God save the Prince escrita por Fanfictioner


Capítulo 19
As escolhas menos piores


Notas iniciais do capítulo

OIOIOI!!!
E aqui estou eu, antes do previsto (mas quase lá), depois de um mês INSANO! Metade desse capítulo foi escrito em janeiro e a outra metade nesse final de semana (o que significa que eu betei beeeeem rapidinho), que foi única vez que eu fanfiquei desde que meu semestre voltou. Enfim, a faculdade tóxica.
Ainda estou com comentários atrasados para responder, mas espero colocá-lo em dia até o próximo fim de semana, mas desde já eu deixo meu agradecimento gigantesco a todo mundo que deixa seu review, eu AMO ler todos comentários e teorias de vocês, me deixam com um sorrisão besta no rosto.
Enfim, sem muitas enrolações, já deixo o aviso de que não teremos outra atualização até abril, porque novamente estou vendendo minha alma para a faculdade federal, e está difícil escrever, mas me acompanhem pelo twitter (@prongsstan) que estou sempre falando de fic por lá e vou dando maiores atualizações (e spoilers hehe).
Boa leitura, espero que gostem!

Ah! Esse capítulo é meu presentinho de melhoras para a Carter, para ela se distrair no repouso com todo o drama que eu adiantei em spoilers para ela! Fica bem logo, amiga ❤



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O palácio de Buckingham estava estranhamente normal e sem movimentações, e se James não estivesse ouvindo a barulheira de muitas pessoas aglomeradas no portão da frente, ele estaria se perguntando se realmente vira Sirius se assumir diante de uma dezena de veículos de imprensa.

James cumprimentou alguns funcionários e subiu direto para o quarto de Sirius, certo de que ali seria o quartel-general em que seus amigos se reuniriam para prestar apoio. Será que Sirius estava chorando? E como Remo estava?

Definitivamente James estava se forçando a empurrar Lily para o fundo de sua mente.

Havia um guarda Real na porta do quarto, e James apenas disse que iria entrar. O rapaz anunciou a chegada de James no radiocomunicador que levava, e então abriu a porta para que o Duque de Cambridge entrasse.

Sirius estava no meio de uma risada, ladeado por Marlene, Dorcas e o próprio Remo, e apesar do clima estar leve, quando James entrou, Sirius o encarou, e foi possível notar o cansaço e a tensão na expressão dele.

— Você é um maluco, sabia? - disse James, com alguma seriedade. - Sério, você é completamente pirado!

Mas James não tinha a intenção de brigar com Sirius, ou repreendê-lo pelo que tinha acontecido. Ao contrário. Sua respiração tinha se soltado, aliviada, ao ver que Sirius estava bem, e que nada sério tinha acontecido até então. Ele se adiantou e puxou o irmão para um abraço apertado, e seus olhos arderam, pensando em como as coisas tinham mudado vertiginosamente em tão pouco tempo.

Ele não iria pensar em Lily. Sirius e Remo precisavam dele, e o rompimento com Lily era uma dor para depois.

— Você tem que avisar quando for fazer esse tipo de coisa… para eu não ficar como um idiota vendo você se assumindo na televisão. - James brincou, discretamente fungando. 

Sirius riu e passou o dorso da mão na bochecha, recolhendo uma lágrima.

— Na próxima a gente se organiza…

— Tomara que não tenha uma próxima! - acrescentou Marlene, sentada no sofá.

— Por que não me contou nada, Almofadinhas?

— Não contei para ninguém, Pontas… - Sirius explicou, dando de ombros e dando um mínimo sorriso, como se o tema fosse leve e habitual. - Só falei com quem importava.

Ele olhou para Remo, e James conseguiu voltar o olhar para o amigo a tempo de ver a retribuição afetuosa e carinhosa dele, que deu uma piscadinha brincalhona para o namorado.

— Você veio de Cambridge aqui em menos de uma hora?! - comentou Dorcas, assombrada. - Que velocidade você fez?

— Não queira saber.

— Jesus, James! Você podia ter morrido! - reclamou Remo. - Precisa avisar à Lily que chegou aqui bem, ou ela vai ficar preocupada.

