Idiot, sweet idiot escrita por Any the Fox


Capítulo 1
Últimos dias




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Era fim de tarde na cidade, faltavam poucas horas para o por do sol, Wakiya estava a treinar perto do canal onde ficava a arena de batalha. Corria no seu passo acelerado e confiante, como sempre, até ao espaço de treinos. Wakiya esperava que seus colegas do antigo clube bey estivessem lá, talvez até pensasse em praticar com o seu Wyvron se os outros estivessem virados para isso. Era normal se encontrarem ali aos finais de tarde, para conversar ou batalhar. Ás vezes Valt levava sobras de pão bey da loja de sua mãe e ficavam a degustar de tal eguaria. Infelizmente, com o final do secundário e a época de exames à porta, esse cenário tornava-se cada vez mais distante...

Wakiya já avistava a arena ao fundo, sorriu de alivio ao identificar os seus amigos, parecia que todo o antigo clube bey estava reunido naquele local. Continuou correndo em direção ao local onde todos se encontravam até que chegou ao seu destino, anunciando a sua chegada.

— Então, a fazendo uma reunião sem mim? – O loiro colocou o seu sorriso sarcástico nos lábios enquanto se ia aproximando da arena.

— Wakiya! – Valt gritou no seu tom exaltado, como sempre – Mesmo a tempo do pão bey!

Agora que estava mais próximo, conseguia identificar claramente seus amigos. Daigo, o rapaz gótico de cabelo espetado, e Ken, o ventriluco, estavam montando um espaço de lazer estendendo uma toalha na grama ao pé do rio. Pareciam ainda não ter notado a chegada do loiro ao local e trabalhavam com afinco para que o espaço ficasse confortável para todos. Perto desses dois estava Sho, o dono das orbes vermelhas, a transportar um cesto carregado de pão bey, devia ter passado pela casa de Valt antes. Agora entendia o entusiasmo do rapaz de cabelo azul. Por fim, Valt era o mais próximo de Wakiya. Recolheu o Valtriek da arena e colocou-o de novo no seu cinto. O azul foi em direção do recém chegado com um sorriso na face e parou a menos de um metro dele.

— Quer se juntar a nós? – O sorriso do mais baixo era gigante e esboçava uma enorme felicidade em vêlo.

— Bem, eu não tinha nada melhor para fazer, então acho que vou me juntar a vocês antes de voltar para casa. – Wakiya revirou os olhos enquanto ajeitava o cabelo. Não sabia como reagir a convites ou quando as pessoas eram simpáticas com ele.

Valt acentiu e fez sinal com a cabeça, como se quisesse que o seguisse. O esnobe egocêntrico deixou se então levar pelo amigo. O grupo parecia já se ter habituado à personalidade de Wakiya. Não reclamavam mais da sua maneira de ser ou da sua frieza. Aprenderam a conviver e a intrepertar o modo como o outro expressava amor. O único que talvez ainda apresentasse certa relutância era Rantaro.

— Ohhh, o Wakiya vem se juntar a nós! Abram espaço para ele se sentar na toalha. – Beso falou da mão direita de Ken, antecipando o grupo da chegada do parceiro.

— Sim! Que o Ego dele é gordo... – Keru reforçou.

— Bem, espero que o pão chegue para todos. – Sho rio no seu tom sereno habitual enquanto posicionava o cesto no meio da toalha e arranjava um lugar para se sentar entre Daigo e Ken – Sente-se, há espaço que chegue para todo o mundo.

Estavam então os cinco sentados na toalha, saboreando as eguarias da mãe do Valt. Faltava pouco para o final do ano... O secundário passa mais depressa do que se pensa... Ainda ontem tinham fundado o clube bey, e agora... Estava na altura de o passarem para outras pessoas. Há muito tempo que não se referiam a eles mesmos como clube bey. Talvez isso os magoasse um demasiado. Não gostavam de falar sobre o assunto, pensar que teriam de deixar o simbolo de sua amizade para trás era doloroso, demasiado doloroso. Então estavam adiando a conversa o mais que podiam... E iriam faze-lo até ao último segundo.

— Ken, o que pretende fazer quando acabare o ano? – Daigo perguntou enquanto trincava um bocado de pão, era inevitável falarem daqueles tópicos em tal altura.

— Ken foi convidado por uma companhia de teatro, – Keru gesticulou da mão esquerda do ventriluco – querem que ele viaje o mundo com eles para dar espetáculos em todos os pontos do globo!

— Nós estamos orgulhosos do que alcansamos! Nunca pensámos que os frutos chegassem tão cedo! – Besu completou o outro fantoche.

