God save the Prince escrita por Fanfictioner


Capítulo 9
Culpas e descobertas


Notas iniciais do capítulo

Dá até vergonha admitir o tempo que eu levei para atualizar a fic. Eu sinto muuuuito. GSTP acabou ficando meio de lado essas semanas, confesso. Primeiro porque era um capítulo particularmente delicado de se escrever e eu queria fazer direito, segundo por atribulações pessoais mesmo, e terceiro porque eu estava super envolvida com minhas duas fics do Pride Month Fanfics 2020 (que estão saindo agora, procura o pefil do Pride no twitter e conhece mais das histórias!).
Sei que é maldade terminar um capítulo om a reviravolta do último e depois sumir por quase um mês, mas prometo que vou recompensar vocês. Esse daqui tem um fluxo mais lento, e pode parecer que a história não esteja avançando muito, mas garanto que a partir do próximo voltaremos ao bom clima de sempre.
Espero que gostem, vejo vocês nas notas finais!

Ah, eu betei ele muito rapidinho para que saísse ainda hoje a postagem, então relevem algum erro que tenha passado batido. Beijo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791842/chapter/9

Demorou muito pouco para que James e outros dois homens carregassem Sirius para fora do lago, deitando-o no chão. Daquela distância, Lily não conseguia saber se ele estava consciente ou não, e a cada segundo que se passava, o desespero se avolumava dentro dela. Era sangue aquela mancha escura na camisa de Sirius? Ou só a sombra do tecido molhado?

— Eu não... eu juro qu- - as palavras não conseguiam sair, e Lily se sentia terrivelmente culpada.

O conde apareceu, quase correndo, numa mistura de raiva e nervosismo, com a esposa e a filha em seus calcanhares. A multidão que participava da feira começava a se aglomerar em grupinhos curiosos, e algumas pessoas faziam uma esforço em conter as demais distantes, em uma área de segurança, para evitar piorar a gravidade da situação. O parque era enorme, mas naquele momento parecia que todos haviam se juntado próximo aos cavalos para ver quem tinha sido arremessado por um coice.

— Quem foi o responsável? – perguntou ele, oscilando entre a seriedade e a irritação – Quem foi?

— Senhor... Mi-Milorde... foi um a- acidente. – gaguejou um dos funcionários da hípica, encolhendo diante da postura severa do conde. – Lord Si-Sirius ficou muito pró-próximo de um cavalo nosso.

— O animal estava irritado, senhor. E ainda estava sendo adestrado. – explicou outro.

— Então por que, diabos, trouxeram um animal não adestrado para uma feira de família?! – gritou ele, as maçãs do rosto ficando vermelhas. – Um membro da família real foi atacado porque vocês são uns incompetentes! Eu quero esse animal morto!

— Papai!

Lily sentia o estômago se contorcer de tanta culpa. Sirius ser atacado fora única e exclusivamente culpa dela, dela e daquele chapéu idiota. Animal ou funcionário algum merecia passar por violência ou punição. Não a culpa era exclusivamente dela! A dimensão das coisas escalonara rápido, e havia muitas pessoas com celulares com as câmeras ligadas.

Era questão de minutos até que a cara de Lily estampasse tabloides, que a acusariam de tentativa de assassinato do terceiro na linha de sucessão ao trono inglês. Mais do que medo e apreensão, Lily estava desesperada com a saúde de Sirius, e achava que seria corroída de culpa.

— Senhor... eu, eu sinto muito. A culpa é toda minha. – murmurou Lily, encolhida de constrangimento, e completamente assustada pela dimensão dos acontecimentos.

— Pare de ser boba, Lily.

A ideia de que Sirius provavelmente tinha tido seus órgãos perfurados e estourados e estava morrendo naquele exato segundo criou forma dentro da cabeça de Lily, e o pânico começava a se avolumar, deixando-a sem ar. Ela seria levada a julgamento por homicídio culposo? Bem, claramente a legislação inglesa permitiria, e não havia muito que ela pudesse fazer se o júri fosse monarquista.

E se vissem seus posts em redes sociais, da época do ensino médio, falando que não gostava daquela exposição exacerbada da família real? Daí, talvez, pudessem alegar homicídio doloso. Deus, ela estava entrando em parafuso! O medo e a culpa deixando sua ansiedade controlar todos os pensamentos.

— Foi culpa minha. Foi tudo minha culpa, mas juro que não queria! – o conde virou-se na direção dela, e Lily sentiu os olhos arderem diante da severidade da expressão furiosa dele. – Lord Sirius estava tentando recuperar meu chapéu, mas eu juro que foi um acidente, eu não queri-

E toda sua pouca compostura principesca se esvaíra, porque Lily caiu no choro quando ouviu as sirenes de uma ambulância entrando no parque. Céus ela não queria que Sirius morresse! E muito menos queria ser presa, culpada pelo assassinato dele!

O conde respirou fundo, tentando manter a calma e orientar o que devia acontecer, porque pessoas em pânico certamente não ajudavam, e ele estava muito furioso com a hípica para deixar de lado sua posição de que aquele cavalo devia ser morto.

— Ah, pelos céus, Milady, você não teve culpa alguma. Alguém arranje um calmante para Lady Lily. A culpa é dessa hípica irresponsável, e desse anima-

— Papai, o cavalo não tem culpa alguma. – interferiu Dorcas, também muito nervosa. – Por favor, não seja irracional.

