companhia, não? É para você não estar sozinho de noite. – O dono dos olhos vermelhos respondeu revirando os mesmos.

Era apenas Rantaro sendo o Rantaro. Gostava de fazer companhia a seus amigos e não se importava de fazer grandes desvios para que estes fossem acompanhados até suas casas em segurança. Mas desta vez, ele não sabia que ao oferecer companhia estava oferecendo um encontro. Oferecendo uma oportunidade de aproximação, de descoberta e emoção, tudo isso que se tornaria em dor, nostalgia e melanconia em poucos meses...

— Eu sei me cuidar sozinho, seu idiota. – A sua reação de proteção mais primitiva foi o seu primeiro impulso como resposta.

Mas este tipo de argumento não afeta nem um pouco a estrutura protetora e companheira de Rantaro.

— Eu sei bem disso. – O recente chamado de idiota distanciou-se uns passos antes de voltar a chamar Wakiya – Venha mais depressa, você vai ficar para trás se continuar nesse passo.

 Era impossível se ver livre dele naquele momento, Rantaro estava decidido em lhe fazer escolta até casa. Ele sabia que aqueles momentos se iriam todos traduzir em dor mais tarde, mas naquele momento, sentir Rantaro ali, sendo o idiota do costume, era muito confortante. Como se tudo estivesse normal e nada fosse mudar em pouco tempo. Sentir os olhos dele nos dele enquanto falam, sentir a sua voz calorosa nos seus ouvidos, aconchegando-o, como num abraço. Ele iria sentir tanta falta de tudo aquilo, mas talvez, naquele momento, o melhor mesmo fosse pensar nele e aproveitar os momentos em que aquele idiota estava ali, logo se preocuparia em deixar de ser egocêntrico e deixar Rantaro voar para longe.


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