Wakiya sorriu, mas por dentro, um pequeno aperto. Ele se tinha acustumado com a vida do secundário. Com o ter tudo ali, com ele. Passar por aquele ponto da cidade e saber que os seus amigos iam estar ali, saber que ia chegar a casa e treinar beyblade, participar em campeonatos... Agora, seus amigos iam para longe... E tudo parecia estar prestes a mudar.

— Isso é demais! – Daigo exclamou de felicidade – Eu acho que vou estudar qualquer coisa a ver com crianças... Meu irmão é uma inspiração muito grande para mim, então queria que mais garotos e garotas podessem ter o apoio que ele teve quando estava no hospital.

Outro aperto no interior do loiro. Aquela conversa era tão séria... E vinda do Daigo... Quando é que ele se tinha começado a importar assim com causas? Não se conseguia lembrar.

— E você, Sho? O que vai fazer? – O próprio Ken perguntou, com curiosidade, ninguém sabia se ele ia prosseguir com beyblade ou não.

— Ainda não sei bem. Tenho uns convites para trabalhar na industrias do beyblade, mas não sei se é o que quero fazer para o resto da minha vida. – Sho parecia muito calmo com a sua falta de certezas.

Isso talvez tenha incomodado Wakiya. Não é que ele não soubece o que queria fazer. Desde que nasceu que isso estava traçado. Ele ia herdar o negócio dos pais e seguir com ele. Wakiya se via a sendo um homem de negócios bem socedido, mas não se via sem a rotina que tinha...

— Wakiya, está tudo bem com você? – Daigo estranhou a ausência do colega. Por esta altura, ele já se estaria a vangluriando sobre o que ia fazer quando acabasse o secundário. No entanto, estava calado.

— Eu? Oh, não é nada. – Wakiya tentou não passar insegurança na sua voz. – Eu só não queria estragar seus sonhos inferiores. Todos sabem que eu me vou sair melhor que vocês todos daqui para a frente.

— Claro! – Valt rio, interpretando aquilo como um “boa sorte”.

No entanto, Daigo notou que algo estava mal... O tom de voz estava arrogante como sempre, e o sorriso acertivo... Mas no fundo daqueles olhos... Algo estava estranho.

— Olha, olha, a comer sem mim. Há lugar para mais um? – Uma voz conhecida, ainda não ouvida, ia-se aproximando do local, pertencia ao único bleyder não presente: Rantaro.

E lá estava o sexto elemento. Podia não ser o elemento mais forte, mas sempre dera certa vida aquele grupo. Sempre fora ele a dar força a todos quando precisavam em combate e não havia melhor suporte emocional que ele... E isso era uma das coisas que mais irritava Wakiya. Como alguém consegue ser mais eficiente para os outros que para ele próprio? Durante muito tempo o loiro não conseguia entender o porquê de alguém ser tão idiota ao ponto de deixar isso acontecer, e ainda hoje, não entende bem o porque de isso acontecer. No entanto, aprendeu a respeitar e invejar isso... Até de certo modo, a gostar disso. E de tudo o que Rantaro era. Rantaro era um idiota, é verdade, mas aquele idiota... Tinha qualquer coisa. Não sabia se era o sorriso, o orgulho, a persistência... Ou apenas o facto de ambos estarem sempre chocando, mas tinha qualquer coisa. E para Wakiya esse “qualquer coisa” era muita coisa.

— Há sempre espaço para mais um. – Sho gesticulou para Valt que abrisse espaço para o loiro se sentar.

Rantaro então se integrou no grupo, se sentando entre Wakiya e Valt enquanto atacava o pão que ainda restava na cesta.

— Fazia tempo que não comia um pão destes!

— Não seja mentiroso, sempre que o vejo estás com um na mão. Wakiya teve de fazer o seu comentário sarcástico do costume.

— Vou ter de concordar com ele desta vez. – Daigo rio com gosto do comentário do amigo.

— Como se vocês me vissem muitas vezes! – Rantaro exclamou exaltado.

Era bom estarem todos reunidos de novo, com a azafama do estudo para os exames finais não andavam tendo muito tempo para reuniões ou festas. Eles esperavam não ser a última... Eles realmente esperavam não ser a última.

— Então, galera, ao que se deve esta reunião do clube bey? – Rantaro perguntou distraído.

O punk tivera tocado na ferida. Ele próprio se tivera arrependido das palavras que sairam de sua boca pela força do hábito, mas era tarde demais. A emoção de estarem todos juntos de novo lhe dera memórias, e fora mais forte que ele.

