God save the Prince escrita por Fanfictioner


Capítulo 20
Volta ao mundo em 120 dias


Notas iniciais do capítulo

A um capítulo e um epílogo do fim, anuncio que VOLTAMOS!
Nossa história deu um salto gigantesco temporal, como vocês verão, mas estou tão feliz e orgulhosa de chegarmos nessa reta final.
Não vou me alongar porque sei que todos estão curiosos para saber o que aconteceu com Lily e James, mas gostaria de deixar o aviso de que, até o fim do mês, nossa fic acaba. O capítulo final e o epílogo vão sair juntos, no mais tardar em duas semanas, então vocês fiquem ligados que nossa despedida Jily está chegando - não é um adeus, é um até logo :))).

Obrigada pela paciência de vocês, e por todo o amor no capítulo passado.
Boa leitura!



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As semanas que antecederam os feriados de final de ano foram extremamente ocupadas e deprimentes. James não se lembrava da última vez em que tivera tantos compromissos reais, e apesar de as obrigações ocuparem 90% do seu tempo, naqueles momentos sozinhos e silenciosos antes de adormecer, os arrependimentos e a saudade de Lily o atingiam em cheio. Depois da segunda semana de sofrimento pelo término, James se perguntava se algum dia aquela dor passaria.

— Eu sou patético!

— Sim, você é sim. - retrucou Sirius pela chamada, dando risada da cara dele. - Mas é um patético por ser gado demais, então acho que é quase perdoável.

— Você não vem mesmo para o Natal? - James perguntou, sentindo que se Sirius voltasse para Londres, para o feriado, uma parte de seus problemas iria embora.

— Euph e Flea acham melhor não. Mas vocês vêm para o Ano Novo, não vem?

— É o plano… vai ser um saco esse jantar de Natal. - resmungou James, jogando-se na cama. - E Dorcas já disse que vai passar com a família da mãe, Lene não foi convidada…

— Vai jantar na mesa do adultos, Pontinhas. - implicou Sirius, tentando animá-lo. - Ah, qual é! Emme vai estar aí, e Aluado também. Saiam vocês, deve ter alguma festa de Natal nessa cidade! Vão beber, dançar um pouco… 

James deu um sorriso frustrado, porque um mês atras, seus planos para o Natal envolviam filmes e biscoitos confeitados na manhã do dia 25, enquanto abria presentes com Lily e usavam moletons bregas e iguais, num clichê de casal.

— Deve ter algum lugar que aceite um príncipe deprimido, uma princesa lésbica e o namorado do Duque exilado no Canadá. - brincou, fazendo Sirius dar uma gargalhada.

— Uma princesa lésbica espanhola entra em um bar com o namorado falso e o amigo que namora um Duque expatriado e pede um conhaque. - respondeu ele, como se começasse uma piada. - Quero fotos desse evento! 

— Vou cuidar para ninguém dar em cima do Aluado. - James deu uma piscadinha marota.

— Pode deixar que deem em cima dele, eu me garanto. Quando o néctar é bom, a abel-

— Informação demais! - gritou James, interrompendo Sirius e rindo. - Não quero os detalhes sórdidos, obrigado. Tenho um evento com granjeiros de Hastings e Dover. E vamos gravar algumas cenas para um especial de Natal, cozinhando uma ceia para a pastoral de moradores de rua, na St. Paul’s. 

— Pontas cozinheiro ataca novamente. - brincou Sirius, relembrando quando, dois anos antes, James havia sido o ‘host’ do especial de Natal pelas cozinhas do Palácio de Buckingham, cozinhando alguns dos pratos da ceia junto com a mãe e a avó.

Uma memória inoportuna das noites cozinhando com Lily, no apartamento dela em Cambridge, invadiu a consciência de James, e ele fez um esforço em não transparecer que ficara mexido com a lembrança. 

Os compromissos reais duraram até a véspera da véspera de Natal. James acompanhou a entrega anual das árvores de Natal que a rainha dava à Abadia de Westmingster e à Catedral de St. Paul; Emmeline chegou à Londres na sexta-feira que antecedeu o feriado, e no sábado pela manhã, ela, James e Lady Euphemia foram às compras de Natal em Regent Street e Oxford Street. Chovia torrencialmente, e quando finalmente conseguiram chegar de volta ao palácio, lotados de numerosas caixas de presente, já era hora do chá. 

O Natal foi celebrado na Sadringham House, em Norfolk, e, além da Rainha, do Duque e da Duquesa de Norfolk - os pais de James -, e dele próprio, tinham sido convidados: o Conde e a Condessa de Northamptonshire, além do filho Sir Remo Lupin, a Princesa da Espanha - Emmeline Vance - e Andrômeda e Edward Tonks.

A véspera foi um dia ameno e para jogos de tabuleiro dentro de casa, pois choveu o dia todo, e a rainha fez seu tradicional pronunciamento de Natal na Rádio BBC, após o jantar. Cedo no dia de Natal houve a missa na igreja de St. Mary Madgdalene, onde James fora batizado, seguido de um almoço farto, então trocaram presentes na sala de chá, e no fim do dia entregaram os puddings de cada um dos membros de staff da família Real, acompanhado de um cartão.