— Silêncio, Dorcas. Não é sobre sua feira, o príncipe provavelmente está muito ferido, e alguém precisa ser punido! Eu quero esse adestrador demitido! – o dedo do conte em riste para a filha.

James retornara, meio transtornado, completamente encharcado até próximo da cintura, carregando o chapéu ensopado de Lily.

— Sirius está estável. Ninguém precisa ser punido, Primo Emmanuel. Foi um acidente, e eu tenho certeza de que ele detestaria que alguém fosse punido por isso. – a expressão do conde pareceu suavizar um mínimo. – Ninguém vai ser demitido, não se preocupem.

Os funcionários da hípica pareceram respirar pela primeira vez desde que a confusão começara, e por mais nervosos que todos estivessem, o tom de James era tão sensato e sereno que não houve quem ousasse insistir. Nem mesmo o Conde.

Lily estava sentada em uma cadeira que tinham trazido, tremelicando as mãos, com Lady Saska tentando fazê-la se acalmar, estendendo um copinho de água. A expressão de James era séria e preocupada, e Lily procurava o olhar dele, assustada, pensando que queria desesperadamente um abraço acolhedor e acalentador. Mas era óbvio que isso não iria acontecer. Não ali, em meio àquele monte de gente.

A ambulância chegou bem próximo de onde estavam, estacionando sobre o gramado, e houve um tumulto momentâneo, enquanto os paramédicos retiravam a maca de dentro do veículo. Dois deles seguiram, correndo, até aonde Remo amparava Sirius, rodeado de outros funcionários da hípica, enquanto o motorista ficou entre o conde e as outras autoridades, colhendo informações sobre o ocorrido.

Não era como se Lily conseguisse prestar muita atenção no que acontecia, e Dorcas segurava uma de suas mãos com delicadeza, pedindo a todo momento que mantivesse a calma, que tudo ficaria bem. Marlene parecia em estado de choque, porque não tinha dito quase nada, e estava ali, parada, quase sem reação ao fato de seu “namorado” ter sido acertado no peito por um cavalo.

— Vamos levantar no três! Um, dois... três! – Lily ouviu um dos paramédicos dizer, e logo em seguida a maca suspendeu, passando a ser empurrada até a ambulância.

Havia um paramédico de cada lado, sendo um deles assistido por Remo, e o outro pelo diretor da hípica. Quando a maca chegou mais próximo, Lily levantou-se num pulo nada gracioso, roendo-se em culpa e preocupação.

Era difícil ver Sirius muito bem devido à aglomeração de pessoas ao entorno dele, mas ele estava consciente, embora com uma expressão de bastante dor. Marlene aproximara-se e andava acompanhando a maca em direção à ambulância, e Lily, Dorcas e James, acompanhados do Conde e da Condessa, faziam uma segunda fila, de espera ao lado da porta traseira do veículo.

— Precisamos de um acompanhante para preencher documentos na chegada do hospital. – explicou o motorista enquanto a maca subia para dentro.

Houve um burburinho de discussão sobre quem deveria ser o acompanhante.

— Você devia ir, James. – recomendou o Conde.

— Receio que não me deixem entrar lá encharcado assim.

— Miss...? – perguntou o motorista, indicando Marlene, surpreendentemente calma, segurando a mão de Sirius.

Marlene demorou a perceber que falavam com ela, então olhou de Sirius para os paramédicos, e então para James e depois Remo. Todos pareciam preocupados demais. Havia uma expressão meio indecifrável no olhar de Marlene, que Lily teve certeza de que só Remo lera completamente.

— Vai você, Remo. Eu vou de carro e os encontro lá. Você, pelo menos, pode tentar ajudar.

Remo assentiu, sério, mas Lily jurou ter tido a impressão de que ele suspirara de alívio. Era compreensível. Se ela tivesse prestado os primeiros socorros em alguém, detestaria não saber o desenrolar em tempo real. Além do que, Remo estava estudando para ser médico, era o mais capacitado a ir junto. Mas parecia haver algo a mais.

Lily só não conseguia se acalmar o bastante para entender o que estava perdendo.

Marlene não pareceu muito incomodada, e foi só quando Remo subiu na ambulância, sentando-se em um mini-banco, e a porta se fechou, que ela deu um suspiro e apertou as mãos nervosamente.

Foi muito rápido, e Lily mal pode processar de onde tinha vindo, mas em questão de segundos outro veículo entrou no parque, em uma velocidade considerável, estacionando perigosamente próximo à ambulância. Nas portas do carro havia logos anunciando se tratar de veículo institucional, seguida da imagem símbolo de um canal de televisão que Lily desconhecia, e quando a primeira pessoa desceu do banco do carona, ela estava com uma câmera e um microfone portáteis em mãos.

— Sir Emmanuel! É verdade que Lord Sirius foi gravemente ferido?! – perguntava a mulher, que agora estava acompanhada por um homem que carregava materiais de filmagem.

James e Dorcas se adiantaram, tentando deixar Lily menos exposta, a tensão crescendo. A sirene da ambulância começou a gritar e o veículo fazia seu caminho para fora do parque, em direção ao hospital. As pessoas que participavam da feira faziam burburinhos incômodos e começavam a se amontoar em direção ao Conde.

