God save the Prince escrita por Fanfictioner


Capítulo 21
É bom ser rei


Notas iniciais do capítulo

Eu nem sei bem como começar essa nota, porque ainda estou meio anestesiada.
Chegamos ao final de God Save the Prince. Vou deixar minhas despedidas e agradecimentos para o epílogo (que sai na quarta, dia 21) e por aqui vou só deixar avisos, porque temos O MAIOR CAPÍTULO DA FIC!
Meu agradecimento mais que infinito a Carter (u/64635) por ter acreditado que eu era capaz de escrever um smut (hahaha, eu juro que me esforcei) e por ter lido pedacinhos, criando expectativas mil que GSTP podia ter um final legal e leve. Obrigada pela vida de escritora partilhada comigo, amiga ❤


Primeiro aviso é que teremos conteúdo +18 nesse capítulo, e eu fortemente recomendo que se você for menor de 16 anos, não leia. Não é exageradamente explícito, mas é isso aí. Segundo, é que temos algumas cenas e falas que podem ser gatilho de depressão (novamente, nada intenso, mas responsabilidade é importante, certo?). E terceiro, caso alguém não conheça, Carpool Karaoke é um quadro do programa de entrevistas da CBS, dos EUA, The late late show, apresentado pelo inglês, James Corden. Aqui eu tomei a liberdade artística de fazer dele um programa inglês.
Temos muuuitas referências à entrevista recente do Príncipe Harry a esse apresentador, e também a um antigo episódio, com Harry Styles, mas é irrelevante, só estou fazendo o disclaimer.

Feitos todos os avisos principais, boa leitura!
Ah, temos uma playlist para fic, então sintam-se a vontade para ler ouvindo (ou só ouvir em geral): https://open.spotify.com/playlist/28juKJqXcDkzq0vuXDTjHo?si=591be2b995fd4b38



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— É tão estranho estar no último trimestre! - riu Lily, cumprimentando o amigo enquanto chegava no café em que haviam combinado de se encontrar. - É tanta correria que mal tenho visto você, Severo!

— São campus diferentes, fica meio fora de rota. - ele sorriu, arrumando o cabelo liso e escuro atrás da orelha. - Como foram suas férias de Páscoa, Lily?

— Foram ótimas, obrigada! E as suas? Um cappuccino caramelo, por favor. E um croissant de amêndoa. - pediu no balcão, deslizando para o lado enquanto esperava. - E você?

— Só um chá preto, por favor. 

Cinco minutos depois, Lily e Severo estavam sentados em uma mesa no canto da cafeteria, com Lily mexendo seu café, e Severo atualizando-a de seu novo estágio. Após o término com James, Lily tinha acabado com muitas horas livres e sozinhas, porque suas amigas estavam namorando, o que resultou em muito tempo na biblioteca e, consequentemente, uma aproximação inesperada com Severo.

De mero conhecido de turma, ele passara a ser um colega com quem Lily gostava de passar tempo. Severo era reservado, e tinha um humor fechado, mas no geral era uma companhia boa. 

— Uhm… eu estive pensando se… bem, eu vou receber daqui uns dias, e pensei se você não gostaria de sair para jantar. Sabe, como um… como um encontro, Lily. - ele perguntou em algum momento da conversa,  quando Lily dava atenção a uma mensagem de Alice.

— Espera, repete. Eu estava lendo uma mensagem… você vai receber em uns dias, e o quê?

— Quer sair para jantar? Em um encontro? - as bochechas pálidas dele coraram.

Os olhos de Lily se arregalaram com o convite inesperado, e suas sobrancelhas levantaram, reação involuntária de quem fora pego desprevenido.

— Ahm… - ela deu um risinho nervoso. - Severo, eu agradeço muitíssimo o convite, mas… mas eu não estou, sabe, interessada. Não é com você, eu só não estou interessada em ter um encontro com ninguém. Tive um término super traumátic-

— É eu sei. - Severo interrompeu, com um sorriso sem graça. - Eu estive com você quando estava se recuperando. E já faz uns bons meses isso, Lily.

— Sim, é. Faz uns meses, mas… o que espera que eu diga, Severo? Estou sendo sincera, foi traumático e ainda estou mexida com isso.

— Ah, fala sério, Lily. Mexida? O cara usou você, só ligava para o próprio umbigo e para o título ridículo dele! - comentou, revirando os olhos com impaciência. - Você precisa superar, estou aqui desde sempre com você, e não aceita sair para um jantar!

O que deixou Lily confusa - e perturbada - não foi a explosão de Severo, ou mesmo a entitulação dele em se achar no direito de exigir qualquer coisa por ter acolhido Lily em alguns momentos - o que era ridículo, porque ela só falara de suas dores emocionais com ele uma única vez. O que a deixou perturbada foi como Severo sabia sobre o título de James, se Lily nunca sequer mencionara isso.

Nunca tinha sequer tocado no nome de James. Sempre fora ‘o rapaz com quem estou saindo’ ou ‘meu namorado’, ou mesmo ‘meu ex’, mas nunca ‘James’, ou mesmo ‘James Potter’. E era, no mínimo, curioso que Severo tocasse no assunto da nobreza de James.

— Do que você está falando? - Severo parecia em vias de dar outra resposta chateada, quando Lily insistiu. - De que título você tá falando? Quem tem título?

— O quê? - ele respondeu, parecendo confuso.

— Você disse que meu ex me usou, e que só ligava para o título dele. Que título?

— Eu não disse isso. - desconversou, bebendo o chá.

— Você disse, disse muito! Severo, quem você acha que é meu ex?

— Vou lá saber, Lily?! Você nunca falou nome-

— Não. Não banque o esperto comigo, porque não vai rolar. Você falou porque sabia… como sabe? Eu sei que sabe, não adianta… - falou séria, empertigando-se na cadeira.

Severo hesitou, observando a expressão dela, medindo as possíveis reações e escolhendo as melhores palavras. Os poucos segundos pareceram durar muito mais, e a tensão palpável se avolumava.

— Estou esperando… como soube?

— Lily… eu. - ele soltou o ar com força, dando um sorriso de quem queria deixar as coisas leves. - Vamos lá, uma coisa de cada vez. Eu tenho uns amigos, que são amigos de uma pessoa que era amigo do seu ex. E, pode ser que, numa chance, meio bêbado, ele tenha comentado. Do título, do nome e tal… que ele era o Duque. Nada demais. E como você não queria falar nele, eu supus que er-

— Amigos de um amigo de James? Você vai ter que começar a ser mais específico, Severo. Porque eu estou bastante séria aqui, e não estou achando graça. Está falando de Peter?

Severo não concordou, tampouco negou, e Lily sentiu a tensão no silencioso consentimento dele. Havia mais do que o que Severo estava contando e, de repente, o fato de ele ter opiniões tão fortes sobre James acendeu uma dúvida em Lily. Não achava que pudesse ser algo além de uma paranoia, mas era algo em sua mente. 

De repente, parecia que ela estava de volta em novembro. Parecia que todas as questões de seu término estavam sendo trazidas novamente à tona. Não fazia nem bem dois meses desde que James aparecera em Cambridge, como um fantasma, e a fizera perceber que nunca o superara, mas agora, quase seis meses depois, Lily sentia que havia coisas que simplesmente não sabia sobre o término. Agora surgia Snape mostrando que, aparentemente, sempre soubera sobre o namoro secreto de Lily. Coisas demais.

— Você sabia que foi Peter, Severo? - ela testou, para medir a reação dele. - Você sabia que foi Peter quem contou para a imprensa, que estávamos juntos, eu e James? Que causou todo aquele problema para James?

— Ah, foi? - os lábios de Snape crisparam, e Lily ficou atenta. - Não, eu não sabia. Não ligo para o Potter, Lily. Eu me preocupo com voc-

— E o que, no mundo, faz você pensar que era só sobre ele? Porra, Severo! Era o meu nome naquelas capas de fofoca, eu fui chamada das piores coisas possíveis, e foram tantos, tantos, crimes virtuais! Tantas mentiras, tantos xingamentos! - Lily se sentia se exaltando.

— Eu não quis dize-

— Ah, você quis, sim! - retrucou. - Peter e seu caráter podre! Eu queria que ele… sabe?! Explodisse! Traíra!

— Você… você acha… não sei, acha tão ruim assim? Porque, sabe, às vezes ele achava que estava fazendo o certo. - ele tentou.

— Que certo existe em jogar na imprensa um segredo que não é seu?

— Bom, não sei. De repente para proteger você. Da família real, da imprensa.

— Ah, ajudou muito, com certeza! - ironizou Lily. - Muito ajuda quem não atrapalha. E se Peter contou aos seus amigos, então já havia traído James ali… aliás, quem são? Quem mais sab-

— Lil, eu não acho que… não acho que vem ao caso.

No começo, Lily estava tentando ignorar as paranoias no fundo de sua mente e, no entanto, quanto mais Severo se escusava, ou apaziguava o que Lily passara, mais a luz da desconfiança a acertava. Ele tinha sabido, e continuara fingindo que não sabia. Outras pessoas em Cambridge tinham sabido de James e Lily, antes mesmo de serem escrachados na imprensa.

— Severo… por favor. - a seriedade no olhar de Lily o intimidava.

— Mulciber. E Avery. Da Economia.

— Chega. Chega, isso é ridículo. - Lily se levantou da mesa, pegando a bolsa do encosto.

— Não! Lily, espera. O que foi?

— Seus amigos, assediam garotas. São uns filhos da puta assediadores, me assediaram! São nojentos, e eu não consigo conceber que meu namoro estava na boca desse tipo de gente! Pior ainda! Que você seja amigo deles, Severo!

— Não sou! São meus colegas, mas não somos amigos, eu juro, Lily!

