God save the Prince escrita por Fanfictioner


Capítulo 4
A identidade não tão secreta de James


Notas iniciais do capítulo

Voltando cedo demais e atendendo a pedidos de postar o capítulo 4 logo, aqui estou eu! o/
Nem sempre eu consigo o encaixe necessário entre minhas obrigações da faculdade e o horário livre para postar, então algumas semanas eu apareço com mais frequência, outras com menos frequência, espero que entendam.
Fiquei bem feliz que bastante gente se animou com nosso casal Wolfstar, e recebeu bem a relação do James com os amigos.
Temos hoje outro capítulo excepcionalmente longo (juro! Mas ele é muuuuuito necessário!) e prometo voltar a um tamanho normal de postagem na semana que vem.
Sem maiores enrolações, vejo vocês nas notas finais!
Boa Leitura!



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O final de semana passou rápido demais para Lily Evans, porque o mundo parece passar muito mais rápido quando se está em uma das maiores metrópoles do mundo. O jantar de sexta-feira à noite fora surpreendentemente mais suportável do que ela pensara que seria, e tirando as piadas ruins e preconceituosas de Válter, tudo foi quase agradável.

James não tinha mentido, a comida do The Shard parecia algo de outro mundo, e Lily duvidava muito que já tivesse provado algo tão bom (ou mesmo tão caro!) quanto aquilo. As bebidas também eram dos deuses, e ela não se fez de rogada, tomando tantos drinks quantos teve direito. Embora precisasse admitir que o Dry Martini que James sugerira era realmente muito bem feito, Lily preferiu a Cuba Libre divina, e isso era definitivamente uma prova de como James era limitado em seus conhecimentos alcóolicos.

Lily e os pais foram convidados a serem hóspedes na casa dos Dursley, mas recusaram educadamente, e ficaram na zona oeste de Londres, na casa de uma tia distante de Lily, que vivia sozinha. Não houve grandes eventos durante o sábado, e Lily pode aproveitar o silêncio da casa para estudar quando os pais saíram para levar a tia para passear no Museu de História Natural.

Após o almoço ela até conseguiu tirar uma soneca para colocar uma parte do seu sono em dia, e quando acordou, perto das 17h, sua tia estava servindo bolo de maçã e chá, e todos estavam sentados na sala, assistindo à cobertura especial do aniversário da rainha, que moveria comemorações excessivas durante todo o final de semana.

— É meio demais para alguém tão velha, não acham? – perguntou Lily enquanto atacava a segunda fatia de bolo. – Quer dizer, ela já tem quase oitenta anos! Eu não aguentaria esse monte de gente me enchendo o saco, se tivesse oitenta anos.

— Lily agora é antimonárquica, tia Judith. – disse a mãe da menina, num misto de implicância e aborrecimento. – Só sabe reclamar da família real inteira.

— Não sou antimonárquica, não tenho nada contra eles, mãe. E eu até gosto do Parlamento, embora eu ache absurdo tudo que essa Primeira Ministra decide, e saiba que vamos nos arrepender desse Brexit, não vai demorar muito. Mas o meu ponto é que acho demais essa adoração à família real. Nós nem os conhecemos! Eles são tão distantes de nós quanto qualquer celebridade de cinema, e agem como se fossem intocáveis! Imagina se algum deles daria uma carona a você, mesmo que fossem para o mesmo lugar?!

Lily sabia que não adiantava se explicar, para seus pais ela apenas estava se tornando radical demais, e logo estaria querendo cortar as cabeças da nobreza e criar uma segunda República de Cromwell. Sua família era tradicional e monarquista demais para conceber a ideia de não ser contra o sistema de governo, sem endeusar a realeza.

— Eles são nobres, minha filha, não precisam dar caronas para nós! – a tia fez uma expressão de confusão, como se Lily tivesse cogitado um absurdo óbvio. - Ah, mas essa fase passa, Lily. Todos nós já tivemos nossa fase de achar que mudaríamos o mundo, e que a família real era o problema... acredite, você vai ver como eles fazem o melhor por nós!

— Mas não estou dizendo que não fazem, tia! Até porque quem faz tudo é o Parlamento, e você sabe! Só estou dizendo que não precisamos endeusá-los, eu mesma não sei se reconheceria um deles na rua, não faço questão de conh...