— Sua animação é contagiante, James. - brincou Emmeline após o jantar, enquanto todos socializavam na sala menor.

— Jura? Que bom que o esforço está valendo a pena. - ele devolveu um sorriso irônico, que fez Emmeline rir e deixar um carinho na mão dele.

— Sinto muito… de verdade. Sei que sente falta dela.

— Vai passar. - ele retrucou após um tempo de silêncio, suspirando fundo. - Alguém anima jogar Monopoly? Vovó? Uma partidinha de Monopoly?

Ele implicou, e a Rainha revirou os olhos para James, fazendo-o rir. Se havia um jogo que Vitória Potter não jogava, era Monopoly!

No fim, os dias até o término do ano voaram, e a queima de fogos para a virada do ano em Toronto foi excepcionalmente bonita. James conseguiu se distrair e, na companhia de Sirius, passeou por lugares novos e desconhecidos em solo canadense, além de ter feito um sobrevoo pelo lago Ontário e a CN Tower em um monomotor pilotado por Sirius.

Uma vez que sua faculdade estava trancada, James se permitiu mais alguns dias de férias no Canadá, com a promessa de que estaria de volta em Londres a tempo para os eventos beneficentes que devia comparecer com a avó e o pai, perto do fim do mês.

A companhia de Sirius - que James descobriu ter muitas horas livres semanais, já que só tinha prática de voo duas vezes na semana, e faria os exames para a carteira definitiva no fim de fevereiro - e os vários passeios e programações alternativas pelas geladas terras canadenses deram a James algum novo ânimo. Longe da Inglaterra, com o melhor amigo, algum tempo livre e a oportunidade de fazer o que estivesse com vontade, James começava a conseguir, mais um mês depois do abruto e traumático término com Lily, retomar um fôlego para seguir em frente.

Não era como se não doesse mais. Pelo contrário, doía o mesmo tanto - talvez até mais, porque a medida que o tempo passava, James se via entendendo cada vez mais a sequência de erros o que o tinham levado ao término -, mas James conseguia perceber que, eventualmente, ele precisaria continuar a viver.

Precisaria voltar a rir com os amigos, e sair para pubs, ter uma vida com socialização, como havia antes de Lily, e durante o tempo com ela. Lily fazia falta como urelacionamento com ela. A falta de Lily era sentida como um membro amputado, e várias vezes por dia, embora cada vez menos, James se pegava olhando o contato dela no celular, com os dedos balançando sobre o teclado, intencionando escrever uma mensagem perguntando como ela estava.

Não teve coragem de fazer isso uma vez sequer.

No entanto, as memórias boas também vinham cada vez mais frequentemente, e assim como alguém percorrendo os estágios do luto, James conseguia ver uma pequena luz de aceitação. Havia, sim, um arrependimento gigantesco sobre as escolhas ruins que fizera, e toda a responsabilidade que ele tinha sobre o namoro ter acabado. Durante o tempo em Toronto, James conversou com Sirius sobre todos aqueles meses passados, sobre a opinião do primo no que ocorrera, e o entendimento de suas falhas no relacionamento doeu.

Doeu tanto que James chorou por uma noite toda, com raiva de si mesmo, e culpa pelo que fizera Lily passar. 

Então, depois disso, ele concluiu que não podia continuar vivendo como estava. Ao menos, não continuando com as mentiras que tinham levado a melhor fase de sua vida ao fim.

***

A eleição das vagas para a Câmara dos Comuns aconteceria no final de fevereiro, e se esperava que, até a segunda semana de março já se soubesse quem seria o Primeiro-Ministro. A atual primeira-ministra, escolhida como representante de Estado pelo mesmo partido a que Alastor Moody, Ministro do Interior, tinha uma sólida e consolidada carreira na política britânica. Tinha sido eleita para dois mandatos na Câmara, depois fora prefeita de Londres por oito anos consecutivos, e então, primeira-Ministra.

E, no entanto, nada disso estava sendo suficiente, segundo apontavam as estimativas, para que seu partido, o Partido Conservador, conseguisse um bom resultado nas eleições. Embora, diretamente, a Rainha, ou qualquer membro da família Real, não devesse se envolver, James notou como, ao longo do mês que antecedia a eleição, Vitória estava com a agenda tremendamente mais cheia.

A etiqueta de compromissos nobiliárquicos obrigava James a comparecer a eventos e comicios das duas maiores candidaturas: as do Partido Conservador e as do Partido Trabalhista, e suas semanas desde que voltara de Toronto estavam cheias de eventos beneficentes, conversas e almoços com associações e sindicatos, e reuniões eleitorais.

James sentiu nojo de muito do que viu.

O discursos dos candidatos pelo Partido Conservador não só o revoltavam como o assustavam. Havia uma predileção por culpar imigrantes e refugiados pela crise na balança econômica e, no entanto, a maioria das propostas tratava aumentar o teto de gastos e investimentos do Estado, sem planos para recuperação ou equilíbrio comercial. E a seguridade social passava, quase sempre, longe da preocupação dos candidatos.

