God save the Prince escrita por Fanfictioner


Capítulo 7
Sob pressão


Notas iniciais do capítulo

Quanto vocês me detestam agora? *foge de feitiços raivosos*
Juro que tentei aparecer mais cedo, mas foi IMPOSSÍVEL! Eu vendi minha alma ao entrar em uma faculdade federal, e estou sendo cobrada por isso agora, então mal estou tendo tempo de escrever, espero que entendam...
Esse capítulo está excepcionalmente longo (e receio que o próximo também esteja) porque esse momento é MUITO importante para nossa história, e os acontecimentos daqui precisam de muuuuita atenção e cuidado... espero que gostem, apesar da demora foi feito com muito amor e carinho!
Vejo vocês nas notas finais!



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— Certo... deixa eu ligar o cronômetro aqui... valendo! – disse Mary apertando a tela do celular.

Frank, que estava em pé, afastado alguns centímetros da mesa dos amigos, fez um gesto com a mão, seguido do número quatro apontado nos dedos.

— Quatro palavras! – berrou Lily, ao que ele fez um sinal positivo exagerado. – Certo, certo...

— Segunda palavra... chifre? Cervo? – perguntou Alice quando ele gesticulou com os dedos acima da cabeça.

Naquela noite de sábado, Alice, Mary e Lily tinham saído com Frank, James e Peter para um pub recentemente inaugurado, Hogwarts Pub Place, o qual disponibilizava jogos de tabuleiro para os clientes se distraírem enquanto bebiam.

Tinha sido uma saída marcada de última hora, com o combinado de não ser demorada. Aquele era o final de semana que antecedia as provas finais do trimestre, e todos estavam colapsando em matérias para ler, revisões e simulados para fazer, e listas de exercícios para corrigir. James e Frank tinha conseguido convencer Lily e Alice, chamando Mary e Peter no processo, a fazerem uma pausa para jantar algo e todos se distraírem um pouco.

Fazia quase uma hora que estavam em uma animada partida de Imagem e Ação, comendo Fish and Chips e tomando cervejas ruins, numa tentativa de aliviar o estresse, e logo menos acabaria o tempo combinado para a pausa e todos deveriam voltar às suas obrigações de estudos. Lily, James e Mary eram um time contra os outros três, e naquela rodada, todos poderiam tentar responder a mímica de Frank.

— Búfalo! Vaca! – gritou James, mas Frank negou e persistiu no resto, acrescentando uma careta maliciosa.

— Diabo! Diabo! É diabo!

Frank pareceu em êxtase quando Mary gritou, apontando na direção dela e dando um sorriso. Em seguida, ele mostrou o número três com os dedos, e então fez um gesto como que mostrando sua roupa.

— Roupa! Camisa! – disse Peter. – Diabo roupa?

— É roupa? Acho que não! Vestido? – perguntou Alice ao notar que Frank estendia o gesto para além do toráx.

— Veste! Diabo veste... O Diabo Veste Prada!

O berro de excitação de Lily foi agudo e divertido quando Frank indicou que ela tinha acertado e, portanto, somado 4 pontos para seu time. Alice pareceu meio chateada, porque a diferença de pontos entre os dois times já era grande e àquela altura, as chances de uma reviravolta eram inexistentes, principalmente considerando que já estavam prestes a irem embora.

— Assim não tem graça! Lily é muito boa nesse jogo, sem condições! – comentou Peter dando um gole em sua cerveja e beliscando batatinhas fritas molengas que sobravam num cestinho no centro da mesa.

— Tente dizer uma coisa em que minha ruiva não é boa e falhe, Peter... – disse James, passando um braço por sobre o ombro de Lily e dando um último gole em sua cerveja

Os amigos reviraram os olhos, e Peter fingiu uma ânsia de vômito, enquanto Lily apenas riu e fez um carinho na mão de James que descansava sobre seu ombro.

— Acho que está na nossa hora, não? – perguntou Lily retoricamente, checando a hora no celular. O sol estava baixando, e já passava das 20h.

— Eu acho muito injusto ter tantas provas no meio do verão, sabe? Porque tudo que consigo pensar é em beber um vinho no parque e ficar deitada lendo até escurecer, e na verdade estou trancafiada no quarto e na sala de aula há quase quinze dias, sem ver a luz do dia direito, estudando como uma louca! – gemeu Alice, deitando a cabeça no braço de Frank.

— Eu preciso ter mais de cinco horas de sono em algum momento essa semana ou vou desmaiar de cansaço! Estou tendo dor de cabeça todos os dias!