Ela teve vontade de rir, porque estava beirando o ridículo a forma com que Severo insistia em desviar a situação, ou fazer parecer que não era nada demais.

— Claro, Severo. O que você disser. Só não quero ficar pensando que meu nome esteve na boca deles, que Peter contou para eles antes de ser um enorme canalha e ir para a imprensa… - os olhos de Lily se reviravam em asco. - Deve ter ganho um dinheiro!

— Bem, você não sabe os motivos pelos quais eu fiz isso. - Severo resmungou em um tom mais baixo, olhando para o chão enquanto torcia as mãos no encosto da cadeira, levantado para tentar acompanhar Lily, que parecia em vias de ir embora.

— Como é?

— O quê?

— Foi você? 

— O quê? Não! Claro que não Lil-

— Você disse ‘eu fiz’ - a expressão dela parecia em vias de entrar em combustão, de raiva.

— Não disse, não. - ele engoliu em seco. - Disse ele fez. Peter. Peter fez.

— Não, você com certeza não disse ‘ele’. Não passou pela sua cabeça um segundo que eu iria descobrir? O que fez você achar que tinha o direito de expor minha vida, Snape?

Agora a cena toda se desenrolava para Lily. Peter tinha, sim, traído James. Provavelmente tinha estado magoado, falado coisas demais, mencionado o namoro que devia ser um segredo - conforme Frank teorizara e mostrara para ela - mas não tinha sido ele quem colocara tudo nos jornais. Não tinha partido de Peter a ideia - quer dizer, ao menos não era o que parecia, mas ela nunca saberia com certeza - e agora, olhando para Snape, Lily sentia que poderia estapeá-lo, ou socá-lo até que suas dores todas daqueles meses sumissem.

Ela sentia, além de um asco repulsivo, uma vergonha e, principalmente, um receio absurdo. Severo Snape era creepy, esquisito, stalker, e o tipo de gente de quem ela queria distância.

— Lily… - ele esfregou o rosto, parecendo tenso. - Ele estava usando você, estava sendo desonesto, eu só queria proteg-

Lily sentiu o riso de escárnio escapar, alto demais para o que seria adequado, mas ela não ligava mais se estava ou não fazendo uma cena.

— Não era da sua conta! Era a minha vida, e se eu não falava dela para você definitivamente não era seu direito decidir qualquer coisa por mim. Nós somos, no máximo, colegas, seu maluco! E aí você, não satisfeito em terminar o melhor relacionamento que eu já tive, resolve agir como se não tivesse bosta alguma a ver com isso, e me chama para um encontro? Você pensa?!

— Eu juro que tenho motivos, Lily! Você ia ser odiada por aqueles escrotos da família Real, não era seu lugar lá-

— Diga mais sobre qual é o meu lugar! - interrompeu ela, avançando com fúria na direção de Snape, sem se abalar por ser muitos centímetros menor. - Diga!

— Nunca quis que você se machucasse, Lily, eu juro! Nunca quis que massacrassem você assim!

— Então você é realmente um jornalista foda! Porque consegue até o que nem quis! Devia investir nessa carreira, sabia?! - ela ironizou, ácida. Se os olhos verdes de Lily fossem armas, haveria buracos sanguinolentos em Snape, tal era a intensidade com que o fuzilava com o olhar. - Eu não quero mais ver a sua cara!

Lily foi embora, e a pior decisão da vida de Severo Snape foi tentar impedi-la, segurando-a pela mão antes que se afastasse demais da mesa.

— Nós precisamos conversar direito, Lily.

— Não precisamos mesmo! Não tenho absolutamente nada para falar com você, e não quero ouvir sua voz em nenhuma circunstância. E você deveria agradecer que eu não estou com saco para ir em uma delegacia e denunciá-lo por invasão de privacidade, uso indevido de imagem, e uma série de outros crimes que, caso não sabia, geram um processo bem caro! Então seja espertinho, como eu sei que é, vá se foder! Bem longe de mim.

Sentia alguns pares de olhos queimando sobre ela, mas Lily estava furiosa demais para se dar ao trabalho de observar ao redor. Ela bateu a porta do café com uma força além do necessário, quando saiu, e, andando até em casa, Lily sentiu as emoções passarem, uma a uma. 

Primeiro, a raiva fulminante, que deixava seu rosto em chamas e dava vontade de socar algo - preferencialmente Snape, se pudesse. Depois, a consciência do que realmente acontecera, e do que Lily descobrira, pesaram em sua cabeça, e além da raiva, se somou uma sensação de impotência e tristeza que comprimiam o peito.

Um homem que não era sequer próximo dela se achara no direito de palpitar - e decidir - coisas sobre seu relacionamento, unicamente porque queria chamá-la para um encontro. Era uma mescla de nojo e raiva, a frustração de ser mulher em uma sociedade misógina, a culpa por ter sucumbido à pressão e perdido seu namorado, a mágoa latente com Peter, a saudade do relacionamento com James. Lily achava que poderia explodir, de tantos sentimentos que sentia e, no entanto, o que aconteceu foi que ela chorou.

Chorou desesperadamente assim que pisou em casa, embora viesse sufocando e se descontrolando o caminho inteiro. 

Finalmente as coisas tinham se encaixado, ela sabia exatamente o que tinha acontecido para levar ao término - ao menos em questões externas - e aquilo reabria uma ferida que Lily nunca tinha se preocupado em conferir se cicatrizara.

— Nessa casa, odiamos Severo Snape. - comentou Frank, vindo da cozinha com um pote de sorvete de cinco litros. - E também sabemos que sorvete cura tudo.

— E fish n chips! - Mary chegou, depois de buscar a encomenda de delivery que chegara. - Eu realmente não posso ir atrás de Snape para esmurrá-lo?

Lily riu, ligando um filme na Netflix para eles assistirem na sala de casa, juntos.

— Não. Mas se esbarrar com ele na rua, e quiser fazer algo, eu não vou julgar.

— Ele nem vai saber o que o atingiu. - devolveu Mary, dando de ombros, e Lily deu uma gargalhada.

Seus amigos nem eram amigos, eram anjos protetores, enviados dos céus.

***

A decisão de Emmeline de assumir sua sexualidade em uma capa de revista - com uma entrevista, no mínimo, polêmica - trouxe uma explosão de reflexões necessárias para James. Como ela bem dissera, antes de Príncipe, ele era James, e isso devia ser sua prioridade.

Quem ele era como ser humano.

Havia uma série de questionamentos, dúvidas e ideias rondando a cabeça de James. A verdade era que ele gostava de ser o Duque de Cambridge, e das portas que esse título abria para ele fazer o que o interessava e importava, em termos de sociedade. Mas, por outro lado, James sentia como se sempre estivesse se reportando à vida de outra pessoa. 

Crescera com a melhor escola, as roupas adequadas, vivendo em um palácio. Viajara o mundo, e tinha uma herança que o permitia ir aonde quisesse, a hora que desejasse. Herdades e terrenos estavam em seu nome, no ducado em que escolhera estudar - até isso, a faculdade, lhe fora tirado - e James podia, dentro da legalidade, fazer quase tudo que quisesse.

Mas nunca parecia que era ele. Ou quase nunca.

Os momentos mais vivos eram com as pessoas, se doando, trabalhando. Estudando e bebendo no pub. Política e história o interessavam, mas James estava longe de desejar a vida que seu pai tinha: com o dia inteiro ocupado por reuniões intermináveis, discutindo burocracias que remontavam há, pelo menos, dois séculos.

Era um poder passivo, e, se fosse sincero consigo mesmo, James se sentia um inútil quando pensava que, em um único mês, com um recurso infinitamente menor do que o que ele tinha à disposição, Lily provavelmente tinha feito mais, ativamente, do que ele jamais tinha tido oportunidade. Não era hipócrita, sabia que dinheiro era essencial, que movia o mundo e que fazia as coisas acontecerem, mas parecia tão mínimo doar verbas e manter as mãos longe.

Uma imagem imaculada de generosidade que não cabia com a vida luxuosa que ele vivia. James sentia que precisava fazer mais. 

Queria seu diploma, queria ver sentido em lutar por suas causas. Ensinar, ter instituições de serviços comunitários, trabalhar na Associação de Treinamento de Cães Guia, de Chelmsford. James queria mais, queria ser ele. E sentia, da maneira mais genuína, que não seria leal a si mesmo como herdeiro do trono. Tinha uma diplomacia forçada, um carisma ácido que não cabia em um monarca, e não se via, nem em sessenta anos, sendo Sua Majestade, Rei James.

Definitivamente não.

Mas como resolver as coisas ‘no grito’ já se provara, repetidas vezes, uma abordagem pouco funcional, James decidiu que era hora de ser adulto, sério e correto, se desejasse ser entendido e respeitado. Por isso, ele fez o que autoridades de Estado faziam: marcou uma reunião.

— Podemos começar então, Senhor? - brincou Fleamont, dando uma cutucada nas costas de James ao entrar na sala de reuniões.

— Quando desejar, milorde. - James devolveu com uma piscadinha que mascarava sua tensão, segurando sua caneca de chá Earl Grey.

Não apenas Fleamont, mas Euphemia, Vitória e a chefe da assessoria de imprensa, Smith, estavam na reunião, embora sem saberem ainda a pauta que James queria abordar. A rainha e a Duquesa de Norfolk debatiam o evento pela educação infantil que aconteceria em Dundee em duas semanas, em que a Duquesa era patrona.

— Ahm, podemos começar então, eu acredito. - recomendou James, sentando-se em uma das cadeiras e arrumando um bloquinho de papel e caneta, que ele trouxera para dispersar o nervosismo. - Eu marquei essa reunião para debater uma questão importante... relativa a minha posição. 