A maior parte das reuniões do Partido Trabalhista, porém, sua avó costumava desobrigá-lo a ir. Geralmente de última hora, e quase sempre sem uma alegação justa. Mas James sabia que era uma tentativa da Rainha de afastar a imagem dele da oposição, dada toda a polêmica envolvendo o relacionamento com Lily vazado na imprensa - e toda a dúvida sobre o caráter de James, que supostamente estava traindo a Princesa da Espanha - , o noivado contraído com Emmeline e o anúncio de Sirius sobre sua sexualidade.

A vida e o nome de James nos últimos meses já eram, por si só, uma ode ao partido de centro-esquerda e, considerando o cenário, a Rainha preferia não arriscar. E foi também por isso que, buscando avivar ainda mais o espírito nacionalista e pró-monarquia, Emmeline foi convidada a vir á Londres para o Valentine’s Day. Afinal, a história do relacionamento de James e Emmeline era uma dicotomia popular gritante. Quem gostava, amava, e quem não gostava… bem, quem não gostava, odiava!

— Lembra da nossa conversa quando eu tava em Toronto? - James perguntou, sentado polidamente no sofá, ao lado de Emmeline, após o jantar na véspera do dia dos namorados.

— O que tem? - Emmeline respondeu baixinho, lembrando-se da sensibilidade do assunto.

— A gente devia considerar mais a sério essa coisa de anunciar um término.

— Já cansou de mim, Jimmy? - ela brincou, fazendo James rir. - Brincadeira. Sim, eu também acho. Anda sendo um saco ficar respondendo perguntas sobre noivado, e festa de casamento… as pessoas são um pé no saco. O que quer fazer? Ah, aceito sim, obrigada!

Ela pegou uma taça com espumante de uma bandeja que um lacaio muito bem vestido passara ofertando, devolvendo a ele um sorriso amplo em agradecimento.

— Pensei em um vídeo, com a gente junto e tal… mas não sei.

— E que tal uma nota, assim como foi para assumir tudo? Não sujamos as mãos, não aparecem rostos… e a gente pode colocar que conversamos sobre, e tomamos a decisão durante essa viagem. Culpar as agendas…

— Culpar as agendas é ridículo, Emme! - riu James, e ela o acompanhou, ambos dando goles de suas taças - Eu, literalmente, larguei a faculdade. Não dá, exatamente, para dizer que eu ando sem tempo para você, né? Eu ando trocando minha noiva espanhola maravilhosa e por quem eu ando apaixonado por reuniões super excitantes com Ministros, uau!

Emmeline não conseguiu reprimir uma gargalhada alta, e chamou a atenção de algus convidados da noite, fazendo James sorrir para ela, constrangido pela cena, mas se divertindo como não fazia há muito tempo. Dois convidados da Rainha vieram até eles, acompanhados da mãe de James, com animada intenção de conversar.

— Código Vermelho, código vermelho! - sussurrou Emmeline em brincadeira, fazendo James morder a boca para reprimir o riso.

— Anda, finge que é hétero e me ama! - respondeu ele, igualmente murmurando, e Emmeline transformou a gargalhada que queria dar em um risinho contido e principesco, dando um tapinha contido na perna do terno de James.

— Ah, querido, você é ótimo! - disse, assumindo seu papel de atuação. - Boa noite, senhores.

James levantou-se, para apertar a mão dos recém-chegados.

— Senhores, essa é Lady Emmeline, Princesa das Astúrias, minha noiva. Mamãe, você já conhece Emmeline.

— É claro que conheço. - Euphemia sorriu carinhosa. - Falávamos de Cambridge, James. O sr. Whitham formou-se no King’s College, também.

— Ah, jura?! - respondeu James, fingindo interesse e tentando ignorar o solavanco de saudades da faculdade, dos amigos, e de Lily.

A noite seguiu, com muitas conversas desagradáveis e fingidas, que James certamente preferia evitar, mas quando finalmente ficaram livres para irem se deitar, James simplesmente anunciou à mãe, como se não fosse nada.

— Emme vai subir comigo, viu? - a Duquesa sorriu com educação, e fez o infame comentário de que tomassem precauções, fazendo James corar e dar um sorriso maldoso. - Claro, com certeza.

— Você é péssimo, James Potter! - riu Emmeline, assim que ele fechou e trancou a porta do quarto. - O que estão pensando agora?!

— Deixa que pensem… - ele deu de ombros, achando graça. - Vou pedir um chá, você quer?

— Ingleses. - ela revirou os olhos, fazendo James rir. - Quero. Você parece melhor, James… ou menos ruim, ao menos.

— Melhor é um termo bem forte. Mas não é como se Lily fosse abrir a porta do meu quarto, ou mesmo querer me ver, então… o que fazer, né? E a vida precisa continuar. - respondeu, interfonando para a cozinha, para pedir duas xícaras de chá.

— Honestamente, eu acho isso uma merda. Você tá mal, teve um término ridiculamente cruel, e precisa ficar sorrindo do meu lado, com um monte de compromissos.