— Mas olha só, olha esses rapazes como são bonitos, Lily. O príncipe Sirius, olha ele ali. Aquele sorriso bonito, aquele cabelão... olha que rapaz elegante, minha filha! Como você pode não gostar dele? E a namorada dele, a Miss Mckinnon... Que mocinha agradável!

Tia Judith estava engajada demais em comentar a aparição dos jovens membros da nobreza, numa tentativa de convencer Lily sobre como a aparência charmosa deles significava, logicamente, que eram bons gestores políticos. Lily não era cega, e não podia negar que o Duque da Cornualha, príncipe Sirius, era bonito. Na televisão, ele aparecia conversando com outros nobres na entrada da Catedral St. Paul, provavelmente após a missa de aniversário da rainha.

O terno do príncipe era azul petróleo, e fazia uma combinação bonita com os olhos dele. A companheira, Miss Marlene Mckinnon, tinha um dos braços dados ao dele, com um olhar muito educado e polido, e usava um vestido envelope alguns tons a menos de azul; Lily teve certeza de que só aquela peça de roupa custava mais do que todo o guarda-roupa dela em Cambridge. Era quase magnético o carisma por trás dos sorrisos contidos que eles deixavam escapar para a imprensa.

Só houve duas imagens da rainha que foram divulgadas naquele noticiário, uma dela descendo a escadaria da igreja de braço dado com o marido, e outra embarcando no carro à caminho do Buckingham Palace, na qual Lily ainda pode observar outras pessoas conhecidas, como a Primeira Ministra, e o Duque e a Duquesa de Norfolk, herdeiros diretos do trono.

Lily achou que surtaria se ficasse na sala mais algum tempo, ouvindo a tia lançar indiretas e mais indiretas sobre como ela precisava adorar a família real também, e simplesmente se retirou para o minúsculo quintal para tentar ler mais um pouco. Claramente, se mostrou uma tentativa ineficaz, porque, de fato, Lily enrolou por meia hora nas redes sociais, conversou com Alice e Mary, e assistiu à um vídeo no Youtube. Mas nada de ler suas doutrinas legislativas.

Houve um momento em que se pegou pensando que gostaria de mandar uma mensagem para James, para comentar sobre o Dry Martini da noite anterior, mas logo desistiu, supondo que ele devia estar ocupado, e que soaria interessada demais nele. Não que fosse mentira, já que Lily realmente achava que ficaria com James se ele mantivesse mais uma daquelas conversas bem humoradas marcasse mesmo a saída para beber cerveja que tinha sugerido. James era carismático, e Lily gostava das tiradas sarcásticas dele, além de já ter notado que ele era mais do que um rostinho bonito, mas também um rapaz bastante inteligente.

Mas não pretendia parecer tão interessada tão rapidamente.

James era bonito e atraente demais para o próprio bem, e aquele jeitinho boêmio dele gerava um alerta mental em Lily. Ele não parecia o tipo de garoto interessado em algo mais do que uma noite de pegação após encher a cara, e Lily não estava disposta a correr o risco de adquirir uma DST dormindo com um cara na faculdade, por mais bonito que ele pudesse ser. Além disso, ela precisaria suprir a nota baixa que sabia que tinha tirado na última entrega de artigo, e isso significaria que ela não estaria lá disponível pelas próximas semanas.

Seria uma coisa a menos para dar atenção se não procurasse James.

O domingo chegou rápido, e Lily mal podia esperar para voltar para Cambridge e estudar no silêncio e sossego de seu dormitório. O sofá cama da sala da tia não era exatamente o que Lily chamaria de confortável, e a luminosidade que entrava pela janela a despertara cedo demais para um domingo. Após o café, os pais de Lily disseram que podiam dar a ela uma carona até Cambridge, mas só pretendiam ir embora no dia seguinte, já que Petúnia queria almoçar com a mãe na segunda-feira.

— Mas eu tenho aula, não posso ficar mais. E preciso de dinheiro para a passagem. – respondeu ela, sentindo um leve arrependimento por ter vindo à Londres naquele final de semana.

A mãe disse que ia pensar sobre como ficariam as coisas, e prometeu dar uma resposta até as 15h, enquanto Lily, frustrada demais para conseguir se concentrar em estudar, sentou-se na sala com o pai (que lia o jornal), e a tia, sendo obrigada a assistir o noticiário do meio dia.