— Calma, Lily, calma, gente! Só mais quatro dias! Depois de quinta-feira tudo vai ter passado e nós vamos poder descansar, comer, beber... falta muito pouco, a gente consegue! – disse Mary, que devia ser a pessoa mais desencanada da mesa.

Ela e Peter tinham combinado de irem correr no parque naquela noite, para aproveitar o sol se pondo, e Alice ia para o apartamento de Frank, aonde deixara todos seus livros e papéis de revisões, porque sua luminária de leitura havia quebrado e Alice estava trabalhando muito em seus estudos durante a noite.

Lily respirou fundo, tentando não pensar em tudo que tinha para estudar ainda naquele dia, e decidiu que não podia mais procrastinar, por mais divertido e aconchegante que estivesse ali. Despediu-se dos amigos, deixando 20 libras sobre a mesa para pagar pelo que consumira e pegando o casaco de cima do espaço vago do banco que ela dividia com James e Mary.

— Eu levo você em casa, Lil... – adiantou-se James, puxando as mangas da camisa para baixo dos cotovelos.

— Não precisa! Acho que o pessoal ainda vai jogar outra partida, não?

— Não mesmo! Assim que Frank terminar de beber nós vamos para casa... fica à vontade, James!

— E se a gente quiser correr enquanto ainda está claro, acho bom irmos andando, Peter... você vai passar em casa ainda? – perguntou Mary, prendendo os cabelos. – Eu estou com minha roupa de ginástica na mochila, vou só ao banheiro.

James e Lily não esperaram que Peter e Mary terminassem a discussão, e depois de James ter deixado uma nota generosa de 50 libras sobre a mesa (pedindo que dessem a gorjeta ao barman), os dois saíram de mãos dadas, aproveitando a brisa gostosa do verão contra eles.

— Ainda tem muita coisa para estudar?

— Um pouco. Eu preciso completar minhas anotações corrigidas da supervisão de ontem, e terminar uma lista de exercícios preparatórios para a prova de Instrumentos Legais Internacionais. E tem as simulações de provas, mas pretendo deixá-las para amanhã... e então vai faltar só revisar tudo em blocos na segunda... e você?

James deu um resmungo em protesto e atrapalhou os cabelos antes de falar.

— Bastante. O suficiente para ficar irritado e ansioso. Mas Peter e Frank combinaram de fazermos uma revisão extensa de tudo essa madrugada, e estou confiando que vai ser o suficiente para me preparar bem. Além dos simulados, é claro! Mas coloquei uma regra de não pegar em mais nada de estudos depois de amanhã as 20h... a senhorita devia também, ruiva! – disse ele, cerrando os olhos e apertando a bolinha do nariz de Lily.

— Ah, claro! – respondeu Lily com ironia. – Com certeza!

— Não vai fazer diferença alguma, senão deixar você mais ansiosa, Lily. O que você não aprendeu em um trimestre, bem, detesto dizer, não aprenderá em um dia, sem dormir, e pulando refeições! Eu estou preocupado com você, Lily!

E, de fato, ele estava. Lily parecia exausta, com olhos fundos e a pele pálida, e fazia quase duas semanas que James a observava pular ao menos uma refeição por dia, quando não mais, para ganhar horas de estudo. Os dois tinham se visto mínimas vezes nos últimos quinze dias, só nos finais de semana, ou quando James cozinhava para eles dois ficarem estudando até altas horas da madrugada na mesa do apartamento dela.

— Eu estou bem, querido, não se preocupe. Só preciso que as provas acabem, e daí posso relaxar... o próximo final de semana será todo dedicado ao descanso, prometo!

Com a correria do final do ano letivo, James tinha completamente esquecido de mencionar a Lily o evento de caridade que prometera à Dorcas que iria. Não que Lily fosse do tipo ciumenta e possessiva, que não fosse deixá-lo comparecer, mas porque James estava cheio de expectativas de que Lily o acompanhasse até Essex, para a feira beneficente para arrecadação de recursos ao Hospital Veterinário Prince Edware, e para a Associação Britânica de Treinamento de Cães Guia.

Seria o primeiro evento oficial que James compareceria aquele ano, representando a ele mesmo e seu ducado, e sem qualquer obrigação com a rainha. Estava empolgado e ansioso por isso, tanto para ver os amigos, quanto pela possibilidade de ter uma primeira viagem com Lily, ainda que não fosse bem o tipo de plano mais atrativo para se fazer a dois.