 Vitória inclinou a cabeça para o lado como um beagle confuso, e Euphemia curvou as sobrancelhas, atenta ao filho. James entendeu como um convite para que continuasse a falar.

— De que posição, exatamente, estamos falando, filho? - perguntou Fleamont, sério, colocando seus óculos de leitura.

— Da minha posição de segundo herdeiro do trono. - ele respirou fundo, sentindo o olhar do pai queimando sobre ele. - Primeiro, queria que soubessem que os questionamentos relacionados a essa demanda não são… não são recentes. Eles sempre existiram, em maior ou menor escala, e apesar de estarem relacionados a todos os, todos os eventos do ano passado, desse ano… não são eles a causa. 

“Em verdade, eu sempre tive minhas… dúvidas, inseguranças… não sei como chamar, mas sempre tive essas questões, e toda a situação com Emmeline, e Sirius, e Remo e Marlene, só… só trouxe à tona o que eu sempre senti, sempre me perguntei. É claro que eu nunca trouxe meus questionamentos para discussão, porque o dever sempre esteve muito claro para mim, e as responsabilidades da minha posição… mas não tem feito mais sentido continuar assim.”

— James, querido, eu estou conseguindo acompanhar seu raciocínio, mas vou ter que pedir que seja mais específico, meu bem. O que não tem feito mais sentido? Que questionamentos? - perguntou Euphemia.

— Eu quero abdicar da linha sucessória.

Houve um silêncio terrível na sala, e James chegou a pensar que sua avó tivesse tido um infarto silencioso e morrera ali mesmo, sentada na cadeira da ponta da mesa, porque a velha monarca não esboçou qualquer reação. Fleamont tirou os óculos e encarou James com toda a autoridade de príncipe e pai.

— É uma decisão muito séria a se pensar, James.

— Eu sei.

O Duque de Norfolk conhecia o filho bem o bastante para saber que James era persistente - quando não teimoso - e que se tomava uma decisão, era difícil fazer voltá-lo atrás. Mas aquela era uma circunstância séria demais para ser ignorada e tratada como mera birra juvenil. Ele esfregou os olhos para dissipar a tensão. A reunião que antes parecia trivial agora era uma das mais sérias daquela semana, e Fleamont se perguntava porque não tinha notado que o filho queria se afastar da linha sucessória.

— Como você sabe da seriedade, nós vamos discutir isso. Porque é algo muito mais grave do que apenas sair da linha sucessória, James… existe uma série de burocracias, e titulações, documentos… de onde…?

— De sempre, pai. Da minha vida.

— Da sua vida. - ele repetiu, tenso. - Certo, você vai precisar de mais do que isso para essa reunião, James. Não estamos brincando. É por causa de Cambridge? Porque se for, não precisamos desse estresse, você pode voltar no próximo termo, suspendemos seus compromiss-

— Não é por Cambridge, pai. - James interrompeu, arrumando os óculos. - Quer dizer, não é por Cambridge. Eu quero voltar no próximo termo, eu vou, mas não é só por isso. Voltar para Cambridge não vai resolver… porque o ponto é que eu não quero estar na linha sucessória, não quero passar minha vida a espera de assumir um cargo que eu não… - ele hesitou, procurando as palavras. - eu não sei exercer, não quero assumir…

Fleamont deu um sorriso condescendente para o filho, puxando uma folha de um bloco de notas para rabiscar.

— Jimmy… você não precisa se preocupar com isso. Deus sabe que eu surtei quando seu avô morreu, percebendo que ia precisar mesmo assumir o trono um dia. Mas ninguém vira rei da noite para o dia, filho. Não hoje em dia, pelo menos… - ele riu, se recordando das várias histórias que a monarquia britânica tinha. - Você vai ser preparado, aos poucos vai receber mais e mais obrigações do cargo, e eu estarei com você o tempo todo nesse processo. Você não vai estar sozinho, meu filho.

— Mas não é sobre estar sozinho. - exasperou James. - Por Deus, não! Eu não tenho medo do trono, nem medo de errar. É sobre não me sentir feliz com nada disso! Eu não gosto das expectativas, do trono ser o que resume minha vida… eu não sou feliz com isso!

Tanto Fleamont quanto Euphemia pareceram confusos.

— Eu não quero ser rei. Nunca quis. Eu gosto de estar com as pessoas, de ser ativamente útil, de viver e fazer as coisas, e não existe nada mais ridiculamente inútil que ser rei em uma monarquia parlamentarista! Sem ofensa, claro. - disse, virando-se para a avó. - Eu não me sinto útil às pessoas ficando em reuniões burocráticas intermináveis, não nasci para isso, e me sinto ignorando os problemas de verdade. O que é que a gente faz, se não viver em uma bolha de privilégio e fingir que se conecta com as pessoas? Eu quero isso de verdade! Esses meses têm sido miseráveis, preso entre reuniões e obrigações em que eu não faço nada além de ficar sentado, ouvindo, sem palpitar. Ando deprimido, desesperado, e cada dia é pior que o outro. Não quero viver assim!

— James! Pelo amor de Deus, não diga isso! - repreendeu Euphemia, preocupada. - Vamos procurar um terapeuta, tratar essas suas inseguranças… meu filho, você nunca vai ser inútil!

Eles nem mesmo procuravam entender, era o que James sentia. De tudo que dissera, o que sua mãe captara fora um possível problema psicológico, que precisava de tratamento. Nada sobre como eles mesmos estavam causando essa infelicidade em James.

— Não é isso, mãe. - arrepiou os cabelos. - Eu quero viver. Quero fazer as coisas, estar com as pessoas, me formar, correr riscos de verdade. Ajudar refugiados, treinar cães-guia em Chelmsford, trabalhar de verdade, com as pessoas. Não quero só assinar um papel ou doar dinheiro… não nasci para a diplomacia.

James se levantou para servir mais chá, indo até o bule elétrico sobre o aparador do canto da sala, e durante todo o processo, até que ele se sentasse de volta, ninguém disse qualquer coisa. Fleamont e Euphemia pareciam anestesiados, e a assessora de imprensa tomava notas para o que viria a ser a ata da reunião. James desejou poder ler os pensamentos da mulher, ou mesmo enxergar seus ‘divertidamente’ interagindo e opinando no assunto da reunião - o pensamento o fez esboçar um riso.

— Você ama mesmo aquela garota, né?

Ele quase cuspiu seu chá sobre a mesa de mogno, do século XIX, ao ouvir o comentário da avó. Vitória Potter tinha o rosto impassível e era impossível supor o que se passava na cabeça da matriarca da família real. Era difícil medir se era um truque, se ela desejava enroscar James em outra trama, ou se era apenas uma pergunta genuína - inocente não, porque ele sabia que sua avó nunca fazia nada inocentemente.

— Que… que garota? James, isso é por uma garota? - perguntou Fleamont, confuso e, quase, bravo.

— Não ama, James? - insistiu a avó.

— Amo. - confessou, encurralado. - Amo de verdade. Mas não é sobre ela, nada disso é sobre ela. Na verdade, ela me detesta, e não deve querer sequer me ver, e eu não a culpo. É unicamente por mim, eu não aguento mais viver mentindo para mim mesmo. 

Vitória pediu a um funcionário que lhe servisse chá, agindo como se nada tivesse acontecido, e Fleamont olhava da mãe para o filho completamente aturdido, sem entender do que qualquer um deles falava.

— Quem vai me contar do que estamos falando?

— James… - ela deu de ombros, com um sorrisinho de canto. - Você quer contar? - ele encarou a avó, sem entender absolutamente o que estava acontecendo. - Bem, eu contarei então, porque estamos devendo uma atualização a eles.

Ela deu uma piscadinha, como se fosse um segredo legal que tivesse com James.

— Eu, provavelmente, causei tudo isso, Fleamont. Eu, provavelmente, dei início em todas as novas dúvidas de James, e me arrependo de ter sido tão… dura. Talvez você até me ache insensível, meu filho - ela virou-se para James, com o tom suave de uma avó comum. -, mas não me queira mal.

“A senhorita Evans, que nós conhecemos no ano passado, nunca foi de Yorkshire, nem nobre, mas,  sim, a colega de faculdade de James, como todos descobriram com aquela matéria infeliz em novembro. É uma garota ambiciosa e inteligente, muito decente, até onde me concerne, e James esteve apaixonado pela mocinha, e eu o obriguei, das maneiras mais incisivas, a terminar com a menina.”

— Vitória! - espantou-se Euphemia. - Como… o que acontece-

— Eu não quero entrar em detalhes, mãe. Aconteceu, já foi. Ela terminou comigo porque eu fui um tremendo de um babaca, e quis segurar o mundo nas pernas. E também foi isso que me mostrou que eu não quero, mesmo, ser rei. Não quero me comprometer com quem eu amo, largar a minha vida, por mais que ame nossa nação. Eu sou responsável com o dever, sabe que sou, mas eu só… eu não quero isso. Não é sobre a Lil-

— É claro que não é sobre a srta. Evans. - interrompeu Vitória. - Você deixou isso claro desde pequeno, James. Sempre decidindo primeiro e pensando depois, comprando brigas que não eram suas por não ser capaz de ficar passivo com o que achava injusto. Você sempre foi assim, e todos sempre acreditaram que isso ia mudar, que você ia crescer para a linha sucessória… eu não.

