God save the Prince escrita por Fanfictioner


Capítulo 3
Reuniões de família


Notas iniciais do capítulo

Olá, jovens marotos!
Eu estou muuuuito empolgada com a animação de vocês para essa fic! Eu nunca vi tantos acompanhamentos tão rápido! Esse capítulo está excepcionalmente longo, mas acredito que, no fim das contas, esse acabe sendo o ritmo da fic. Capítulos de 2mil palavras não desenvolvem muito da história, e como a ideia é ser uma long fic, acredito que ficaria exaustivo demais, em número de capítulos, se eu mantivesse a média de palavras em 2mil... óbvio que isso é discutível. Vocês acham que 4mil palavras é uma quantidade okay e legível? Não pretendo passar disso, de qualquer modo...
Seria muuuuito importante ter uma devolutiva de vocês a respeito desse assunto, então fico no aguardo nos comentários. Sem me alongar muito, aí está!
Vejo vocês nas notas finais!



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“O que se coloca numa mala de dois dias de viagem quando não se sabe nem aonde ficar?” Perguntava-se Lily enquanto arrumava sua bagagem para a inesperada jornada do final de semana. Não podia levar muita bagagem, e seus materiais de estudo já ocupariam algum espaço, embora Lily sequer soubesse se voltaria no sábado ou no domingo, se dormiria em Londres ou na casa dos pais, em Reading.

— Eu odeio Petúnia! – berrou à certa altura.

Já passava do meio dia, e Lily estava excessivamente estressada. Sua supervisão avaliativa naquela manhã não tinha sido nada do que ela esperava, e, provavelmente, seu fichamento de artigo, escrito às pressas naquela madrugada, não receberia mais do que um B-, o que já era o suficiente para que ela não quisesse sair do quarto pelo resto do dia. Mas, para além disso, Lily ainda não tinha almoçado, não tinha bagagem feita, e viajaria com um completo desconhecido em menos de duas horas.

Com algum esforço, uma vontade descomunal de esmurrar algo, e a companhia de uma playlist velha do The Smiths, ela conseguiu reunir, depois de 40min, um pijama, uma muda de roupa (consistente de uma calça de moletom e uma camisa de seu College) além de duas trocas de roupa íntima, um suéter, pantufas e uma bolsinha de higiene pessoal em sua mochila vermelha. Foi necessário ainda colocar o kindle cheio de artigos e doutrinas legislativas, um caderno de notas, e um trio de caneta, lapiseira e marca-texto.

— Certo, certo... por favor não esqueça nada. – murmurou, andando pelo quarto meio perdida, olhando o horário no celular. – Merda! Já é quase duas horas? Banho, banho, Lily!

Surpreendendo as estatísticas sobre o tempo médio de um banho, Lily não precisou de mais de cinco minutos para sair do chuveiro e se empoleirar em frente ao espelho, munida de uma bolsinha de maquiagem para tentar dar um jeito nas olheiras fundas com que a faculdade a tinha presentado. Os olhos verdes de Lily já eram, por si só uma vantagem estética grande, e ela não precisou de mais que um pouco de rímel e um delineado suave para ficar satisfeita.

— Manteiga de cacau, manteiga de cacau... Ah, certo! Aqui. Manteiga de cacau! – comentou satisfeita colocando um batom e uma manteiga de cacau em sua bolsinha de ombro.

Graças à habilidade de fazer duas coisas ao mesmo tempo, Lily conseguiu chegar à biblioteca da faculdade de história pontualmente às 14h30min, embora um pouco sem ar e corada demais pelo atrito do vento gelado em seu rosto.

 “Estou à sua espera, sentada no sofá da entrada. De casaco vermelho.” Enviou por mensagem de texto para James, esperando que ele já não estivesse à sua procura pela biblioteca.

Menos de dez minutos depois ele apareceu, e, à luz do dia, Lily teve mais certeza de que já o vira em algum lugar. Os olhos castanho esverdeados de James pareciam familiares demais, e o conjunto de óculos aro redondo e cabelos espetados geravam em Lily uma sensação forte de deja vu. Como se ele fosse um antigo conhecido de quem ela não conseguia se lembrar.