Entre eles tudo era muito claro: estavam em um relacionamento sério. Um namoro sério de pouco mais de um mês de duração, assumido após três semanas rápidas e precoces de ficadas e saídas para beber. Sabiam que tinham mergulhado de cabeça, embora nenhum dos dois parecesse assustado ou incomodado com isso. Tinham muito em comum, e o relacionamento era leve, dava aquele frio gostoso na barriga, e quanto mais se conheciam, mais achavam semelhanças.

No entanto, não era como se James pudesse assumir isso de maneira escancarada, principalmente assim, de repente e sem a ciência da Família Real. E Lily entendia. A última coisa que ela queria era ser enfiada no meio do culto de personalidade que a vida da família monárquica estava inserida, mais ainda por saber que seria execrada e comparada, medida e avaliada de todas as mais cruéis maneiras possíveis.

Lily não fazia a mínima questão de gente revirando seu lixo para saber o que ela comia, ou seu saco de lavanderia, para saber aonde comprava suas roupas (claramente na Primark mais próxima, preferencialmente nas vendas promocionais de Black Friday, Ano Novo e verão). Não mesmo, obrigada.

Dado tudo isso, James estava um pouco preocupado em como Lily encararia o convite para o evento. Era óbvio que não poderiam ser vistos em público como um casal, já que haveria imprensa no local, e Lily não poderia ser apresentada à família de Dorcas como namorada dele. Mas tudo era arranjável, e James estava muito animado para que seus amigos conhecessem Lily e vice versa.

— Uhm... eu tenho uma proposta. Para o final de semana. – disse ele algum tempo depois, perto da casa de Lily, quando o assunto já tinha mudado umas duas vezes.

— Diga então, senhor... estou curiosa.

Mesmo ansiosa e cansada, Lily continuava bonita, e seu sorriso tinha algo que fazia as entranhas de James se revirarem de um jeito muito bom. A empolgação infantil que ela demonstrava a quase tudo que ele sugeria de programação era contagiante, e os olhos dela pareciam sorrir junto sempre que ela ria.

— Quer viajar comigo?

— Viajar, James? No final do trimestre?

— As provas já terão passado mesmo... só para passar o final de semana fora, relaxar, não pensar em estudos...

Lily pareceu ponderar a oferta. Até ali, James não sabia como explicar que não era um convite 100% altruísta e com programação romântica, mas uma tentativa de unir o útil ao agradável, o dever ao prazer, e, de quebra, juntar amigos e namorada em um único evento.

— Uhm... e nós iríamos para aonde, Sr. Potter? – perguntou ela, enlaçando seus braços sobre o pescoço de James quando chegaram à entrada de seu prédio.

O sol ainda estava ali, embora começando a tonalizar o céu com laranja e rosa, e havia um vento gostoso no jardim. James respirou fundo, tentando não se perder nos olhos de Lily e devanear completamente sobre o objetivo da conversa.

— Essex. – uma interrogação surgiu no rosto de Lily. – Eu tenho um compromisso em Essex no final de semana. Nada super sério, é um evento de arrecadação de fundos para um hospital veterinário e uma associação de cães guia.

— Cães guia tem uma associação?!

— Os treinadores, claro! Mas sim, ahm... uma grande amiga minha, a Dorcas... já falei de Dorcas para você, não já? – Lily assentiu com a cabeça, encarando James concentrada no assunto. – Bem, ela é madrinha do evento, e eu estou doando um dinheiro para eles e tal... ia pegar muito mal eu não ir, e eu me comprometi há tipo, um mês.

James não percebeu que estava divagando no assunto, nem que tinha dobrado o rosto numa expressão de pedido de desculpas, e Lily esticou a mão para tocá-lo na bochecha e lhe suavizar o rosto.

— Ah, querido, tudo bem! Não precisa se incomodar, são seus compromissos, eu não ligo de não ficarmos juntos no final de sem...

— Não! Uhm... você não entendeu, Lil. – coçou a cabeça, parecendo realmente nervoso – Eu não estou convidando você por culpa ou qualquer coisa assim, tenho certeza de que você entenderia se eu precisasse ir só...

— Claro! – disse ela dando um sorriso, embora ainda confusa.

— Estou convidando você para ir comigo porque quero sua presença lá, quero você comigo, Lily.