— Mamãe, o que está falando?! - comentou Fleamont, confuso. - James não pod… James é o segundo na linh-

— E Sirius está morto, por um acaso, Fleamont? James não quer ser rei, e o dever aparece para ele de outras formas que não a coroa. Sinceramente, me surpreende vocês sequer cogitarem que o menino deva ficar! James é um fracasso com barganhas políticas, e não é nada estrategista! - ela riu, piscando para o neto. - Se isso for, realmente, o que você quer, James, então vamos assinar todos os documentos… 

James não tinha a menor reação ao que sua avó estava fazendo naquele momento, e flutuou por vários minutos enquanto seus pais conversavam com ela e com a assessora de imprensa. Sua avó estava legislando por ele, defendendo-o na saída da linha sucessória.

— Não é abandonar meus deveres de Duque, nem de príncipe, mas é ser honesto. Comigo, com vocês, com o povo. Eu sei que posso ajudar de outras formas, que posso fazer mais pelos britânicos estando longe do trono, da coroa… - explicou-se. - Não quero trair ninguém, mas, mais que isso, não quero me trair, pai. 

O olhar dele era resoluto e, ao mesmo tempo, inseguro. Fleamont conseguia ler a vontade do filho em ser compreendido e respeitado, levado a sério em suas escolhas. Ali estava o príncipe herdeiro, sendo honesto consigo, com seu dever, e abrindo mão de algo que era importante, mas que não faria diferença para ele. James queria lutar em campo, não no Gabinete de Guerra, e havia algo de louvável nisso. Fleamont esfregou o rosto e deu de ombros, com um sorriso derrotista.

— Você tem a benção e a permissão da sua avó, eu não acho que eu possa mudar algo agora, Jimmy. - levantou-se e indicou, com a cabeça, para que James se levantasse também. - É claro que me espanto, que… - ele pareceu sem palavras. - Nunca vai estar me traindo se não estiver traindo a si mesmo, meu filho. Você é meu filho antes de tudo, e isso importa mais para mim do que se você quer ou não a coroa na sua cabeça.

Fleamont abraçou James, e o garoto não conseguia, ainda, processar que tivesse sido tão simples levantar essa questão. Era uma reunião de duas horas, mas ainda assim, era uma reunião de duas horas com deliberação favorável à saída de James da linha sucessória do trono britânico.

— Eu acho que merecemos um jantar especial, não é? - comentou Euphemia, depois de dar um beijo na cabeça do filho. - Vou checar o menu com a chefe da cozinha.

— Ainda existe uma infinidade de burocracias, é claro. Temos que levar isso como pauta do conselho deliberativo da próxima semana, e preparar documentos… - Fleamont saía da sala conversando com Smith, da assessoria de imprensa, e com a rainha.

James, anestesiado, ficou sozinho na sala, com sua xícara de chá, e quando finalmente se sentiu consciente do que acabara de acontecer, saiu atrás da avó, chamando por ela no corredor.

— Espera! Eu quero falar com a senhora! - Vitória parou no corredor, dispensando Fleamont e Smith de a esperarem, e ficou observando James dar uma corridinha até seu encontro. - O que… por quê?

— Por que o quê?

— Por que… por que fez isso? O que acabou de acontecer? Por qu- - perguntou, confuso. Sua avó era imprevisível, durona, intensa e severa, mas nunca em um milhão de anos James esperaria dela  reação que tivera na reunião.

Vitória Potter sorriu para ele como quem sorri a uma criança pequena, prestes a explicá-la sobre a cor do céu, ou sobre uma história do passado.

— Porque, por mais que você ache que não, eu amo você, James. Eu amo você, e errei com você. Não me queira mal, querido, eu nasci em outra época, com outros valores, e eu lidero o país há anos, com centenas de homens diariamente me dizendo que eu não sei o que faço. - ela sorriu com suas memórias. - Antes, eu era nova demais para entender, hoje, sou velha demais e não compreendo o século XXI. Eu queria ter tido escolhas, James. Eu também amei alguém, e eu vi esse alguém casar com outra pessoa, porque a coroa ia ser o meu casamento.

“Não ache que não amei o seu avô. Eu amei, mas amei pelo dever. Seu pai, Sirius e você são a melhor coisa que eu tenho, e tentando proteger e acertar, eu erro também. E se você não se sente feliz, se você quer cumprir seu dever real fora do trono, então eu não posso fazer nada para impedir, porque eu estaria colocando em você o mesmo peso odioso que colocaram em mim.”

Ele não conseguia esboçar reação, apenas processando as palavras da avó. Vitória era aquele tipo de mulher forte, e James apenas não conseguia vê-la como alguém que fora jovem, que tivera sonhos, que amara pessoas diferentes do que as que o dever colocara para ela. Fleamont e Euphemia tinham se casado por amor, e simplesmente não ocorrera a James que poderia ter sido diferente à sua avó.

— E se você realmente ama a srta. Evans, James, então eu acho que você deve alguma coisa a ela. Alguma retratação. Exatamente como eu devia a você. - ela deu uma piscadinha e saiu, porque não era muito de afetos físicos, deixando James ali, no meio do corredor do Palácio de Buckingham pensando.

Ele podia ser livre e fazer suas escolhas. Ele podia não ser mais um futuro rei, se quisesse.

***

Quando Lily chegou em casa naquela sexta, tudo em que pensava era em uma maratona de filmes e em pedir uma comida por delivery. Àquela hora, Alice já estaria no trem com Frank, e Mary logo menos sairia com Benjy, deixando a casa inteiramente para ela. A semana tinha sido exaustiva, e Lily tinha algumas dezenas de coisas para estudar, mas sentia que tudo podia esperar.

Ela precisava de uma folga.

— Just stop you crying, it’s the sign of the ti- - cantarolava ao entrar em casa. - Meu Deus! James! Que susto! O que tá fazendo aqui?!

James Potter estava sentado na poltrona da sala de Lily, e a mulher quase sentiu seu coração sair pela boca. Tanto pelo susto quanto pelo solavanco de saudade e sentimentos familiares que a visão de James provocava.

— Oi! Oi, Lily… é, a Mary me deixou entrar. Desculpa, vir sem avisar, eu digo. - ele gesticulou, indicando o corredor que levava aos quartos, dando a entender que Mary estava para dentro. 

— Não, é… tudo bem. - sorriu educadamente, colocando a bolsa no aparador ao lado da porta. - Eu… tudo bem?

— Tudo. Tudo bem, e você? - Lily concordou, afirmando que também estava bem. - Ah, ah que bom.

— Não quero ser indelicada, James… mas, eu posso ajudar com algo? É… eu não estava esperand-

— Não, claro que não. - ele riu sem muito humor. - É… eu vim conversar. Se você quiser, é claro. -  Lily o observou, curiosa e confusa. - Faz muito tempo, e não tivemos nenhuma conversa decente depois de… bem, eu devo algumas explicações para você, então… se quiser, sei lá..

— Ahm, claro. Podemos… quer dizer, eu não sei muito o que dizer. Mas, claro, posso ouvir você.

Nenhum dos dois parecia saber, exatamente, como se comportar. Estavam presos na saudade e na emoção de, depois de meses, se reverem e conversarem, e não estavam bem certos de como estavam. Entre eles havia um abismo de feridas, silêncios e conversas não tidas, e ambos pareciam incertos sobre poder ou não agir como gostariam. Podia haver um abraço? Ou melhor, só um aperto de mão, educado? Sentariam no sofá para conversar? Ou à mesa?

Tudo parecia fora do lugar.

— Ah, legal. - ele sorriu, genuinamente satisfeito. - Você quer… um pub, não sei?

— Talvez aqui seja melhor. Se você não se importar, claro. Tá meio bagunçado, mas podemos conversar com calma… - Lily finalmente saiu da porta e andou pelo apartamento, catando copos de cima da mesa e tirando casacos dos encostos das cadeiras. - Quer uma água?

— Aqui parece ótimo. E sim, eu agradeço a água, obrigado, Lily.

Ela voltou com um copo servido, entregando a James com um sorriso amarelo enquanto ajustava o cabelo atrás da orelha. James achou graça de como ela não tinha perdido o hábito de sempre, e revisitou memórias de ele mesmo ajustando a mecha teimosa da lateral do cabelo dela.

— Ahm, a Mary vai sair logo menos. Mas pode começar, se quiser. - indicou a mesa de jantar, sentando-se na ponta. 

James juntou-se a ela, em uma das cadeiras ao lado. Havia tanto queria dizer e, no entanto, era como se não tivesse as palavras. Ali, em frente a Lily, todas suas culpas e arrependimentos pareciam vivos, nunca tinha se sentido tão errado e, ao mesmo tempo, com tanta vontade de acertar. Pensava na quantidade de doses de bebida que ingerira no dia do término, e como não se orgulhava daquilo.

— Perdão. Antes de tudo, de qualquer coisa que eu possa querer dizer, perdão, Lily. - começou, se esforçando. - Eu quero que saiba que não vim aqui achando que posso consertar as coisas, porque não acho que possa, mas vim porque você foi a melhor coisa que me aconteceu, e eu devo respostas e honestidade com você.

Lily assentiu, e ele entendeu que ela não planejava dizer coisa alguma, de primeira, apenas deixá-lo falar. James não tinha ideia de se isso era um bom ou mau sinal. Mas o fato foi que ele respirou fundo e começou a contar tudo que não havia contado. Contou sobre o que realmente tinha acontecido na Espanha, sobre a ameaça da rainha e o cargo que Umbridge ofertara à Lily. 

— Eu nunca imaginei que fossem se envolver na sua vida pessoal, Lily. E só o que me resta é pedir perdão. - pediu, com a expressão dolorida.

— Tudo bem, James. - ela sorriu triste. - É melhor saber as coisas. Você podia ter me contado, isso. Eu teria entendido, sabe?

— Não queria que achasse que não era pelo seu potencial. E você tinha ficado tão feliz, que eu não tive coragem de… enfim, eu errei. E sobre a Emmelin-

— Eu acompanhei as notícias. E quem diria, não é? Ela e a Lene! - Lily deu um riso, e James respirou aliviado, porque ao menos essa parte ele não precisaria explicar. - Foi muito honesto da sua parte.