— Deveres são deveres…

— Não deviam ser. Que deveres são esses que desumanizam a gente? Tem horas que eu sou queria… sumir! - ela fez um gesto de explosão com as mãos, como se fosse sumir por mágica, e James sentou-se ao lado dela, deixando que Emmeline deitasse a cabeça em seu ombro. - Não tem jeito mesmo? Com a Lily, eu digo.

James silenciou um momento. Ele vinha evitando pensar em Lily mais do que o necessário - e do que a saudade o forçava, com lembranças que machucavam -, mas a verdade era que, desde a fatídica quinta feira em que Lily o expulsara, aos gritos, de seu apartamento, James nunca mais tinha revisitado seus sentimentos sobre se aquele namoro teria uma segunda chance.

Era óbvio que não, e era dolorido aceitar isso. Lily não queria vê-lo, e certamente não quereria ouvir nada que James pudesse ter a dizer, tanto de explicações - as quais ela merecia - quanto de desculpas - que ele devia. Portanto, não fazia muita diferença, para ele, remoer como se sentia. Não importava o quanto pudesse escolher palavras, planejar uma conversa, um pedido de perdão. Lily não iria querer ouvir, e isso fazia James querer evitar pensar numa reconciliação que não poderia acontecer.

— Eu não… eu errei muito feio com ela, Emme. E faz total sentido que Lily não queira me ver,nem pintado de ouro. - Emmeline deu um risinho condescendente. - E o pior é que, ultimamente, nem é isso que dói mais.

— O que é, então? Porque sua vida pareceu um roteiro ruim da Netflix, em dezembro, e se o término não foi a pior parte…

James achou graça do tom de Emmeline, mas a reflexão que vinha fazendo era séria, então ele não riu.

— Não, Emme… eu falo sério. O término doeu. Dói. Mas o que machuca mais é o motivo pelo qual ele aconteceu… porque foi minha, exclusivamente minha culpa. E eu não gostei nem um pouco de ver como foi fácil eu me tomar as condutas que eu nunca concordei… Emme, eu nunca precisei mentir sobre minha vida, e, de repente, eu nem sabia mais qual das histórias que eu contava que era a realidade!

— James… você sabe que não existe isso de ser bonzinho, ou ser malvado. As pessoas só… só são. Você não é um santo, mas não foi a pior pessoa do mundo também, e política é isso. Às vezes você tem que jogar sujo, por um bem maior.

— Esse é o ponto: eu não quero ter que jogar sujo! Eu não quero ter que escolher entre o dever e a minha vida, entre o que é ‘certo’ - ele gesticulou aspas - e o que eu sinto que é certo. Nunca gostei cem por cento dessa coisa toda, dessa pressão do título… e esses tempos só tem sido bem pior. 

— Foram muitas emoções de uma vez, James… você precisa de férias disso tudo. Férias de compromissos, de gente enchendo você com coisas do governo… só ser gente, sabe? Um adulto normal, de 22 anos. Não um príncipe herdeiro.

— Vou chamar meu piloto particular para me sequestrar para um lugar bem longe de todo mundo. - brincou James, pensando em Sirius e nas merecidas férias de que todos eles precisavam urgentemente

***

— O rompimento do noivado de Sua Alteza Real, o Príncipe James, com a Princesa das Astúrias, Senhorita Emmeline Vance foi uma surpresa para todos. O anúncio, que aconteceu após a vinda da nobre hispânica à capital inglesa para celebrar o Valentine’s Day junto do, então, noivo, pôs fim a um relacionamento de pouco mais de cinco meses desde que foi trazido a público, e que foi alvo de muitas especulações e fofocas. - dizia a jornalista.

— A nota das assessorias de imprensa de ambas as casas reais declararam que a decisão aconteceu em comum acordo entre os noivos, e foi fruto do entendimento de que seus objetivos pessoais e de carreira não estavam mais alinhados. Afirmaram ainda que os dois permanecem bons amigos, e que prevalece o respeito que pautou a relação. O envolvimento entre James Potter e Emmeline Vance foi marcado por conturbações, rumores de traição, e um noivado conjunto - posteriormente solo, após a declaração da homossexualidade do Duque da Cornualha. - afirmava o segundo apresentador, da bancada do jornal.

— A grande preocupação agora, porém, está nos impactos desse rompimento de noivado para as eleições da Câmara dos Comuns, que acontecem em duas semanas. Se por um lado, o Partido Liberal e o Partido Conservador ganham força em seus discursos a favor da saída do Reino Unido da União Europeia, de outro, a separação das duas Altezas traz à tona grandes discussões sobre o conservadorismo monárquico.

— Há especulações sobre o relacionamento ter sido uma fachada para que o Duque de Cambridge não assumisse seu relacionamento com uma colega de faculdade, e somada à conturbada “saída do armário” do Príncipe Sirius, em novembro, o Partido Trabalhista parece alcançar uma vantagem ainda maior no Congresso. A defesa por pautas afirmativas e de esquerda tem sido popular entre os jovens, que são previstos como maioria dos votantes nessa eleição. Ainda não é possível afirmar as consequências, mas a série de controversas declarações e ações da Família Real nesses últimos meses pode ter sérios impactos nas eleições.

— No próximo bloco, relembre os filmes indicados ao Oscar. A premiação da Academia acontece em Los Angeles, no próximo domingo.