Lily de repente ficou muito séria, tirou os braços do entorno de James, olhando-o fundo nos olhos, com a cabeça ficando mais confusa a cada segundo. Mas e a história de não ser um casal público? E a coisa de que a Família Real não sabia deles? James estava convidando-a para ser sua companhia em um evento oficial? Definitivamente Lily não podia aceitar aquilo! Ela nem mesmo tinha uma roupa que pudesse usar com aquela gente, que dirá ser vista com James... e a imprensa?

— James... você mesmo disse que não íamos levar isso a público. Você não está falando sério, eu não posso... – os olhos dela estavam arregalados e muito atentos, nervosos.

— É claro que falo sério, Lily! – disse ele, pegando uma das mãos de Lily para falar, sem encará-la nos olhos para não deixar o momento ainda mais esquisito. – Veja bem... eu quero que viaje comigo, que conheça um pouco do meu mundo. Eu estou o tempo todo no seu mundo, conheço sua vida, sei quase tudo que tem para saber da sua família, e você sempre diz que não sabe nada sobre mim. E querendo ou não, essa é, também, a minha vida. E quero você nela, quero que saiba tudo que quiser sobre mim! Vem comigo, por favor!

Quando falava com essa intenção, James era muito persuasivo, e sua oratória era sempre convincente. “Ele foi treinado para isso”, pensava Lily. E era, em parte, verdade. Mas na outra parte, James podia ser bastante passional e dirigido pela emoção.

— Não precisa me dar uma resposta agora, pode me falar ao longo da semana. Mas seria muito importante para mim. Quero apresentar você aos meus amigos, e você poderá acompanhar um pouco do meu trabalho... e depois que o evento acabar, nós ficamos livres. Podemos andar a cavalo, ou fazer qualquer outra coisa que você gostar... prometo não fazer dessa viagem uma coisa só minha.

 A ideia era tentadora, sumir com James ao final da pior e mais cansativa semana do semestre para um local completamente distante de todas as obrigações de faculdade. A expressão pidona de James fazia tudo parecer ainda mais simples e maravilhoso, a ideia de conhecê-lo mais e vê-lo por outros ângulos era atraente demais, seria tão fácil dizer sim.

— E a imprensa? E todas as outras pessoas? O que elas vão falar? Não posso ser vista com você, James... combinamos que nosso namoro seria nosso, e não do país todo também! Eu não quero ser exposta desse jeito!

— E quem disse que eu vou fazer isso com você? – disse ele rindo levemente. – Lily, existem uns cinco planos diferentes que eu e Sirius já criamos para o caso de você aceitar, e em cada um deles há uma chance menor do que no outro de alguém suspeitar de qualquer coisa entre nós. E ainda sobra brechinhas para ficarmos juntos, eu juro! Pensa com carinho, ruiva.

James achou mais saudável não insistir muito mais e deixar Lily livre para pensar sobre e tomar sua decisão sozinha, porque a pressão dos exames finais já era suficiente, e Lily não precisava dele em seu pé também. Inclinou-se na direção dela, deixando um beijo em sua testa e um selinho em seus lábios, avisando que mandaria mensagens mais tarde.

— James! – ele se virou para dar atenção a ela. – Supondo que eu, hipoteticamente, fosse aceitar esse convite... o que eu deveria vestir? Não tenho roupa para sair com a realeza, Jay...

Ele quis rir alto ali, porque sabia que 50% de Lily já estava inclinada a dizer sim ao convite.

— Também isso já está planejado, ruiva... não pense demais, querida, vá estudar!

***

A semana passou muito rápida, como sempre acontece quando se tem eventos importantes prestes a acontecer. Lily não trocou muitas palavras com ninguém na segunda-feira e passou o dia todo estudando em seu quarto, porque a biblioteca do seu departamento estava lotada, conforme uma colega avisou. Com ajuda de um calmante, dormiu cedo, tentando compensar o sono acumulado dos últimos tempos e, também, estar bem descansada para a prova extensa do dia seguinte.

Entre terça e quinta, ela e James só se viram uma vez, na tarde de quarta-feira, antes de James ir para o treino de futebol, e até ali, Lily ainda não havia decidido se viajaria ou não com ele na sexta. Alice e Mary só conseguiram fazer seus horários funcionarem com os de Lily na quinta-feira depois que as provas acabaram, e mesmo morando na mesma casa, foi a primeira vez, desde domingo, que as três tiveram uma conversa decente e partilharam uma refeição.