— Eu não vou me pronunciar até que os médicos o façam primeiro. – disse o Conde, de cara fechada, indo em direção ao pequeno palco em que havia falado mais cedo.

Dorcas, Marlene, James e Lily o seguiram como cães de guarda, tal qual a condessa, em silêncio. A equipe jornalística parecia igualmente determinada, e adiantava-se, andando na frente do conde, com a câmera e o microfone voltados a ele.

— O que, de fato, aconteceu? Vossa Senhoria pretende assumir a responsabilidade dos danos causados pelo acidente sofrido pelo Príncipe? Sansões e punições devem ser esperadas aos responsáveis? Quem são esses responsáveis, Sir Emmanuel?

A mulher insistente e não parecia se incomodar com o fato de estar sendo, até ali, ignorada solenemente pelo conde. Lily não gostava nada da ideia de câmeras tão perto dela enquanto acompanhava membros da realeza, mas não havia outra opção senão manter o papel e continuar ali.

— Está indo bem, não demonstre reação. – sussurrou James a seu lado. – Vai ficar tudo bem.

— Miss Marlene, apesar de ter vindo ao evento como acompanhante de Lord Sirius, não foi a senhorita quem o acompanhou ao hospital, a que se deve essa escolha? Pudemos ver o senhor Lupin entrar na ambulância quando chegamos, é ele quem será o responsável pelo Príncip-

— Não vou comentar. – disse Marlene, virando o rosto e recebendo dezenas de cliques de câmeras instantaneamente.

A repórter, sem desânimo, virou-se para Dorcas, e Lily ficava mais apreensiva a cada segundo, pensando em quando aquela roleta russa de microfone e câmera se viraria em sua direção, apertando um fulminante gatilho de fofocas a seu respeito para toda a Inglaterra.

— Lady Dorcas, a senhorita acredita que seja de sua responsabilidade o acidente sofrido pelo Príncipe Sirius, já que o evento estava sob organização da senhori-

— Chega! Vão embora, seus abutres! Já disse que não nos pronunciaremos! Nem eu, nem qualquer membro da família Mountbatten vai se pronunciar até que haja o primeiro boletim médico, e isso é final! – interrompeu o conde, furioso, apontando o dedo para a mulher.

Lily podia ver, claramente, uma veia saltada no pescoço do pai de Dorcas, que também estava com o rosto afogueado e as mãos cerradas em punho. Um calor veio no peito de Lily por perceber que ali era o fim da linha, não havia a menor chance de os repórteres conseguirem qualquer outra informação.

E foi então que a impetuosidade da mulher surpreendeu Lily.

— Príncipe James, vossa alteza poderia comentar o ocorrido?

O sangue de Lily gelou, e por um momento ela podia sentir a luz da câmera queimando em se rosto tanto quanto o sol fizera o dia inteiro. O microfone estava apontado para James, e ela agradeceu que estivesse de óculos escuros (cortesia da Condessa para que Lily pudesse esconder os olhos vermelhos de choro ansioso).

— Príncipe Sirius receberá atendimento médico e até lá qualquer pronunciamento será especulação. Sugiro que aguardem a nota oficial que deverá ser emitida pela equipe de comunicação do Palácio de Buckingham, que tem a responsabilidade sobre a imagem de Sua Alteza. Os senhores sintam-se dispensados. – disse ele, com toda a diplomacia que lhe era característica.

Lily achou que entraria em pranto de novo, mas mordeu o lábio, segurando o choro e o nervosismo.

Os repórteres se afastaram, claramente dispostos a colherem informações sobre o acidente com qualquer um dos frequentadores do evento, enquanto o conde subia ao palco e tomava o microfone em mãos para falar com as pessoas.

— Dado o acidente com Sua Alteza e a necessidade de prestarmos acompanhamento, aviso que a Feira será encerrada mais cedo. Lamento, mas não será possível continuarmos hoje. A prestação de contas será divulgada na próxima reunião do comitê de organização, na próxima...

— Sexta-feira. – disse Dorcas, passando a informação ao pai.

— Na próxima sexta-feira. Agradecemos mais uma vez a presença de todos e lamentamos o ocorrido. Um bom fim de tarde e bom final de semana a todos.

Fora um pronunciamento rápido, e o Conde logo desceu do palco, puxando o paletó do terno, em um claro sinal de nervosismo.

— Quem de nós vai ao hospital? Remo disse que já chegaram lá, e que Sirius já está em atendimento. – disse James, olhando da tela do celular para o Conde.

— Eu vou, estou de carro.

— Então vou colocar uma roupa seca e a acompanho, Marlene.

— Lady Saska e eu vamos ficar para acompanhar o encerramento. Mas caso sejamos necessários, nos avisem e iremos ao hospital também. – acrescentou o Conde, ao que James e Dorcas assentiram.

— Vou levar Li- Lady Lily para casa, papai. Para que ela tome um calmante e possa descansar.

O conde pareceu satisfeito com a divisão de tarefas e logo direcionou-se às barraquinhas de feirantes, enquanto Lily, James, Dorcas e Marlene iam em direção à Mountbatten House, para que James se trocasse e Lily pudesse receber o calmante.

No segundo em que pisaram dentro de casa, foi inevitável impedir Lily de abrir-se em soluços desesperados e um choro assustado, cheio de culpa. Um funcionário foi mandado buscar um calmante, enquanto Marlene e Dorcas colocavam Lily sentada em um sofázinho, e James se agachava na frente dela.