— E o Palácio de Buckingham está lotado nesse domingo! As visitas à tradicional troca da guarda foram suspensas, e todas as vias que conduzem à casa da rainha estão recebendo policiamento reforçado. Os convidados estão chegando aos poucos para esse almoço nos jardins do palácio, que é o último evento da série de compromissos que celebram o aniversário de 79 anos da Vossa Majestade, a Rainha Vitória. Nosso repórter Charles Smith tem informações ao vivo. – dizia a repórter no estúdio do jornal.

Lily puxara uma lixa de unha de cima da mesa de centro e estava concentrada em alinhar suas unhas numa forma meio quadrada. Quem sabe a tia não teria também um vidro de esmalte para emprestar... fazia séculos da última vez que Lily tivera tido tempo para fazer as unhas.

— É isso mesmo, Rose. Aqui, nos jardins de Buckingham, os convidados podem aproveitar esse dia de sol lindo ao ar livre. Os garçons estão passando com bandejas como essas, cheias de iguarias deliciosas, escolhidas pela própria rainha, para servir às presenças ilustres que vieram aqui hoje. Já vimos passar por aqui o Barão de Arlington, o Conde e a Condessa de Essex, sabemos que a filha mais velha deles, a Lady Dorcas, é amicíssima dos Duques de Cambridge e da Cornualha, não é?

— Deve ser incrível, não acha, Lily? Ser amiga do príncipe? – comentou a tia. Havia tanta excitação em sua voz que Lily achou que a velha poderia urinar ali mesmo.

— Nossa! É, realmente... incrível! – respondeu ela, num falso tom de interesse.

“Sir Elton John também está aqui, após a maravilhosa apresentação de ontem no Royal Opera House, e ali, com aquele chapéu verde, podemos ver a Condessa de Scarborough. Quem causou estranheza por não comparecer foi o Conde de Northhamptonshire, mas o filho, Sir Remo Lupin veio representando o pai, que aparentemente, não está muito bem de saúde. Ele esteve aqui conosco ainda há pouco, na companhia do, também universitário e amigo de infância, o Duque de Cambridge. O príncipe James Potter, que não tinha a presença esperada, veio de Cambridge, na última sexta-feira somente para prestigiar o aniversário da rainha. É com você, Rose.

Se Lily não tivesse ouvido o que o repórter tinha dito, as imagens na televisão, por si só, teriam sido suficientes. Ao lado de um rapaz de cabelos cor de areia, rindo, e com uma taça de vinho rosé na mão, estava James. Seu James! Ou tão seu quanto um colega de faculdade, amigo do namorado de sua melhor amiga, poderia ser.

O fraque preto estava aberto, e sob ele havia um colete cor de creme, uma camisa de botão branca e uma gravata azul bebê, e se não fosse pelo cabelo despenteado e pelos óculos redondos, Lily teria tido dificuldade em acreditar que aquele era o mesmo James com quem tinha viajado dois dias atrás.

Falhando miseravelmente em não demonstrar seu completo choque em, finalmente, saber o porquê de o rosto de James lhe parecer familiar, Lily se engasgou com o copo de água que bebia, molhando boa parte de sua calça de moletom.

— Aí, mil perdões, tia! – comentou ao ver que molhara o chão da sala também. – Vou buscar um pano.

Sentindo seu coração acelerado demais, Lily saiu para a cozinha, quase tropeçando no tapete. James era o príncipe herdeiro, James era o príncipe! A ficha caía rápido demais e Lily se sentia mais estúpida a cada segundo que passava.

“James não se apresentou com o sobrenome para que não ligássemos nome à pessoa, e estava escuro aquele dia no pub! Ele disse que estava vindo para o aniversário da avó, e foi muito espertinho em omitir que a avó é a rainha do país! E é óbvio que ele não quis aceitar o dinheiro pela gasolina! Meu Deus, Lily, você é muito burra! É claro que ele conhece a comida do The Shard! É claro que ele entende de bebida, no mínimo já até teve aula de enologia! Ah, meu Deus! Será que eu falei alguma merda? Sobre a família dele, sobre qualquer coisa?”.

