God save the Prince escrita por Fanfictioner


Capítulo 8
Confusões com chapéus


Notas iniciais do capítulo

Mais do que uma semana de espera, menos do que eu pensei que demoraria para volta!
Seguindo o padrão correria, eis aqui a atualização da fic. Esse capítulo está MUITO grande, mas recheado de carinho, confusões e uma apresentação maior dos nossos personagens da realeza. Já estava mais do que na hora de nos infiltramos de verdade no mundo nobre, não é?
Sem mais demoras, aqui está!
Boa leitura, e vejo vocês nas notas finais!



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Lily rapidamente percebeu que, se quisesse mesmo se infiltrar na realeza, precisaria aprender o mais rápido possível a esconder suas reações de espanto com coisas tipicamente nobres, como os funcionários tirando as bagagens do carro por ela, ou a riqueza da decoração da casa.

De fato, a casa de Dorcas estava longe de ser o que Lily imaginara. Em sua imaginação fértil, tinha pensado em palacetes daquele tipo barroco ou palladiano, mas a casa do Conde de Essex era muito menos suntuosa do que aquilo. Embora Lily não conhecesse muito de arquitetura, ela sabia que aquele estilo de casa era vitoriano por conta das janelas arredondadas avançando para fora da estrutura.

A edificação tinha dois pavimentos, e sua fachada era claramente dividida em um flanco direito e um esquerdo a partir da porta de entrada. Não havia nada de especial nos tijolinhos cor de barro, nem nas esquadrias exageradamente brancas, ou na caixa de correio vermelha, mas o conjunto em si era elegante e muito apropriado para a residência urbana de um Conde.

Quando desceu do carro, meio estarrecida com a paisagem, e em dúvida se devia olhar para o jardim bem cuidado a seu lado ou para o St. Andrews Park e toda sua amplitude do outro lado da via, Lily acabou deixando James, Sirius e Remo esperando um tempo perto da entrada. Um senhor engravatado e de terno os cumprimentou de um jeito quase solene, e Lily entendeu que devia ser o mordomo.

— O Conde está reunido com algumas lideranças no momento, e pediu que os senhores e a senhorita o desculpassem. Lady Dorcas e Miss Marlene estão à sua espera na sala, e a Condessa deve se reunir aos senhores para o chá em alguns minutos. – disse ele guiando todos através de um hall claro e quase sem mobílias em direção a uma porta branca à direita no corredor ao lado da escada.

Não era nada do que Lily algum dia imaginara ser uma casa da nobreza. Aqueles móveis vitorianos cafonas e cheios de detalhes rococós não existiam, mas eram substituídos por outros que remetiam ao estilo, embora muito mais modernos e em tons minimalistas. Os únicos resquícios da era da rainha Vitória eram os papéis de parede estampados, embora esses fossem muito mais suaves e trouxessem conforto estético, ao invés de confusão e crise de labirintite, como Lily costumava sentir ao entrar em museus do período.

— Lily! Quantas saudades! – comentou uma moça de cabelos escuros e volumosos, levantando-se de sua poltrona, colocando uma xícara de porcelana sobre a mesa de centro e vindo em sua direção.

— Essa é Dorcas. – sussurrou James a seu lado, numa tentativa de poupar Lily de um constrangimento na frente do mordomo.

— Dorcas, querida! Quanto tempo! – disse Lily entrando na personagem que interpretaria, retribuindo o abraço caloroso dela e tentando não esboçar a confusão e a insegurança que sentia.

A porta da sala então bateu e Dorcas soltou o aperto em torno de Lily, que parecia estupefata demais para comentar qualquer outra coisa. Então todos os demais caíram na gargalhada e Lily não entendeu absolutamente nada.

— Você foi perfeita, Evans! Perfeita! – disse a garota que devia ser Marlene.

Assim como Lily, as duas outras usavam vestidos, embora os delas fossem perceptivelmente mais chiques e de melhor qualidade que o de Lily. Enquanto Marlene usava um amarelo de manguinhas e justinho, com botões decorativos, Dorcas vestia branco com estampas florais e um blazer de cor de goiaba que destacava sua pele negra, e Lily se sentia uma frutinha podre no cesto, com seu lenço fino e com transparência e o vestido verde oliva que fazia seus olhos e cabelo acenderem como um semáforo.

— Como reagiu tão rápido?! Nós nem tínhamos combinado nada! – perguntou Dorcas, rindo em choque e indo abraçar James, Sirius e Remo.

— Eu... eu não sei... James, digo Lor...

— Nah! Para com essas formalidades, isso nós usamos só quando papai está aqui, mas porque ele é um porre. E eu amei sua roupa, a propósito! James disse que precisaríamos fazer você se misturar, mas você já fez isso muito bem sozinha, baby!

A primeira coisa que Lily podia notar sobre Dorcas era o jeito tagarela e muito intimista dela, o que a fazia lembrar de Mary imediatamente. Era bom ter alguém que parecesse muito com pessoas da vida cotidiana de Lily para que ela não se sentisse muito deslocada.

— Olá, querido! – disse Marlene, se levantando e dando um abraço em Sirius antes de ir cumprimentar todos os demais. Lily tinha momentaneamente se esquecido de que eles eram namorados. – Seja bem vinda, Lily, todos estávamos morrendo de curiosidade para finalmente conhecer você.