— Calma, Lils. Vai ficar tudo bem, eu juro! Não é culpa sua, nada foi culpa sua. – murmurou ele, afagando as mãos nervosas de Lily.

— Foi um acidente, Lily. Ninguém culpa você. – disse Marlene tentando acalmá-la, mesmo que Lily seguisse chorando copiosamente.

Alguns minutos depois, devidamente medicada e estável, Lily pode finalmente se expressar.

— Eu juro que nunca quis machucar Sirius. E eu fiquei com tanto medo quando aqueles jornalistas apareceram.

— Canalhas. Eles foram uns abutres, isso sim. São de um canal local de notícias, adoram tragédia. – explicou Dorcas, revirando os olhos.

— Alguém, com certeza, vai ter dado as informações que eles queriam, mas não precisa se preocupar. Nós temos mesmo que ir ao hospital agora. Você vai ficar bem? – perguntou James, preocupado com ela quase tanto quanto aparentava estar com Sirius.

— Ela vai dormir, Jay. Esse ansiolítico vai bater loguinho. Vou ficar de guarda, podem ir tranquilos.

James encarou Lily mais alguns momentos, tentando ler o que se passava na cabeça culpada e ansiosa dela. Os olhos de Lily estavam inchados e úmidos, com as pupilas muito dilatadas, e ela parecia uma criancinha assustada, vestida de adulta.

Havia um sentimento de culpa nele também. Uma vontade de ficar e proteger Lily, passar um tempo com ela e dar toda a atenção de que ela precisava naquele momento. Afinal, toda essa situação só acontecera porque ele fizera questão de que Lily estivesse ali junto naquele final de semana, enfiada em meio a uma vida de nobreza a que ela não era nem um pouco acostumada.

Mas naquele momento ele precisava apoiar Sirius, e, principalmente, apoiar Remo. Era cruel que ele estivesse precisando acompanhar tudo e se sentir extremamente fragilizado emocionalmente sem poder demonstrar como se sentia sobre o próprio namorado. Namorar em sigilo quando se era uma figura pública podia ser realmente uma missão quase impossível (e muito torturante).

James inclinou-se, deixando um beijinho na testa de Lily e então saiu com Marlene, devidamente trocado em roupas secas e pronto para poder entrar no hospital.

— Vem, Lily... vamos lá para cima. – chamou Dorcas algum tempo depois, quando Lily estava com um olhar perdido e deprimido.

— Eu fico pensando em Sirius o tempo todo.

— Ele vai ficar bem. Vamos, você precisar se deitar um pouco. Foi um dia estressante, e o remédio logo vai fazer efeito. Eu vou ficar com você.

E realmente ficou. Dorcas deixou que Lily se trocasse em uma roupa confortável e vestiu seu próprio roupão de ficar em casa, indo ficar com Lily na suíte dela. Lily deitou-se e Dorcas ficou recostada na poltrona, assistindo à um filme clichê que passava na televisão, e logo Lily pegou no sono, sob efeito do calmante.

***

— Eu achei que vocês nem viriam mais.

— Desculpe, Lily não estava nada bem, e eu estava tentando acalmá-la. – disse James assim que entrou na sala isolada de espera em que Remo estava sentado. Privilégios nobres. – Notícias?

— Ela deve estar se sentindo péssima. Mas foi completamente um acidente, ela não tem culpa alguma. Não, sem mais notícias. Ele foi levado para fazer uns exames, e iam avisar quando tivessem resultados.

Marlene adiantou-se e, sem falar qualquer coisa primeiro, abraçou Remo, afundando o rosto na curva do pescoço dele. Foi só então que ela se permitiu chorar um pouco.

— Ei, ei... calma. Tá tudo bem, Almofadinhas está bem. Eu não acho que foi sério, ele estava respirando bem, então não acho que perfurou nada. – disse ele, afagando os cabelos louros de Marlene.

James o olhou com seriedade, sabendo que por detrás daquela camada de frieza e calculada racionalidade, Remo estava sentindo-se despedaçado perante a possibilidade de Sirius ter se machucado severamente. Não o culpava. Se fosse com Lily, ele provavelmente estaria andando de um lado para o outro, completamente descontrolado.

E ele só estava com Lily há alguns meses, diferentemente dos quatro anos juntos que Sirius e Remo tinham.

— Está com fome?

— Não. Mas estou com sede. – disse Remo, sentando-se e deixando Marlene ficar com a cabeça em seu ombro.

— Eu vou buscar água. E dar uns telefonemas para ver como as coisas estão lá em Londres. Disse a Emmanuel que eu resolveria as burocracias do Palácio.

Remo assentiu, em silêncio, e James saiu para comprar garrafinhas de água e falar com a equipe de imprensa. Já era público que o Príncipe Sirius, Duque da Cornualha, tinha sofrido um acidente com um cavalo em Chelmsford, e era inevitável que a bomba já estivesse estourando em Buckingham, então o que restava fazer era tranquilizar a todos e esperar o resultado dos exames para saber o que fazer sobre Sirius e sua imagem.

E torcer para que a matriarca, Sua Alteza Real e Imperial Vitória Potter, não mandasse matar o animal (ou prender o adestrador) que causara o acidente com o terceiro herdeiro da coroa.

