God save the Prince escrita por Fanfictioner


Capítulo 10
Dez mil libras num contrato


Notas iniciais do capítulo

Eu sumi, again... não é mais novidade para ninguém.
Mas juro que foi 100% por causa do Pride Month. Tem apenas tanta, TANTA, fic incrível, que eu estive usando o meu tempo livre quase todo para me atualizar (o que, claramente ainda não foi suficiente) e GSTP acabou ficando meio de lado.
A vantagem é que, pela primeira vez nos últimos 5 capítulos, eu posto uma atualização já tendo a próxima avançada além da metade, então juro que não vou sumir por tanto tempo dessa vez.
Esse capítulo introduz personagens novos para a gente, quatro especificamente (dos principais), e tem várias interações Jily, Wolfstar e com a galera de Cambridge. Estamos entrando na fase dois da história, então de agora em diante a imprensa vai ser bem mais presente.
Por fim, meu agradecimento MASTER BLASTER SUPER MEGA PLUS HIPER para a Carter por betar o capítulo para mim e por aturar meus surtos com os personagens novos.
Boa leitura, vejo vocês lá embaixo!



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— Alô?

— Malfoy?

— Hum.. é a secretária dele, o senhor Malfoy está numa reunião no momento, gostaria de deixar recado? - A pessoa que atendeu o celular tinha uma voz serena e sonolenta, cansada, provavelmente no fim do expediente.

— Eu gostaria que passasse o telefone à ele. - Insistiu quem ligou.

— Senhora, sinto muito, eu não tenho autorização par… aliás, quem gostaria?

— Sou uma conhecida próxima de Lúcio, tenho certeza de que ele não vai se incomodar. Agora passe para ele, é urgente! - Havia impaciência na voz da mulher, enquanto a secretária persistia afirmando que não podia transferir a ligação.

— Eu vou tentar, senhora.

A linha ficou silenciosa por um momento e a conhecida de Lúcio soube que a secretária tinha ido chamá-lo.

— Quem fala? - ele atendeu, impaciente. - Estou em uma reunião importante.

— Cunhadinho… você já me tratou melhor. - Debochou a mulher. - Acho que até perdi o interesse em compartilhar com você o que tenho aqui.

— Menos drama, Bellatrix. E se for outra daquelas baboseiras que você me passou da última ve-

— Soube do acidente? Do Duque da Cornualha? - Interrompeu ela, com um risinho sarcástico.

— Óbvio. Espere… Chelmsford! Claro! Você conseguiu informações? Viu ele?

A mulher deu uma gargalhada no telefone diante da empolgação de Lúcio, que claramente não estava mais tão preocupado com sua reunião.

— Diga-me, Lúcio, quantas vezes eu e Rodolfo perdemos um escândalo real? Claro que consegui coisas…

— Vai ao ar no jornal de hoje?

— Não vai ao ar. Mountbatten, aquele canalha… ele não vai se pronunciar, nem a família, e proibiu a imprensa daqui de divulgar qualquer imagem, qualquer coisa. E Potter estava aqui, também, e mandou que eu esperasse a nota do Palácio de Buckingham. - Resmungou ela, e Lúcio pode sentir que ela revirava os olhos em desgosto.

— Aquele moleque arrogante. - Sibilou ele.

— Mas tenho fotos e alguns relatos de quem estava lá na hora do acidente. Você quer matéria fresca para a sua revista?

Lúcio pareceu pensar um momento.

— Quão relevante?

— Umas narrações de como aconteceu, coisas envolvendo um chapéu… umas fotos da ambulância e da família do Conde. Ah! Havia uma garota, uma garota acompanhando a família do Conde. Eu nunca  a vi antes, acho que é da família do Conde. Estava com o Duque, e com Lady Dorcas. Não temos fotos dela, mas algumas pessoas na feira disseram que nunca a viram aqui.

— Novo envolvimento do Potter?

— Ele não seria idiota assim, Lúcio. - Resmungou Bellatrix.

— E sobre Black? O que você sabe?

— O filho de Sir Lyall Lupin o acompanhou ao hospital, mas Miss Mckinnon ficou no parque do acidente. Nenhuma especulação séria, então eu acho que você está livre para aumentar como quiser.

Houve um silêncio momentâneo.

— Quero tudo que tiver de matéria de hoje. Se formos rápidos, pode entrar na edição desta semana.

Bellatrix riu com escárnio, soando exageradamente afetada.

— Sabia que não disperdiçar filmagem tendo você, Lucinho… avise Cissa que vou aparecer para jantar na sexta.

Antes que Lúcio Malfoy pudesse dizer que Bellatrix não estava convidada para o jantar na sexta-feira, ela desligou a ligação e, cinco minutos depois, quando Lúcio já estava de volta à sua reunião, tentando aprovar a pauta da edição semanal de sua revista de variedades, um e-mail chegou em seu celular.