Lily enrubesceu e aceitou o abraço inesperado dela, sentindo-se confusa entre estar acolhida  e perdida.

— Aqui, Lily... venha se sentar. – chamou James, indicando o lugar entre Remo e ele no sofá. – Você foi muito rápida para improvisar, já pensou em fazer teatro?

Durante a meia hora que se seguiu, os seis ficaram muito envolvidos em conversas variadas, e Lily sentiu-se muito à vontade para interagir com todos. Sirius, ela logo percebeu, era muito piadista e o mais fanfarrão, embora tivesse bastante daquela arrogância atraente de James, o que o tornava muito agradável e gerava intimidade instantaneamente.

Remo era um pouco mais reservado, embora também tivesse parte daquele humor ácido dela própria, de maneira que parecia personificação da descrição de um homem inglês. Ele também parecia chegado à uma cerveja, o que a animou. Marlene era uma mistura de meiguice e brutalidade, pois tinha sensibilidade e falava manso, mas sempre tinha pronto um comentário satírico para James e Sirius, e Lily sentiu que seria muito fácil se tornar amiga dela.

Dorcas tinha tiques de mexer no cabelo assim como James, e falava demais, alto demais e rápido demais, mas Lily chegou à conclusão de que isso devia ser apenas em ambientes informais como aquele, já que, no segundo em que o Conde e a Condessa juntaram-se a eles na sala, Dorcas parecia uma boneca programada, falando baixo e pausadamente.

Como a filha de um conde devia ser, pensou Lily com certo deboche.

— James! Sirius! Quanto tempo eu não os via! E que privilégio receber o filho de Sir Lupin em minha casa! – disse ele muito empolgado, adiantando-se para abraçar os três sucessivamente.

— Muito tempo, senhor! Meu pai mandou cumprimentos, e sentiu muito não poder vir. Eu mesmo quase não pude vir por conta das provas finais.

— Então logo teremos mais um formado entre nós!

— Nem tanto, ainda faltam dois anos. - lembrou Remo.

A postura do Conde de Essex lembrava Lily de Válter Dursley, embora não houvesse a menor semelhança física entre os dois, exceto talvez serem muito brancos e usarem bigode. A condessa, por sua vez, era a elegância personificada, com a pele retinta e os cabelos afro cortados altos e em forma de uma espécie de capacete fazendo um contraste explícito com o vestido branco demais e as jóias douradas, fazendo Lily pensar em uma deusa da mitologia grega.

— E a senhorita é... – perguntou ele, olhando na direção de Lily com curiosidade.

— Lily Evans, Sir. – disse Lily com um sorriso amigável que buscava esconder seu pânico súbito. Era Sir o vocativo, não era?

— Grande amiga nossa, Primo Emmanuel! Estuda em Cambridge comigo, e estava com muitas saudades de todos, então perguntei a Dorcas se ela poderia se juntar a nós nesse final de semana.

— Mas é claro que pode! – disse a Condessa com amabilidade, sentando-se em uma poltrona e servindo-se de chá. – Todos sempre são bem vindos aqui em Mountbatten House.

— E amigos de James e Sirius são amigos de todos nós! Lily Evans... – pronunciou ele como se estivesse pensando. O sangue de Lily gelou por alguns segundos, e ela sentiu suas narinas inflarem em nervosismo, vendo Marlene arregalar um pouco as pupilas. – Há muito tempo não vou a Yorkshire. Dorcas esteve lá há uns meses, mas eu não pude ir. Talvez eu devesse programar um final de semana lá. Ainda segue sem fria e úmida aquela região, senhorita Evans?

Todos olharam para Lily, e James parecia, pela primeira vez, preocupado com a sinuca de bico com que ela tinha sido presenteada. Lily nunca tinha sequer pisado em Yorkshire!

— Uhm, sinto muito, senhor. Não vou a Yorkshire há muitos anos, pois tenho vivido com parentes em Reading, e depois que mudei para Cambridge a universidade tem sido muito exigente de meu tempo. – respondeu ela de maneira diplomática, surpreendendo os planejadores da missão de infiltração.

O Conde pareceu satisfeito com aquela resposta e começou a contar sobre suas experiências naquela região, com chuvas excessivas e muita lama no inverno, e logo tudo tinha sido esquecido porque o jantar foi servido no salão ao lado e todos foram comer.

Conforme James dissera, não havia nada de complexo com os talheres da janta, que consistiu numa entrada de consumé de ervilha, seguida de uma macarronada à bolonhesa e então tarte tatin de maçãs verdes, fazendo uma explosão de sabores na boca de Lily. Ela se perguntava se conseguiria manter aquela boa postura séria e elegante depois de comer tanto, porque só o que desejava, de fato, era se jogar no sofá, colocando as pernas sobre as de James, e assistir um seriado qualquer.

Mas não era assim que membros da realeza se divertiam. Já era quase nove horas quando o Conde convidou todos a irem à sala dos homens, cujo nome se mantinha assim por tradição, para beber e conversar, e Lily pode provar de um conhaque caro enquanto ouvia James e Sirius conversarem com o Conde sobre a Commonwealth. Dorcas, Marlene e Lady Saska, a condessa, sentaram-se em sofás tão confortáveis quanto os da sala de estar e discutiam o evento de arrecadação do dia seguinte.