— Honesto com todo mundo, menos você. E eu mesmo, na verdade. - James deu de ombros. - Foi uma escolha que eu achei inteligente, na época. Iria resolver três problemas de uma só vez, e no fim, eu criei uns cinco problemas diferentes. Um filho da puta arrogante, foi isso que eu fui.

— Acho que as pessoas erram mesmo.

— Mas eu agi como se eu fosse o único certo. Escondi as coisas de você, como se eu namorasse comigo mesmo. E as coisas que eu disse, sobre o mundo não girar em torno da gente… eu sei que isso não muda nada, e nem volta atrás, mas queria que soubesse que eu me arrependi no segundo em que falei.

A expressão de Lily era firme, mas se James tivesse que defini-la, diria que era uma mescla de mágoa e esforço de não chorar. Os lábios de Lily estavam crispados, e as bochechas meio mordidas, e os olhos dela sustentavam o olhar dele.

— De tudo, aquela conversa foi a coisa que mais doeu. Eu não queria conversar, e vo-

— Eu insisti. Eu sei.

— Eu conseguia ver que você estava se esforçando, James. Que queria resolver as coisas. Mas eu também via que estava me escondendo coisas, que tomava decisões me deixando de fora, e as pessoas estavam me atacando e me xingando sem sequer me conhecer. E você ter dito que o mundo não girava em torno de mim doeu tanto.— os olhos dela umedeceram.

“Não parecia que estávamos no mesmo nível, na mesma página. Não era ‘nós dois contra o resto’, era ‘você contra seus problemas, querendo resolver tudo’, e eu ‘no escuro, tentando me achar, e segurar um relacionamento que eu não sabia mais como funcionava’. Estava machucando antes daquele dia, antes de a gente explodir. Mas aquele dia, perdeu o sentido. Eu não conseguiria mais lidar com aquilo.”

— E você, realmente, não tinha que lidar. Eu devia ter sido sincero, conversado com você, decidido as coisas com você. Não posso saber como doeu, Lily, mas eu me arrependi todos os dias das escolhas que eu tomei. Você foi o melhor relacionamento que eu tive, e foi a maior injustiça ter submetido você ao que você passou. 

Ela assentiu, absorvendo as palavras dele, e apenas não disse mais coisa alguma. James também suportou o silêncio, que não era nada como aqueles silêncios confortáveis que romances colocavam. Era um silêncio cheio de reflexões, com cada um imerso em seus pensamentos.

— Desculpa por não ter errado com você, Lil. - esticou a mão sobre a mesa, segurando a dela em um pedido de desculpas. - Não espero que você me perdoe, não foi por isso que eu vim. Mas em nome de tudo que a gente passou, você merecia saber a verdade, e merecia que eu me retratasse. Você foi minha melhor amiga, e eu isso era tudo que eu não queria ter perdido.

Levou um tempo, mas Lily finalmente respondeu.

— Não perdeu. Você foi a melhor coisa que eu jamais imaginei ter, James. 

Os dois se olharam, com aquela sensação de que podiam se entender, e que era extremamente doloroso verem o ponto a que tinham chegado. O jeito com que a mão de James ainda estava sobre a dela, sobre a mesa, deixava claro como o sentimento dele não tinha ido embora, e Lily achava que não poderia ter sido mais explícita sobre o quanto ainda o amava.

— Você se lembra de Severo Snape? Que estudava economia comigo? - James assentiu. - Foi ele. Peter comentou com ele, mas foi Snape quem tirou as fotos na festa de Halloween, e escreveu a matéria, e vendeu a um jornal. Para ferrar você, para tentar uma chance comigo sei lá. Não foi só erro entre a gente.

James deu um riso sem emoção.

— A gente pode culpar ele, se isso for amaciar nosso ego. Mas não muda nada, no fim. Porque Peter poderia ter falado, e Snape ter vendido uma fofoca para o jornal, mas se eu tivesse sido honesto com você, se tivesse tirado a cabeça das mentiras que eu estava contando e agido como devia, então não teria feito diferença. Eu não me orgulho, Lily, mas eu sei que nosso término foi totalmente minha culpa. 

Ela não sabia que algum dia James teria a humildade de dizer aquelas palavras, mas Lily sentia a verdade com que ele assumia a responsabilidade de seus atos, e isso era suficiente para ela, naquele ponto.

— Obrigada por isso. Por ter vindo. É importante para mim.

— Meu sentimento nunca mudou, Lily. Eu não podia sumir da sua vida sem me explicar, e não nos falávamos desde que eu tinha ido embora.

— Eu senti sua falta também, James. - respondeu, porque tinha lido exatamente as entrelinhas das palavras dele, e tudo que James não tinha dito naquelas duas frases.

Ele deu um sorriso de reconhecimento, e o silêncio imperou, porque tudo mais que pudessem dizer parecia não caber numa conversa de desculpas. Lily hesitou algumas vezes, chegando a fazer menção de abrir a boca para dizer algo que não chegou a passar pelas cordas vocais, e no fim não disse coisa alguma.

— Enfim. Foi por isso que eu vim, Lily. - ele bateu as mãos na perna da calça. - Imagino que você queira jantar, eu meio que atrapalhei sua rotina. - deu um risinho, levantando-se. - Mas já estou de saída. Obrigado pela conversa… por tudo.

— Por tudo. - Lily repetiu, levantando-se também.

Soava como, de fato, o fim. Sem outros mal-entendidos, sem outras mágoas, agora estavam prontos para acabar o que acabara meses atrás, e finalmente seguir em frente. Memórias boas ficariam, e aquela era a despedida que tinha acontecido tão dramaticamente em novembro, em meio a uma confissão inesperada de Sirius, e interrompendo uma conversa cheia de gritos e choros.

Por isso, sentindo que aquele era o tipo de fim que merece o conforto do recomeço, Lily ficou na ponta dos pés e o abraçou, mas foi incapaz de dizer qualquer coisa. James ainda cheirava como sempre, e parecia uma fissura ainda mais dolorosa daquela vez, a despedida.

Ela assistiu James vestir o casaco e destrancar a porta, e quando ele alcançou o corredor, Lily não soube explicar por que, mas o chamou.

— Oi? - ele virou-se.

— Mary vai sair com Benjy. Você não gostaria de, não sei... jantar? Se você não tiver planos, ou um compromisso em Londres, claro… - seu coração batia rápido, e parecia que James estava demorando uma vida para responder. - Podemos comer no sofá, e ver um filme. Não é nada chique, claro… 

— Eu ia adorar, Lily. - sorriu, voltando para o apartamento. - Faz muito tempo que não como no sofá, vendo um filme.

Ela simplesmente sabia que James estava sendo genuíno. Ali estava o mesmo homem que, um ano atrás, tinha vindo cozinhar massa para ela, e a quem ela beijara de surpresa na porta do elevador.

Cerca de meia hora depois, estavam servindo-se, preparados para assistir ao capítulo semanal de EastEnders enquanto comiam batatas recheadas com queijo e bacon - uma das especialidades gastronômicas de Lily. Mary tinha saído há algum tempo, surpreendendo-se com o fato de James ainda estar por lá - e mais ainda por estar picando bacon -, e depois enviando uma mensagem a Lily: ‘vou querer detalhes amanhã’.

— Tem vinho gelado, você quer? - Lily ofereceu.

— Alguma coisa me diz que não é recomendado beber vinho na casa da sua ex. - James brincou e Lily riu, corando. - Mas vou ignorar e aceitar.

— Uma taça nunca tirou ninguém dos eixos. - devolveu ela.

O episódio da novela foi cheio de reviravoltas, deixando ainda mais drama sobre os eventos de roteiro que vinham se desenrolando há quase um mês. James e Lily passaram o tempo inteiro comentando as cenas, trocando ideias e conversando amenidades enquanto jantavam. Lily no sofá, James na poltrona.

— Juro, não entendo esses roteiristas! - disse por fim, rindo do final do capítulo. - Acho que sobrou sorvete…

— Mas esse jantar simples está virando um banquete! - riu James. - É uma oferta, ou só um anúncio mesmo?

— Minha casa é sua casa. - ela deu de ombros e James aceitou o sorvete. - Eu vou servir… fica à vontade.

James observou Lily levar para a cozinha a pilha de pratos que ele tinha feito, e as taças na outra mão, e se esforçou para não se distrair demais em pensamentos intensos. Lily fazia tanta falta e, ao mesmo tempo, era torturante estar ali com ela. Porque embora perto, não era acessível. Lily estava ao seu lado e, no entanto, não estava disponível, e isso era péssimo.

Enquanto ouvia a torneira da pia ligada, James levantou-se para espantar as memórias gritantemente vivas do relacionamento e passou a dar atenção às novas decorações que o apartamento tinha ganho. O armário da televisão tinha agora uma escultura de argila, que ele imaginou ser obra de Frank, que era muito talentoso com trabalhos manuais - e uma pilha de livros de história também dele.

O pequeno espelho redondo que outrora tinha ficado ao lado da porta de saída, havia sido mudado para a parede da janela, e estava riscado com marcador - ‘buscar casacos na lavanderia na terça’. Além disso, havia um porta retrato ao lado da televisão, com uma foto que tinham tirado na festa de Halloween.

James usava a armadura do Homem de Ferro - repetindo o gesto característico da mão do personagem - e tinha um dos braços em torno da cintura de Lily, que se agarrava no pescoço dele como Pepper Potts. Frank segurava a mão de Alice, fantasiados de Mario e Princesa Peach, e Mary, de Pocahontas, beijava Benjy.