— Você escolheu vermelho por acaso, ou é alguma ideia de monocromatizar tudo com o cabelo ruivo? – perguntou James ao se aproximar, e só então Lily notou que, não apenas o casaco e a mochila eram vermelhos, mas a bolsinha de ombro que trazia à tiracolo, e a capinha do celular.

— Gosto da ideia de coisas que combinam.

James riu, se voluntariando para levar a mochila dela até o carro. Diferente da maioria dos alunos, ele não carregava nada além de uma prancheta com uma caneta presa nela, e Lily podia notar o volume que o celular formava no bolso traseiro da jeans dele. Não que ela estivesse encarando a bunda de James. Ao menos não demais.

— Eu gosto desse estilo union flag, sabe? Bem patriota. – ele continuou, agora fazendo referência ao vestido azul marinho que Lily vestia, combinando com os sapatinhos estilo Oxford e com o gorro discreto.

Lily não pode evitar rir, James era bem humorado. Realmente não o conhecia? Será que já não o teria visto por aí, na biblioteca ou no refeitório? Lily não tinha a melhor das memórias, mas certamente não era do tipo que esquece as pessoas que conhece.

— Desculpe, James. – pediu, colocando o cinto de segurança, sentada no banco do carona. – Você e eu... nós já tínhamos sido apresentados? Ou conversado... nos esbarrado em algum lugar? Eu tenho a bizarra sensação de que conheço você, ou que já o vi, pelo menos... desculpe, minha memória é péssima!

— Uhm... não que eu saiba. Não, não me lembro disso. Vai ver alguém parecido... eu tenho um rosto bem comum. Metade dos caras de Cambridge devem usar óculos, e a outra metade tem o cabelo espetado.

Mas Lily reparou que ele tinha ficado levemente desconfortável com a pergunta, o que a fez pensar se teria sido indelicada de alguma forma. James não pareceu ter ficado chateado ou incomodado, pois menos de três ruas depois perguntou se ela tinha alguma preferência de música para a viagem (Lily perguntou se ele gostava de rock) e se ela se incomodava de passarem em um posto de gasolina antes de saírem.

— De jeito nenhum! Inclusive, aqui está!

As duas notas de 20 libras que Lily estendeu tinham o rosto da rainha virado para cima, e James quis rir da ironia da situação, aceitando receber o dinheiro apenas por educação, depois de Lily ter insistido mais de três vezes que ele estava fazendo mais do que dar uma carona, e que atravessaria a cidade para deixá-la em um restaurante.

— Falando em restaurante... você almoçou? Porque minha manhã foi meio corrida, e eu ainda estou só com o café da manhã no estômago. Você me detestaria muito se eu parasse em uma conveniência na estrada para comprar um café e uns biscoitos?

— Por favor, vamos! Eu não comi nada ainda e logo meu estômago vai comer meus intestinos! – James riu com esse comentário.

Eles pararam em uma conveniência na saída da cidade e Lily se voluntariou para descer e comprar comida. Cerca de dez minutos depois ela voltou com dois cafés (um mocha, um latte), um croissant de amêndoa para ela e um sanduíche de queijo para James, e eles comeram ali mesmo no estacionamento, conversando ocasionalmente com alguma consideração sobre o café ou a comida.

Os próximos 40min de viagem foram bastante silenciosos, exceto pelas músicas do Queen que tocavam no celular de James, sincronizado com o painel do carro. Lily cantarolou algumas partes baixinho, tímida, lendo no e-reader um artigo que precisava para estudar. Tentando quebrar a tensão constrangedora palpável no ambiente, James puxou assunto. Os dois eram apenas conhecidos, seria idiotice supor que falariam imediatamente, sem nenhum amigo para mediar a conversa.

— Então, uhm... noivado da sua irmã, eim? Evento importante!

— Deveria ser, mas eu não ligo muito. Não somos próximas, e eu e o noivo dela não nos damos muito bem. – ela respondeu, desviando os olhos de sua leitura. – Deve pensar que sou uma pessoa péssima e sem coração, mas eu juro que eu estar indo já é o maior esforço que eu poderia fazer, eu não preciso ainda ir feliz, não é?