— Eu pedi a alguns apoiadores da feira para acompanharem a montagem de todos os stands hoje mais cedo, mas não posso faltar aos ajustes finais amanhã. – disse Dorcas segurando seu copo de bebida. – Vou sair cedo, e encontrarei vocês lá, para o almoço.

— Se for necessário, eu estou à disposição para ajudar, Milady. – comentou Lily em certo momento, quando sentiu que esperavam que ela falasse também.

— Ah, que bobagem, Lily! – falou Marlene, num gesto de dipensa. – Eu e você vamos ficar por aqui e garantir que as bebidas da barraca do Conde e da Condessa estejam frescas na hora de saírmos... e Remo, Sirius e James vão sair cedo também para visitar o centro de treinamento de animais antes da feira começar. Temos uma agenda lotada!

Lily entendeu que aquela conversa era proposital para que ela ficasse por dentro dos acontecimentos que estavam por vir e sentiu-se muito grata a Marlene, porque até ali ela ainda não tinha sido explicada a respeito de nada, e estava completamente perdida em como agir, falar ou respirar.

O conde e a condessa saíram para se recolher pouco antes das onze horas, e Dorcas gentilmente dispensou o mordomo, deixando todos eles por conta, num momento finalmente relaxado.

— Eu nem tenho palavras para dizer o quanto eu fiquei abismado com aquela sua diplomacia, sabe, ruiva? – disse Sirius, colocando as pernas sobre um pufe e se esparramando no sofá.

— Você foi genial! E nem mesmo travou! – acrescentou Marlene, servindo mais conhaque e se sentando ao lado de Sirius.

— Aí, sério? Eu me achei tão idiota, e pensei que ia ser ali mesmo que o plano de vocês iria por água abaixo!

— Nah! Você foi fantástica, querida!

Sentando-se na outra ponta do sofá em que Lily estava, James puxou-a para sua direção e aninhou-a em um abraço, dando um beijo no topo de sua cabeça. Lily se permitiu aconchegar mais e aproveitar aquele carinho, porque era definitivamente a única coisa que ela estava precisando depois daquela pressão toda.

— A que horas eu preciso acordar amanhã? Umas cinco, seis? – perguntou ela, coçando o olho.

— Que isso! Ninguém vai ordenhar vacas aqui não, Lily! O café é servido às sete e meia, mas só porque papai é ridiculamente matutino. Eu e os meninos provavelmente vamos comer nesse horário, mas só porque precisamos sair cedo.

— Durma um pouco mais e tome seu café com Lene e Lady Saska, Lils... acho que você precisa descansar dessa última semana. – pediu James, fazendo um carinho no cabelo dela.

Lily não recusaria o convite, pois estava realmente cansada, mas se perguntava quando teria chances de passar algum mísero segundo a sós com James, já que a agenda cheia dele não fazia parecer que isso seria possível.

A hora passou muito rápida enquanto todos contavam histórias engraçadas e descontraíam, relaxando da exaustiva semana que tinham tido. Já passava da meia noite quando se deram conta de que deviam estar dormindo há algum tempo, dados os enormes compromissos do dia seguinte.

— Já chega por hoje, gente. Sirius e Remo, os quartos de vocês são os de sempre, James, você ficou na suíte Apolo, e Lily, você vem com a gente, para os quartos do fim do corredor. – explicou Dorcas, empilhando os copos em uma bandeja.

Muito cansada, Lily acompanhou as duas, despedindo-se de James na escada, quando ele dobrou à direita, e ela, à direita. Uma vez que não havia funcionários acordados àquela hora, trocaram um beijo rápido e cada um se dirigiu a seus aposentos.

— Esse é o seu quarto, Lily. – disse Dorcas, indicando uma porta de madeira escura, aonde se lia numa plaquinha em cima “Suíte Atena”. – O quarto Lene é esse aqui ao lado, e o meu fica nesse corredor, depois da porta. Mas como são os quartos da família, geralmente o acesso ao corredor fica trancado, então é melhor que você interfone para mim se precisar de algo.

Interfone? Havia interfone entre os quartos?

— As toalhas estão no banheiro, e sua mala já está aqui. – indicou, adentrando o quarto com ela. – O aquecedor, o ar condicionado e as luzes você pode controlar por esse painel, mas tem um interruptor dos abajures ao lado da cama, e eu acho que seja isso.

Era muito para se processar. O quarto era grande e ricamente decorado, a cama era tão afofada que parecia aquelas de catálogo de revista, e Lily não lembrava de ter visto tantos detalhes em um quarto de visitas antes. O cansaço, no entanto, suplantava a curiosidade de explorar tudo, e tudo que Lily desejava era vestir seu pijama e dormir um pouco.

— Obrigada por tudo, de verdade. -  pediu, levemente emocionada. – Tenham uma boa noite.

As três trocaram abraços no corredor e cada uma foi para seu quarto, tentar dormir um pouco antes de enfrentar os compromissos do dia seguinte.