No geral, os telefonemas tinham corrido bem, e a equipe de comunicação do palácio estava preparando notas, que viriam a público assim que houvesse uma resposta concisa da equipe médica. Já havia planos de remover Sirius para o St. Thomas’s Hospital, em Londres, e tudo estava organizado, embora agitado e em aberto.

— Tudo certo, vovó ainda não mandou matar nenhum cavalo. Parece que estamos no lucro. – disse James com um humor forçado, dando uma piscadinha que fez Marlene rir. – Suas águas.

Demorou mais algum tempo, quase outra hora, até que alguém aparecessem com notícias. Remo, James e Marlene não se falavam muito, cada um absorto em suas próprias ponderações e pensamentos sobre o acidente.

— Sir Remo Lupin? – um funcionário chamou.

— Sim, eu. – Remo levantou-se, assim como Marlene, e as atenções estavam no funcionário do hospital.

— Os senhores são os acompanhantes do Lord Sirius? – houve concordâncias com a cabeça. – O Dr. Dumbledore disse que os senhores podem ver o Duque. E está à disposição para esclarecimentos dos exames também. Eu vou acompanhá-los, por aqui, por favor.

Os corredores do hospital eram largos e muito modernos, e enquanto andavam em direção ao quarto em que Sirius estava, muitos enfermeiros os cumprimentavam com abaixadas de cabeça em tom solene. James gostaria de ter dito que não queria que fizessem aquilo, mas sua tensão estava elevada demais para ter tido a delicadeza de sempre.

— Podem entrar.

O quarto em que Sirius estava não era exatamente grande, e os três visitantes precisaram se espremer em um cantinho. Um enfermeira instalava uma bolsa de soro com medicamento no acesso que havia no braço de Sirius e um médico de idade mais avançada esperava, com um sorriso bondoso, um pouco afastado da maca. Sirius parecia bem, e tirando a feição meio pálida e os arranhões que ele exibia no rosto, cortado pelas plantas do lago, não parecia haver maiores problemas.

Ele até sorria, achando graça daquela gente toda em torno dele.

— Sirius! – gemeu Lene, preocupada. – Como você está?

— Nada tão eficiente quanto ser acertado por um cavalo para me fazer perceber que suas ironias realmente são coices, Marlene. – debochou ele, com um sorriso sacana que fez James gargalhar.

Marlene deixou os olhos encherem de lágrimas, dando um sorriso pela piada ruim dele, enquanto Remo parecia meio aéreo, quase longe dali.

— É sempre curioso ver pacientes com um senso de humor tão... particular. – disse o médico, com um sorrisinho sutil. – Eu sou Albus Dumbledore, médico traumatologista responsável pelo senhor Black.

James estendeu a mão para cumprimentar o médico, sendo seguido por Remo.

— Não há necessidade de preocupação. Há uma costela fraturada e uma trincada, mas nenhum órgão foi perfurado. O senhor Black está muito bem e estável.

— Mas podemos transferi-lo para Londres antes da operação, não podemos? – perguntou James. – Ou ele vai ser engessado?

— Não vai precisar de cirurgia, James, e não tem como engessar uma costela. – explicou Remo, fazendo Dumbledore observá-lo com um interesse curioso. – Se não houve perfuração, nem hemorragia qualquer, o repouso deve bastar para cicatrizar tudo. Certo, Dr. Dumbledore?

— É residente, senhor...?

— Lupin. Remo Lupin. E não, senhor. Sou acadêmico ainda, em Cambridge. – disse ele, corando.

Houve um brilho risonho na expressão de Dumbledore, e ele deu tapinhas na perna de Sirius enquanto falava.

— Cambridge. Excelente escola. – pareceu que Dumbledore devaneava. – Perfeita análise. Diga-me, o que pensa?

Ele estendeu a Lupin o prontuário que havia pendurado ao lado da maca em que Sirius estava recostado. Nem James nem Marlene conseguiam compreender o que estava escrito ali, tanto porque as nomenclaturas pareciam palavras inventadas quanto porque a caligrafia de Dumbledore, com as prescrições, era pouco legível, mas Remo pareceu achar tudo normalmente comum.

— Eu chegaria a mesma conclusão, penso, senhor. Exercícios de respiração e anti-inflamatórios com analgésicos. – disse Remo algum tempo depois.

— Fico feliz que compartilhe minhas percepções, pensar sozinho poder induzir ao erro tão facilmente.

Era como se Dumbledore fosse uma mistura de sabedoria e lunatismo. O jeito como falava e parecia estar constantemente devaneando não inspirava uma completa confiança no diagnóstico, e James se perguntava se não seria melhor enfiar Sirius no carro e dirigir até Londres de uma vez.

No entanto, havia uma perspicácia e uma sapiência que Remo conseguia ler por debaixo dos óculos meia lua que o médico usava que o fazia sentir que Dumbledore era completamente humilde sobre suas capacidades como médico, embora muito competente. Traumatologia não era lá uma área muito atrativa, e Remo pensava que o Conde jamais teria deixado Sirius ser atendido em um hospital que não fosse adequado.

— É só isso? – Marlene perguntou, igualmente desconfiada e achando tudo uma piada.

— Felizmente, hoje é só isso. O senhor Black deve ter repouso absoluto por duas semanas e então refazer seus exames. Algumas medicações vão ajudar a aliviar as dores, e deixemos o resto da recuperação  na responsabilidade do próprio corpo dele.