De repente, a opinião de James sobre ela pareceu importar mais do que ela costumava deixar que as opiniões dos outros importassem, e se pegou pensando por que ele não teria contado quem era de fato. Se passar por um mero acadêmico de família rica era, com certeza, algum tipo de falsidade ideológica, não era?

Ao mesmo tempo, tudo parecia óbvio e surreal demais, sempre estivera na cara que ele era O James Potter, e Lily só tinha sido obtusa o bastante para não reparar. Não era como se ele tivesse mentido sobre qualquer coisa... ele tinha apenas omitido algumas verdades. A cabeça de Lily estava dando um nó vertiginoso.

James era um príncipe, o segundo na sucessão ao trono, para ser exata, e Lily estava ali, cogitando mandar a ele uma mensagem, sair para beber com ele, e com intenções reais de beijá-lo! Lily tinha cogitado suas chances de ficar com um príncipe! Era pura insanidade! Ela quase riu sobre a quão irônica sua vida era, dado que na véspera estivera fazendo comentários sobre a arrogância que esperava dos membros da família e, de repente, descobria que James era nobre. O mesmo James que tinha lhe dado carona (de graça se ela não tivesse insistido) e comido na conveniência da estrada com ela.

Estava parecendo um roteiro ruim de filme de romance clichê aquilo tudo. Quem seria tão idiota de não conhecer os governantes de seu país?!

— Lily? Conseguiu achar um pano?

— Uhm? Ah, sim! O pano! Ahm... achei, tia, achei! – respondeu ela, sentindo-se ainda aturdida.

Voltou a sala com um pano de chão e, secando a água do piso, tentava colocar suas ideias em ordem. Era possível que não demorassem a se rever, ela e James, porque a proximidade de Frank e Alice faria ser inevitável com que os grupos de amigos se juntassem. No entanto, Lily não achava que poderia agir normalmente quando encontrasse com James. Sabia que precisaria de uma conversa prévia para colocar em dia a confusão que eram seus pensamentos a respeito dele, e não parecia correto fazê-lo na frente de todos.

Será que Alice e Mary sabiam quem ele era? Provável, pois as duas eram as pessoas mais informadas sobre fofocas de famosos que Lily conhecia, e se existia alguém capaz de reconhecer uma pessoa pública com facilidade, esses alguéns seriam Alice e Mary.

Mas então por que não tinham contado nada a Lily?

Bem, isso poderia ser discutido depois, pessoalmente e com uma caneca de chá. O que importava agora é que Lily precisava voltar para Cambridge, e que precisava muito falar com James. Então, pela primeira vez nos últimos vinte minutos, ela pareceu ter voltado a ser a Lily sagaz e inteligente de sempre, e enviou uma mensagem pelo celular.

“Ei, James! Você realmente pretende voltar a Cambridge hoje? Estou presa em Londres, e não queria perder as aulas de amanhã... ainda teria uma vaga no seu carro? Prometo falar sobre minha experiência com o Dry Martini :) ” e Lily achou que estava bom. Amigável, sem ser pretencioso, ia direto ao objetivo e ainda criava uma certa expectativa sobre se verem. Restava agora esperar.

No final das contas, Lily realmente precisou esperar. Por mais de uma hora e meia. Seus pais ainda não haviam decidido se sairiam para Reading naquele dia ou no dia seguinte, e a ansiedade de Lily só parecia crescer. Não só todo o episódio de descobrir a nobreza de James tinha embaralhado suas ideias de uma maneira bizarra, como o peso de culpa por não ter estudado quase nada naquele final de semana, e a perspectiva de perder um dia de aula a estavam consumindo por inteiro, fazendo mexer-se desconfortável no sofá quase que a todo momento, e não ser capaz de largar o celular.

James Potter respondeu sua mensagem dez para a três da tarde, e Lily sentiu um solavanco no estômago quando leu a notificação dele. Não apenas do tipo de solavanco apaixonado, que deixa aquele frio gostoso na barriga, mas do tipo meio esquisito, que faz você ficar meio verde por saber da seriedade do assunto que está por vir. De qualquer modo, estava agoniada, e não levou meio minuto para abrir a mensagem (pois sua digital não foi reconhecida, e ela errou a digitação da senha duas vezes antes de conseguir desbloquear o celular).

“Ei, Evans! Surpresa agradável essa. Sim, eu vou para Cambridge hoje, ainda estou no aniversário de minha avó, mas devo sair daqui no mais tardar as 17h. Aonde eu posso encontrá-la para irmos juntos? Será um prazer ouvir sobre sua experiência com a melhor bebida do The Shard!”