O despertador tocou as sete e meia, mas Lily se sentiu preguiçosa demais para levantar, e ficou fazendo hora, respondendo mensagens no celular. Quando se tornou inadiável (porque detestaria ser a hóspede que atrasa a rotina da casa), levantou-se e tomou um banho. Era a primeira vez que um banheiro era só seu, e não dividido com a irmã ou as colegas de dormitório.

O mármore do piso era chique, e toda a ornamentação meio dourada fazia a riqueza do banheiro ser ainda mais ostensiva. Como era possível um banheiro ser opulento?! Mas era, e Lily tentou não se impressionar demais. Colocou a roupa mais arrumada que tinha trazido em sua mini bagagem e esperou que fosse o suficiente para o desjejum com o conde e a condessa.

A casa parecia mais bonita à luz da manhã, com o sol entrando por todas as janelas e fazendo os cômodos se acenderem, e o jardim brilhava com todos aquele girassóis abertos e magnólias perfumadas. 

— Bom dia, Lady Lily. O café está sendo servido na sala menor, e Miss Marlene está a sua espera. – disse uma funcionária, assim que Lily desceu as escadas.

Lady Lily. Era engraçado ouvir isso.

Apenas agradeceu e se dirigiu até lá, animada para conversar com Marlene o café inteiro. Havia uma riqueza de comidas servidas para o café na mesa da sala menor (que de menor só devia ter o nome, já que as dimensões não pareciam variar muito), e o conde folheava um jornal enquanto bebia uma xícara de café.

— Perdão pelo atraso! – disse Lily em meio tom, sentando-se ao lado de Marlene, constrangida.

— Não por isso, minha cara. Eu gosto do meu desjejum cedo, e Lady Saska prefere comer depois de sua yoga. Miss Marlene fará sua companhia hoje, eu sinto muito não poder ficar, mas preciso dar uns telefonemas. – algum tempo depois o conde saiu e as duas meninas ficaram juntas, fofocando e comendo de tudo que havia sido posto.

A condessa desceu perto das nove, quando Lily e Lene provavam de uma torta, e ficou conversando um pouco, servindo-se de frutas e chá. Quando terminou de comer, Marlene pediu licença à condessa e saiu da sala, puxando Lily consigo, em direção ao corredor do segundo andar aonde ficavam os quartos de visitas em que estavam hospedadas.

— Entre, Lily... vamos nos distrair enquanto eles se matam lá fora! – brincou Marlene gesticulando em direção a janela, a qual oferecia vista ao St. Andrews Park, aonde várias tendas e barracas estavam montadas e bandeirolas eram estendidas.

Lily observou tudo que acontecia durante alguns minutos. Havia homens carregando caixas com comidas e bebidas, escoteiros ajudando a estender panos e tapetes pelo gramado e pessoas montando cercadinhos para exporem animais para adoção. Tudo tinha um clima de festa, e Lily sorriu com aquilo.

— É bonito, não é? – perguntou Marlene, observando-a.

— É sim... é legal saber que tem tanta gente engajada com uma causa tão importante.

— Dorcas é madrinha dessa Associação há quase dez anos. Claro, ela era muito nova, e começou sendo mais uma brincadeira de infância, mas ela sempre esteve envolvida. Houve muita crítica no começo. E muita piada ruim, também. Racista mesmo.

— Perdão? – disse Lily surpresa, virando-se para encarar Marlene.

— Sei que você tem um pouco de asco do nosso mundo, Lily. Da nobreza e da família real. – e Lily enrubesceu ao ouvir aquilo, tentando se retratar rapidamente. – Não! Não estou reclamando, você tem todo o direito. É um saco, às vezes. E o que fizeram com a Dorcas, meu Deus, foi horrível!

“Ela sempre levantava arrecadações, e quando completou dezesseis ela se voluntariou para trabalhar lá. Dar banho nos cães, ajudar com a alimentação. Atuar mesmo, e não só dar dinheiro como a maioria das pessoas fazem. Eu admiro Doe demais por isso, ela é um ser humano muito melhor do que muita gente que conheço, Lily. Mas existe muito racismo do lado de cá também. A comunidade nunca aceitou 100% que o Conde tenha se casado com Lady Saska. Primeiro por ela não ser inglesa de nascença, ela é da África do Sul. E depois, ela é negra. Quantos negros você acha que existem ligados à família real, Lily?”

— Eu não... eu não tinha ideia... – àquela altura, Lily estava em choque e tinha até mesmo se sentado na cama de Marlene, tão grande e cheia de cobertores quanto a que ela dormira.

— Em geral eles conseguem blindar Lady Saska e a Doe da maioria dos comentários maldosos, mas é claro que escutamos a rebordosa. Quando Dorcas começou a trabalhar como voluntária, houve muita gente dizendo que esse era o verdadeiro lugar dela, servindo, ou que ela poderia dar quantos banhos fossem necessários aos animais, mas não limparia sua pele.

— Meu Deus, que horror! – gemeu Lily em completo espanto. – Diga que foram tomadas ações legais, por favor!