Houve uma revirada dolorosa nas entranhas de James ao pensar nela, e em como Lily não queria que ele ligasse para avisar que chegara. Ele nem sabia como fazer para não chorar naquele segundo.

“Não precisa se dar esse trabalho. O mundo não gira ao meu redor, e nem ao redor da gente mais.”

Ele puxou o celular do bolso apenas por hábito, e doeu ainda mais não ver qualquer notificação de Lily ali. Limpou a garganta e se forçou a pensar no momento presente, dar atenção apenas ao que dizia respeito à Sirius e Remo.

— É… ahm… mas, ei… como está tudo? O que aconteceu? Cadê a Vitória?

— Em reunião, com todo mundo. - explicou Sirius, se sentando ao lado de Remo e tomando a mão dele para entrelaçar os dedos.

— Todo mundo? - perguntou James confuso.

— Todo mundo.

— E por que você e Remo não estão lá? Quem é todo mundo?! 

James se sentou na borda da mesinha de centro, ficando equidistante de todos os quatro no sofá.

— Vick, tia Euphemia e tio Fleamont, Lyall e Hop- - Dorcas listou, contando nos dedos.

— Seus pais estão aqui?! Mas... como? Como você chegou aqui, Aluado?!

— De carro? Meus pais foram me buscar em Cambridge quando eu contei o que Sirius ia faze-

— Então seus pais sabem?

— À essa altura, quem não sabe, James? - riu Marlene, irônica.

— Quer parar de interromper, Pontas?! - Sirius resmungou. - Porra, deixa a gente contar!

— Então contem direito! Eu quero saber do começo… como você decidiu fazer isso? Por que contar agora?!

Sirius respirou fundo antes de começar a falar, porque ele havia decidido explicar toda a sua decisão apenas uma vez, quando todos os seus amigos estivessem juntos, mas claro que ‘esperar por James’ também era uma justificativa para adiar o assunto, que era meio delicado.

— Eu já estava com isso na cabeça desde que vazou aquela matéria sua e da Lily. Na verdade, eu acho que pensava nisso há muito tempo, mas na minha cabeça eu ia me assumir para a família primeiro… então teve toda a história de anunciar casamento e tal, e isso mexeu demais comigo. Eu não sou errado, sendo gay. Tenho certeza disso!

— Claro que não é! - reafirmou Marlene. - Você é extremamente válido, e ninguém tem o direito de falar algo diferente!

— Você é você, Almofadinhas.

— Pois é. - Sirius sorriu em agradecimento, mas continuou falando como se não tivesse sido interrompido. - Então eu passei a noite passada em claro, pensando, pesando as coisas… e hoje de manhã eu liguei para o Aluado.

— Detalhe! Eu estava no meio de uma aula quando Sirius ligou.

— Aí eu disse que era importante, e você me deu atenção. - Remo revirou os olhos para Sirius, achando graça. - E nós conversamos sobre isso, sobre nos assumirmos.

James concordava com a cabeça, esperando pela completude das informações, e pensando como Sirius e Remo poderiam estar tão calmos e confiantes, depois de terem afrontado toda a tradição da realeza. Ele pensava que queria ter tido aquela serenidade para lidar com suas questões com Lily.

Céus, era como se Lily ficasse tocando em segundo plano, no fundo de seu cérebro. James queria não ter dito algumas das coisas que dissera e, mais que isso, ele queria poder parar, sentir e chorar. Porque se sentia de coração despedaçado.

— A gente pensou bastante, nos riscos, nas reações… não é uma decisão exatamente fácil. - confessou Remo. - Na verdade, a gente estava com muito medo de não ter apoio algum. Foi por isso que eu liguei para os meus pais, e contei tudo para eles primeiro.

— Pera, seus pais já não sabiam? Que você é bi? - perguntou Dorcas, meio confusa.

— Desde sempre! Mas não sabiam do Sirius, do nosso namoro, eu digo.

— E eles foram, tipo, de boa? 

— Ah, foram. - Remo riu para James. - Claro que eles preferiam que eu namorasse com alguém um pouquinho menos famoso, mas… como disse minha mãe: “ser bissexual é ótimo, mas você precisava namorar logo com Sirius?”