Lily tinha reunião da Sociedade de Legislação, e James, Peter e Frank da Sociedade de História, então acabou sendo natural que o jantar de comemoração ao fim das provas ficasse para depois das 20h, na casa de Alice, Lily e Mary, com as duas descompromissadas responsáveis por preparar um típico assado inglês e gelar um vinho rosé. Afinal, estava terminando o segundo ano de faculdade de todos ali!

— Eu morro de curiosidade sobre o que vocês tanto discutem aí, porque é raro essas reuniões acabarem na hora. – resmungou James quando Lily saiu da sala da Sociedade Acadêmica.

— E eu morro de curiosidade sobre o que vocês fazem! Não é possível que suas reuniões sempre acabem primeiro!

— Fazer o que se somos sucintos e objetivos? – brincou ele, dando uma das mãos a Lily e pondo a outra no bolso da jeans. – Que semana eim? Eu sinto uns dez quilos a menos nas costas, e uns quinze a mais nas pálpebras!

Lily deu um risinho, porque se sentia exatamente do mesmo jeito.

— Facilmente estouraria fogos para comemorar que está acabando, mas estou cansada demais para isso. É muito desgastante!

James concordou, e eles fizeram o caminho até a casa de Lily boa parte em silêncio. Parte de um relacionamento também era saber lidar com silêncios confortáveis, às vezes. Estavam, ambos, muito exaustos da maratona de provas que a semana tinha sido para terem algum humor sobrando. Quem sabe após umas taças de vinho, mas definitivamente após uma noite de sono tranquilo, as piadas voltariam normalmente.

— Então... eu devo pegar estrada amanhã de tarde, umas 14h. Vou encontrar com Sirius e Remo em Londres e vamos todos juntos no meu carro. Quando eu chegar em Chelmsford devemos jantar com o Conde, mas antes das onze da noite eu devo estar livre e posso ligar para você, se quiser... – comentou ele, levemente frustrado que Lily tivesse negado o convite.

Bem, ao menos não tinha aceitado ainda, e como era véspera da viagem, estava meio óbvio que ela diria não. Mas Lily Evans era uma pessoa muito imprevisível, e James as vezes se esquecia disso.

— Eu preciso levar o que mesmo? Você disse que a coisa da roupa de gala para o evento já estava inclusa no seu planinho com o Duque da Cornualha... – disse Lily casualmente, segurando um risinho.

— Você vai?!

— Ué, eu não fui convidada?

James a olhava completamente incrédulo. Teria sido mais fácil que ele acreditasse que Lily era um ciborgue do que aquilo. Mas, embora risse, Lily não parecia estar tirando graça da cara dele, e sim falando muito sério. Ela estava aceitando o convite!

— Você tá falando sério? Tipo, sério, sério?

— Muito sério, Jay! – Lily sorria, achando muita graça da expressão confusa e perturbada dele.

Ignorando o fato de estarem no meio da calçada e ainda estar claro, James puxou Lily para um beijo generosamente caloroso, e sorriu exultante como se tivesse acabado de receber a notícia de ter gabaritado todas as provas.

— Ah, Lily! Vai ser tão bom, você vai adorar! A casa de Dorcas é linda, e eu tenho certeza de que você, ela e Lene vão se dar super bem!

— Espero! – riu ela, constrangida pelas pessoas que andavam nas ruas os encarando. Era exatamente a mesma cara que Lily fazia quando via aqueles casais estrangeiros tirando fotos em cima da ponte Cam.

Durante o resto do caminho, e a subida até o apartamento de Lily, James continuou divagando sobre a maravilha que seria o final de semana, e todos os planos que tinha para fazerem juntos no tempo livre e tudo mais.

— A gente já estava achando que vocês tinham sido abduzidos! – reclamou Mary no segundo em que eles entraram no apartamento. – Estávamos só esperando os pombinhos chegarem!

— Por que só a gente é chamado de pombinho? Frank e Alice parecem um par de enguias se agarrando e eu não escuto nada sobre!

— Ei! – exclamou Alice, sem se soltar do abraço que Frank lhe dava por trás.

— Ficou chato já, não é mais novidade... vocês dois são. – disse Peter dando de ombros. – A gente pode comer? Esse vinho todo sem nada no estômago está me deixando tonto!

— Você é muito mole, Rabicho! – disse James, agarrando uma taça com vinho rose e tomando seu lugar ao lado de Lily na mesa. – Um brinde ao fim das provas!

Todos ergueram as taças e as tilintaram umas contra as outras, aliviados que a pior semana do ano tivesse acabado. Havia enormes batatas assadas, bem como carne e uma tigela cheia de ervilhas, cenouras e brócolis cozidos, e tudo cheirava deliciosamente bem.