Ele não tinha ideia de quem havia tirado a foto aquele dia, nem do porquê não tinha uma cópia, mas houve um sentimento intenso ao ver o retrato ali, e um arrepio repentino subiu por sua espinha.

— Foi uma das melhores festas da minha vida. - confessou Lily, fazendo James dar um salto e recolocar o porta retrato no armário. Ela riu do susto que ele levara.

— Não ouvi você voltar. 

Lily estava encostada no alisar da porta que levava à cozinha, segurando dois potinhos de sorvete de creme, assistindo James olhar a foto que decorava a sala.

— Estava só observando. - ela deu de ombros com um sorrisinho, entregando o sorvete a James.

— Também gostei muito dessa festa. - comentou, indicando o porta retrato com a cabeça - E o que você concluiu com sua observação?

Ela deu um riso. James era exatamente o mesmo James. O mesmo sorrisinho de canto de boca, ciente de que era bonito e, no entanto, ainda humilde o bastante para deixar uma das mãos nas costas, polido. James e sua mistura surreal de formalidade da realeza e atitude despojada jovial e carismática.

— Seu cabelo está cortado torto. Bem aqui. - puxou uma mecha do que seria uma franja, claramente menor do que as demais partes do cabelo dele. James riu, ignorando o rebuliço em suas entranhas.

— Sirius. Uma criança colou um pedaço de chiclete no meu cabelo enquanto eu dormia na beira da piscina e Sirius cortou fora com uma tesourinha de unha. - deu de ombros, enquanto Lily caia na risada. - Estávamos em Mônaco, na Páscoa.

— Mentira! Isso é a cara do Sirius! - ela riu, arrumando a mecha para o lado. - Quem diria… nem a realeza escapa de um cabelo com chiclete.

— Somos quase gente. - James brincou. - Claro que Sirius adorou me deixar igual a uma calopsita com esse corte.

— Sirius é minha pessoa favorita da vida! - divertiu-se - Nossa, faz tempo que eu não falo com eles. Nem Sirius, nem Remo, Lene, Dorcas… ninguém.

— Devia mandar uma mensagem… eles têm muito carinho por você.

— E eu por eles. - sorriu. - Sinto falta deles, na verdade.

— E eles sentem a sua, Lily. Eu sinto.

Escapou antes que James conseguisse conter, e ele mesmo foi pego de surpresa por suas palavras, corando assim que saíram de sua boca. Lily baixou a cabeça, sentindo o impacto daquele comentário. Não podiam fingir que não notavam a energia tensa e explosiva, disfarçada pela amenidade das piadas, que os envolvia o jantar inteiro. Todas as brincadeiras e risinhos poderiam ser flertes, se quisessem.

James focou-se em dar colheradas em seu sorvete, como que ignorando o que acabara de acontecer.

— Eu também.

Ela pode notar a cabeça de James virando-se curiosa em sua direção, uma expressão séria, atenta e cuidadosa. Comedida. Lily tinha começado, sabia que não podia apenas parar ali, agora. Sabia que as palavras escapariam, uma a uma, expondo-a e a seu coração ainda completamente apaixonado e machucado pela ausência de James.

— Acho que eu nunca… sabe? Deixei de lado.

— Isso é bom. Porque eu também não. - houve uma pausa silenciosa em que apenas se observaram. James ajustou os óculos. - Meus sentimentos nunca mudaram, Lil, nem um pouquinho. 

— Eu falei sério. Você foi a melhor coisa que eu jamais imaginei ter.  - ela insistiu, sem saber aonde aquela conversa estava levando.

— Você não foi só minha melhor namorada, Lily. Foi minha melhor amiga, minha conselheira, a pessoa para quem eu queria contar tudo. Meus sentimentos não mudaram, e eu ainda amo você o mesmo tanto que amei na primeira vez que disse isso. Mais.

Os olhos verdes de Lily estavam úmidos, brilhantes, e quando James deu um passo na direção dela, e Lily não se afastou, apenas o encarou.

— Esse é o momento em que você espera que eu me jogue nos seus braços e beije você, jurando amor eterno? - ela comentou, sem saber se brincava, se estava sendo irônica, ou apenas tentando organizar suas ideias muito perturbadas.

— Você é a pessoa mais imprevisível do mundo, eu aprendi a não esperar nada, Lil. - brincou. A mão dele deixou um carinho no braço de Lily, subindo na direção do pescoço dela suavemente. - But I can’t help falling in love with you.

James cantarolou baixinho, e Lily fechou os olhos com força, deixando as lágrimas escorrerem. Nem ela saberia explicar porque chorava. Sem precisar abrir os olhos para isso, Lily deixou uma de suas mãos subirem para a nuca de James, delicadamente sentindo o cabelo escuro e macio dele entre os dedos. 

O polegar de James tocou sua bochecha, as duas mãos firmes segurando o rosto choroso de Lily. As entranhas dela pareciam se remexer desesperadamente, agitadas como moléculas de água em ebulição, e seu coração batia acelerado. Quando James deixou um primeiro beijo em sua testa, Lily se sentiu dissolver, como se suas pernas virassem gelatinas esquecidas fora da geladeira. 

Um sorrisinho brotou em meio ao choro silencioso quando o nariz gelado de James encostou no dela, e Lily sentiu o mesmo calafrio na barriga da noite em que ele a beijara pela primeira vez, trazendo-a para casa após uma noite de cervejas e conversas no Três Vassouras. James cheirava ao perfume que ela adorava, e a boca dele exalava o ar gelado de quem, há pouco, estava tomando sorvete.

— Eu amo você, Lil. - sussurrou contra a boca dela, deixando Lily livre para tomar a iniciativa de beijá-lo.

E ela não hesitou. Suavemente, Lily beijou os lábios de James, tão macios quanto ela se lembrava.  As mãos de James segurando o rosto dela davam a Lily a sensação de estar flutuando, apenas os dois. Não foi preciso nada para que o beijo se aprofundasse, com as línguas explorando saudosas cada espaço da boca um do outro, com o gélido adocicado do sorvete presente. Uma das mãos de James sabiamente escorregou para a cintura de Lily, segurando-a firmemente ali e oferecendo uma pressão delicada que fez a garota arfar contra os lábios dele.

Foi instintivo que ela deu um leve puxão no cabelo de James, e igualmente instintivo que inclinou a cabeça, deixando o pescoço exposto. Nem mesmo tinha se dado conta do quanto sentia falta da pressão quente das mãos de James em sua cintura, ou dos lábios dele em sua pele, beijando, sugando.

Estavam caminhando, trôpegos, pelo corredor, em direção ao quarto dela. O trajeto era conhecido, os corpos eram familiares, e, no entanto, as sensações pareciam todas novas demais. A urgência completamente substituída pela overdose de sentimentos que havia rondando-os, e a necessidade de se reencontrarem ardendo como uma chama suave que queria queimar por horas.

Quando James encostou a porta atrás dele, afastou-se centímetros e observou Lily. Dos pés a cabeça, demorando-se em seus seios, que marcavam a camiseta. Lily sentia o desejo pulsando e, ao mesmo tempo, sentia a vagarosidade com que queria se grudar em James, não deixá-lo ir embora. Era tão surreal que parecia um sonho, e Lily não queria acordar, se ver só, outra vez, com sua saudade e sua ânsia por James queimando as entranhas.

— O que você quer de mim, James Potter? - perguntou em um murmúrio, sentindo que queria beijá-lo até não ter mais ar.

— Tudo que você quiser. Tudo que você quiser que eu faça. James se aproximou dela, beijando a lateral do pescoço alvo, enroscando sua mão no cabelo ruivo de Lily e levantando-o no topo da cabeça, ela segurou um gemido. - Todos os beijos. 

Desceu a trilha, deixando a boca passear por toda a extensão do pescoço dela, em direção ao colo exposto no decote.

— Todos os toques. Tudo que quiser, Lil.

Lily segurou firme na barra da camisa dele e retirou, levantando os braços para que James fizesse o mesmo com ela, e então retomou o amasso que tinham começado. As peles quentes encostando-se, queimando pelo contato que não sentiam há meses. Era o conhecido desconhecido, e Lily se sentia novamente como na primeira noite em que tinham dormido juntos: curiosa, ansiosa, ardentemente desejosa e, ao mesmo tempo, vagarosamente paciente.

A pressão do baixo ventre de James o fez soltar um gemido quando ela o pressionou contra a parede, ajustando seu quadril na altura do dele, e Lily o provocou com comentários que se limitaram a sussurros em seu ouvido, mordiscando o lóbulo de sua orelha. As mãos de James agarraram firmemente em sua bunda, apertando Lily contra ele como se quisesse fundi-los em um só. Ela arfou e passou a dar a atenção que desejava ao pescoço de James, exposto e tensionado, com a musculatura tão rija quanto Lily imaginava que estivesse outra parte da anatomia dele.

Os toques eram firmes, embora nada violentos, e davam a sensação de certeza e segurança de quem se conhecia, se mesclando à timidez cuidadosa que a ausência de meses havia provocado entre eles. Lily achava que era o melhor dos dois mundos.

Sua virilha queimava, e quando James, segurando-a pelo encaixe das coxas, levantou-a, Lily não perdeu tempo em enroscar as pernas na cintura dele, sentindo uma pressão volumosa roçar entre suas coxas. James deitou-a na cama, pressionando seu corpo inteiramente contra o dela, e quando amassos se tornaram insuficientes, Lily assistiu-o despir os sapatos e a calça, ela mesma descendo o zíper de sua saia, convidativa a que James removesse quando desejasse. Não demorou.