— Sim, foram, com certeza! Mas a marca fica, não é? A comunidade que organiza a feira tem uma verdadeira devoção a tudo que Dorcas fez e faz pela associação de cães, e pelo hospital veterinário, e acho que todos se empenham tanto em fazer disso uma festa para retribuir um mínimo do que ela passou por trabalhar por eles. Acho que é a causa da vida dela, e eu penso que ela ainda vai fazer faculdade na área.

Lily não tinha palavras para acrescentar, porque, naquele ponto, ela achava que Dorcas devia ser canonizada. Até então, Lily não acreditava que podia haver verdadeira boa intenção por detrás das caridades de milhares de libras que a realeza fazia, mas conhecer a história de Dorcas estava sendo um choque de realidade muito intenso. Os problemas do mundo real alcançavam eles também, e Lily jamais pensara que um membro da nobreza pudesse ser racialmente criticado. Ao menos não de maneira escancarada.

— Ah, não! Não é para ficar com essa carinha de cachorrinho abandonado! – disse Marlene, percebendo a expressão concentrada e reflexiva de Lily. – Ei! Dorcas está bem, ela é muito forte! E ama isso demais para se deixar abater por gente que vai ter que pagar gordas indenizações a ela, não fique assim!

Sem que Lily esperasse, Marlene a abraçou, deixando claro que compreendia o sentimento. De alguma forma, o coração dela se aqueceu por Marlene tanto quanto tinha se enchido de um afeto instantâneo por Dorcas na noite passada, agora muito bem justificado.

— Vamos escolher sua roupa, ruiva... e aliás, fala mais de você, por favor! Dorcas e eu estamos quase aprovando você no teste de namorada do James, mas preciso saber seus podres, anda! Conta aí... como foi parar em Cambridge? Melhor! Por que escolheu Legislação? Eca, meu Deus! Quem escolhe legislação?!

Lily riu, se identificando. Se hoje refizesse sua prova de admissão, não escolheria jamais esse curso, embora gostasse.

— Pressão dos pais, eu acho... eu até que gosto, sabe? Mas não se se me vejo atuando na área.

Pela hora que se seguiu, Lily e Marlene trocaram histórias e deram boas gargalhadas. Falaram de James e de todas as manias esquisitas que ele tinha, ouviram música pop e cantaram as aberturas de seriados que tinham assistido na adolescência, esquecendo-se completamente do real objetivo: achar uma roupa mais apropriada para Lily.

A condessa bateu na porta do quarto as dez, perguntando se elas precisavam de algo, e só então Lily e Lene perceberam que precisavam se apressar. Marlene estendeu a Lily, primeiro, um vestido vermelho de estampa florida, mas concluiu que ele fazia um contraste esquisito com o cabelo ruivo dela.

Houve outras duas tentativas falhas com cores que nada tinham a ver com Lily, como um modelo em renda preta, e outro em estampa geométrica. Lily estava beirando uma crise nervosa ao se dar conta que não tinha nada elegante o bastante para ir ao evento, quando Marlene puxou um vestido completamente branco de dentro do armário.

— Eu achei que Dorcas usaria ele hoje, mas aparentemente não, já que ela deixou separado para você aqui. Quer experimentar esse?

Foi como se tivesse sido desenhado especialmente para Lily. Havia um balanço delicado e bem comportado na saia do vestido, que se estendia até o joelho, e as manguinhas rendadas davam uma seriedade respeitosa. Lily achou que nunca tinha se sentido tão principesca em toda sua vida, e sorria como criança no natal.

— Ficou incrível! – comentou Marlene, igualmente satisfeita. – Fique à vontade para escolher algum broche ou joia que queira usar, se não quiser algo seu, é claro. – emendou ela, rapidamente, embora Lily estivesse muito concentrada se admirando no espelho para ter ficado incomodada.

— Eu também tomei a liberdade de trazer um desses para você, porque imaginei que não devia ter um. – acrescentou Marlene, puxando um chapéu branco, de aba larga e com um detalhe em folha de acanto, de dentro do armário.

Durante a meia hora seguinte, Marlene se dedicou a embelezar Lily como uma boneca, enquanto vestia a ela mesma. Embora no limite de horário, as duas chegaram pontuais ao hall de entrada e acompanharam a saída de caixas térmicas com bebidas que a barraquinha que representava o conde serviria.

O parque estava lotado àquela altura, mesmo que a feira ainda não tivesse, de fato, começado. Havia montes de pessoas andando para todos os lados, e um palquinho retrátil mantinha as caixas de som elevadas do chão, tocando músicas folclóricas em um alegre tom instrumental. Lily sentia como se tivesse voltado no tempo para as feiras da igreja que ela costumava ir com os pais quando criança.

Ela e Marlene passearam um pouco pelo arco de barracas mais próximo à casa do Conde, andando em direção ao palco, aonde Dorcas devia estar, esperando para dar as boas vindas a todos e discursar, seguida do pai. Embora ainda não tivessem almoçado, as duas compraram saquinhos de pipocas doces e cumprimentaram muitas pessoas, um hábito que Marlene introduziu em Lily.

— Você está maravilhosa, Lily! – disse Dorcas quando avistou as duas se aproximando.

— Obrigada, Milady! Está igualmente muito bonita. – devolveu Lily com uma piscadinha marota ao perceber a presença de muitas pessoas por ali. Ali era, certamente a ocasião para chamar Dorcas de Lady.