 

< itv.bellatrix@gmail.com>

Assunto: Material Acidente em Chelmsford

Faça bom uso.

Bellatrix Lestrange

Jornalista Repórter para iTV Essex - Chelmsford

[+7 anexos]

***

Quando James acordou naquela manhã, o quarto ainda estava um breu completo, e se não fosse a percepção de que havia passado a noite na suíte de Lily, teria voltado a dormir por mais algumas horas.

A seu lado, a garota dormia profundamente, com os cabelos esparramados sobre o travesseiro e enroscada no edredom, mesmo que a temperatura estivesse agradável. Observando-a por alguns segundos, James se deixou viajar momentaneamente nas sensações da noite anterior, sorrindo no processo.

Tentando fazer o mínimo de barulho possível, virou-se tateando a mesa de cabeceira em busca dos óculos e do celular.

Era cedo, nem chegava a ser sete da manhã, e James ponderou se devia voltar a cochilar por mais uma hora ou voltar para seu quarto e ficar por lá, respondendo alguns e-mails. Adormeceu recostado, de óculos segurando o celular na mão, tal era sua sonolência.

— Ei, dorminhoco. - Ouviu ele, sentindo beijos serem espalhados em seu rosto. - Já são quase oito horas, sabia?

Acordar com os olhos esmeralda de Lily o encarando era o tipo de acontecimento que James achava que jamais se acostumaria. Ele sabia que era clichê, mas sentia seu estômago dar um solavanco ao ver o sorriso dela em sua direção, as sardas tão próximas que podiam ser contadas.

— Em minha defesa, - Comentou ele enquanto bebia água. - eu acordei primeiro e voltei a dormir depois.

O celular de James vibrou com notificações enquanto ele se esticava por sobre Lily para beijá-la. Ela teve o bom humor de rir e apenas roubar um selinho, aninhando-se de volta na cama.

“Papai já acordou. Vocês vão descer para o café?”

— Emmanuel já acordou. - Lily torceu a cara, percebendo que as horas que conseguira roubar James para si tinham acabado. - Devíamos descer.

— Devia era sequestrar você e pedir recompensa. Eu mal consegui uma hora de atenção ontem. - Resmungou ela, em fingida manha.

Lily não costumava ser o tipo de namorada carente ou manhosa, nem mesmo combinava com a sua personalidade, ou com seu signo de aquário e seu ascendente em capricórnio, mas ela sabia explorar o jeito emocionado de James quando queria, e mendigar atenção era uma das habilidades de que se orgulhava.

— Oh, que maldade! Vou dar atenção a você, querida. - Disse James, com um sorriso maldoso, apoiando-se na cama e ficando por cima de Lily, beijando-a onde alcançava.

Durante alguns minutos, roubaram carinhos e intimidades, esquecendo-se, por momentos, de que o conde os esperava para o café da manhã. Houve batidas na porta e os dois se separaram rapidamente, os olhos de Lily arregalados com a possibilidade de a flagrarem aos amassos com James.

— Sou eu, Doe. Disse que vim chamar a Lily. Vocês precisam levantar! Até Remo já desceu! Vou acobertar vocês, andem logo!

Nada satisfeito de ter que interromper seu momento com Lily, James se levantou e começou a juntar suas peças espalhadas no chão, emburrado. A visão da garota apenas de lingerie, com os cabelos ruivos cobrindo os seios fazia James ficar dolorido de desejo, de maneira que ele quase não quis deixar Lily passar para o banheiro, agarrando-a e roubando beijos e carícias enquanto pode.

— Não me tente, Potter. Anda! Vai se trocar logo! - ela riu, entrando no banheiro para tomar uma ducha antes do café da manhã.

Era perto das oito e meia da manhã quando Lily, Dorcas e James chegaram para o café. Tanto o Conde quanto a Condessa pareciam já terem terminado, embora fizessem sala aos visitantes, e Marlene já estava no doce. Remo parecia bem menos abatido e cansado do que no dia anterior, mas ainda estava com olheiras escuras no rosto.

Os pais de Dorcas cumprimentaram James e Lily, que fingiram a maior normalidade que puderam, e os convidaram a experimentar uma torta que haviam adquirido na feira, na barraca da família Weasley.

— Infelizmente temos que sair, queridos. Estamos com horário apertado para o serviço na igreja, e não é nada agradável chegar depois que o reverendo começa a pregar. Tenham uma manhã agradável e, Dorcas, avise a Sirius que estaremos orando pela recuperação dele. - Disse a Condessa, levantando-se polidamente, o vestido longo arrastando no piso de madeira.