— Obrigada, Senhor, porque essa semana acabou! Preciso beber até desmaiar para dormir tudo que me falta de sono! – disse Alice dramaticamente, colocando uma concha generosa de molho em cima de seu bife e das batatas.

A comilança e as piadas de humor ácido sobre as provas finais duraram até perto das onze, quando Peter disse, muito bêbado, que precisava ir embora. Frank e James se voluntariaram para fazer a limpeza de tudo, e as meninas ficaram jogadas no sofá, empanturradas e meio alcoolizadas, conversando as poucas amenidades que ainda tinham forças para fazer.

Mary adormeceu ali mesmo, e Alice e Lily tiveram de ajudá-la a chegar ao quarto e colocar um pijama. Frank decidiu dormir com Alice e se poupar de andar trôpego até em casa, porque estava realmente exausto, e James prometera que não se demoraria, mas que precisava acertar os detalhes da viagem.

Os dois se retiraram para o quarto de Lily, para conversarem com privacidade, mesmo que ela estivesse muito constrangida da bagunça do lugar. James realmente não se importou com as poucas coisas desarrumadas, como o espelho com respingos de pasta de dente, ou os papéis esparramados de qualquer jeito sobre a escrivaninha, ou mesmo a pilha de roupas sujas feita em cima do cesto de palha, no canto. Seu quarto já tinha vivido momentos piores em semanas de provas.

— Certo, uhm... sobre a viagem. – começou ele, coçando os olhos e tentando focar no que precisava falar. – Como falei, vou dar carona a Sirius e Remo, e quero sair as 14h, funciona para você esse horário?

— Eu acho que tenho aula... – disse Lily, sentindo um pouco de dificuldade em lembrar até que horas suas aulas iriam. – Não, me enganei, não tenho aula não. Eu saio as 13h. É, 14h está bom.

— Okay, 14h então. Eu pedi que Marlene levasse coisas a mais para a casa de Dorcas, e você vai se resolver com as meninas quanto ao que vestir... mas não se preocupe, vai dar tudo certo. Nós vamos todos nos hospedar na casa do Conde de Essex, que é o pai da Dorcas, e eu e você vamos precisar de todo o cuidado e discrição do mundo, porque claro que não queremos escândalo algum.

Lily concordou com a cabeça, sabendo que aquela era a parte séria da conversa. Eles não podiam se dar ao luxo de deixar transparecer que tinham um relacionamento, não se quisessem continuar a tê-lo, e estar em meio a realeza parecia algo que claramente arriscava isso.

— Dorcas vai manipular a cozinha para evitar de colocar você em alguma situação delicada quanto à comida. Tipo com o uso de garfos e facas diferentes e tal. – ele explicou quando Lily pareceu confusa. – E a gente vai apresentar você como uma amiga minha e de Sirius, e você vai ser aluna de veterinária aqui em Cambridge, que quis ir ao evento para se envolver na área.

— Isso é loucura, James! Basta pesquisarem ligarem para cá para saber que é mentira! Eu vou ser presa por falsidade ideológica!

Ela tinha se levantado da cama em um pulo e estava andando nervosamente pelo quarto, puxando os cabelos, e se perguntando se tinha sido mesmo uma boa ideia aceitar aquela maluquice de viajar com James, e se era tarde demais para voltar atrás.

— Ei! Ei, calma! Ninguém vai deixar nada acontecer com você, eu juro! – ele foi até Lily e segurou as mãos dela, obrigando-a a parar e encará-lo. – Isso é só se alguém perguntar. Mas vamos só dizer que você é uma antiga amiga minha e de Sirius, e que você queria participar do evento e rever todos nós. Pronto. Vai ser suficiente.

Havia um medo confuso, e uma séria perturbação no rosto de Lily, além de olheiras fundas e pupilas dilatadas por conta do vinho. O semblante dela era de uma tristeza infantil, como se ela fosse começar a chorar de confusão e cansaço.

— Tem certeza de que não vai ser um problema? Tem certeza de quer fazer isso?

— Não se preocupe, ruiva. Vai dar tudo certo. E é claro que quero fazer isso! – disse James, beijando a testa dela e a puxando para um abraço.

***

Vambora, ruiva! – disse James com empolgação ao estacionar em frente ao prédio de Lily no dia seguinte.