— Bem... - Valt foi o primeiro a ter coragem para falar - Provavelmente ao facto de que é a nossa última reunião como membros do clube...

O clima ficara pesado. Sim, eles sabiam que iam se seprarar. Não era a  primeira vez que tal acontecia e eles ficariam amigos na mesma! Mas a mudança era tão grande e drástica...

— Vá lá, pessoal, se animem. O clube bey será sempre onde nós estivermos, seja algo oficial ou não. – Daigo tentou apaziguar a situação, notando a evidente aura depressiva que pairava no grupo.

— Sim! Amigos para sempre, lembram? – Besu também tentava puxar a aura mais para cima.

— Sim... – Wakiya suspirou, soou mais incerto e honesto do que pretendia.

Um monte de pensamentos passavam pela sua cabeça. Era tudo muito mais fácil quando era só ele e seu bey. Maldita a hora em que decidiu ter amigos. Era muito bonito dizer que iam ser amigos para sempre e que o clube ia estar onde eles estivessem, mas Wakiya sabia que a realidade era diferente. No mundo real, todos se iriam separar, seguir seus caminhos, empregos... E se esquecer dele. Wakiya não era muito bom em fazer amigos, então já previa os seus tempos de solidão regressando. Olhou para o lado, viu Rantaro a encarar o leque pensativo. Ele não sabia nada sobre o que ele queria fazer. Se queria viajar, ficar pelo Japão... Ficar na incerteza sobre se iria ter Rantaro ali ou não o incomudava e muito, mas nunca se rebaixaria a perguntar.

Daigo observava atentamente todos os movimentos do loiro. Algo se passava, de certeza. E como se ele conseguisse ler perfeitamente os pensamentos do amigo, dirigiu a palavra para o rapaz de t-shirt vermelha:

— Rantaro, já sabe o que vai fazer quando acabare o secundário?

Wakiya extremeceu e olhou para o emissor da pergunta. O rapaz de olhos sombrios encarava os dele, como se esperasse uma reação. O loiro arregalou os olhos... Desconfiava que Daigo tivesse um certo dom para perceber quando as coisas saiam do padrão, sempre fora muito atento aos pormenores, mas nunca pensou que o ele o conseguisse ler tão bem... Focou no olhar do outro, tentando perceber quão fundo na questão ele estava. Daigo acentiu com a cabeça antes de voltar a direcionar a sua atenção para Rantaro. Para Wakiya estes meros segundos chegaram para entender as intenções de Daigo. Ele sabia muito mais do que Wakiya passara.

Entretanto, Rantaro pareceu ficar entusiasmado com a pergunta do amigo, esboçando um sorriso rasgado no rosto e criando uma aura de energia natural em sua volta.

— Ainda bem que pergunta, Daigo – fez uma pausa antes de continuar, seus colegas olham para ele com atenção – eu queria contar para vocês há algum tempo. Eu consegui emprego como treinador em uma equipa profissional de beyblade na Europa, no final do Verão começo a exercer!

Um momento de exaltação com diferentes emoções no grupo.

— Isso é uma oportunidade deslumbrante! Muito bem feito, Rantaro! – Sho deu os parabéns ao colega, esboçava orgulho no rosto como nunca o tinha esboçado pelo loiro.

— O nosso amigo vai ser famoso pelo beyblade! – Era a vez de Besu comentar o acontecimento.

— Sim, e não vai ser pelas derrotas que teve! – Agora era Keru que intervinha com o seu comentário habitual.

— Olhe, está me chamando de falhado por acaso, oh fantoche?! Queria ver-lo chegar onde eu cheguei! – A vítima das acusações dos dois fantoches estava agora exaltado e a tirar satisfações com o fantoche azul.

Todos em volta estavam felizes e a rir, ninguém resistia a uma explosão de Rantaro com um dos fantoches de Ken. Mas no meio das risadas e piadas que aliviaram a conversa anterior, que todos estavam ainda evitando, um ser parecia estar paralizado e em pânico. “No final do Verão começo a exercer” era a frase que assombrava a mente de Wakiya... Então era verdade. Aquele idiota ia se embora... Sem remorço ou vestigios de saudade... Wakiya pensava que o seu mundo estava caindo, mas com esta notícia, estava no chão de certeza. Os olhos paralizados do mesmo moveram se em seu redor, procurava que todos estivessem distraidos com o show de fantoches e não reparassem nele, mas não teve essa sorte. Daigo olhava discretamente em seus olhos, e como se fosse dotado de telepatia, nos seus olhos vinha a mensagem clara que passou para o loiro: “Wakiya, temos de falar”.


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