— Avisarei, mamãe. - Murmurou Dorcas em tom de tédio, acrescentando assim que os pais saíram. - Não que ele vá ligar, assim como eu.

Os jovens riram, porque Sirius Black era tudo, menos um rapaz religioso.

O café se estendeu por quase meia hora, porque havia muita conversa e piadas entre todos e, também, porque ninguém queria acordar Sirius cedo, dadas as medicações que ele estava tomando.

— Você passou a noite com ele, Aluado?

— Queria ter passado, mas não. Achamos que era menos arriscado se eu ficasse no meu quarto e só passasse lá hoje cedo. Ele estava bem quando o vi… dormindo, perto das oito. Dei os remédios e saí, ele deve ter cochilado de novo.

— Vocês não estão pensando em ir embora hoje, estão?

Lily, James e Remo trocaram olhares preocupados. Nenhum deles queria arriscar Sirius, nem deixá-lo sozinho, mas todos tinham aulas na manhã seguinte, e Remo tinha provas finais em menos de quarenta e oito horas, não era exatamente a situação ideal para ficarem mais tempo de visita na casa do Conde.

— Estamos decidindo ainda. - explicou James em um tom paciente. - Mas é provável que sim. Veremos o que o Almofadinhas prefere.

Durante a hora que se seguiu, cada um dedicou tempo às suas próprias atividades. Remo buscou suas anotações e ficou estudando no quarto de Sirius, enquanto este dormia, e Dorcas aproveitou o tempo para responder e-mails e prestar contas da feira da véspera. Lily e James se juntaram a Marlene na biblioteca, cada um estudando suas pendências de final de ano letivo. Por fim, quando Sirius acordou, todos ficaram com ele enquanto tomava café da manhã, no quarto.

— Como se sente, Almofadinhas? - Perguntou James.

— Nada mal, mas não bem, também. - Dorcas segurou um risinho. - Tudo tá dolorido.

— Talvez porque você foi arremessado por uns dez metros depois de levar um coice no peito. - Debochou Marlene, fazendo ele dar um risinho.

Lily continuava quieta, muito mais observando, constrangida e se sentindo culpada ao imaginar o nível de dor que Sirius devia estar sentindo.

— A vantagem é que eu não vou precisar fazer a prova de voo semana que vem. E que agora tenho uma desculpa para usar os trocadilhos de brincar de médico com Aluado. 

Remo negou com a cabeça, constrangido, acariciando o cabelo embaraçado de Sirius, enquanto os demais riam e Lily dava um meio sorriso.

— O que há, ruiva? Minhas piadas não são ruins. - Implicou ele.

Lily desconversou, dizendo que apenas estava pensando em outra coisa.

— Ei. Ninguém culpa você, Lily. - disse Sirius a encarando sério. - Meu Deus, eu definitivamente não culpo você! Foi um acidente, entenda isso!

Ela não disse mais nada, e Sirius soube que ela se sentia mal pelo ocorrido, independentemente de todos terem conversado sobre isso na noite anterior. Lily apenas sentia-se culpada. Por isso, Sirius apenas gesticulou para que ela se sentasse na beira da cama, mais próxima dele.

— Eu estraguei o final de semana todo, e olha o seu estado! E todo o trabalho que eu dei, com o plano de vocês... foi estúpido achar que eu ia me misturar. Eu sinto tanto, Sirius.

— Foi uma escolha minha ir atrás daquele chapéu, assim como foi uma escolha de todo mundo aqui fazer isso. Misturar você. Porque a gente queria conhecer a garota do Pontas.

— Só queria não ter criado problemas. - Disse ela, séria.

— A gente faria tudo de novo. Pelo jeito que você faz esse idiota feliz, a gente faria de novo, Lily. - Respondeu ele, indicando James com a cabeça, ao que ele riu. - Para vocês terem um momento em público sem essa perseguição de imagem… a gente faria.

— A gente sabe melhor do que qualquer um o que é um relacionamento escondido, Lily. - disse Remo com um sorriso triste.

É claro que eles sabiam. Pelo que James contara, Sirius e Remo estavam juntos há muito tempo, eram bem acostumados a esconder o relacionamento deles do público.

— Como foi que começou? Vocês dois? - ela perguntou, curiosa, e Remo riu antes de Sirius começar a contar.

— Eu já questionava a minha sexualidade no ensino médio, porque o Pontas me arranjava uns encontros com umas garotas e eu não sentia nada. Mas os guardas da Coroa… meu Deus, que homens! - Lily riu com esse comentário, e Marlene acrescentou piadinhas sobre o assunto.

— Meus pais perceberam que eu era bissexual desde novo. Coisa da terapia comportamental que eu fiz. Mas só falei para Sirius e James com uns 15 anos. Diz o Sirius que foi depois daí que ele soube que era gay.