Seguindo as recomendações de James, e tomando precauções até demais, Lily tinha colocado um lenço fino em volta do pescoço e da cabeça, além de óculos escuros e de vestir roupas que quase nunca usava (no caso, vestido e sapato de salto), numa tentativa de soar mais dificilmente reconhecível para qualquer eventual conhecido no caminho, e de se misturar com a realeza.

De fato, Lily era bonita e elegante o bastante para, com uma simples mudança das roupas casuais, parecer membro de uma família com titulação nobiliárquica e, bem, naquele meio, parecer já era o suficiente. Ninguém se prestaria ao papel de perguntar quem era sua família, pois soaria mal educado e desrespeitoso.

— Você tem certeza de que é o suficiente?

— Eu não sei se eu sou suficiente para você, Lily! – brincou James, levemente perturbado em quão bem ela tinha ficado vestida daquele jeito, ao que ela riu, chamando-o de idiota.

A malinha de Lily foi colocada no porta malas e então eles seguiram viagem até Londres, cantando no carro e jogando conversa fora. Enquanto desciam a estrada em sentido sudeste, até a capital da Inglaterra, Lily observava a paisagem mudando conforme avançavam, numa sensação reflexiva boa. Era verdade mesmo tudo que estava acontecendo?

Era como se estivessem fugindo da realidade por algum momento, embora estivessem indo diretamente ao encontro da realidade em si. Mas ali na estrada, naquele momento, Lily podia só sentir aquele frio na barriga gostoso que era estar indo viajar com seu namorado, que, por coincidência, era o príncipe da Inglaterra.

— Com fome? – perguntou James quando eles entraram na cidade.

— Um pouco.

— Shake Shack?

— Perfeito! – disse Lily em resposta, sentindo a boca salivar com a iminência do hambúrguer e das batatas fritas com bacon.

Às vezes, era como se James fosse uma pessoa normal, e não um duque, destinado ao trono inglês. Era como se ele fosse só James, o que jogava imagem e ação no pub, o que bebia cerveja preta, e cozinhava macarrão com queijo para o jantar do meio da semana. Era nesse James que Lily pensava quando se perguntava sobre se ele mudaria quando estivesse em meio à realeza. Esse era o verdadeiro James.

Uma hora depois, perto das seis da tarde, após estarem ambos satisfeitos de fast food, James entrava no Palácio de Buckingham, estacionando em uma das entradas laterais. Sirius e Remo estavam lá, sentados em bancos, esperando que James chegasse.

Naquele momento, Lily sentiu-se enjoada e nervosa. Uma coisa era namorar com James, outra completamente diferente era a percepção de estar dentro do Palácio de Buckingham, prestes a viajar de carro com um Duque e o filho de um Conde. Era como se todas as suas pequenas rixas com a monarquia tivessem sumido, porque quando Sirius e Remo entraram no carro, no banco de trás, Lily ficou muito nervosa, como se estivesse errada em estar respirando o mesmo ar que pessoas importantes como eles. Ela se encolheu no banco do carro.

— Então foi você quem encoleirou nosso Pontas! – disse Sirius de maneira exagerada no segundo em que Remo fechou a porta do carro.

Lily corou violentamente, ficando constrangida demais para falar algo. Aquele era o Duque da Cornualha! Aquele que era vira na televisão! Era como se, de súbito, seu cérebro tivesse esquecido como se fazia para abrir a boca e verbalizar o que pensava.

— Sirius! Quer ser menos inconveniente? Vai deixar a Lily sem jeito! – repreendeu James, revirando os olhos. – Posso pegar estrada ou os princesos precisam de algo?

— Estrada. – afirmou Remo, antes que Sirius pudesse fazer outra piada, em seguida dando um sorriso acolhedor. – E seja bem vinda, senhorita Evans. É um prazer conhecê-la.

Sentindo-se menos intimidada, Lily respondeu com um sorriso, virando-se para o banco de trás para ver Remo e Sirius melhor.

O primeiro estava sentado em um espaço intermediário entre o assento do meio e aquele atrás do banco de James, vestido com um terno cinza de tweed cujo paletó estava dobrado sobre as pernas. O cabelo cor de areia dele estava mais pálido do que quando Lily o vira na televisão em abril, mas talvez fosse apenas a meia luz do carro que desse essa impressão, e Remo parecia muito sereno e amigável.