O rosto de James achou seu lugar no vale entre os seios de Lily, e então percorreu demoradamente o trajeto, dispondo toda atenção e cuidado, até o meio de suas pernas, removendo qualquer peça de roupa sobressalente e dedicando-se a estimular o prazer da garota, que gemia e implorava por mais a cada vez. 

O encaixe de seus corpos era natural, conhecido, e os estímulos foram acontecendo com a familiaridade cuidadosa de quem sabia exatamente o que fazer para proporcionar as sensações desejadas no outro. James gemia baixo contra seu ouvido, deixando Lily livre para ditar a intensidade, movimentando-se contra o corpo dele no ritmo que quisesse. Não importava muito, qualquer escolha de Lily o excitaria à loucura, então James deixava a ela o direito do comando. 

— Argh! Você é perfeita, puta merda! - arfou ele pouco antes de anunciar que estava chegando em seu limite.

Quando terminou, estavam suados, arfantes, e, no entanto, não poderia ter sido mais calmo e natural. Havia a sensação de segurança e cumplicidade, e se tivesse sido a última vez, Lily sabia que tinha sido a melhor despedida que poderia ter acontecido. Tinha sido além de uma transa e, por mais irônico que pudesse soar, tinha colocado os sentimentos de Lily exatamente no lugar. Não poderia amar outra pessoa como amava James, e não era um exagero juvenil, mas se tudo terminasse, Lily apenas seria eternamente grata e feliz. 

Podia aceitar o fim, se viesse, porque agora tinha certeza de onde estava seu coração.

James puxou-a para deitar-se em seu peito, aninhando-a e então beijou sua testa, acariciando seu cabelo enquanto diminuiam suas respirações ofegantes. O calor dos corpos era deliciosamente calmante, e Lily ia se embalando em direção ao sono, completamente satisfeita.

— Você não existe, Jay.

***

Quando Lily acordou no sábado de manhã, o sol estava incidindo exatamente sobre a cabeceira de sua cama, porque a persiana tinha ficado aberta, e Lily se incomodou com a luminosidade. 

— Ahrg, o sol! - resmungou esfregando os olhos. Ao seu lado, James riu deixando o celular de lado.

— Bom dia, querida. - sorriu, virando-se para ela e deixando um beijo no cabelo ruivo de Lily. O torso nu de James, recostado contra a cabeceira da cama, foi o lugar escolhido para Lily se recostar. - Eu não quis acordar você.

— Acordou há muito tempo? - perguntou, fechando os olhos de volta e aceitando o carinho de James em seu cabelo enquanto desenhava círculos carinhosos com a ponta do dedo sobre a barriga dele.

James fez um murmúrio de que não, e ficaram ali, aninhados, curtindo a companhia um do outro, sem trocar muitas palavras. Ele segurou o rosto de Lily e beijou-a profundamente, de um jeito preguiçosamente carinhoso. Era bom, viciante, e Lily poderia se entregar àquilo facilmente.

Era fácil esquecer toda a conversa final da noite anterior, dar vazão ao seu desejo de colocar cada perna de um lado do quadril de James e provocá-lo, repetindo os sensações da madrugada e, no entanto, Lily não queria se enganar. Ela sabia bem a distância de mundos em que estavam.

Trocaram amassos preguiçosos por muito tempo, conversando amenidades. Como se o mundo não existisse fora daquele quarto, como se tudo se resumisse a eles, os lençóis quentes e seus corpos se roçando, pele a pele.

— O que acontece agora? - escapou de seus lábios a pergunta que nem sabia que queria fazer.

— Como assim?

Lily sentou-se de lado na cama, o lençol preso debaixo de seu braço deixando a parte superior de seu seio quase aparente, mas Lily estava séria e concentrada demais, então James reprimiu sua brincadeira. Era como se a garota pudesse chorar, se se descontrolasse.

— Eu amo isso. Amo você, amo a gente. Mas o que vem agora, James? Você volta para Londres, eu fico aqui… 

— O que você quer que aconteça, Lil? - ele colocou uma das mãos na lateral do rosto de Lily, e ela negou com a cabeça.

— Não é justo me colocar para decidir, nã-

— Lil… eu quero você. Eu quero a gente, só isso. Ponto.

— A gente sabe que não é assim, Jay…

— Poderia ser. Pode ser… tem uma coisa que eu quero fazer, e eu fazend-

— Você não vai fazer nada por mim. - Lily o interrompeu para adverti-lo. - Ouviu? Não vai fazer nenhuma besteira, decidir nada por mim.

— Não é por você, é por mim. Você me fez perceber, sim, mas é uma decisão por mim mesmo, antes de tudo. - ele explicou. - Se você quiser, eu quero você comigo. Nessa escolha que eu vou fazer.

Lily o olhou, tentando ler sua expressão. James estava resoluto. Não daquele jeito arrogante, de quem vai bater de frente e impor o que fazer, mas daquele jeito determinado e seguro de quem se planejou e está certo de como agir. A expressão resoluta de um líder nato.

— Eu não estou feliz, Lil. Tenho mentido para mim mesmo. Mentido há meses, talvez anos, não sei. Não nasci para isso. Eu não quero o trono, não quero ser rei. Não quero entrar na história como outra pessoa que não fez nada além de segurar um título idiota… - ele falava emocionado. - Tenho sido quem eu não sou, e vivido a vida de outra pessoa. As duas únicas certezas que tenho agora é que não posso continuar como estou, e que quero você. Como eu disse, eu não vim aqui esperando que você me perdoasse, nem reatar, nem nada… aconteceu. Eu juro! - riu da expressão dela. - E eu estou amando. Por isso, se você quiser, me quiser, quiser tentar, recomeçar… eu quero. Eu quero muito! Quero a gente, quero a minha vida.

Ela sorriu, com os lábios com os olhos, e beijou James com tudo que sentia. Era intenso e ardia de um jeito bom. Não parecia real e, no entanto, era verdadeiro o bastante para gelar o estômago, lembrando à Lily que não viviam em uma ficção. Havia burocracias, e vida adulta, contas a pagar e empregos a procurar, obrigações, contratos e dívidas de faculdade, uma série de coisas muito reais, Não Reais, mas reais. Ela não podia se dar ao luxo de jogar tudo para o alto por James, por mais que quisesse.

— Eu preciso me formar, eu quero isso. - James assentiu, beijando o dorso da mão dela. - Mas também quero tentar. De verdade, quero muito. Eu também quero a gente.

— Você entendeu, não entendeu? O que eu quero faz-

— Entendi. - disse, séria. - Você tem certeza? Porque não tem como voltar atrás, e se for por mim, James, eu proíbo você.

Ele negou com a cabeça e beijou a mão dela.

— Não, não é. Eu garanto, Lil. Meus pais conversaram comigo, minha avó… mas eu queria que você soubesse. Você abriu muito os meus olhos, de verdade. - Lily sorriu para ele. - Você ainda vai me querer, mesmo sem poder mais ser Rainha da Inglaterra?

Lily deu uma gargalhada sonora.

— Ah, não! Assim não! Será que Sirius e Remo aceitam um trisal? Rei e Rainha consorte do Rei da Inglaterra.  

James riu da sugestão, balançando a cabeça e beijou Lily, puxando-a contra si em um abraço apertado.

— A gente merece um café da manhã fora. - beijou uma bochecha. - E um banho juntos. - a outra. - E outro round de ontem de noite. - a ponta do nariz de Lily, que ria.

— E estudar para as provas finais.

— E estudar para as provas finais. - ele repetiu. - A cada questão certa, um beijo.

Lily caiu na gargalhada, descansando a cabeça no ombro de James e comprimindo seu rosto contra um travesseiro.

***

— Para ir para o trabalho hoje, eu decidi pedir ajuda a um amigo. Ele disse que estaria me esperando na porta de casa, então vamos lá buscá-lo.— dizia a imagem de James Corden na televisão.

— Tá começando! - gritou Sirius - Venham logo!

— Alguém precisa trazer a comida, né, Almofadinhas! - resmungou James, vindo da cozinha do Apartamento 1A do Palácio de Kensington, mais conhecida como a residência oficial do Duque e da Duquesa de Norfolk - os pais de James.

Ele trazia alguns baldes de pipocas, e Remo vinha atrás, com outros. Dorcas empurrava um carrinho com bebidas, e Marlene vinha ao telefone, em uma chamada de vídeo.

— Vai começar agora, amor. A gente vai desligar.

— Eu queria ver! - resmungou Emmeline pela ligação, mas achando graça, e depois deixando beijinhos para todos, antes de desligar.

A edição do programa soltou aplausos quando, pela porta do carona, James - Potter, dessa vez. - entrou na Range Rover de James Corden, para o tão famoso Carpool Karaoke, o quadro de conversas e entrevistas do programa.

Aquela tinha sido a decisão conjunta da família Real e da assessoria de imprensa de James para, junto à nota oficial lançada pelo Palácio de Buckingham, anunciar a renúncia de James Potter, o Duque de Cambridge, a seu lugar como segundo na linha sucessória ao trono inglês.

— Credo, muito gostoso nessa roupa! - berrou Marlene, arremessando uma almofada em James, que riu, se protegendo com o braço.

Fazia cerca de três semanas que a nota de renúncia de James tinha sido publicada, no final da semana seguinte à ida de James para Cambridge, em que se acertara com Lily. A gravação da entrevista para o The Late Late Show, com James Corden, acontecera na semana seguinte.

As provas de Lily tinham acabado há cerca de uma semana, e James havia ido buscá-la em Cambridge para levá-la a Reading, na casa dos pais, onde também desejava se apresentar, formalmente, como namorado de Lily. Fora uma cena, mas tirando mortos e feridos, tudo correra bem. Tão bem ao ponto de, por convite da própria Vitória Potter, Lily ser chamada a jantar com a família de James no Palácio de Buckingham naquele fim de semana.