— Em resumo, tudo certo, minha gente. Saindo daqui vamos tomar aquela cerveja. – disse Sirius em ironia, dando uma piscadinha.

Dumbledore o olhou risonho, com curiosidade e parecendo pensar, então disse, sem qualquer contexto.

— O senhor gosta de sorvete de limão, senhor Black?

— Sorvete de limão?

— É o meu predileto. Talvez eu deva tomar um hoje, quando sair do plantão. – ele torceu uma caneta nas mãos, dando um sorriso acolhedor. - Vou deixar sua alta assinada para quando essa medicação acabar, tenham um bom final de semana, senhores.

James achava que cairia em gargalhadas, porque o Dumbledore parecia um personagem tragicômico de uma peça satírica, e mordeu o lábio para conter-se. Marlene assentiu, meio embasbacada, indo sentar-se em uma cadeira de acompanhante, e Remo prestou seus agradecimentos ao médico, sendo o único capaz de manter uma postura adequada.

— Ele é lunático! – disse James no segundo em que Dumbledore saiu.

— Achei ele fascinante. Pirado, mas fascinante. Será que a vovó arranja um médico assim em Londres? – perguntou Sirius rindo, recebendo um tapinha de James na perna.

— Que susto eim?

— Eu que o diga. Foi rápido demais! A ruiva gritou, e quando eu me dei conta, tinha uma pata esmagando meu peito.

Marlene virou a cara, contorcendo-se em repulsa com a ideia de imaginar o acidente em reprise. Remo estava quieto, observando Sirius falar sobre o episódio, parado no mesmo lugar de antes, sem muitas reações de maneira geral. Talvez fosse o trauma finalmente caindo sobre ele, a adrenalina passando e a percepção da gravidade do que acontecera.

— A Lily está bem?

— Está se sentindo a pior das pessoas. – comentou Marlene.

— Imaginei. Que merda eim? Ela não deu muita sorte nesse primeiro encontro com a gente, e não foi nada culpa dela, coitada.

— Primeira vez que ela conhece você e já é enfiada nas suas confusões, ein, Almofadinhas? – debochou James, sensivelmente mais leve agora que sabia que Sirius estava bem.

Sirius riu, e logo se arrependeu pois a pressão no peito causou desconforto e dor. Ele fez uma careta e um gesto de espera com a mão, agarrando a grade da cama com força enquanto o incomodo não passava.

— Repouso, Almofadinhas. Repouso. – pediu Remo, sério. Sirius o olhava com uma expressão séria.

— Você está bem?

— Ótimo. – Sirius arqueou uma sobrancelha, sentindo a frustração que Remo segurava. – Estou cansado, só isso.

— Rem... – insistiu ele.

— Sirius, me deixa. Por favor. Já foi suficientemente ruim ver você estatelado, todo ferrado, e eu precisando bancar o tranquilo. Só quero ficar quieto.

Marlene abaixou a cabeça, constrangida, e James oportunamente virou-se em direção à janela, observando o dia ainda muito claro e a vista que o quarto tinha do centro comercial da cidade. Havia pessoas andando em grupinhos e casais com sacolas de compras e casquinhas de sorvetes.

— Estou ficando com fome, que horas são mesmo? - perguntou ele alguns segundos depois, tentando aliviar o clima.

— Não precisava ter sido o tranquilo. Ninguém ia achar nada estranho, a gente é amigo desde sempre. – disse Sirius com seriedade.

— Marlene não estava desesperada. Ia ser completamente normal sua namorada estar lá, tranquila, calma, e seu amigo entrando em surto, né, Sirius? Você não pensa? Falta isso aqui para alguém juntar as peças sobre a gente! – exasperou Remo, indicando com os dedos uma medida muito pequena.

A expressão de Marlene crispou-se em culpa, e quando ela levantou a cabeça, era possível perceber que os olhos dela estavam úmidos.

— Eu fiquei nervosa, me desculpa. Não consegui ter reação. E Lily estava tão assustad-

— Não é sua culpa, Lene. Estamos falando de outra coisa. – pediu Sirius, encarando Remo.

— É. Estamos falando sobre a merda que é eu só poder ter reações emocionais depois de ver como todo mundo está se portando ao meu redor. – os olhos de Remo estavam cheios de água. – Foi puta assustador, Sirius! Deu para ver você sendo arremessado, sabia?

Remo começou a chorar silenciosamente, e receando que logo algum enfermeiro fosse entrar para ver o porquê da confusão, James se adiantou e abraçou o amigo, deixando-o deitar a cabeça em seu ombro.

— Tá tudo bem. Você foi forte pra caralho, e vai ser um médico brilhante, tá bem? Sirius está bem, e ninguém está desconfiando de nada, eu garanto. Mas você precisa ficar calmo, Aluado. Tá bem? Calmo.

James conduziu alguns exercícios de respiração com Remo até que ele se acalmasse e, embora com os olhos vermelhos, ele parecia sensivelmente menos estressado do que antes. Sirius não pode fazer muito além de ficar oscilando entre olhar Remo e olhar a paisagem da janela, tentando parecer que estava calmo, embora sentisse uma dor incômoda no peito, tanto física quanto emocional.

Alguns tempo depois, quando Remo já estava calmo, Sirius estendeu a mão para fora da cama, ignorando completamente o acesso preso na articulação daquele antebraço, num pedido mudo de que Remo viesse até ele.