James gargalhou perante a acidez do comentário dela. Lily Evans podia ser tudo, menos insincera, e James achava que tinha algum valor em toda aquela expressividade.

—Acho que é um ponto válido. Aproveite pelo menos a comida, afinal é ele quem vai pagar, não é? Seu futuro cunhado? – Lily concordou. – Coma de tudo, e beba também! Tudo do The Shard é incrível, e os chefs gastronômicos de lá fazem maravilhas com a comida!

— Uou! Estou falando com um conhecedor de comida chique! – debochou Lily, ao que James riu.

— Só não perca a cerveja artesanal deles, é ótima. E o conhaque. Na verdade, os drinks também são excelentes, e o maitre sempre recomenda o Martini tradicional, mas o Dry Martini é melhor.

— Alguém aqui é bom de copo!

— Você ainda está me devendo uma cerveja, Lily Evans... o mínimo que posso fazer é prepará-la para o meu ritmo de consumo de álcool.

— Você é muito arrogante, sabia? – comentou, embora estivesse achando graça. – O que lhe dá a impressão de que eu não bebo tanto quanto você?

— Ah, não sei... eu...

— Vamos precisar de mais que uma cerveja para eu lhe mostrar minhas habilidades com um copo na mão, James!

— Desafio aceito! – ele desviou os olhos da estrada para piscar para ela em tom de desafio, fazendo Lily gargalhar.

— Mas afinal, por favor, satisfaça minha curiosidade. O que o playboy vai fazer em Londres no meio do trimestre? E como conseguiu que suas supervisões fossem adiantadas? Alice disse que Frank só seria avaliado amanhã, e vocês estudam juntos, não?

— E o que lhe dá a impressão de que eu sou um playboy, Lily Evans? – devolveu ele, no mesmo tom que ela usara algum tempo atrás. – E sim, eu, Frank e Peter somos da mesma turma.

— Uhm... deixa eu ver o que me dá a impressão de você ser um playboy... Acho que é o carro esportivo, ou a língua boêmia, com gosto por drinks nobres... Mas você também aparentemente é frequentador de restaurantes caros, é acadêmico...

— Você é acadêmica.

— Sou bolsista. Você não parece ser.

— Ei, pagar impostos e taxas não é crime sabia? – ele brincou em falso tom de ofensa.

Lily era inteligente, e aquela era uma conversa muito mais agradável do que a maioria que ele tinha com garotas em geral.  Ela não parecia tê-lo reconhecido ainda, e James não pretendia escancarar sua titulação nobiliárquica ali, principalmente porque estava se divertindo bastante com as percepções de Lily sobre ele apenas com uma hora de conversa, ao todo. James precisava admitir, ela julgava rápido, e se fosse desconsiderado o leve desvio nas interpretações, ele podia dizer que Lily tinha uma capacidade dedutiva acima da média.

— Brincadeiras à parte, mas sim, eu não sou bolsista. E eu conversei com o coordenador do departamento, amanhã é aniversário de minha avó, e ela já tem bastante idade, minha família quis muito minha presença lá. Não foi nenhum tipo de privilégio, só a boa e velha conversa.

— Desculpe, eu não quis ser indelicada. – respondeu Lily corando imediatamente, parecendo arrependida da brincadeira de antes.

— Sobre o boêmio... eu não posso negar, gosto de uma bebida mais do que queria admitir. E o que eu posso fazer se gosto de comer bem de vez em quando? – acrescentou rindo, ignorando as desculpas de Lily e deixando o clima leve.

A viagem prosseguiu agradável e com assuntos amenos, suficientes para quebrar o gelo, por mais uma hora até chegarem em Londres, e então houve outros 40min de trânsito e engarrafamento para chegarem ao The Shard. Lily tinha pedido licença para consertar a maquiagem e arrumar o cabelo no espelho do barra sol do carro, porque chegaria em cima do horário combinado e precisava estar apresentável.

James notou que Lily era prática demais, e não parecia minimamente ligar para o fato de o carro estar em movimento. Suas mãos tinham a precisão de um desenhista, e não levou cinco minutos para ela se dar por satisfeita, porque realmente estava muito mais do que satisfatória. James se perguntava quantas pessoas podiam se dar ao luxo de serem naturalmente tão bonitas quanto Lily Evans, mesmo que não houvesse nada de excepcional nela.