Todos deram risadinhas pelo comentário de Hope Lupin, a condessa de Northamptonshire. Aos poucos, a complexa e inesperada trama de novela mexicana que fora a declaração de Sirius sobre sua sexualidade e relacionamento parecia um pouco mais óbvia e explicada.

— Então a gente já tinha nossos pilotos de fuga, meus sogrinhos. - brincou Sirius, e Marlene deu uma gargalhada. - Faltava a gente se assumir. Daí veio a ideia da coletiva de imprensa, porque não seria a vovó que estaria voltando atrás, e ninguém acusaria ela de ser mentirosa, já que nem ela sabia da minha gayzisse.

— Para de se zoar! - pediu Dorcas, rindo. - Eu sou hétero, não posso ficar rindo de piada com gays!

— Sua homofóbica! - brincou Marlene. - Anda, continua, Sirius.

— Como eu dizia, planejamos a coletiva de imprensa, e aí começou a minha saga de procurar coragem de falar aquelas coisas em frente à trocentas câmeras e microfones.

— Você foi ótimo! - James elogiou, e Dorcas concordou. - Falou super bem, e foi super educado… eu até estranhei. Vocês estão só me enrolando, como o Aluado chegou aqui?

Sirius levantou o dedo do meio para James, e Remo riu da brincadeira.

— Meus pais foram me buscar em Cambridge, depois da minha aula. Eles queriam estar juntos, porque sabiam que a Vitória ia fazer um escândalo. Meu pai marcou um jantar com ela, para falar coisas de umas propriedades, e a desculpa calhou bem para que a gente estivesse aqui dentro quando Sirius montou o circo com a imprensa, lá fora.

— E o que a Vitória falou? Sobre esse monte de câmera? O que ela disse?

— Ela estava em Kensignton, né? Não soube de nada até ir ao ar. - explicou Sirius.

— Não vimos ela até agora. Meus pais e os seus impediram ela de vir aqui sem antes terem uma reunião. - Remo acrescentou. 

James concordou, ficando por um tempo calado e pensativo. Sirius era extremamente corajoso, de jeitos que James jamais se imaginaria ser capaz, e era indiscutivelmente leal. Leal a si mesmo, a seus princípios, vontades, amores, e era leal a Remo. Apesar da seriedade da situação, da confusão que seria lidar com a explosão da Rainha sobre aquilo, Sirius estava sereno e confiante, de um jeito que apenas quem era corajoso e leal poderia estar.

E naquele momento, James invejou aquilo

Sirius não estava se lamentando pelas circunstâncias, nem com medo, nem arrependido. Na verdade, Sirius era orgulhoso demais para ter qualquer uma daquelas reações, então só restava a ele ser o bom brincalhão e bem humorado de sempre, embora isso não tivesse qualquer relação com imaturidade, irresponsabilidade ou falta de noção. Ao contrário, ele podia ser passional, mas sempre era realista. 

Antes, porém, que James pudesse comentar algo, ainda imerso em suas reflexões, e se sentindo muito mais fragilizado que Sirius pelos episódios estressantes do dia, alguém bateu na porta. Todos se olharam, meio temerosos, mas quem entrou não foi Vitória Potter.

— Eu vim ver o meu filho. - murmurou Euphemia, com um sorriso complacente e uma expressão amorosa.

E ainda que James estivesse cem por cento ciente de que ninguém ainda sabia do seu término com Lily, e soubesse que a situação com Sirius e Remo era muito mais séria naquele momento, ele se sentiu ferver de ciúmes ao ver sua mãe indo acolher Sirius, e não a ele.

James nunca tinha sentido ciúmes de Sirius na vida toda.

— Ah, meu menino! - ela sussurrou, abraçando Sirius. - Eu amo você tanto… você sabe, não sabe?

— Claro que sei, ti- mãe. - respondeu Sirius, com a voz meio abafada, em meio ao abraço.