— Mas, é claro, seria um escândalo um príncipe gay. Então eu fiquei na moita por quase um ano, e o primeiro a saber foi o James. Depois o Aluado e, então, as meninas. - Dorcas e Marlene deram sorrisinhos de apoio. Lily estava completamente atraída pela história. - Era meio sozinho, porque eu meio que não podia me envolver com ninguém, já que qualquer um podia trazer a público isso.

— Adolescentes são uns idiotas. - Resmungou Lily, fazendo os demais rirem.

— Foi meio que natural a gente se aproximar, os dois LGBTs do grupinho. E, então, quatro anos atrás, no aniversário de 17 anos de Sirius, ficamos.

— E como quando o néctar é bom, a abelha volta, - Debochou Sirius, arrancando gargalhadas de todos. - Aluado não desgrudou mais de mim.

— Claro! Não foi o contrário não, né Sirius?

— Eu falei que Remo era o ativo. - Disse James, que estava estranhamente quieto, e o assunto da véspera voltou à tona, agora com comentários de Lily.

O dia avançou sem muitos reveses, e o almoço foi uma comida chique, que Lily mal aprendeu a pronunciar, servida com muita pompa. O conde e a condessa não pareceram particularmente felizes quando souberam que James e Remo pretendiam levar Sirius de volta a Londres, nem que Lily iria junto para voltar a Cambridge com James, mas apesar dos protestos, conseguiram se aprontarem com relativa tranquilidade para pegarem estrada.

Alguns funcionários ajudaram a colocar as malas no carro, e a condessa conversou longamente com Lily, enormemente feliz de tê-la tido como hóspede, mandando lembranças à todos os Evans de Yorkshire. Lily apenas assentiu e manteve a postura, embora tenha rido de nervoso depois, no carro, com os outros três.

— Próxima parada, Londres! - disse James saindo da garagem, acenando para Marlene e Dorcas.

Sirius estava no banco da frente, recostado com travesseiros e sem dores pelo efeito do remédio. James viajava devagar para minimizar os riscos de estar transportando Sirius fora de uma maca, e Remo e Lily conversavam pouco. Todos estavam cansados.

No silencioso percurso, Lily pensava sobre o que descobrira. Sobre o relacionamento sigiloso de Sirius e Remo, e como ela era a única pessoa de fora do grupo que sabia daquilo. Como poderia ser fácil que a acusassem se o segredo vazasse, mesmo que ela não tivesse a menor intenção de fazê-lo, e nem achasse que culpá-la fosse ser o perfil de qualquer um dos amigos de James.

Ainda assim, precaução nunca era demais.

— Deveríamos assinar um documento.

— Um documento? - Perguntou James, confuso, virando-se rapidamente para olhar o banco de trás.

— Para proteger vocês. Claro que eu sei que é segredo… vocês dois. - Disse ela, indicando Sirius e Remo com a cabeça enquanto eles a olhavam. - Só acho que vocês se sentiriam mais seguros se tivéssemos um documento.

— Confiamos em você, Lily. - Respondeu Sirius dando uma piscadinha.

— Bem, não deviam. - Disse ela meio exasperada. - Quero dizer, eu não sou uma pessoa ruim, mas vocês me conhecem há dois dias! Eu faço legislação, seria estúpido eu não recomendar que vocês se protegessem judicialmente. É um segredo da família Real.

Remo a olhava com curiosidade e desconfiança, como se Lily tivesse acabado de anunciar um assalto, e Sirius parecia ponderar a ideia dela.

— Juro que nunca falaria nada! Meu Deus, nunca! Mas se isso algum dia vazar, não quero, também, que achem que fui eu quem contou. Um documento protegeria as duas partes.

— Ela tem razão, sabem?- Comentou James após um tempo de silêncio. - Não gostaria de ver nenhum de nós acusando a Lily depois.

— Mas o que teria nesse documento, afinal? 

— Regras. Algo como, se eu contar sobre vocês e sobre o namoro de fachada com Marlene serei multada em umas mil libras.

— Dez mil. - Disse Remo.

— Que?! - perguntou Lily, os olhos saltados. 

Ela não conseguiria esse dinheiro sem largar a faculdade, e mesmo assim era arriscado faltar verba.

— Não tem a menor credibilidade essas mil libras. - Remo falava como se aquela quantia fosse banal, e, bem, para ele devia ser, pensava Lily. - É claro que é muito dinheiro, mas eu garanto, Lily, a imprensa paga quase isso por uma fofoca da família real. Não teria o menor respeito um documento como esse. E se você não vai falar nada mesmo, então…

— Certo. Dez mil libras de multa. E algo sobre vocês me preservarem também, para sermos justos.