Lily só era bonita. Os cabelos, os olhos... era uma combinação natural e simples. Bonita.

Dez minutos antes das 19h, James estacionou em frente ao enorme prédio espelhado, famoso na capital da Inglaterra e sempre muito visitado por turistas dispostos a gastar bastante dinheiro, que muitos ingleses não tinham, para comer ali.

— Eu não sou capaz de agradecer você, James. De verdade! O dinheiro da gasolina nunca vai ser o suficiente!

— Sabe que pagou tipo o dobro do valor da passagem de ônibus, né? Mas eu juro que me contento com cerveja bem gelada, se você ainda quiser me pagar mais, ruiva. – ele comentou entre um riso, acrescentando com uma piscadinha. – Foi um enorme prazer ser seu chofer essa noite, senhorita Evans. Agora sério, se não conseguir carona ou passagem, eu voltarei para Cambridge no domingo à tarde. Se precisar, não hesite em mandar mensagem.

— Obrigada, James. Aproveite com sua avó!

— Prova o Dry Martini! Eu vou querer saber depois o que achou!

O cabelo de Lily esvoaçou quando ela saiu do carro, e James teve o bom senso de colocar óculos escuros para esconder seu rosto, no caso de qualquer imprevisto acontecer e alguém acabar reconhecendo o carro. Esperou que a menina entrasse no prédio e estivesse 100% segura para então arrancar em direção ao Palácio de Buckingham, achando graça demais no fato de que, até ali, Lily Evans não tinha a menor noção de quem ele realmente era, embora fosse inevitável que, após ela ver as fotos de James estampadas nas mídias da família real naquele final de semana, fosse ligar o nome à pessoa. Será que ela ficaria irritada demais, do tipo que não falaria mais com ele por ter mentido? Ou será que ligaria no mesmo segundo para confrontá-lo sobre a verdade?

Sobre se ele era ou não o príncipe herdeiro.

 

***

 

— Olha só se não é o segundo neto favorito! Boa noite, Pontas! – disse Sirius em um claro tom de provocação quando James entrou na sala íntima que antecedia o quarto do primo.

— Eu achei que um mês e meio sem me ver não daria tantas saudades em você, Almofadinhas, mas parece que errei. – retrucou com um sorriso ácido, dando um abraço em Sirius.

O que deveria ser uma sala privativa e intimista era, na verdade, um cômodo de mais de 12m2 com um sofá em U ocupando um bom espaço, uma chaise long clássica (meio dissonante do estilo moderno do resto da decoração), vasos de plantas, um aparador de casacos, e uma televisão de muitas polegadas sobre a lareira em estilo vitoriano.

— James! Que saudades!

Uma menina quase uma cabeça mais baixa do que James levantou-se do sofá e veio cumprimentá-lo com um abraço apertado. O cabelo escuro e volumoso, cheio de cachos, formava um par elegante com seus olhos amendoados, e com a pele escura. Dorcas Meadowes, também chamada Lady Dorcas, era filha do Conde e da Condessa de Essex, prima distante de James e de Sirius (o avô dela era irmão do tio-avô dos dois), e tinham crescido juntos, se aproximando mais ainda durante a adolescência.

— Doe! Eu não me lembrava de que você já estaria aqui! – retribuiu o abraço, tirando-a do chão. – Aluado e Marlene vêm hoje, Sirius?

— Marlene ficou de buscá-lo em King’s Cross e então vir para cá. Agora que tirou a habilitação, ela está maluca para dirigir para todos os cantos, falei para ela ter cuidado e não matar a eles dois de uma vez.

— Seria uma tragédia trocar o aniversário da rainha pelo funeral da namorada do príncipe, e do Sir Remo Lupin. – debochou Dorcas.

Às vezes, e bem às vezes, James se incomodava com essas conversas. Quando esses eventos raros ocorriam, lhe subia uma estranha sensação de sufoco. Embora fossem todos criados à sombra de seus títulos, e soubessem desde pequenos qual eram as expectativas em cima de suas cabecinhas, era estranho ouvir, assim, em privado, chamarem Aluado de Sir, ou Marlene de namorada do príncipe. Parecia que falavam das vidas de outras pessoas.