— Eu queria que você tivesse falado comigo antes, querido… que tivesse conversado conosco. Você sabe que vamos amar você do mesmo jeitinho, não sabe? Que não importa o que qualquer um diga, nem mesmo sua avó, eu e Fleamont amamos você como nosso filho… e isso nunca vai mudar! Nós somos os seus pais, uhm?! Nós

Então James pode ouvir um soluço sufocado, e soube que Sirius estava chorando, o que fez seu ciúme reduzir um pouco. Até os treze anos, Sirius nunca soubera o que eram pais que o amavam, e embora eles não tocassem no assunto, James sabia que tinha havido um tempo, antes da morte de Órion e Walburga, que era o contrário, e era Sirius quem invejava James. Seria terrivelmente injusto negar um consolo e amparo maternal numa circunstância como aquela

Ainda assim, James desejava ardentemente que fosse ele quem estivesse sendo consolado pela mãe, e não Sirius, afinal, era ele quem estava de coração partido! Sirius ainda tinha Remo, mas James estava sozinho agora, desesperado por algum acalento. Essa sensação o deixava constrangido e humilhado, o que só piorava toda aquela confusão de sentimentos sufocados.

— Desculpa ter escondid-

— Shiu… está tudo bem, querido. - insistiu Euphemia, soltando-se dele. - Eu estou orgulhosa da sua coragem, do seu caráter, das suas escolhas… só… só avise sua mãe da próxima vez, sim? Para eu não quase derrubar meu chá sobre os convidados de novo. 

Ela advertiu com uma sobrancelha levantada, e Sirius riu, secando o rosto.

— E vocês todos… espertinhos! Até você tramou contra mim, Marlene? - ela brincou, fazendo o rosto de Marlene atingir tons de vermelho. - Não faz mal, eu estou brincando. Claro que entendo o que aconteceu… e agora temos Remo na família. - disse, se virando para o novo genro, e puxando-o para um abraço.

Euphemia e Remo conversaram algo que James não conseguiu registrar, tanto porque estavam de costas para ele e o som se abafava, quanto porque não estava realmente prestando atenção. Sua cabeça estava meio afogada em pensamentos sobre o término com Lily, e seus olhos ardiam de um jeito que o fazia ter certeza de que estava prestes a cair no choro.

— James! Eu não sabia que tinha vindo, meu bem. - Euphemia beijou a cabeça do filho, que apenas apreciou o carinho, fechando os olhos para se recompor.

— E como está a reunião, tia? - perguntou Dorcas curiosa.

— Foi suspensa, na verdade.

— O quê? Por quê?

— Sua avó passou mal. - ela meneou a cabeça enquanto se sentava na parte vazia do sofá.

— Como é?! - eles questionaram em uníssono, e Euphemia os encarou dividida entre o riso e o susto.

— Não foi nada sério, fiquem tranquilos. Só um pico de pressão, pelo estresse… vocês sabem como a avó de vocês adora ser dramática e fazer uma cena, meninos. - explicou, gesticulando para James e Sirius, que concordaram. - Mas mandamos chamar o médico dela, por garantia. Está tudo bem, mas ele recomendou que ela fosse descansar e não tivesse mais fortes emoções por hoje.

— Então a reunião já era? - perguntou Marlene, se esquecendo até de ser um pouco mais formal, como era seu costume com a Duquesa.

— Por hoje, sim. Mas amanhã de manhã a agenda dela está cancelada, então eu não ficaria muito animada, se fosse vocês.

Sirius assentiu, e Remo coçou os olhos, meio tenso. A Duquesa pareceu se perder em pensamentos por alguns segundos, e então se recompôs integralmente, sorrindo de maneira sutil e assertiva, batendo as mãos levemente nos joelhos antes de se levantar.

— Mas não vamos criar pânico. Aproveitem a noite para descansarem, se recomporem… vou pedir que sirvam vocês aqui. Um pouco de fast food não faz mal, e ninguém precisa saber o que o quinteto real está jantando, não é?

— Eu devia ir indo… - comentou Dorcas, mexendo no celular.

— Bobagem! Sirius e Remo vão precisar de todo o apoio possível, querida. Já mandei preparem quartos para vocês, - indicou Marlene e Dorcas, que sorriram agradecidas. - e Remo, seus pais e você continuam sendo nossos convidados. Estamos preparando suítes para vocês…

Remo sorriu para a mãe de James e agradeceu a hospitalidade. Euphemia não se demorou muito mais em conversas, exausta de apagar incêndios, e pouco depois os cinco já estavam sozinhos outra vez, à espera de seus jantares pouco saudáveis. James não sentia um pingo de fome, ao contrário. Achava que poderia vomitar pela overdose de pensamentos e sentimentos.