— Se alguém acusar você de algo, pagamos seu advogado. - Disse James simplesmente. - Mas por mera formalidade. Claro que não deixaríamos nada acontecer com você, Lily.

— Aonde eu assino mesmo? - Brincou Sirius.

Porém nem tanto. No caminho até Londres, Lily escreveu o documento pelo celular, acrescentando todos os recursos legais que as aulas de legislação a tinham ensinado, bem como as linhas de assinatura e a data do documento, relendo-o várias vezes para os rapazes no carro poderem opinar.

— Acho que acabei, então. Só precisamos imprimir, assinar e autenticar.

— Vamos imprimir em Buckingham. - Disse James. - Usamos um selo Real de autenticidade e não temos que ir em nenhum cartório.

— Vai finalmente conhecer nossa casa, ruiva! - Implicou Sirius, rindo levemente.

A ideia de descer no palácio de Buckingham não agradou muito ao estômago de Lily, que passou a se embrulhar quase imediatamente, não que ela fosse admitir a qualquer um ali. Era próximo das cinco e meia da tarde quando James estacionou na entrada lateral, no mesmo lugar em que tinham buscado Sirius e Remo.

Alguns funcionários vieram para retirar as bagagens, e outros dois se aproximaram com uma cadeira de rodas para que Sirius não precisasse fazer qualquer esforço pelo caminho até o quarto dele.

— Podem subir. Vou imprimir isso, levo para você assinar, Almofadinhas, e daí nós vamos embora. - Disse ele olhando rapidamente para Lily.

— Vocês me dariam uma carona até King’s Cross? - Perguntou Remo

— Óbvio, né, Aluado? Dobby pode deixar a bagagem de Sir Lupin no carro. Nós já estamos de saída.

— Claro, Alteza. - Respondeu um dos rapazes, retornando a maleta de Remo para o bagageiro.

— A vovó está por aí, Winky?

— Está sim, Alteza. Ela esteve preocupada com seu acidente. - Disse a outra funcionária, empurrando a cadeira de Sirius com nítido esforço.

— Claro que esteve. - Ironizou Sirius.

— Eu faço isso, com licença. 

Remo tomou o lugar da mulher, que não se fez de rogada, e entrou no palácio empurrando Sirius, acompanhado por James e Lily, muito tímida.

Nada no mundo, nem mesmo a experiência na casa de Dorcas, teria preparado Lily para a opulência que veria no interior do palácio de Buckingham. Havia espelhos por todos os lados, além de muitos cristais, quadros caros, esculturas magníficas e uma riqueza de tecidos para cortinas e tapetes que Lily só vira por imagens em livros didáticos.

Era difícil saber para onde olhar.

A sala de entrada estava vazia, e a grandiosidade do palácio levava Lily a concluir que cada um dos moradores dali poderia facilmente estar em um dos cômodos e, ainda assim, sobrar lugares vazios. Por mais que tentasse manter a aparência de costume com aquela riqueza, Lily não podia evitar deixar seu queixo cair com algumas das decorações ao seu redor.

Estavam todos atravessando o salão em direção ao elevador da outra extremidade quando, sem anúncio prévio, alguém chamou-lhes a atenção em alto som. Da balaustrada do terceiro pavimento, a figura imponente, embora baixinha e de aparência frágil pelo avanço da idade, parecia uma águia esquadrinhando todo o ambiente.

— Vovó! - respondeu James, levemente surpreso. O sangue de Lily gelou. - Não esperava encontrá-la… era para ser uma visita rápida.

— Estamos subindo, Vick! - Brincou Sirius, entrando em seguida no elevador, na companhia de James, Lily e Remo.

Vitória Potter não parecia ter achado tanta graça assim, e olhava todo o salão com uma seriedade fria, quase entediada da função em que voluntariamente se colocara.

— Fodeu. Fodeu, e fodeu muito! - Gemeu Remo com uma expressão de desespero assim que as portas metálicas fecharam.

— Será que avisaram a ela que a Lily desceu com a gente?

— Caralho, James, o que a gente vai fazer?

— Calem a boca, vocês dois, eu resolvo. - Disse Sirius enquanto o elevador subia.

Lily estava pálida como um cadáver, e era difícil distinguir se James estava sufocado pelo calor que fazia naquele fim de tarde ou pela apreensão de encontrar a avó justamente quando infiltrava a namorada plebeia no palácio.

Quando as portas do elevador se abriram no terceiro piso do palácio de Buckingham, a cerca de 12 metros do nível da rua, Lily sentiu que queria sair correndo e se esconder. Ou, talvez, se jogar dali.