— Você demorou... achei que ia vir de carro. – disse Sirius, esparramando-se no sofá ao lado de Dorcas e recomeçando sua partida de Assassin’s Creed.

— Eu vim, mas fui levar uma colega do outro lado da cidade e fiquei preso no trânsito. – comentou casualmente, sentando-se também, puxando as mangas da camisa de botões para cima. - Vocês já jantaram com todo mundo, ou como vai ser hoje?

— Colega?! – a sobrancelha de Sirius arqueou violentamente, e Dorcas deixou um sorriso malicioso brincar em seus lábios.

— Ei! Não começa! Colega, sim. Só colega. Amiga da namorada do Frank, conheci ontem. Chama-se Lily Evans, seu curioso. Não sei se tem redes sociais. – acrescentou quando Sirius continuou encarando, esperando que James falasse mais sobre Lily.

— Deixou-a em casa e sequer sabe as redes sociais?

— Não deixei em casa, Doe. Só dei carona até o jantar de noivado da irmã dela, no The Shard.

— Quem vai noivar no The Shard? Nós fomos convidados?

A porta da sala abriu inesperadamente, fazendo Dorcas dar um gritinho de susto e James levar as mãos ao peito, sentindo o coração acelerar. Rindo, um casal entrou, fazendo com que todos os outros se levantassem para cumprimentá-los.

— Você ainda me mata de susto, Marlene! – disse James, puxando-a para um abraço intenso e carinhoso.

Miss Marlene McKinnon, filha do Barão de Arlinton, era uma jovem bonita, com expressivos olhos azuis e cabelos louro acastanhados volumosos e compridos, que há cerca de dois anos tinha se mudado para Londres para cursar faculdade de arquitetura; conhecia Sirius, James e Dorcas desde a infância graças a um almoço feito nos jardins do palácio, e no último ano e meio era publicamente conhecida por ser a namorada do príncipe Sirius, Duque da Cornualha.

Fora fácil para Marlene cair nas graças do povo, que desejava avidamente algum envolvimento afetivo da nobreza para poder opinar e fofocar a respeito. A Miss era exatamente o que se esperava para os bons costumes ingleses: inteligente, educada, envolvida com causas sociais e, é claro, bonita. Nobre, sem ser nobre demais, para criar o trágico requinte de uma diferença social aparente e, é claro, uma história de proximidade com a família real desde a infância. Era a pessoa perfeita!

E fora justamente por saber disso que Sirius a escolhera para ser sua namorada. De fachada, é claro. Não sentia a menor atração por Marlene.

— Que saudades, Jay! Eu não vejo você desde o Natal, eu acho! – comentou ela, dirigindo-se para abraçar Dorcas.

— É que agora você só quer saber de visitar museus e ruínas e esqueceu de mim, não é? Aluado!

O rapaz também conhecido como Sir Remo Lupin tinha ficado mais atrás, esperando que Marlene cumprimentasse a todos primeiro, para depois abraçar um a um os amigos. Remo era da altura de Sirius, e parecia sempre sério, embora seu sorriso fosse, provavelmente, o mais acolhedor e amigável entre todos da sala.

— Pontas! Já esgotou o estoque dos pubs de Cambridge? – brincou ele, adiantando-se para cumprimentar o amigo.

— Estava esperando você largar aquela faculdade e vir se juntar a mim na melhor tradição universitária para fazermos isso juntos! – devolveu James, alimentando a velha e conhecida rixa entre as Universidades de Cambridge e de Oxford, duas das melhores do país.

— Doe, você precisa passar a me responder com mais frequência, ou acharei mesmo que você morreu a caminho daqui!

— Desculpe, Rem... Sirius me deixou o dia todo ocupada com ele e eu mal tive tempo de olhar meu celular.

— Ele obrigou você a ajudá-lo a escolher um terno de novo?

— Como sempre, não é? Se namorado não sabe sequer escolher uma roupa sozinho, Remo!