“Você está perto de onde? Posso ir até aonde está...” respondeu ela, em um claro desafio pessoal. James não diria que estava no Palácio de Buckingham, diria?

“Estou próximo à Trafalgar Square... bem no centro mesmo. Mas posso buscá-la em alguma estação, para que não fique na rua sozinha.”

Ele era galante e atencioso. E esperto. Não era uma mentira, o palácio não era longe da Trafalgar Square, mas dizer que era próximo era, no mínimo, um desvio da verdade. Lily riu por perceber o quanto James se esforçava para não escancarar sua nobreza. Era um ato louvável, e o fazia crescer alguns vários pontos no quesito dela, mas não deixava de ser engraçado uma vez que se conhecia as verdades que James omitia.

“St. James Park é uma boa estação para você? Consigo chegar com facilidade e é próximo à Trafalgar... ou você pode sugerir outro lugar também.”

Ele respondeu quase imediatamente.

“Está ótimo! Eu encontro você lá as 17h então, Lily. Até logo! P.S.: Se puder levar algum lanche para comermos na estrada eu serei grato, comida de idosos não é muito minha praia :)”

Lily quis rir. Em meio a tanto chefs gastronômicos renomados que deviam cozinhar para a realeza James não estava mesmo insinuando que estava com fome e não pudera comer, estava? De qualquer modo, ela levaria sanduíches, vez que chegaria em casa tarde e não tinha nada para preparar um jantar em sua cozinha. Lily precisava urgentemente fazer compras de mercado.

— Mãe, não precisam me levar à Cambridge. Consegui carona com um... amigo. Ele está voltando para lá hoje também, e disse que pode me levar sem problemas. – disse Lily, dando um sorriso ameno que tentava passar alguma credibilidade.

— Amigo? Que amigo, Lily? – a Sra. Evans não parecia convencida ou satisfeita enquanto Lily arrumava a mochila.

— O mesmo que me trouxe. Ele é do King’s College, amigo do namorado de Alice. É uma boa pessoa, não se preocupe. Disse que aceita um sanduíche como pagamento pela carona, então vou preparar algo para comermos na estrada. – acrescentou depressa, não dando brechas para mais perguntas.

A mãe de Lily a ajudou na cozinha, cortando fatias de tomate e passando cream cheese nas mini baguetes que virariam sanduíches. Embora a Sra. Evans não parecesse 100% satisfeita, não conseguira pensar numa forma de convencer Lily a não ir, e simplesmente não falou mais nada.

Cerca de 40min depois Lily tinha fechado sua mochila, calçado seus sapatinhos, amarrado os cabelos e colocado os sanduíches e garrafas de suco num saquinho plástico que levaria na mão.

— Vocês podem me deixar na estação de metrô? Eu preciso ir até o centro para encontrar o James. – Lily se perguntava quão comum seria o nome James para que seus pais não desconfiassem que se tratava do príncipe.

Mas era bobagem se preocupar com isso. Nem ela mesma, vendo o indivíduo pessoalmente, tinha desconfiado que ele era O James Potter, Duque de Cambridge.

Lily não tinha sido propriamente sincera ao dizer para James que era fácil para ela chegar à estação de St. James Park, envolvia cerca de cinquenta minutos de viagem na Picadilly Line, e depois mais três estações de volta pela Circle Line, o que significava, considerando atrasos, pouco mais de uma hora de viagem até o local de encontro. Fora um trajeto calmo porque bem poucas pessoas estavam usando o transporte público àquela hora, e Lily chegou pontualmente no horário combinado.

O carro de James já estava estacionado em frente à saída da estação, de modo que Lily não teve mais que quinze segundos de preparação psicológica para o fato de que estava prestes a entrar no carro de um príncipe, e agora que sabia disso era como se não pudesse evitar pensar a todo momento que James não seria mais a mesma pessoa com ela.

— Olha só se não é a pessoa mais ruiva do King’s College! Como vai a pessoa capaz de deixar Ed Sheeran com inveja? – brincou ele quando Lily abriu a porta do carro, recebendo a mochila dela e os sanduíches, oportunamente colocando-os no banco de trás.