***

Se a culpa tinha sido do noivado rompido de James e Emmeline, ninguém podia dizer, mas o fato foi que na segunda sexta-feira de março, o Partido Trabalhista elegeu 343 cadeiras na Câmara dos Comuns, conquistando a maioria das cadeiras e, consequentemente, o direito de indicar o Primeiro Ministro.

A líder do partido, e até então chefe do Gabinete-Sombra, foi o nome indicado e, surpreendendo a maioria, fez um discurso conciliatório entre Conservadores e Trabalhistas, e chamou uma parte da oposição para ocupar certas pastas, como o ex-Ministro Alastor Moody.

Vitória Potter não estava nada satisfeita, e embora não pudesse dizer muita coisa diretamente, estava sendo um inferno suportar o mal-humor dela em Buckingham, e foi por isso que, uma semana depois, James anunciou em meio ao jantar da quinta-feira.

— Vou para Cambridge amanhã.

— Ah, sério, querido? Por que, o que aconteceu? - perguntou Euphemia, preocupada.

— Nada demais. Preciso acertar com Frank coisas do meu antigo apartamento, e renovar meu trancamento para o termo de Páscoa, ou então vão cobrar as taxas. - explicou, aceitando o vinho que o lacaio servia. - Burocracias bobas…

— As quais você poderia resolver daqui mesmo. - comentou a rainha, e James deu de ombros, preferindo evitar o conflito.

— Poderia. Mas gosto de dirigir, e vai ser bom rever Frank. 

— Com certeza vai, aproveitem para tomar uma cerveja. - aconselhou Fleamont. - Só não dirija bêbado.

— Sim, pelo amor de Deus, James Fleamont Potter! - a mãe repreendeu. - E transmita nosso carinho ao Frank, diga que sentimos falta, e que quando estivermos em Windsor ele deve ir nos visitar. Você está lembrado de que Sirius volta no sábado de tarde, não está?

— Como se ele fosse me deixar esquecer. Ei vó, ficou sabendo que Moody demitiu a Umbridge, foi Hopkirk quem me disse… parece que Susane Bones vai assumir o lugar dela.

James tinha dito só para provocar a avó, porque sabia como ela tinha conchavos para que Dolores Umbridge estivesse dentro dos ministérios e fizesse pequenos trabalhos sujos que a rainha precisasse. Edware Hopkirk era o mais jovem político já eleito para a Câmara dos Comuns, com apenas 25 anos, através do Partido Trabalhista, e durante o período eleitoral tinha se tornado próximo de James, que o tinha como informante infiltrado no Parlamento.

— Ah é mesmo? Não, não soube ainda…

— Gostei da indicação. - disse por fim, reprimindo um riso pela cara frustrada da avó.

***

Havia um único objetivo para aquela tarde, e ele era organizar seus pertences para, com sorte, conseguir pegar o trem das 17h, de Cambridge para Londres, depois um ônibus de King’s Cross à Paddington, e de lá outro trem até Reading, para, quem sabe, encontrar os pais na estação às 20h.

E Lily conseguira atrapalhar - e, consequentemente, atrasar seus planos - esquecendo sua chave dentro do apartamento justamente na tarde em que Mary tinha uma prova, e Alice uma avaliação oral. 

— Frankie! Ai, graças a Deus! Eu preciso de ajuda! - choramingou pelo telefone, contando o acontecido a ele. - Eu queria ir embora ainda hoje, mas sem a chave de casa vai ser impossível!

— Calma, Lily. Eu fiquei com as coisas da Lice, enquanto ela está na avaliação… a chave dela está aqui, pode pegar. -  respondeu ele sereno, rindo do desespero de Lily. - Você precisa dela para que horas?

— Gastei minha sorte da vida inteira! - ela comemorou. - Já são quase duas e meia… queria pegar o trem das cinco… no máximo o das seis, para não chegar muito tarde em casa.

— Ah, perfeito. Eu vou… - ele pareceu se perder um segundo. - Eu estou indo encontrar um amigo para tomar um café na Côte Brasserie, na Bridge Street. Passa lá comigo que eu entrego a chave para você, nós voltamos depois com a Mary.

— Tô indo agora, pode ser? - ofereceu, sem temer parecer desesperada. - Ótimo, saindo do King’s, Frankie!

Lily não precisou de mais que vinte minutos andando para chegar à Brasserie, porque o tempo estava fresco - já que ainda havia algum sol - e ela estava com tênis confortáveis e muita pressa para fazer as malas. Absolutamente nada de muito especial a aguardava em casa, exceto o plano dos pais em passar duas semanas em Paris e uma terceira com parentes em Marseille.

Ela estava sedenta por uma viagem, ou qualquer outra oportunidade de relaxar um pouco de todas as insanidades que vinham acontecendo desde novembro passado em sua vida.

— Frankie, você é um enviado dos anjos, sabia? Não sei como esqueci essa chave lá dentro! O que seria de mim sem voc-

Foi como estar em um filme.