— Eu ainda estou aqui, sabia? E você pretende me cumprimentar ou o que, Aluado? – disse Sirius em uma expressão de indignação.

— Dramático e clichê como sempre, não é, Sirius?  

James assobiou com um tom de malícia quando Remo se dirigiu a Sirius e cumprimentou-o com um abraço e um selinho.

— Voltando, quem vai noivar no The Shard hoje? – Marlene quis saber, sentando-se no sofá e colocando os pés sobre a mesinha de centro.

— A irmã da nova garota do James.

— Nova garota do James? Que história é essa que eu não estou sabendo, Doe?

— Será que dá para pararem?! Ela não é minha nova garota, é só uma colega, amiga da namorada de um amigo. Nada demais, Lene.

Marlene não pareceu satisfeita, de modo que insistiu, enquanto James bagunçava os cabelos espetados.

— E você não ficou nem um pouco interessado em ela ser sua nova garota, né, inocente?!

— Eu mal conversei com ela! Nos conhecemos ontem à noite, e tudo que sei dela foi o que conversamos na estrada!

— Quem é ela? É de Cambridge? – perguntou Remo, cruzando as pernas e passando um dos braços sobre o ombro de Sirius.

— Lily Evans, faz Legislação no King’s College. A gente pode jantar, por favor? Eu cheio de fome!

— Você não vai fugir, Pontas.... Vamos saber tudo sobre a garota primeiro.  Evans, Evans... é parente dos Evans de Yorkshire?

— Acho que não, Sirius, ela não parece ser... uhm... do nosso meio. – comentou James dando de ombros.

— Uh! Alguém do mundo real! Logo vamos encobrir James para ele sair com a Evans sem ser escrachado no Times, tenho certeza! – disse Dorcas com uma expressão convencida.

— Você tem o número dela pelo menos, Romeu?

— Qual o problema de vocês?! Não estou dando em cima dela, gente! Eu só a conheci ontem! Lily não me reconheceu e isso é ótimo, mas não estou interessado nela, definitivamente não agora!

Demorou alguns minutos para que alguém falasse algo depois da pequena explosão de James. Ele não era lá conhecido por ser a pessoa mais calma do mundo (não com aqueles três planetas em Áries no seu mapa astral), mas todos estavam mais do que acostumados, então ninguém o levava a sério nesses momentos. Quem voltou a falar primeiro foi Sirius.

— Duas coisas. Primeiro, ela deve ser parcialmente cega, Pontas, porque essa sua cara de boêmio filhinho de papai tá estampada em tudo que é jornal, não é possível ela não lhe reconhecer.

— Nos encontramos à noite, num pub, Sirius. E ela só não ligou nome à pessoa porque não me apresentei com o sobrenome.

— Certo, ela só é lenta então. – Dorcas e Remo riram do comentário. – Isso pode ser um problema, afinal dois lerdos em um relacionamento, é meio complicado. Um precisa compensar o outro.

— No caso, o Remo compensa você, não é? -  provocou Marlene em um tom zombeteiro.

— Exato minha cara Lene! Você pegou o espírito da coisa! Voltando ao Pontas... não ache que me engana, filhote. Eu dou três semanas para você estar completamente caidinho por ela.

Dorcas parecia estar alheia à conversa, mexendo no celular. Mas, deixando claro que estava atenta a tudo, prontamente acrescentou.

— Menos até! O James é muito emocionado!

James não pareceu nada satisfeito com a ideia de estar sendo exposto daquele jeito. Ele conhecia bem demais os amigos para saber que aquele sempre fora (e sempre seria) o tipo de humor com que se provocariam, entre todos. No entanto, daquela vez, algo incomodava.

— Ei! Dá para pararem?! – ele atrapalhou o cabelo e acertou os óculos no rosto. - Certo, Lily é legal, tem um cabelo diferente, e parece ser capaz de ter uma conversa normal e inteligente. É gostosa, não vou mentir, tem senso de humor... só, não sei! Eu disse que gostaria de sair para tomar uma cerveja com ela, vamos ver...

— Você ainda espera que a gente acredite que você não está interessado nela? – perguntou Remo arqueando as sobrancelhas.