Marlene sorriu em aprovação e Dorcas fez um gesto de concordância com a cabeça, escondendo um risinho. Tanto ela quando Marlene usavam chapéus como o de Lily, embora fossem amarelo e cinza, respectivamente, combinando com seus vestidos de primavera. Aparentemente tudo devia combinar em algum grau e tonalidade. Dorcas ainda tinha um broche preso ao vestido, com o brasão da associação de cães guia que ela representava, e em seu chapéu estava preso um laço laranja, que Lily questionou com o olhar.

— Símbolo da luta contra a violência animal. Começamos a campanha no ano passado, e foi significativa a redução de casos de maus tratos que o hospital precisou atender. – explicou ela, bebendo uma garrafinha de água. O dia estava terrivelmente quente.

Lily sorriu em compreensão e ficou ali por perto para ver Dorcas fazer sua fala, acompanhada de Marlene e, logo em seguida, do conde e da condessa.

— Bom dia a todos os presentes! Em nome do Conde de Essex eu cumprimento, em especial, toda a equipe do Hospital Veterinário Prince Edware, e os membros da Associação Britânica de Treinamento de Cães Guia – Polo de Chelmsford! Gostaria de registrar aqui o meu agradecimento a todas às fundações, instituições públicas e privadas, e à comunidade que, tão entusiasticamente, apoiaram, endossaram e se propuseram a trabalhar para tornar possível a quarta edição da feira de arrecadação de fundos para a causa animal!

Eram nítidas a emoção e o interesse altruísta de Dorcas pela causa, pois quando ela falava seus olhos se enchiam de um brilho diferente, e sua voz achava o equilíbrio perfeito entre aquele tom de boneca programada e o de menina moleca que fala alto e rápido demais. Naquele momento, Dorcas falava tão segura e cheia de si, que ela parecia acesa.

“Nesse ano temos o privilégio de contar com a participação da Hípica de Chelmsford, que gentilmente cedeu seus cavalos para arrecadação de recursos, além outras 23 barracas de produtores locais, cozinheiros, brinquedos e jogos, artistas e criadores de artesanato, além da tradicional barraca de sucos e drinks do Lord Mountabatten.” Continuou ela, ao que o conde deu um sorriso empolgado ao lado do palco. “Antes de liberar todos nós para um maravilhoso dia de diversão e arrecadação de fundos, gostaria de registrar a presença dos Duques de Cambridge e da Cornualha, Lord James Potter e Lord Sirius Black, e o senhor Remo Lupin, representando Sir Lyall Lupin, de Northamptonshire, e agradecer a eles a generosidade em, juntos, terem contribuído com uma doação cinco mil libras, para a construção e equipagem do centro cirúrgico do Hospital Prince Edware.”

A boca de Lily escancarou-se imediatamente. Cinco mil libras era perto do que seus pais, juntos, ganhavam em um mês! James, Sirius e Remo foram aplaudidos e receberam hordas de assobios e gritinhos de aprovação e agradecimento, e Lily podia ver os sorrisos amigáveis e gentis que eles apresentavam a todos que os cumprimentavam e apertavam a mão em gratidão.

James especialmente estava muito à vontade ali, conversando e interagindo com todas aquelas pessoas, e ali Lily via exatamente o mesmo James que se sentava com ela no pub, bebendo uma cerveja gelada e debatendo sobre qualquer bobagem. Ele se interessava verdadeiramente pelas pessoas, as olhava nos olhos, segurava as mãos delas, dava a atenção que mereciam, e isso fazia o coração de Lily sorrir.

Com certeza Dorcas tinha dito mais algumas palavras, mas Lily tinha perdido, e quando se deu conta, até mesmo o conde já havia terminado de falar e Dorcas tinha convidado todos a aproveitarem o dia, descendo do palco e vindo na direção dela e de Marlene, suando em bicas.

— Eu quero sua oratória Meadowes! – disse Marlene assim que se certificou que o conde não estava por perto.

— Deixa meu pai ouvir que você não usa o Lady ou o Mountbatten para você ver uma coisinha. – e as duas começaram a rir. – O que achou, Lily?

— Seus olhos brilhavam enquanto você falava, Mi... Dorcas. – remendou Lily quando recebeu olhares brincalhões das duas. – É admirável, sério! Olha o tamanho desse evento! Você é incrível!

Dorcas sorriu em agradecimento e apertou a mão de Lily, já que abraçar não seria muito adequado.

— Vamos procurar os meninos? Eu estou morrendo de fome! – reclamou Dorcas, secando o rosto com um lencinho.

— Eu acho difícil que James e Sirius consigam fugir daquele monte de gente com eles. – disse Marlene, indicando uma aglomeração de pessoas perto de uma barraca de queijos de fabricação caseira. - Mas podemos tentar.

Apesar do calor, a feira estava incrivelmente movimentada, e as barracas vendiam seus produtos como água, de maneira que provavelmente muito dinheiro seria arrecadado. Dorcas passava pelas barraquinhas, com Lily e Marlene, cumprimentando todos os produtores e fazendo questão de experimentar o que estivesse sendo vendido, e até comprar uma ou outra coisa. Quando finalmente alcançaram James, Sirius e Remo, as mãos dela estavam repletas de sacolas de papel com sabonetes artesanais, garrafas de xarope de groselha e pulseirinhas de couro feitas à mão.