As conversas ficaram amenas, e todos estavam envolvidos em se distraírem do real problema que estouraria na manhã seguinte, em uma última noite de sossego. As redes sociais explodiam com o anúncio de Sirius, e Dorcas descobriu que o trending topic mundial era a hashtag Wolfstar.

— De onde tiraram isso? - perguntou Sirius rindo e tomando o celular de Dorcas para conferir.

— Alguém explicou aqui. Lupin significa ‘relativo a lobo’ em latim. E Sirius é uma estrela, de uma constelação. O fandom de vocês é muito criativo! - comentou Marlene, lendo um tweet de seu celular.

— São é inteligentes! Eu nunca pensaria nisso… quer dizer que vocês agora tem nome de shipp… - brincou James, jogando-se no sofá e tentando se distrair.

Lily tocava em repetido no fundo da sua cabeça.

— A gente tem que criar um nome de shipp para você e a ruiva agora, Pontas. 

A ferida remexida doeu tanto que James foi incapaz de conter sua expressão de frustração, tristeza e vontade de chorar, o que claramente não passou despercebido à Sirius.

— O que? Que foi?

— Nad-

— Ah, não começa! Eu conheço você desde que trocavam nossas chupetas, é óbvio que tem alguma coisa errada. Você tá quieto, esquisito… o que aconteceu?

— A Lily terminou comigo.

— Como é que é?! - exclamou Remo surpreso. - O que aconteceu?! Por quê? Como?

Sirius crispou os lábios e olhou para James com firmeza, além de uma preocupação explícita no olhar. Marlene fitava o chão, com uma expressão chateada, enquanto Dorcas tinha os olhos arregalados e levara uma das mãos à boca.

— James! Meu Deus, o que aconteceu? - ela lançou sobre James em um abraço apertado, e ele precisou de um esforço hercúleo para não chorar. 

Sabia que uma vez que começasse a chorar, não pararia. Precisava se conter. Queria desesperadamente uma dose de álcool, por isso dispensou gentilmente o afeto de Dorcas e se levantou para servir uísque, ignorando as perguntas e o olhar perscrutador de Sirius.

— Você devia ter contado a ela.

— Não foi só isso. Eu fiz merda, falei merd-

— Mas foi principalmente isso. James, ela era sua namorada! E você esteve mentindo para ela por meses! - exclamou Sirius. 

— Eu estava poupando ela, tá legal?! Lily não precisava das nossas merdas na cabeça dela! - ele levantou a voz, virando o copo de bebida de uma vez.

— E adiantou? - Marlene perguntou, também levemente acusadora. - James, não foi certo…

— Do que estão falando? - perguntou Remo, confuso.

— Você deixou Lily às cegas, James. Você a deixou sozinha, para lidar com um monte de coisas que ela não precisava… você mentiu, e escondeu as coisas… - Sirius insistiu, fazendo James negar com a cabeça e servir mais bebida.

— Não! Não, eu não tinha escolha, Almofadinhas! Eu não podia preocupar Lily daquele jeito… eu não tinha o direito de fazer ela perder a confiança nela mesma!

— Caralho! Parem de fingir que não estamos aqui! - reclamou Dorcas, partindo para cima de James e tomando a garrafa de uísque das mãos dele. - E para de beber como um alcoólatra! Expliquem direito, que eu e Remo não estamos entendendo nada!

James bufou, desagradado, e se apoiou no aparador, girando o gelo no copo com uma repetição ansiosa, frequentemente atrapalhando os cabelos. Sirius foi quem começou a falar, algum tempo depois de notar que James relutava em fazer isso primeiro.

— No verão, tiraram uma foto de James e Lily. Uma coluna idiota daquele O Profeta Diário. A maioria das pessoas nem soube que aquela foto existiu, mas é claro que a Vitória soube. E soube de cara que era a Lily, porque quantas ruivas coincidentemente estão em Londres e são amigas do Pontas, né? Então ela confrontou a gente… na viagem para a Espanha. - Dorcas olhou de Sirius para James, esperando que um desmentisse o outro.