Inesperadamente, sem anúncio ou batidas por educação, a porta da sala íntima se abriu. Como se tivessem feito alguma espécie de ensaio para isso, Sirius e Remo escorregaram pelo sofá para o mais longe que conseguiram um do outro (o que não foi mais que 20cm) e Marlene deu uma sonora gargalhada, como se estivesse rindo há muito tempo de alguma coisa muito engraçada.

— Foi-se o tempo em que meu filho vinha me ver quando chegava, não é?

A mãe de James era alta e requintada, com os cabelos castanhos começando a embranquecer de uma maneira elegante, e parecia tão pronta para ir jantar na sala quanto estaria para ir ao teatro. Havia um sorriso saudoso, porém moderado, brincando em seus lábios, e James ainda conseguia se sentir intimidado pelo olhar firme da mãe, mesmo com 21 anos.

— É por isso que eu estou virando o filho preferido, Pontas! – disse Sirius implicante, enquanto James se levantava e dava um abraço na mãe.

— Desculpe, mamãe. Eu estava muito cansado, e achei que vocês podiam estar com visitas. Tudo que eu menos queria era seguir protocolo hoje.

Euphemia Potter, a Duquesa Norfolk, não parecia chateada com o comportamento de James, ao contrário, parecia compreender, e até concordar com ele. Cumprimentou Marlene e Remo, perguntando sobre as faculdades de ambos, e sobre como tinha sido a viagem de Oxford até ali.

— Eu devo supor que Sirius foi um péssimo anfitrião como sempre, e não ofereceu jantar a vocês. – disse ela, voltando-se para Sirius em um olhar de repreensão.

— Ah, tia Euph! Por favor, eles já são de casa!

— Realmente nós temos trabalhado com o que podemos por aqui ultimamente, sabem, queridas? – continuou ela, ignorando Sirius e dirigindo-se à Marlene e Dorcas, que riam da situação. – Eu vou pedir que sirvam vocês no salão Churchill, porque já estamos todos na sala menor, e Vossa Majestade está com a Primeira Ministra e alguns Lordes discutindo coisas sobre a recepção de domingo. Não deve demorar, mas vou pedir que Mcgonagal venha chamá-los quando estiver pronto.

Desde que James se entendia por gente sua mãe era assim, assertiva, prática, e sempre tomando as decisões com altivez, deixando todos à espera de suas diretrizes, certos de que seriam as mais corretas. Ela se despediu das visitas dizendo que encontraria a todos na igreja pela manhã, e deu um beijo na bochecha de James antes de sair, rumo ao salão cheio de autoridades políticas.

— Essa foi por tão pouco! – sussurrou Marlene, soltando o ar que estivera prendendo todo aquele tempo.

— Eu tive certeza de que ela notaria! Você precisa começar a exigir que as pessoas batam na porta, Sirius! – resmungou Remo, lívido. Os cabelos cor de areia parecendo desmaiados, consonantes com a pele pálida demais.

Sirius assentiu pedindo desculpas, embora logo em seguida tenha tido um acesso de raiva por aquilo ser injusto. James podia ficar abraçado com quem bem entendesse (embora claro que não fosse assim que as coisas funcionassem quando se era do primeiro escalão da realeza), e estar com os braços em torno de Marlene não teria sido um problema.

— Mas claro, abraçar Aluado em paz, eu não posso! Beijar Aluado sem ser escondido, eu não posso! Essa coisa toda devia ir à merda, sabia?!

Ninguém poderia argumentar contra, e Remo ficara constrangido demais para acrescentar algo, ou acalmar Sirius. O assunto foi, pouco a pouco, sendo desviado para outras amenidades (inclusive retornar a provocações contra James sobre Lily Evans) e Mcgonagal, a chefe das governantas, apareceu pouco depois das 20h para anunciar o jantar servido.


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Notas finais do capítulo

Muita coisa acontecendo, muitos personagens aparecendo... quem mais aí shippa Wolfstar? Confesso que é minha primeira vez explorando eles como um casal, já que sempre escrevi Blackinnon, mas acho os dois com uma química interessante...
Vou esperar as opiniões de vocês nos comentários, beijos!