— Desculpe. Sei que deve ter sido uma merda, mas você não precisa ser um robô, Rem. – disse ele, falando mais baixo do que de costume, e respirando com delicadeza. – Obrigado por ter se arriscado, por ter ficado. Sério.

— Eu ficaria de qualquer forma, Sirius.

O sorrisinho tristonho que Remo deu fora suficiente para que James sentisse a profundidade do afeto dos dois. Achava que, tirando seus pais, não haveria qualquer casal da família real que se amasse genuinamente, já que sempre precisava haver interesses e compensações financeiras envolvidas para que sua avó aceitasse o relacionamento.

Mas ali estavam os dois, com o afeto mais real que James pudera presenciar em sua vida de príncipe, e com uma limitação idiota e preconceituosa que os impedia de se amarem em público. Às vezes James achava que se revoltava por isso mais do que Remo e Sirius juntos, e pensava que seu primeiro ato como regente seria escancarar permissões de casais LGBT no Palácio de Buckingham.

Afinal, a fofoca nunca era tão grande quando membros da família real eram vistos com amantes em público, ao menos não tão grande quanto seria se Sirius e Remo trouxessem seu relacionamento a público.

— Então, vamos às questões práticas, Aluado. – disse Sirius algum tempo depois, em um tom de falsa seriedade.

— Diga.

— Até essas costelas voltarem ao normal, nada de você por cima de mim. Não vai poder se apoiar no meu peito.

— Então Sirius é o ativo? – perguntou Marlene.

— Eu acho que depende do dia, Remo tem cara de ativo. – implicou James, fazendo Remo rir e Sirius se segurar para não gargalhar.

— Você duvida que eu seja o ativo, Pontas?

— Eu duvido que o Aluado seja só passivo. Quer dizer, olha essa carinha de fluido!

A discussão sobre os papeis de Sirius e Remo no relacionamento durou até quando o soro com medicamento acabou, embora tenha retornado no caminho de volta para casa. Era pouco antes das sete da noite quando eles estacionaram em Mountbatten House.

O conde estava muito satisfeito, e a condessa aliviada, de que Sirius pudesse ficar de repouso em casa, e James se colocou a disposição para levar Sirius de volta a Londres no dia seguinte. O jornal que era exibido às 19h apresentou a nota que o Palácio de Buckingham publicara, com desejos de melhoras ao Duque da Cornualha, e tudo estava razoavelmente organizado após o caos do meio da tarde.

Com tanta comilança na feira, somada ao cansaço e ao estresse que o evento provocara, a condessa dispensou o jantar daquela noite, avisando que cada um estaria livre para pedir o que desejasse à cozinha, e que poderiam jantar em seus quartos.

— Acho que vamos todos fazer companhia a Sirius, mamãe. – disse Dorcas, ignorando a olhadela repreensiva que o pai lhe dava por não se referir a Sirius como Lord Sirius. – E acho que Lily também não deva ficar sozinha, ela está bem abalada.

A condessa concordou, e dizendo que se retiraria para o quarto, junto com o conde, deixando todos os funcionários à disposição dos jovens.

— Anna, peça que preparem sopa fria de tomate, e uma carne assada com pão preto deve bastar. Vamos todos beber suco mesmo. Para servir na suíte Hades, lá em cima. E veja alguém para levar mais travesseiros, Lord Sirius não pode fazer muito esforço no peito.

Dorcas sabia ser direta e exigente de uma maneira bondosa e amável, e era impossível que não a vissem como a mistura cabal de seus pais. O conde autoritário e a condessa amável.

— Eu vou ajudar Sirius a se trocar, e depois tomar um banho e tirar essa roupa imunda. – disse Remo, observando a sujeira de terra e grama no próprio terno.

— A gente sabe bem a ordem em que essas coisas vão acontecer. – provocou Dorcas, fazendo Sirius rir e ofegar para respirar, ao que ela entendeu a limitação de risos.

— Eu vou me trocar também, acho que Dorcas é a única já confortável aqui. – comentou Marlene enquanto subiam as escadas devagar, acompanhando ritmo de Sirius.

— Lily está dormindo. Seria bom você ir lá depois, James. Não sei se seria muito agradável que eu ou Lene fizéssemos isso.

James assentiu, avisando que tomaria um banho primeiro e então iria chamar Lily para juntar-se a eles no jantar. A hora avançou enquanto todos finalmente relaxavam em banhos longos e demorados, colocando roupas confortáveis, e embora ainda houvesse luz do sol lá fora, a brisa mais fresca avisava que a noite cairia em alguns minutos.

Lily ainda ressonava tranquila, completamente sob efeito do calmante, quando James bateu à porta, entrando devagar depois de alguns minutos sem resposta. A feição dela estava relaxada, e era possível perceber quão inchados os olhos tinham ficado depois do choro intenso e culpado dela.

Ele sentou-se no lado vazio da cama, esticando-se para fazer um carinho suave no cabelo e no rosto de Lily, chamando-a baixinho até que despertasse.

— James? – perguntou ela, com a voz engrolada e os olhos semiabertos, confusos com a claridade do sol se pondo que invadia o quarto pelas cortinas abertas da janela.

— Estamos de volta já, querida. – disse ele, sorrindo amável.

— Cadê o Sirius? Ele operou? Ele está bem?