— É sério?

A cabeça de James balançou vagarosamente em assentimento, e Dorcas pareceu ainda mais indignada.

— Ela veio com um papo sobre deveres, e responsabilidades reais, e sobre quanto tempo nós achávamos que ela precisava para saber que Lily não era… - ele fez um gesto que indicava todos ali. - vocês entenderam…

— Que ela não era nobre nem nada. - acrescentou Dorcas. - Que merda!

— Claro que a gente tentou desconversar e tal… mas vocês conhecem a Vitória. - Sirius continuou. - E ela basicamente ficou pressionando James a terminar com Lily, embora jure que deu opções.

— Com certeza ela deu. - murmurou James com acidez. - Termine com a garota e assuma que está com Emmeline, ou fique com ela e saiba que vou fazer da vida dela um inferno.

Remo e Dorcas olharam para James com alguma curiosidade, ainda sem entenderem, e foi Marlene quem retomou a explicação.

— Vitória pediu que alguém do ministério oferecesse uma proposta de emprego para Lily, porque sabia que isso ia comprar o James depois. - o queixo dos dois caiu, indignados. - Pois é, baixo até para ela. Se James não terminasse com Lily, ela perdia a proposta de emprego.

— E seria processada por falsidade ideológica.

— Mas isso não faz o menor sentido! - reclamou Remo, se levantando. - Lily não teve qualquer benefício, nem fez qualquer coisa ilegal. Foi uma história inocente!

— Eu sei, Aluado! Eu sei! Merda!

Marlene fez um carinho nas costas de James, para que ele se acalmasse, e Remo se serviu uma dose de uísque antes de sentar novamente, para saber o resto da história.

— Ela deixou a gente pensar. Não era uma situação muito bom, mas conseguimos um jeito. Emmeline não estava com uma imagem legal na Espanha porque é fechada e pouco carismática com quem não conhece… a Lene que é amiga dela pode confirmar. 

— Emme é tímida, e as pessoas confundem isso com arrogância. - acrescentou Marlene, concordando com Sirius e fazendo Remo assentir em entendimento.

— A gente pensou, Emmeline precisa melhorar as relações dela, Pontas precisa esconder um namoro, a Vick quer que seja a Emmeline. Por que não transformar um namoro falso obrigatório em um namoro mais falso ainda, mas voluntário?

Dorcas arqueou as sobrancelhas, confusa.

— Emme é lésbica, e não ia suportar ser obrigada a ficar comigo. Mas se nós dois fingíssemos até para a Vitória que estávamos sério naquilo, então ficaria tudo bem, e eu poderia continuar namorando com Lily. A imprensa só não podia saber. - explicou James.

— Mas Pontas decidiu fazer tão bem o joguinho de fingir, que até para a própria namorada ele escondeu o que estava acontecendo! Lily não tinha a menor ideia do que tínhamos decidido fazer.

O clima ficou estranho entre todos, porque estava mais do que óbvio que Dorcas e Remo compartilhavam do pensamento de Sirius sobre James estar errado e, no entanto, ninguém parecia disposto, além do próprio Sirius, a dizer as verdades na cara de James naquele momento.

— Almofadinhas, agora não. Já tá um inferno o que eu tô sentind-

— Agora sim! Caralho, Pontas, eu não estou nem acreditando nisso! Eu espero mesmo que esteja doendo bem muito nesse seu ego sem tamanho, porque você foi um completo babaca com a Lily!

— Sirius! - repreendeu Marlene. - Mas é verdade, James… você não devia ter escondido as coisas da Lily.

— Você devia ter contado, Jay… - acrescentou Dorcas. - Claro que entendo seu lado, e querer cuidar da Lily, mas… devia ter contado. E depois de terem exposto vocês na internet…

— Eu não pedi para isso acontecer, tá legal! E não ia expor a vida pessoal da Emmeline, se é isso que você acha que eu devia ter feito! Diferente de você, Sirius, nem todo mundo tem rede de apoio para se assumir!