Um filme vivo, com cores, sons e efeitos especiais em altíssima resolução. Uma experiência que não era 3D. Lily tinha certeza de que aquela era uma experiência em, no mínimo 7D, porque todos seus sentidos pareceram falhar por um instante. Então seu coração despencou no fundo do estômago - embora tenha parecido em seus pés, como se tivesse caído bem ali, no piso do café - e depois disparou como um cavalo de corrida.

Sentado na outra ponta da mesa, de frente para Frank e Lily, estava o amigo com quem ele viera se encontrar, e a quem Lily não tinha dado atenção de primeira. E era ninguém menos que James Potter.

Lily sentiu o rosto arder em brasa, e um calafrio gélido, digno de uma experiência espiritual, subir por sua espinha. Achava que sua língua tinha sido cortada, ou suas cordas vocais, e tudo que conseguiu dizer foi:

— Ja… James! Ahm… oi!

— O...oi. Oi, Lily. Tudo, tudo bem? - perguntou ele, igualmente atrapalhado, levantando-se para estender a mão a ela.

— Eu… eu não sabia que estava na cidade.

— Ahm, pois é. - ele deu um sorriso nervoso, mas que não foi menos bonito. - Eu estou. Eu… eu vim acertar coisas da, do.. registro. Registro acadêmico, trancamento, o apartamento… coisas.

— Ah, sim. - Lily não sabia mais o que fazer ou dizer.

— E você? Tudo... tudo bem?

— Ah, sim. Sim, tudo bem. - mordiscou a boca por puro nervosismo. - Fazia tempo que não via...

— É, um bom tempo. - a conversa morreu e houve aquele silêncio constrangedor em reencontrar, após meses, uma pessoa cuja última conversa fora uma briga (e, no caso, um término) - Problemas com a chave? 

— O quê? Ah! - ela sentiu que suas bochechas podiam ficar roxas de vergonha. - É, eu esqueci minha cópia, não foi nada.

— Entendi.

Lily sentia suas mãos se torcendo, involuntariamente, em seu colo. A bolsa parecia pesar demais no ombro, e tudo nas entranhas de Lily parecia em chamas à mera visão de James. Nada nele mudara. Havia uma pequena e quase imperceptível barba por fazer, e os óculos estavam tortos no nariz. O cabelo estava mais baixo, provavelmente recém-cortado, e James estava mais pálido, possivelmente porque estava passando muito mais horas em lugares fechados.

Apesar de terem sido só três meses, Lily sentia como se fizessem anos que não o via, e apesar de fisicamente James ser o mesmo, parecia que era um completo estranho. Estavam estranhos, e Lily sabia, mas depois de mais de noventa dias sem ouvir a voz de James, ou ler as palavras dele, ou sentir o cheiro delicioso - Deus, ela não lembrava que era tão bom! - de seu perfume, ou a sensação da pele dele, tudo parecia mais intenso.

Era como um vulcão prestes a entrar em erupção.

Havia um mínimo autocontrole, e Lily podia sentir seu estômago se dobrando em dois, querendo empurrar para fora, por puro nervosismo, todo seu almoço. Arrumou o cabelo atrás da orelha em um gesto inconsciente, e James, em reflexo, levou às mãos para ajustar os óculos e atrapalhar o cabelo escuro.

— Eu… - ela respirou fundo, tentando recuperar sua dicção. - É bom revê-lo, James.

— É muito bom ver você também, Lil. - Lily registrou o uso do apelido, e começou a contagem regressiva para explodir, sem saber de que forma isso se daria. 

— Desculpem, estou apressada. Boa sorte com suas burocracias, James. Frankie, obrigada. 

Cumprimentou James e Frank com um aceno de cabeça, e estava quase saindo quando o namorado de Alice a chamou.

— Lily. - ela virou só a cabeça, sentindo o coração disparado batendo no peito. - A chave. 

Frank sacudiu a chave entre os dedos e, sentindo-se absurdamente patética, Lily retornou.

— Ah. Claro! - pegou-a firme entre os dedos, que sentia fracos. - Agora sim, até, gente.

Quando fechou a porta do café atrás de si, sentiu a lufada gelada de ar que ficou na calçada após a arrancada de um ônibus que saíra do ponto ali perto. Não parecia que tinha acontecido e, no entanto, Lily não poderia ter ficado mais afetada. Seu coração estava desabalado, e Lily sentia frio demais para a espessura de casaco que usava. 

James Potter estava em Cambridge.

E se havia qualquer plano anterior para aquele dia, Lily o cancelou, porque sua cabeça só sabia martelar que, após três meses, ela tinha revisto James e, por Deus, aquele único encontro a tinha feito lembrar do quanto amava aquele homem.

Só a fizera lembrar de como tudo com James era bom, e perceber o quanto não o superara nadinha. Porque suas pernas bambearam como na primeira vez em que tinham se beijado, na entrada do antigo prédio dela, e suas mãos tinham suado frio como no primeiro encontro, e seu corpo tinha ardido por dentro como na primeira vez em que tinham dormido juntos.

— Esse homem é o inferno em pessoa, não é possível! - gemeu para si mesma, completamente desestabilizada.

Naquele segundo, a última coisa em que Lily pensava eram suas malas para as férias de primavera, mas apenas nas memórias da conversa que antecedera o término com James, se alternando com uma infinidade de momentos com beijos e abraços, e risadas e cócegas.