A Majestade Potter andava com a vagareza de um cachorro adestrado, na companhia de uma mulher muito mais alta do que ela, que Lily reconheceu como a pessoa que James uma vez mencionara ser Minerva McGonagall, a chefe das governantas.

Além do andar austero, tudo na rainha era o oposto cabal de Lily, fazendo ela parecer uma afronta pessoal. Vitória Potter vestia um terninho justo de crochê de um tom vivo de roxo, com sapatinhos de salto baixo e os cabelos grisalhos presos em um coque organizado, fazendo o vestido solto e claro, os saltos finos e o cabelo solto de Lily parecerem inapropriados.

—Vicky! Boatos de que você teve medo de perder seu neto favorito! - Disse Sirius antes que ela tivesse tempo de falar algo primeiro.

— Claro que fiquei preocupada! E que grande imprudência sua, Sirius! Sua governanta não repetiu vezes o suficiente qual é o comportamento adequado a um príncipe?

— Eu nunca tive a pretensão do comportamento adequado a um príncipe, Vicky… já tivemos essa conversa. Eu vou fazer merda, você vai reclamar, eu vou fingir que ouvi e depois continuar fazendo merda… não podemos passar adiante com isso?

A rainha revirou os olhos, e direcionou seus cumprimentos a Lupin, que ganhou um aceno de cabeça, e a James, que ganhou um abraço nada afetuoso.

—E a senhorita, é? - perguntou ela, direcionando-se a Lily.

— Lily Evans, vovó. Não está óbvio que é uma garota de programa que Pontas e eu vamos dividir? - Debochou Sirius, fazendo Lily achar que teria um acesso.

— E agora rameiras entram pela porta da frente? - Retrucou a avó no mesmo tom, não gostando de não receber as respostas que queria.

— Menos, vovó. Ela é uma amiga nossa, e de Dorcas e Marlene também. Estava em Chelmsford conosco. Lily estuda em Cambridge e eu vou levá-la comigo de volta.

A rainha pareceu a medir da cabeça aos pés, e Lily se sentiu terrivelmente intimidada e constrangida, mesmo sabendo que fora a melhor estratégia possível que Sirius ironizasse a presença dela ali.

—Meu prazer conhecê-la, Vossa Majestade. - Murmurou, numa tímida abaixada de cabeça, embora o que Lily sentisse fosse algo muito longe de prazer.

— Bem vinda, senhorita. 

Mas nada na conduta de Vitória Potter a fazia sentir bem vinda ali. A mulher era tão receptiva quanto um cacto em um vaso.

—Por mais que eu ame a sua companhia esplêndida, Vicky, eu vou subir para meu quartinho para o Doutor Aluado me colocar no meu leito de enfermo. 

Nada no mundo poderia ter feito Lily rir naquele momento, exceto a lembrança de mais cedo, de Sirius mencionando que faria piadas sobre brincar de médico com Remo. Ela mordeu o lábio reprimindo um riso, e sentiu o olhar de James nela, ele subitamente percebendo também a graça da situação e querendo rir.

—E a gente vai lá no escritório imprimir um papel, Vick. Licencinha.

Sirius e Remo voltaram para o elevador, para subirem ao quarto andar, onde ficavam os quartos de todos, e James e Lily começaram a andar pelo corredor, em direção a um dos escritórios do palácio.

—Ahm.. a senhorita Evans vai… acompanhá-lo ao escritório, James? Uma visita...

Lily freou no corredor, sentindo a acidez da rainha naquele comentário. Não devia ser o tipo de lugar ao qual visitas comuns como ela eram convidadas a entrar.

—Sim, ela vai sim, vovó. Você quer saber alguma coisa antes? Perguntar qual o sabor favorito de sorvete da Lily, para servir quando ela vier almoçar aqui?

Audacioso. James Potter era muito audacioso em responder a avó dessa maneira. Havia graça nas respostas mordazes de James, e ficava óbvio que essa era a única forma de os familiares aguentarem aquela mulher de humor tão hediondo.

Àquela altura, Lily estava tão estressada com o encontro, que ela apenas desejou que a mulher não rebatesse nada para que eles pudessem imprimir logo o papel e irem embora.

Mas, obviamente, isso não aconteceria.

—Eu espero que eu nunca tenha que, pessoalmente, descobrir a comida favorita de qualquer visita, James. E você devia fazer o mesmo. Para isso temos chefes de cozinha.

— Eu espero nunca ficar amargo e sem amigos como você, Vicky. - Debochou ele, voltando para dar um beijo na cabeça da avó. - Bom ver você, vó. Semana que vem eu volto para passar o verão.

Vitória Potter não disse mais nada, mas devolveu o beijinho na mão de James, como numa benção, e Lily achou mais seguro continuar andando ao lado dele no corredor, tendo lembrado de fazer uma reverência sutil à autoridade Real.