Sirius, por outro lado, era o oposto dele, parecendo bastante agitado se remexendo o tempo todo no banco do carro, com um sorriso debochado e meio presunçoso. Os cabelos escuros dele estavam divididos no meio, e Lily pensou imediatamente naqueles cachorros peludos de madame, querendo rir. Ele também usava terno, embora sem gravata ou colete, e mesmo que não entendesse nada de dress code da realeza, Lily supôs que, mesmo sendo muito quente para o verão, aquela devia ser a vestimenta adequada para a viagem, o que lhe trouxe a preocupação imediata quanto às suas vestes.

— Ela vai achar que somos chatos e falamos engomadinhos assim o tempo todo, Aluado! Olha só, aqui todo mundo tem apelidos; eu sou o Almofadinhas, o Pontas é o Pontas, e o Aluado é o Aluado. E as meninas são Doe e Lene. E agora, você acabou de ser promovida a Ruiva, ou ruiva do Pontas, tenho que decidir.

— Almofadinhas! – repreendeu Remo, fazendo Lily rir, achando a situação bizarramente engraçada.

— E se você ousar chamar a gente de sir, ou qualquer coisa assim... vamos ficar muito magoados, Ruiva. Estamos entendidos? – continuou ele, como se não tivesse sido interrompido, e Lily fez um gesto de positivo, rindo da cena. – Ótimo! Agora podemos ir, Pontas.    

A viagem até Chelmsford, em Essex, foi tranquila, e Lily mais ouviu do que falou, porque Sirius era um tagarela nato, mas ela conseguiu se sentir acolhida e envolvida nas conversas. Remo tinha muito interesse na área acadêmica de Lily, e fez várias perguntas interessantes, enquanto o Duque da Cornualha estava muito interessado em saber de aleatoriedades sobre Lily.

Quando já estavam entrando na cidade, o assunto ficou mais sério e Remo logo resolveu falar sobre as pendências que faltavam serem combinadas.

— Lily, ainda tem algumas coisinhas que temos que acertar... – comentou ele, fazendo com que Lily se virasse em sua direção. – Primeiro, precisa agir como se fosse amiga íntima nossa, então não pode perguntar nada que não pareça trivial enquanto estivermos com os outros.

Ela concordou com a cabeça, concentrada.

— Depois somos todos seus para matar a curiosidade. – interrompeu Sirius, fazendo Remo dar uma olhadela mal educada.

— Voltando. Chame o Conde de Sir, e Dorcas de Lady Dorcas quando estivermos em público. Marlene você chama de Miss, e Sirius e James de Lord. E isso é muito importante, por favor não confunda! – disse ele com certa exasperação e Lily ficou nervosa. – Existe uma família Evans da realeza, em Yorkshire, então vamos deixar que todos pensem que você é de lá, ninguém vai perguntar, eu juro!

Ele acrescentou depressa quando Lily pareceu muito preocupada, com os olhos arregalados de tensão. E embora não parecesse muito mais tranquila depois desse aviso, Lily tentou se concentrar em parecer o mais principesca que pode, perguntando com calma em seguida.

— Tem mais algo que eu deva saber? Uma taça específica? O nome do mordomo? Um assunto proibido de mencionar?

— Tem.

Sirius a encarou durante algum tempo, e Lily se perguntou o que seria tão sério para ele ficar ponderando tanto se devia falar ou não. Será que tinha ficado ofendido com o jeito que ela falara? Ou será que Lily tinha a voz alta e exagerada demais para alguém da nobreza?

— Estamos muito felizes de ter você com a gente esse final de semana, ruiva, e todos nós estamos muito empenhados nessa missão para dar a você um fim de semana conosco. Então não se preocupe, relaxe e aproveite, e seja bem vinda à Mountbatten House, a casa da Dorcas! - disse ele abrindo um sorriso muito acolhedor, fazendo o coração de Lily dar um felicidade pela atenciosidade deles.

Foi só então que ela notou que James tinha acabado de estacionar em frente a uma casa muito larga e exuberante. No jardim, em uma placa, era possível ler, 72th Patching Hall Lane, Propriedade Estatal cedida à Sir Emmanuel Charles Arthur Mountbatten, Conde de Essex.

Naquele momento Lily sentiu a pressão do que estava prestes a acontecer.


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Notas finais do capítulo

O final de semana mais badalado dessa fic, so far, está prestes a acontecer! Estou muuuuito empolgada em trazer o próximo capítulo para vocês, mas só a faculdade sabe quando isso vai acontecer... até lá, me digam, o que acharam dos marotos reunidos em prol de uma missão de infiltrar Lily na realeza?
Espero vocês nos comentários! Beijooooos! ❤