Dor e desejo, saudade e tristeza, ânsia e afeto. O vulcão de emoções reprimidas sobre aquele término tinha acabado de explodir dentro dela.

— Genial, Evans! - resmungou baixinho ao entrar no ônibus que parava a uma quadra de seu apartamento.

Desistira do trem das cinco, das malas e sequer de caminhar até em casa. Lily queria apenas explodir, e um monte de chocolate.

***

— Chega a dar pena essas caras de vocês dois. - brincou Frank, observando James ainda de pé, mesmo depois que Lily saíra.

— Ela… não me disse que ela vinha.

— Eu não imaginava que você fosse chegar antes dela. Estava tentando evitar que vocês… sabe? Isso que aconteceu. - explicou-se, e James concordou, pedindo um café forte ao garçom.

Tudo dentro dele queimava. 

O local onde a mão de Lily apertara a sua permanecia gélido como se os dedos dela não tivessem desencostado, e se James se esforçasse, podia ouvi-la repetindo “É bom revê-lo, James”. Suas entranhas se reviravam deliciosamente com a voz macia de Lily chamando seu nome, e a ideia de que ela ficara tão nervosa quanto ele era desconcertante de uma maneira incrível!

— Você ainda gosta dela. - afirmou Frank.

— Gosto. - James concordou, olhando sério para ele.

— Ótimo, então qual o problema? Porque você terminou com a princesa da Espanha, não terminou?

— É complicado, Frank… - ele negou com a cabeça, não querendo entrar na seara de dar confiança a si mesmo sobre seus sentimentos. - Eu fui babaca em um nível… enfim, eu passei dos limites com a Lil. Escondi coisas, menti, agi como um esnobe, e deixei ela nas escuras… quis tomar decisões pelos dois, no nosso namoro. 

A expressão de Frank não foi boa.

— É, essa cara mesmo. - riu James sem humor. - Eu não acho que ela está errada em me detestar.

— Não acho que ela deteste você. Mas é, não tem como discordar, você foi babaca.

James se permitiu rir, porque da primeira vez que ouvira isso, surtara, achando absurdo e, no entanto, bastou um soco e um minuto de reflexão para que ele entendesse cada uma das partes de sua responsabilidade.

— Enfim. - suspirou, dando de ombros. - Lily é fenomenal, e eu a amo hoje como amei o namoro inteiro. Queria não ter machucado ela, não ter feito escolhas que fiz… queria ao menos me desculpar. Mas não sei se é o momento. Quem sabe nessas férias.

— Ela vai para Paris, James. Com a família. - Frank explicou, e James tentou não demonstrar a frustração. - Eu sinto muito, James. Queria mesmo que vocês se acertassem.

— Tá tudo bem. - Frank sabia que não estava. - São coisas que acontecem. Eu quero que ela seja feliz, que consiga um emprego foda, e que continue sendo uma mulher foda! Se pudesse voltar atrás, faria diferente. Nada disso de ‘não mudaria nada, porque aprendi’. Se eu fosse menos arrogante, teria aprendido sem precisar quebrar a cara, nem machucá-la… mas a Lily não tem culpa.

Frank concordou com ele e, por um momento, eles dois suspenderam a conversa, observando o garçom trazer as bebidas que eles tinham escolhido, e uma travessa de donuts que James pedira.

— Só acho que ela merece explicações, James. Você sabe, ouvir essas desculpas da sua boca.

— Eu vou fazer, eu vou. Juro. Só… só preciso de um descanso, Frank. Foram meses exaustivos, e eu preciso colocar minha cabeça no lugar. Ainda dói muito pensar na Lily, nas merdas que eu fiz com ela. - ele bebericou o café. - Mas anda, deixemos minhas tragédias românticas de lado.

— Amelia Bones parte dois. - brincou Frank e James riu, revirando os olhos.

— Sério, vai. O que vamos fazer sobre o apê?

Pelas duas horas seguintes, Frank e James discutiram sobre a problemática que era o apartamento que antes dividiam. Pertences de James nunca tinham sido retirados, e ele ainda pagava o aluguel rigorosamente todo dia 5 do mês. Mas Frank não achava correto, dado que o amigo não estava morando lá, e depois da saída inesperada de Peter, havia um quarto vazio. 

O valor ficaria alto para Frank pagar sozinho e, no entanto, não havia condições de se mudar para ficar apenas os três meses restantes até a formatura, e, por outro lado, Frank era orgulhoso demais para aceitar que James o ajudasse com o aluguel. Houve bastante resistência, e a conversa não estava avançando quando Alice apareceu para se juntar a Frank, pouco depois.

— James! Quanto tempo! - abraçou-o apertado. - Você faz falta, Alteza.

James riu do tom de Alice, e percebeu como, além de Lily, sentira falta de sua vida como era com ela. Não só o namoro, os beijos e o afeto, mas todo o contexto: a vida universitária, os amigos, os pubs e as cervejas. As noites de jogos e comidas feitas entre amigos, as tensões de exames e avaliações, aquela sensação de independência e juventude que o fazia sentir vivo e pertencente.