— Boa tarde, James! – respondeu ela rindo. – Estou ótima, e você?

A verdade é que ela não sabia bem como se sentir ao revê-lo. Era como se, de repente, ele parecesse outra pessoa, e que Lily não conhecia nem mais o pouco que sabia dele.

— Muito bem! Eu precisava mesmo de um final de semana longe dos livros, foi incrível! Coloque o cinto, por favor, eu não gosto de multas. – pediu ele em meio a um riso.

“Não fica bonito multas e pontos na carteira de um príncipe, James Potter” pensou Lily com uma mescla de amargura e vontade de rir. Lily era do tipo de pessoa que ri quando nervosa.

— Mas conte, conte! Como foi o noivado da sua irmã? Petúnia, não é? Como foi o jantar de noivado?

Pelos minutos seguintes, enquanto eles seguiam para longe do centro de Londres, rumo a saída em direção à Cambridge, Lily contou, com uma riqueza interessante de detalhes, como tinha sido o jantar. Falou da cara de surpresa da irmã ao vê-la, pois não esperava que Lily aparecesse, contou das piadas ruins do cunhado que ela tivera que ignorar, e acrescentou suas considerações sobre a comida e as bebidas.

— Então você espera que eu acredite que a Cuba Libre é melhor que o Dry Martini? – perguntou James rindo. – Ah, por favor, Lily! Cuba Libre é para quem não sabe apreciar o gosto da bebida e precisa do refrigerante para disfarçar o gosto!

— Desculpa aí, oh grande mestre cervejeiro! E como foi o seu final de semana? O aniversário foi legal?

O sorriso de James vacilou um pouco, e Lily sentiu que ele ficara intimidado por dois segundos. Sentiu vontade de rir, irônica, pois sabia que estava prestes a ouvir uma história provavelmente muito dissonante da realidade sobre o final de semana de James, porque ele supunha que Lily não sabia quem ele era. Bem, de fato, até cinco horas atrás ela realmente não sabia.

— Ah, foi ótimo, tudo tranquilo. Revi meus primos, e alguns amigos de infância, saímos no sábado de noite, e hoje foi o almoço com alguns convidados da minha avó. Nada demais.

— Foi em casa mesmo? Sua avó mora ali pelo centro?

— Ahm... é. Foi no jardim da casa dela o almoço, para aproveitar o sol melhor sabe? – James estava... nervoso?

— Poxa, que legal! – ela desviou o olhar para a janela, percebendo que teria de tocar no assunto. – Então... como você não falou nada sobre, na viagem de sexta, eu supus que era assunto apenas para a segunda viagem de carro com uma estranha... é legal ser o Duque de Cambridge?

— Como você...?

— O especial de aniversário da rainha... quer dizer, da sua avó. Eu vi você no jornal na hora do almoço hoje, fica bem de fraque. – comentou Lily encarando o vidro frontal do carro, sabendo que estava sendo ácida.

— Eu imaginei... você ia descobrir, de qualquer jeito. Com Alice e Frank juntos, uma hora você ia ficar sabendo. Fiquei surpreso que não tivesse percebido antes, inclusive.

— Eles sabem? Frank, Alice...

— Frank e Peter sabem, óbvio, e Alice deve saber também. Não acho que Frank esconda dela nem o que comeu no almoço. – Lily riu do comentário dele, sentindo que era estranho aquele clima.

Não era como se estivesse irritada com James, afinal ele tinha tanto direito à privacidade quanto qualquer outra pessoa, mas a ideia de que ele tivesse escondido dela quem era de fato não dava a sensação de muita confiança. Lily podia cobrar confiança de uma pessoa que conhecera há menos de uma semana? Bem, a situação era diferente, tinham viajado juntos, Lily precisava de um mínimo de garantia de que James era uma pessoa confiável, e cometer falsidade ideológica não era um jeito de mostrar isso.

De repente, aquele sentimento de que a nobreza era muito distante de todo mundo parecia cada vez mais genuíno, pois era como se James fosse um completo estranho ao esconder seu lado real. E Lily não sabia como deveria reagir a conhecer um nobre. Ela devia agir normalmente, como Frank e Peter pareceram agir naquela noite? Ou havia um grau de intimidade gradativo que se podia ter com um membro da realeza? Ela teria que ser investigada pela Scotland Yard agora para poder falar com James?

