Demorou menos de um ano para que Amer voltasse a colocar seus pés em Marte novamente. Com a confusão que se resultara da corrida eleitoral, levou tempo até que tudo em relação aos refugiados extraditados da Terra fosse resolvido mas não tanto tempo quanto ele havia imaginado. Em questão de meses ele teve seu visto de passagem entre os dois planetas aprovado, assim como muitos outros que passaram pela mesma situação que a dele.

O governo começaria aos poucos, fora o que lhe disseram, aqueles que haviam sido lesados seriam os primeiros e aos poucos, isso se expandiria para os demais habitantes da Terra.

Aquilo parecia um sonho ou a sensação de um membro do corpo dormente e ele esperava pelo formigamento, pelo momento onde ele acordava daquela realidade estranha.

Receber gentileza de estranhos era algo estranho para ele.

Ser chamado de Amer novamente era estranho para ele.

Andar pelas ruas de Alba sem ter que se esconder era estranho para ele.

Poder fazer manobras no skate com Carole novamente não era. Não. Poder sonhar com ela novamente era algo que não o incomodava, nem um pouco.

— Eu vou conseguir um emprego, então vejo onde posso morar.

— Tem certeza de que não quer ficar no depósito comigo e com a Tuesday?

— É claro que não, Carole.

— Mas eu quero te ajudar Amer!

— E eu te disse que não preciso de ajuda!

— Deixa de ser cabeça dura!

E aquela pequena discussão seguiria, caso seus olhares não tivessem cruzado e ambos começassem a rir sem motivo aparente.

Amer sentia falta de poder rir ao lado dela, era como nos velhos tempos, como se eles não houvessem se separado.

Como se ele não tivesse mudado.

— Você ainda quer cantar?

— E como vou fazer isso? Estou completamente zerado.

— Eu posso pedir ajuda ao Gus, ou quem sabe ao Skip! É, acho que o Skip seria a melhor opção para você.

— Você conhece o Skip!?

— Conheço. Ele já tocou comigo e com a Tuesday quando encontramos o nosso produtor.

Um sentimento passado que ele quase esquecera voltava a florescer em seu peito enquanto ouvia Carole contar como fora gravar o primeiro álbum do duo e de como Skip e sua banda as ajudaram a convencer o produtor do som delas, esse sentimento foi crescendo, e crescendo, até que Amer deixasse que ele tomasse conta por um momento.

Carole parou de falar abruptamente.

As mãos de dele seguravam ambos os lados de seu rosto.

E no instante seguinte, ele beijara suas duas bochechas.

— Você não precisa se esforçar tanto sozinha, Carole.