— Alguém já fez a festa nas barracas de artesanato aparentemente, eim?! – provocou Sirius ao vê-las se aproximar.

— E alguém amaciou o ego com esse monte de gente em volta, hum? – retrucou Marlene, revirando os olhos e aceitando o braço que Sirius estendeu a ela.

— Trouxe água, alguém com sede?

Todas as garrafinhas de água que Remo vinha carregando foram rapidamente esvaziadas pelos seis jovens, e o sol estava brilhando a pino no céu.

— Nós devíamos procurar uma mesa e comprar algo para comer. Logo eu vou precisar trabalhar na fila de adoção dos cães do hospital e vou me enrolar toda. – disse Dorcas, abanando-se com um leque que Lily não fazia ideia de onde tinha vindo.

— Então vão vocês três sentar, e nós pegamos comida. Batata recheada com queijo e bacon? Todo mundo?

— Eu quero pastel da Cornualha, Pontas! Vi que tem uma barraquinha servindo! – disse Sirius com água na boca.

— Sim! É a família Weasley, eles são tradicionais em servir comidas da Cornualha na feira. Parece que o avô deles era de lá e veio para cá depois da guerra. É uma coisa de família a receita, e é muito bom! Quem cozinha hoje é a filha mais velha, a Molly. Ela e o marido tem cinco filhos, um mais fofo que o outro! Ela vai adorar conhecê-lo, Jay! – explicou Dorcas. – Eu vou com vocês então.

Dorcas, James e Remo foram buscar o almoço enquanto Lily, Marlene e Sirius encontravam uma mesa e se acomodavam para fugir do sol, e Lily aproveitou para observar toda a animação das pessoas com o evento. Havia muitas crianças correndo com brinquedos que tinham conquistado em barraquinhas de jogos, balões coloridos nas mãos de bebês gorduchos que aprendiam a caminhar, e adolescentes caminhando em grupinhos, rindo e devorando sorvetes que pareciam deliciosos naquele calor.

— Alguém, por favor, me lembre de nunca querer mais do que dois filhos! – gemeu James quando colocou uma bandeja de batatas sobre a mesa. – Aqueles Weasley, eles são insanos! As crianças são pequenos animais!

Dorcas e Remo se fartavam de rir, carregando talheres, e as bebidas e o pastel de Sirius, respectivamente.

— Ah, menos, James! Eles são fofos, não são?

— Fofos e atentados! Aqueles gêmeos então! E eles são apenas bebês! São criancinhas de colo! Eu acho que é o cabelo ruivo que deixa as pessoas mais agitadas!

Os olhares se viraram na direção de Lily, que já cortava um pedaço de batata, e de repente todos estavam rindo. O almoço passou leve e com algumas provocações e brincadeiras. O conde e a condessa tinham sumido completamente, e Dorcas estava realmente cansada, mas visivelmente feliz.

— Eu preciso ir trabalhar, você quer vir, Lene? – perguntou ela, dando um bocejo.

Havia um vento quente e modorrento, deixando uma sensação de exaustão e moleza pós almoço, embora todo o resto da comunidade continuasse muito empolgado. As crianças pequenas brincavam na parte rasa do lago artificial ali perto, e outras faziam fila para montar os cavalos da hípica de Chelmsford, muito empolgadas.

— Nah, acho que vou ficar por aqui mesmo, sentadinha. E vocês?

— Eu queria ver os cavalos. – disse Lily, parecendo uma criança empolgada.

— Ótimo. Sirius e eu não conseguimos visitar a hípica hoje de manhã antes de os animais saírem, então precisamos ir lá cumprimentar o diretor mesmo... pode vir conosco.

Se arriscando mais do que devia, James fez um carinho na mão de Lily por debaixo da mesa e ela sorriu em agradecimento, tentando ignorar a vontade que tinha de andar por aí de braços dados com ele.

— Então eu ficarei fazendo companhia para Lene, estou mesmo esgotado desse calor todo. Aliás, melhor! Eu vou buscar um sorvete para ficar tomando aqui. Você aceita um, Miss Marlene? – disse Remo, subitamente percebendo que alguns adolescentes se aproximavam para pedir que James e Sirius comprassem velas aromáticas para ajudar a custear a festa de formatura deles.

— Seria ótimo, senhor Lupin. – respondeu ela, com aquele sorriso principesco que Lily esperava conseguir imitar quando necessário fosse.

— Eu vou me retirando para o trabalho, com licença.

Dorcas e Lupin tinham saído, e James e Sirius já estavam de pé, doando algumas libras aos estudantes, de maneira que Lily se apressou em ajustar o vestido e se levantar para acompanhá-los na visita aos cavalos.

A fila de crianças era barulhenta, e James precisava falar alto para sobrepor sua voz ao barulho, explicando à Lily sobre as raças dos animais que estavam ali, na beira do lago. Ele e Sirius logo encontraram-se com o diretor da hípica, apresentando Lily rapidamente (ao que ela deu um aceno de cabeça e um sorriso educado) e iniciando conversas burocráticas.