— Ela estava insuportável hoje! - Resmungou James assim que fechou a porta do escritório, indo ligar um computador.

— Eu achei que ela ia arrancar um pedaço meu e servir aos leões!

— Você foi incrível, Lil. Mandou o arquivo por email?

Lily assentiu. Era completamente incompreensível para ela o porquê James permaneceu tão sereno depois de todos terem sido atacados com tanta arrogância pela rainha. O desgosto pela adoração monárquica ferveu no sangue de Lily naquele momento, agora que estava longe do olhar de reprovação daquela mulher. Ninguém aguentaria conviver com alguém tão amargo e ácido como ela. Os comentários eram cruéis.

James notou o incômodo da namorada, enquanto esperava as duas vias do documento serem impressas.

— Não ligue para ela. Minha avó gosta de ser durona e mostrar o controle. O Parlamento é bem cruel com ela, às vezes, e ela está caducando, definitivamente. Sirius e eu desistimos de dar moral às grosserias dela. É mais fácil falar no mesmo tom.

— Eu não posso fazer o mesmo, James.

— Mas pode ignorar. E confiar que eu não vou deixar que ela maltrate você.

— Ela me odeia. - Resmungou Lily, pegando uma caneta para assinar as duas folhas de papel, agora com um carimbo com autenticações do palácio de Buckingham. - O jeito como ela me olhou, medindo dos pés à cabeça.

— Deixa ela odiar. Você namora comigo, não com ela. E minha avó, definitivamente, não pode me impedir de ser amigo de ninguém.

— Mas namorar, sim.

James andou na direção de Lily e a envolveu em um abraço, olhando-a com intensidade.

—Vamos dar um jeito nisso também. Mas acredite, não foi nada tão ruim hoje. E não é sua culpa que minha avó seja intragável. Aliás, tinha que ter conhecido o tio Órion, pai do Sirius. Ele puxou tudo que minha avó tem de pior!

Lily riu, achando que, talvez, estivesse exagerando. Talvez a mulher só gostasse de ser intimidadora, e quando se era uma rainha de quase oitenta anos, trabalhando basicamente com homens velhos e tão ou mais estúpidos, devia ser necessário alguma acidez para ser respeitada. 

Provavelmente Vitória Potter não tinha nada contra ela, Lily, em pessoa. Só achava ser sua obrigação ser durona.

As duas vias do documento foram assinadas e, logo, James e Lily estavam subindo pelo elevador da ala leste do prédio, indo até o quarto de Sirius, no quarto andar. O duque da Cornualha estava confortavelmente vestido em pijamas, sentado no enorme sofá da antessala de seu quarto, com uma televisão ligada em sua frente sendo ignorada enquanto ele conversava com Remo. 

— As madames podem assinar, fazendo favor? Nós temos que ir logo, não quero dirigir no lusco-fusco. - Pediu James, apoiando-se na lareira desligada.

Sirius e Remo assinaram os dois papéis, e o duque despediu-se dos demais, agradecendo à Lily pela presença e pelos eventos do final de semana, além da discrição e o cuidado com o segredo dele e de Aluado.

— E, por favor, volte logo para me ver, ou vou entender que você odeia seu príncipe. - Debochou ele com um risinho, fazendo Lily lhe mostrar uma careta e o dedo do meio.

Remo ganhou alguns beijos e um carinho antes de ir embora, sentindo-se bastante triste. O caminho até King’s Cross não era longo, mas Remo não disse quase nada no percurso, e Lily e James acharam mais prudente respeitar o silêncio tristonho do amigo.

— Obrigado pela carona, Pontas. - Disse ele enquanto James estacionava na estação de trem, ao que James respondeu com uma piscadinha e um soquinho.

— Ei. Vai dar tudo certo, Remo. Tudo de tudo. Você vai passar nessa prova, e Sirius vai ficar bem. - Remo agradeceu mudamente, apertando mais a mão de Lily. - Foi incrível conhecer você..

— Não suma, ruiva. Vou exigir que o Pontas passe meu contato para você, e sempre que quiser, vai ter seu lugarzinho em Northampthonshire. 

Ele beijou o dorso da mão de Lily e, com a elegância que lhe era própria, desceu do carro, pegando sua mala no bagageiro e entrando na estação de King’s Cross.

— Podemos ir? - Perguntou James algum tempo depois, quando Lily ainda estava olhando o lugar onde Remo sumiu na multidão de pessoas da estação.

A menina assentiu, não sabendo se estava realmente pronta para que aquele final de semana acabasse. Agora que tudo passou, sua cabeça parecia pesar muitos quilos a mais.