— Não venha querer dizer para mim sobre se assumir, Pontas! - sibilou Sirius, apontando um dedo na direção de James. - Você sabe que está errado, sabe que foi covarde, e sabe que magoou a Lily! Sabe que devia ter contado para ela, porque eu falei disse para você um zilhão de vezes!

— Eu estava tentando proteger a Lily! - gritou James, com os olhos vermelhos. - Proteger ela dessa merda!

— Mentindo para ela?! 

Marlene e Dorcas tentavam acalmar a situação, e Remo olhava de James para Sirius com preocupação, se perguntando se devia intervir e, ao mesmo tempo, sentindo uma raiva descomunal do amigo. Ele não tinha o direito de ter decidido sozinho o que era melhor para Lily.

— Você sabe que ela ia perder o emprego dos sonhos dela se eu tivesse feito as coisas diferentes, Sirius! Você sabe!

— E você sabe que devia ter contado que era um plano! Que Emmeline não gostava de você, que vocês planejavam terminar antes da eleição do parlamento! Devia ter contado que a Vitória estava ameaçando você para tomar uma decisão, e não ter enchido seu ego para dizer que estava controlando as coisas… devia ter falado do cargo no ministério! Que Dolores Umbridge estava dando um cargo para Lily para comprar você, e obrigá-lo a terminar com ela!

James atrapalhou os cabelos com muita raiva, esfregando o rosto antes de retrucar, furioso.

— Eu não podia estragar a carreira da Lily! Como acha que ela ia se sentir sabendo que o convite de emprego foi uma barganha política?!

— Certamente melhor do que com você traindo a confiança dela. - respondeu Sirius, impassível. - Você tem alguma ideia de como Lily deve estar se sentindo agora? 

— Suponho que na merda, exatamente como eu. - gritou. - Eu não preciso que você fique me dizendo que ela terminou comigo, porque eu estava lá quando aconteceu! E sabe por que ela terminou, Sirius? Porque eu coloquei você à frente do meu relacionamento!

— Não comece a virar as coisas…

—  É, Sirius! - continuou James, como se não tivesse sido interrompido, dando voltas pelo quarto, furioso. - Disse a Lily que não ia escolher entre vocês dois, e que não podia deixar você sozinho nesse momento, e ela terminou comigo por isso. Para eu chegar aqui e você vir, sem o menor direito, me dar esporro!

— Eu não pedi que viesse! Caralho, eu tinha Remo, e Marlene, e Dorcas! Eu não pedi que você se enfiasse a duzentos por hora no carro para chegar aqui e ficar dando uma de salvador para cima de mim, quando você não é capaz de ser minimamente honesto com a sua namorada! Devia ter ficado com ela, e não vir dar uma de herói!

Sirius berrou de volta para James, com o rosto avermelhado e a expressão furiosa. 

— E eu não tenho direito? Eu não tenho direito?! Vai se foder, James, eu estou nisso com você desde sempre! Eu enfrentei a Vitória com você, eu sou a pessoa que mais tem direito de dar esporro quando você está sendo babaca. Será que consegue engolir seu ego e admitir uma única vez que está errado?

— Olha só quem é que fala de ego! - cuspiu James, rindo com ironia. - Você é muito ingrato! Estou dizendo que larguei tudo para estar aqui apoiando você, como sempre fiz, e você não foi capaz de me dar um ombro depois de eu ter levado um pé na bunda! Porque vim atrás de você!

Ingrato?! Eu sou ingrato, James?!

James não respondeu, respirando acelerado enquanto encarava Sirius igualmente raivoso. O segundo em silêncio, em que eles dois se observavam e tentavam entender seus sentimentos e o que iam dizer durou bastante tempo, e Marlene se adiantou para o meio deles, para tentar apartar a situação.

— Igualzinho ao tio Órion. Parecia que era o grande apoiador do papai, o ‘braço direito’ do príncipe - ele fez um gesto de aspas com os dedos. -, mas no fundo só tava preocupado consigo mesmo, e ia cuspir uma moral que não tem na primeira oportunidade, não é?