A ilusão de que, com seus amigos, iria mudar o mundo.

Sentia falta de tudo que era, tinha aversão ao que tinha se tornado, e sentia saudade do que fora com Lily. Era como estar em um limbo, e um pedaço de sua identidade tinha se perdido nesse vazio. James agora era só Príncipe James, e tinha certeza de que tinham havido outros cinco com seu mesmo nome, só na história da Inglaterra.

A noite acabou em um pub, depois de Alice tê-los direcionado a um consenso sobre Frank ir morar com ela, no apartamento que dividia com Mary e Lily, e os excedentes do velho apartamento dos rapazes ser vendido em lojas de usados. Algumas cervejas mais tarde, os três assistiam a partida do Manchester e comiam batatinhas, e a cada lance empolgante, Alice se apertava contra Frank, ou dava um gritinho, ou um beijinho nele.

Doía um pouco, ele tinha que admitir.

Após chegar de volta em Londres depois da uma da manhã, James ignorou qualquer compromisso que pudesse ter na manhã seguinte e desligou o celular, necessitado de uma noite de sono que o recuperasse do álcool, das horas de direção e, principalmente do encontro emotivamente revolucionário com a melhor namorada que já tivera.

Mas nem o sono lhe deu sossego, porque os cabelos ruivos e a risada frouxa de Lily estavam em todo lugar de seus sonhos, tão real que podia ter acontecido na noite anterior, em Cambridge.

***

Abril foi um mês, para ser sutil, cheio de emoções. 

A volta de Sirius do Canadá foi uma injeção de ânimo em James, tanto porque os dois eram almas gêmeas do caos e era muito mais divertido aprontar na companhia de Sirius quanto porque era o período de férias de primavera e Remo viera de Oxford para, também, passar uma temporada em Londres.

Acabou sendo em uma dessas decisões da madrugada, bêbados, que os três compraram passagens de avião para Nice, e passagens de trem para Mônaco, para passarem as duas semanas até a Páscoa no famoso principado. A intenção não era nenhuma além de descansar, ficar longe de fofocas, e longe do tempo chuvoso que se armava em Londres, e Mônaco era o local perfeito, cheio de diversões, mas também sereno e paradisíaco. 

O mediterrâneo se provou excepcional, tranquilo, e serviu para James refletir sobre todas as ideias confusas que vinham povoando sua cabeça desde o final do ano anterior. Tudo parecia acontecer rápido demais, as coisas tinham virado de ponta cabeça, no mínimo, três vezes  desde a última vez em que ele sabia o que estava fazendo e justamente por isso, James não conseguia ver sentido.

Não via sentido em sua demagogia polida que nunca fazia, efetivamente, nada além de dar dinheiro a instituições de caridade. Sentia a impotência - e até a raiva - quando lembrava de todas as barganhas que aceitara a troco de um fracasso sem precedentes em sua vida pessoal, e se assustava consigo mesmo pela percepção de que desumanizara a si mesmo, a Lily e Emmeline, e nem tivera noção disso.

Tinha se colocado tudo como peões de um jogo que não queria ter jogado, e se arrependimento matasse, James estaria debaixo da terra. Seu título parecia nada, e quanto mais pensava, mais se via como ‘o pobre menino rico’, infeliz, impotente, sem poder escolher o que seria ou faria. Com a vida feita como um script de cinema, sempre visando o tal ‘bem maior’ que Emmeline considerava e, no entanto, sem nunca sentir que conquistara nada.

Não podia aquilo ser a magnificência que pintavam ser a realeza, podia?

E foi assim que tudo continuou quase sem mudanças e, apesar das férias estupendas e da felicidade de voltar a conviver com Sirius diariamente - de ter sua companhia infame nas longas e insuportáveis reuniões e compromissos reais -, James se sentia quebrado. Sentia que fracassara, e sentia, mais do que tudo, que isso não tinha a ver com Lily.

Era, na verdade, produto de tudo que acontecera. Sua infelicidade era produto do meio, e ele não achava que podia ser diferente. James era limitadamente um Príncipe, e isso era tudo que seria.

Ao menos, foi assim que pensou até quase o do mês.

Porque quando abril estava acabando, quando Remo voltara para Oxford e as férias de primavera tinham acabado, quando James se via a beira de começar outro mês na mais completa miséria consigo mesmo, Emmeline mudou tudo.

Sem a intenção, é claro. Mas mudou toda a percepção de mundo de James, mudou tudo.

E a única coisa que ela precisou fazer foi deixar que uma foto dela, aos beijos com Marlene Mckinnon em uma lancha na costa da Ibiza, fosse capa de uma revista espanhola - que logo se espalhou pelas páginas de fofoca mundo afora - com o chamativo título:

Às vésperas de seu aniversário, a Princesa das Astúrias exalta o feminismo e assume sua sexualidade: ‘que ninguém se limite por um título. Antes que princesa, sou só a Emmeline!’

 


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Notas finais do capítulo

Estava vindo e ninguém notou hahaha
Emme e Lene deixam pistas de que estão juntas há vários capítulos, será que alguém notou?
Vejo vocês nos comentários, Beijoooos! ❤❤



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