Apesar das piadinhas ácidas da rainha - as quais Lily educadamente rebateu com um sorriso cativante e respostas inteligentes. -, Euphemia e Fleamont haviam adorado Lily, agora finalmente conhecendo-a sem fachadas ou mentiras. James também organizara tudo para que Lily ficasse hospedada em Kensington, e uma vez que Dorcas chegou em Londres no domingo pela manhã, todos eles se organizaram em um dia de passeios e diversões, aproveitando o verão londrino. 

— Pontas, você canta muito mal, sério! - implicou Remo, tomando um gole de sua bebida. - Olha isso!

No carro, os dois James cantavam uma música qualquer, que claramente ficava muito melhor na voz de Corden do que na de Potter.

— Então quer dizer que você agora não é mais príncipe.— brincou James Corden.— Perdeu a coroa.— o trocadilho com a série da Netflix cuja nova temporada estava em alta divulgação fez James rir.

— Não, não é assim. Eu abdiquei, sim, da linha sucessória, mas continuo sendo príncipe. — explicou, com um sorriso.

— Nada de Rei James então?

— Nada de Rei James.— James ajustara os óculos e arrepiara os cabelos, enquanto James Corden mudava a música.

Passou a tocar Good Old-Fashioned Lover Boy, outra música que James não foi espetacular na cantoria, justificando com um riso que sua habilidade era o piano, não o canto. O apresentador riu, e o mesmo fizeram eles, que assistiam.

— Papelão, James, papelão! - riu Dorcas, enchendo a boca de pipocas.

— Ah, não foi tão ruim, vai! - Lily defendeu-o, ao que James esmagou-a com beijos.

— Eca! Eu sou menor de idade, não façam isso na minha frente! - Sirius resmungou.

— Já que estamos falando de Good Old-Fashioned Lover Boys,— continuou James Corden, na TV. — você está comprometido, não é?

— Isso mesmo.— James concordou com a cabeça.

— E como… a história, quero muito saber! — riu o apresentador.

— Bem, uhm… Lily e eu nos conhecemos através de amigos, e nos aproximamos. Surgiram alguns rumores, as pessoas foram muito cruéis

— Na época em que você estava com Lady Emmeline?

— Isso, isso. Quando estava com Emmeline. Foi, uhm… foi desconfortável e desgastante para todos. Nos afastamos, Lily e eu, e nos reencontramos em março… tem sido uma caminhada. — James sorriu.

Dorcas e Marlene fizeram murmúrios de empolgação, e Lily corou, colocando a cabeça contra o peito de James, que ria.

— Emocionado!

— Shiu, Almofadinhas! - James retrucou.

— E as reações? Lily não é nobre.

— Ahm, estão sendo boas, até então.— os dois James riram. — Isso não fez relevância, entre nós, e nossas famílias reagiram tranquilamente. Apesar da surpresa, claro. Quer dizer, já saíram coisas na imprensa e tudo, mas as fotos oficiais de anúncio ainda vão ser tiradas, porque Lily está se formando em Cambridge e, bem, estudos primeiro.

— Com certeza.— comentou James Corden. — E quanto à Emmeline? Porque foi tudo muito rápido, não foi? Como ela reagiu?

— Emmeline e eu somos ótimos amigos, e nos respeitamos e adoramos. Fiquei super feliz por ela com Marlene, e ela teve a mesma reação comigo e Lily. As duas, inclusive, vão se conhecer logo em breve.— James explicou

— Você falou que as pessoas foram cruéis. Como acha que vão receber esse relacionamento?

— As pessoas vão falar sobre, claro, porque todo mundo sempre tem uma opinião sobre algo. Mas a vida pessoal de alguém é sempre muito além do que se vê publicamente, e isso é frequentemente esquecido. Existe alguém de verdade do outro lado, ouvindo e vendo tudo que é falado sobre ele

— Sim, sim. Com certeza! É de um ser humano que estamos falando, não é? — comentou o apresentador.

O som do carro passou a tocar King, e dessa vez a voz de James - o príncipe - combinou bem. Sirius fez piadas, mas a entrevista já estava chegando ao fim, e todos estavam concentrados.

— E quais os próximos planos? Agora que não está mais na linha sucessóri-

— Agora que não sou mais futuro rei.— James brincou.

O apresentador riu, repetindo o que James dissera. Lily chamou o James de arrogante, e Dorcas caiu na gargalhada.

— Agora que não é mais futuro rei, o que devemos esperar do Duque de Cambridge?

— Muitas coisas. O Duque de Cambridge tem vários planos para tirar da gaveta, ideias a executar. As aulas em Cambridge retornam em setembro, e eu estarei de volta, para me formar. Quero dar atenção à minha família, meus amigos, e claro, da comunidade.

— Você realmente gosta disso, não é?

— Adoro! Estar entre as pessoas, conversar, conhecer, ajudar na linha de frente. Minha vida é sobre servir, sobre trabalhar com pessoas, é o que faz sentido, e a verdade é que vai ser uma grande nova fase. Estou super animado. 

O sorriso que brilhou no James da televisão se refletiu no James real, e Lily sentiu-se inflar de orgulho, sorrindo para ele. Os demais assistiam, contentes e satisfeitos com a boa resposta de James, apoiando-o.

A última música que James e James cantaram era The Nights, mas ao invés de assistir ao final do programa, James, Sirius, Lily, Remo, Marlene e Dorcas preferiram ficar cantando a música juntos, brincando. Sirius fingia que tocava a guitarra, balançando o cabelo, Dorcas e Marlene cantavam a letra aos berros, uma para a outra, enquanto Marlene ligava para Emmeline em uma chamada de vídeo.

De repente, havia virado uma festa privada, Sirius abriu uma garrafa de uísque e Dorcas colocou música para tocar. Depois de tudo, chegava o final feliz que eles tinham esperado, a felicidade, os planos bons, os amigos.

As memórias que quereriam manter vivas e acesas eternamente.

***

— Evans, Lily. - chamou o cerimonialista.

Lily subiu ao palco com a beca preta balançando, e o capelo preto contrastava gritantemente com seu cabelo ruivo. O canudo de formatura foi colocado em sua mão pelo reitor, e Lily posou para uma foto com ele. Houve uma salva de palmas, e um assobio. Em um lugar do meio, James a ovacionava de pé, ao lado dos pais de Lily, Sirius, Remo, Dorcas e Marlene, que tinham vindo a Cambridge prestigiá-la.

Alice, Frank, Mary e Benjy também receberam seus diplomas naquela manhã, e houve uma overdose de fotos de eles todos juntos, jogando os capelos para o alto, orgulhosos.

— Parabéns, meu amor! - comemorou a mãe de Lily. - Eu e seu pai estamos muito orgulhosos.

O senhor Evans entregou uma caixinha com um anel de formatura para Lily, e calçou o anel no dedo dela, que se emocionou.

— É lindo! Obrigada!

Nenhum dos dois pretendia ficar para as celebrações dos jovens, porque a comemoração em família seria com um jantar na noite do dia seguinte, na casa dos Evans em Reading, então os pais de Lily apenas tiraram uma foto e se despediram.

— Minha jurista linda! - James surgiu com um generoso buquê de lírios. - Para a melhor.

Lily jogou-se nos braços dele, ignorando as flores em um primeiro momento, e James a rodou no ar.

— Estou morto de orgulho, Lil. Não sabe o quanto. - sussurrou, e Lily o beijou, sorrindo tanto que chegava a doer suas bochechas.

— Sem querer atrapalhar, mas atrapalhando de propósito… eu queria parabenizar a ruiva também, Pontas. 

Lily riu, recebendo abraços de congratulações de todos os amigos que James e a realeza tinham lhe dado. Sirius e Remo foram apresentados a Benjy - que quase teve um acesso nervoso - e logo estavam todos, em um grande grupo, se organizando para irem almoçar e, com sorte, descansarem um pouco, porque a festa de formatura prometia durar muito naquela noite.

— Tira uma comigo! - pediu Lily, puxando James pela mão para tirar uma foto com ela, ainda com as vestes de formatura.

Eles sorriram e fizeram poses variadas, James sorrindo bobamente orgulhoso em todas elas.

— Eu amo você. Até a lua e de volta, Jay. - ela murmurou, os olhos brilhando, antes de beijá-lo. - Obrigada por tudo.

— Ruiva… cada segundinho com você, cada um, vale a pena a vida toda. - sorriu, genuíno. - Essa vida incrível com você, eu quero cada pedacinho, querida.

— Que bom, porque eu também. Deus me proteja dessa decisão, mas eu também.

— Deus salve o príncipe, e a princesa também. - ele brincou dando uma piscadinha maliciosa, e Lily caiu na risada, antes de um Sirius impaciente avisar que estavam apenas esperando eles dois.


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Notas finais do capítulo

Primeiro, um beijo aos corajosos que se aventuraram em 12k. Eu aceito comentários, viu? Mesmo que me xingando hahaha

Ah, uma advertência! A intenção não foi, de forma alguma, criar um arco de redenção para a Vitória, até porque nunca houve um 'vilão' na nossa história. Não acredito em personagens mocinhos e outros bandidos, mas em personagens humanos, com erros e acertos. Assim, a relação dela com o James não é perfeita, mas humana, e a ideia sempre foi explicar (embora não justificar) as decisões dela, como rainha, pessoa, e frente aos deveres para com a Coroa (e todos as regras da monarquia). Lembrem, é uma obra ficcional, e não expressa qualquer opinião sobre a real Família Real Inglesa, embora se inspire em alguns episódios dela.

É isso, xuxus! Vejo vocês no nosso grand finale, o epílogo! Beijooos ❤❤❤