— Você nunca conta para as pessoas, ou o quê? É tipo um desafio de quem descobre primeiro? – disse Lily amargamente.

Não pretendera soar grosseira, mas percebeu, depois que falou, que estava realmente chateada com o fato de James se passar por uma pessoa que não era. Lily não gostava de mentiras, nem de meias mentiras, e até omissões a deixavam meio chateada quando não tinham uma boa motivação e, para ela, James Potter parecia o tipo de nobre que usava sua titulação quando lhe convinha. Não parecia haver uma boa motivação para se esconder ser membro da realeza, havia?

— Não! Não, claro que não, Lily! Eu só estou cansado de as pessoas suporem coisas sobre mim antes de me conhecerem para concluir isso, e tenho preferido ser só o James algumas vezes, porque não posso escolher não ser o Duque quando bem entendo... – ele pareceu mais frustrado do que irritado, e Lily se arrependeu de sua escolha de palavras. – Você mesma disse, um dia depois de me conhecer, que eu era um playboy. Se eu tivesse falado antes que era eu mesmo, você acha que teria sequer aceitado a carona? Ou teria achado que sou um biltre arrogante?

Ótimo, agora também ela já tinha provado que James estava certo, tendo julgado ele só por saber de seu título. Lily não gostava de estar errada, mas quando estava, estava, e isso era final.

Ela não disse nada por um tempo, observando a paisagem suburbana ir se transformando em uma pradaria semiviva de beira de estrada enquanto saiam do perímetro de Londres. Lily achava James uma boa pessoa, pelo pouco que o conhecia, e esperava que pudessem continuar amigos (porque obviamente àquela altura Lily já tinha tirado seu cavalinho da chuva da ideia de ficar com James), então só lhe restava ser educada e se retratar.

— Desculpe. Eu só... sei lá, não esperava saber pela televisão que o carinha do pub que eu fiquei levemente interessada era um príncipe. Mas eu suponho que entendo o que quer dizer, embora você seja sim um pouquinho arrogante, vai. - disse ela, em um tom de brincadeira.

James soltou ar pelo nariz como uma espécie de risada contida.

— Então quer dizer que está interessada em mim, Evans? – disse ele num tom malicioso.

— Não! Eu não gosto de nobres! Fiquei interessada no James que bebe cerveja no pub, não no Duque de Cambridge.

— E se o James do pub fosse o Duque de Cambridge, você ainda estaria interessada nele?

— Isso daí requer uma reflexão mais aprofundada, Potter. – ela respondeu num risinho antes de continuar, fingindo seriedade. – Mas agora é sério, James, eu provavelmente não tivesse trocado mais que uma dúzia de palavras com você se soubesse que era príncipe, acho que só consegui suportar a ideia de você ser nobre por já conhecer você antes.

— Ei! Que é isso, principefobia agora?

— Só uma leve... ahm... oposição a esse culto à família real.

— Ah, Lily Evans, você está complicando cada vez mais as coisas. Como eu posso apresentar à Rainha uma namorada antimonárquica? – brincou ele.

— E quem disse que eu quero namorar você, Potter?! – devolveu Lily, rindo.

— Ah, ruiva, eu achei que meu convite para beber uma cerveja ser aceito já deixava implícito que agora somos namorados! E como você disse que tinha interesse em mim...

— Mas vocês nobres são uns arrogantes, né? – retrucou ela dando um empurrão no ombro de James, fazendo-o rir. – Vocês príncipes comem sanduíche de tomate com peito de peru e suco de limão, ou é simples demais para o estômago nobre?

— Eu mesmo como até pedra se você jogar um temperinho em cima, ruiva! – respondeu James fazendo Lily gargalhar.

O trajeto até Cambridge não foi nada diferente da primeira meia hora de viagem, e nenhum dos dois pareceu ficar desconfortável com o fato de que agora James não tinha mais uma identidade secreta.


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Notas finais do capítulo

Lily sempre sendo muito intensa! Opiniões políticas fortes, e essa mescla de chateada pela situação, porém sem poder ficar muito chateada porque mal conhece o James... aiai, esses dois...
Apostas sobre como vai continuar essa relação agora que Lily e James já podem ser 100% honestos um com o outro?
Espero os comentários de vocês, xuxus!
Beijinhos, malfeito feito!