Lily aproveitou o envolvimento dos rapazes e foi dar uma volta no entorno, observando os cavalos em toda a sua imponência. As crianças menores andavam em pôneis e cavalos menores, em turnos rápidos para que o animal pudesse descansar na sombra, com água fresca à disposição. Os animais maiores eram voltados para adolescentes e adultos, porque eram mais robustos e, como Lily descobriria, menos dóceis.

Ela pediu para acariciar os animais e pode até mesmo alimentar um, tocando nas pelagens caramelo, cinzentas e amarronzadas. Quando estendeu a mão para o focinho de um animal preto, foi advertida.

— Por gentileza, não Milady. – disse o funcionário que a vira chegar acompanhada de James e Sirius. – Esse animal ainda não foi completamente adestrado, e já está muito arredio pelo calor e pelo barulho. Não queremos que a senhorita se machuque.

Meio assustada, Lily deu alguns passos para trás e o animal relinchou. Talvez fosse hora de se afastar. Agradecendo a gentileza do rapaz, e sem fazer questão de desfazer o mal entendido de que não era Lady alguma, Lily se retirou, indo até James e Sirius, que riam de alguma piada do diretor da hípica.

Juntando-se a eles, Lily ficou apenas observando a conversa, quieta, secretamente admirando James em seu elegante terno cor de areia. O paletó havia ficado na mesa, e as mangas da camisa dobradas no antebraço davam um ar sexy e moderno que Lily nunca pensara que a realeza podia assumir em público. O vento ficara consideravelmente mais forte e o cabelo espetado de James balançava de um jeito atraen..

— Meu chapéu! – gemeu ela, quando o vento arrancou os grampos que prendiam o chapéu em seu cabelo.

Os três homens se encararam e ficaram genuinamente confusos de ver um chapéu sendo levado pelo vento. Lily se adiantou e tentou correr atrás dele, mas o acessório subia e descia seguindo a corrente de ar, indo em direção ao lago.

Sirius, de alguma maneira que só quem entendia de aerodinâmica parecia saber, percebeu aonde o chapéu estava propenso a cair e saiu correndo pela beira do lago, contornando a área em que os cavalos estavam presos, indo buscar o acessório voador. Lily tinha parado no meio do caminho que ele fizera, esperando o desenrolar. Algumas pessoas assistiam a cena, curiosas, e as crianças gritavam, deixando os animais estressados.

— Peguei! – disse Sirius, segurando-se no galho de uma árvore que fazia sombra aos cavalos presos, aonde Lily estivera minutos atrás, e se esticando por cima da água para pegar o chapéu, que não chegara a molhar.

— Obrigada! -gritou Lily de volta, enquanto ele se puxava de volta ao equilíbrio.

Aconteceu tudo rápido demais, e Lily pressentiu o que viria, de maneira que só conseguiu berrar, alto demais para seu forçado tom principesco, recentemente adquirido. Mas não havia nada de principesco no pânico, e Lily estava em pânico.

— SIRIUS! CUIDADO!

O tal cavalo arredio não estava nada satisfeito com crianças berrando em seu redor, muito menos com pessoas agarradas a árvores em seu perímetro de relaxamento, e estava relinchando bastante incomodado. Começou com passos nervosos e uma tentativa de se soltar, atraindo a atenção dos funcionários, que tentavam contê-lo.

No entanto, quando Sirius sacudiu a árvore atrás dele, o animal entendeu que aquele era seu limite e deixou um coice generoso para o que quer que estivesse atrás dele.

Quem assistiu a cena teve certeza de que Sirius tinha quebrado, ao menos, uma costela, porque foi arremessado para dentro do lago com a violência que só um coice raivoso permitiria, e logo houve uma gritaria assustada e desesperada nos arredores.

James se adiantou, correndo na direção do amigo, e os responsáveis pelos animais, tiraram todas as crianças de perto, tentando acalmar os cavalos. Lily estava em completo choque, com as mãos na boca e os olhos arregalados de preocupação.

— Aquilo foi o Sirius?! – perguntou Remo, assim que chegou, vindo correndo e com Marlene em seus calcanhares, lívido e apavorado.

— Foi. - gemeu Lily, sentindo-se terrivelmente culpada. Fora um acidente! Ela jamais quisera causar aquilo!

— Aí meu Deus! Chama uma ambulância, Lene! – pediu ele, completamente aturdido, dobrando as mangas da camisa social e indo na direção do lago. – Diz que um estudante de medicina do segundo ano está prestando os primeiros socorros, e que pode ser que tenha laceração de órgãos vitais.

Havia caos demais para ser principesca, então Lily abraçou Marlene e começou a chorar, desesperada de pânico.


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Notas finais do capítulo

Não me matem, mas alguém tinha que sofrer as consequências do caos uma plebeia no meio da realeza, não é mesmo? Confesso que estou mega ansiosa pela reação de vocês, porque foi suuuuuper dificil parir esse capítulo (Carter sabe como sofri rs), então espero mesmo que tenham gostado, e vou aguardar os comentários de vocês para saber o que acharam.

Até logo menos, amores! Beijoooos ❤