— Shiu. Está tudo bem, Sirius está bem. Já está aqui em casa, em repouso. Não vai operar nada, está tudo bem. – murmurou ele, tentando evitar que Lily se sentasse de supetão, apavorada.

— Que horas são?

— Perto das oito. Vamos jantar?

— Não estou com fome. – disse ela, coçando os olhos para se acostumar à luz e arrumando os cabelos.

James se aconchegou mais e puxou Lily para perto, aninhando-a como um bebê, afagando-lhe os cabelos ruivos, em um silêncio quase reconfortante. Não havia muito que falar, e James sabia que estava sendo um final de semana muito intenso para ela.

De repente, a ideia de ter convidado Lily a se juntar a ele nesse compromisso parecia estúpida e imatura, como se ele tivesse voltado a ser o adolescente inconsequente e baderneiro que se metia em confusões com Sirius apenas para irritar a avó.

— Desculpe ter enfiado você nisso. Eu não pensei direito. Acho que queria tanto que você... sei lá, que entendesse meu mundo, que visse que não somos só babacas metidos e arrogantes, cheios de firulas, que acabei enfiando os pés pelas mãos. E arriscando expor coisas muito importantes.

Lily não falou nada por um momento, e James achou que aquilo doera mais do que se ela tivesse dito algo, porque era uma forma muda de concordar, fazendo-o sentir-se ainda mais estúpido.

— Não precisa pedir desculpas. Como você disse, foi um acidente. Acidentes acontecem. – ela estava encarando uma das plantas decorativas do quarto.

— Sim. Foi um acidente. Você está mais tranquila quanto a isso?

— Um pouco de culpa, sim. Mas está passando. Depois de pedir desculpas a Sirius deve melhorar.

James assentiu, achando graça dessa inocência de Lily que a fazia sentir-se culpada por imprevistos e acidentes que não podia controlar. Ela continuou falando

— E acredite, depois desse final de semana, eu acho qualquer coisa sobre vocês, menos que sejam babacas metidos e arrogantes. – ela virou-se para encará-lo nos olhos. – Ao menos não vocês cinco.

James a olhou com clara interrogação no rosto.

— Dorcas e a causa animal, Remo e a vocação para a medicina, com ele se envolve com o socorro. O jeito como você olha para as pessoas, escuta elas, se preocupa com el-

— São as pessoas que eu represento. Como não vou me importar?

— Muita gente não se importaria, James. Mas você faz diferente. Você faz as pessoas se sentirem confortáveis perto de você. Eu achava que era comigo, com nossos amigos... mas não. É com todo mundo! O jeito como Sirius se arriscou para me ajudar, se machucando por isso. A Marlene cedendo que o Remo fosse o acompanhante, porque sabia que o acalmaria... Vocês são tudo, menos babacas arrogantes.

— Acalmaria o Aluado?

— Eu sei, James. Eu vi.

— Viu o quê? – perguntou ele, entre confuso e nervoso.

— O jeito como eles se olham. O jeito como Remo ficou desesperado para que Sirius estivesse bem. Eles dois que são o casal, não é? Nada de Marlene e Sirius.

James sempre soube que Lily era esperta e perspicaz, mas nunca que ela enxergaria as coisas tão rapidamente assim. Fazia anos que Sirius e Remo estavam sigilosamente juntos, e nem mesmo a família Real tinha descoberto, tal era a discrição dos dois. Mas Lily simplesmente percebera rápido demais.

— É complicado, Lily. E é um segredo. – disse James, nervoso e incapaz de mentir para ela.

Se Lily sabia, então não havia porque tentar negar. Ela sabia. Será que tinha sido tão evidente assim?

— Prefiro morrer a trair vocês. – respondeu, fazendo um ‘xis’ com os dedos sobre os lábios. – E não se preocupe, não acho que mais alguém saiba.

— Como vo-

— Eu só senti, não sei explicar. Eu senti que Remo ficou muito preocupado, e Marlene olhou para ele de um jeito estranho. Primeiro eu achei que fosse só a tensão de prestar os primeiros socorros a alguém, mas depois, quando o calmante começou a fazer efeito e eu repassava tudo na minha cabeça... eu só percebi. Não tive coragem de perguntar à Dorcas.

— Eles tem muito receio de que isso vaze. Por isso falei, arrisquei expor coisas importantes. Não só nós dois, mas eles também.

— Não acho que alguém além de mim saiba deles dois. Foi tudo muito rápido, e eu só percebi porque fiquei pensando sobre depois. Eu tenho mais receio de ter exposto a gente.

James riu, negando com a cabeça e tranquilizando-a.

— Você é muito esperta, Evans. Mas não se preocupe, você não deixou claro que anda me beijando por aí. – disse James fazendo Lily rir, dando-lhe um beijinho na cabeça e afagando as costas dela. – Anda, vamos jantar com todo mundo e deixar Almofadinhas saber que você shippa ele e Remo agora.

— Nada contra a Marlene, mas Sirius e Remo ficam muito melhores juntos, sabe? – brincou ela, fazendo James gargalhar.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tá, mas quem é top e quem é bottom entre Sirius e Remus? HAHAHA
Muitas coisas inesperadas (ah vai, nem tanto... tava demorando a aparecer um tabloide, não estava?) e descobertas importantes. Que acharam?
Vejo vocês nos comentários! Beijooo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "God save the Prince" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.