***

Lily chegou em seu prédio exatamente às oito da noite, e quando finalmente subiu para seu apartamento sentia como se duas semanas tivesse transcorrido desde a última sexta-feira, quando fizera o caminho inverso indo viajar com James.

De fato, não havia a menor possibilidade de qualquer um dos episódios do final de semana ter passado por sua cabeça. Nem mesmo toda sua criatividade ansiosa teria inventado roteiros tão elaborados e trágicos como os que tinham acontecido. Agora que tudo tinha acabado, além de cansada e reflexiva, Lily se sentia meio flutuando. Não era capaz de dizer se era bom ou ruim.

O saldo era neutro.

Era loucura perceber que em apenas dois dias ela tinha causado um acidente num duque, passado a noite na casa de um conde, e conhecido a Rainha em pessoa! Lily tinha passado um final de semana na companhia da nobreza, comeu em salões chiques, e dormiu (aliás, fez bem mais que apenas dormir) em colchões cujo valor devia ultrapassar todo o mobiliário de segunda mão que ela usava em seu quarto em Cambridge.

Alice e Mary estavam terrivelmente curiosas para saber todos os detalhes da viagem. Uma vez que o acidente de Sirius tinha se tornado de conhecimento público, as duas desejavam saber minúcias do episódio, e seria inevitável haver um interrogatório a respeito.

No entanto, Lily ainda tinha esperanças de que pudesse entrar silenciosamente e ficar quietinha em seu quarto, jantando barrinhas de proteína e tirando um tempinho para si, postergando as perguntas para o dia seguinte.

Quando entrou no apartamento, porém, havia uma enorme lasanha borbulhando na mesa de jantar, e Alice servia fatias para cada uma delas

—Você colocou algum tipo de radar em mim que eu não sei? - Perguntou Lily, achando graça de todo o jantar parecer a sua espera, pousando a mochila na entrada e descalçando os sapatos.

— Eu deveria, sabe? Mas dessa vez eu só ouvi o carro de James estacionar lá embaixo. Mary está saindo do banho, queremos saber de tudo! - Comentou Alice, empolgada, adiantando-se para abraçar a amiga.

Lily riu, permitindo-se cheirar o aroma delicioso que a lasanha deixava no ar.

— Ajuda?

— Pega uns copos na cozinha. A gente comprou refrigerante… ou será que agora você só toma vinho branco com patê de fígado de ganso? - Debochou ela, rindo.

— Humpf! Lily que não invente isso aqui! Nem temos dinheiro para essas frescuras! - Resmungou Mary, vindo para a sala de pijama e com uma toalha enrolada na cabeça. 

Por mais que o final de semana tivesse proporcionado experiências surreais, a tivesse permitido conhecer pessoas incríveis, dormir em quartos dignos de princesas e vestir roupas finas que jamais imaginaria, Lily sentia que nada daquilo se compararia a estar ali, de pijama e pantufas, fofocando com suas amigas e bebendo refrigerante.

A lasanha estava tão boa, e as fofocas tão empolgadas, que valia a pena todo o esforço para socializar antes de poder ficar sozinha e quieta em seu quarto.

—Primeiro de tudo, eu sou azarada para caralho, né? - Disse ela, dando a primeira garfada no jantar, minutos depois. -Quer dizer, quem mais conseguiria causar o caos que eu causei?

Mary explodiu em gargalhadas.

—Afinal, Lorde Sirius é mesmo o grande gostoso que parece? - Perguntou Alice.

Lily ouviu Mary protestar que Alice era comprometida, e veio na ponta de sua língua a vontade de comentar que Sirius era tão gato que tinha até dois relacionamentos, mas não, ela não seria estúpida de entregar os segredos de alguém assim. Além disso, havia um contrato agora. O segredo era de Sirius e Remus, e Lily não seria babaca assim.

Ao contrário, ela preferiu apenas responder.

—Você não sabe de nada, Lice! - Com um sorriso maldoso e que rendeu perguntas, risadas e conversas até perto das dez da noite.

“Espero que durma bem, querida. Obrigado de novo, por tudo. Te vejo amanhã” escreveu James numa mensagem, e Lily sorriu em alívio, finalmente relaxada e capaz de olhar com felicidade e gratidão pelo maluco final de semana que tivera.

“Foi a maior loucura. Mas eu super faria de novo por você, Potter. :)” Ela respondeu, adormecendo pouco tempo depois.


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Notas finais do capítulo

A reptiliana apareceu!
Já estava passando da hora de Lily conhecer a rainha, e, felizmente, Sirius e James continuam com o humor particular deles para controlar a avó ácida, não é?
Descobriram todos os quatro personagens novos? Apostas de quem seja o quarto?
Nos falamos nos comentários? Beijooos ❤
Quem aí