Sirius engoliu em seco, incrédulo que James tivera coragem de dizer aquilo. James também sentiu que cruzara todo e qualquer limite de respeito com Sirius, exatamente como horas atrás, com Lily, mas já saíra de sua boca, e não havia o que pudesse fazer.

— Você está completamente perdido no seu personagem, Pontas. - murmurou ele, decepcionado, e de alguma forma, o tom baixo de Sirius foi capaz de tirar James ainda mais do sério. - Eu jamais poderia falhar com você, e nunca deixaria de ficar do seu lado.

— É eu estou vendo como você fica do meu lado. - desdenhou.

Aconteceu rápido demais. 

Em um segundo James estava olhando duro e furioso para Sirius, com a vontade de se engalfinhar em socos com ele como nas brincadeiras de adolescente, mas dessa vez a sério. No segundo seguinte, ele segurava o próprio rosto, sentindo uma dor descomunal entre o olho esquerdo e o nariz, e Marlene guinchara, nervosa.

Sua visão ficou desnorteada por alguns segundos, e quando James levantou o rosto, ainda com uma mão sobre o local da pancada, conseguiu ver Remo a pouco mais de dois passos dele, com um dos punhos ainda cerrado, e Dorcas segurando-o pelo pulso, contendo-o. Algumas lágrimas de dor haviam escapado dos olhos de James, mas a surpresa e a indignação o impediram de ter qualquer reação imediata ao ataque de Remo.

James estava genuinamente chocado.

— Você me bateu! - constatou, com Remo o olhando sério.

— Quem sabe assim você cai na real. - começou. James o olhava ainda sem acreditar. - Você está me dando vergonha, James, honestamente. Eu nem reconheço você.

A expressão de entojo de Remo fez o estômago de James encolher, e até boa parte de sua raiva sumiu, porque estava se sentindo pequeno. 

— Você não só foi um completo babaca com a Lily, que mentiu, escondeu as coisas e esperou que ela confiasse cegamente em você, e não me interrompa. Você já deu show demais para uma noite e eu não vou socar você outra vez. - disse assim que James fez menção de interrompê-lo para protestar. - Além disso tudo, que já é motivo o bastante para eu estar muito além de decepcionado com você, está sendo ridículo com a gente.

“Todo mundo aqui dentro fez o possível e o impossível para apoiar seu relacionamento com Lily, que por sinal é alguém que não merece nem a menor das suas babaquices egoístas com ela, e me parece imaturo demais, até para você, achar que não estamos do seu lado nessa história. Pior de tudo, tentar culpar Sirius pelo seu término! Caso você não tenha notado, nós dois já temos um problema bastante grave sem precisar da sua ceninha se fazendo de vítima. Você está errado!

Lily terminou com você porque não foi honesto com ela, e porque achou que ia resolver o mundo sozinho! Lily terminou com você porque foi arrogante e convencido como um moleque adolescente com mania de grandeza, que acha que pode ditar as coisas e esperar que o obedeçam sempre! Lily era sua namorada, não sua criada, e você deixou ela no escuro, recebendo ordens de como se porta num plano idiota seu e de Sirius!

Marlene e Dorcas se arriscaram mentindo para os pais e encobriram uma amizade com uma completa desconhecida unicamente porque você disse que estava apaixonado! Eu consolei sua namorada quando você estava ocupado em tirar fotos de namoro falso com Emmeline e não dava satisfações sobre seu próprio relacionamento para Lily! Sirius literalmente levou um coice no meio do peito e partiu as costelas para que Lily não chamasse atenção na feira de Chelmsford. Então cale a boca, porque se tem algum ingrato aqui, é você.”  

James não havia dito absolutamente nada enquanto Remo falava, e tinha mordido o lábio inferior para segurar a emoção que estava sentindo. 

Estava doendo como o inferno aquela sensação de coração partido, e admitir a si mesmo que era o único culpado pelo término desastroso com Lily o fazia sentir nauseado. Sentia vergonha de si mesmo, do surto de cólera de minutos antes, e a ressaca moral pelo que dissera a Sirius. Justo Sirius, que nunca o deixara na mão. 

Sua consciência pesava toneladas pelo que tinha tentado fazer Sirius sentir, a culpa da briga com Lily, por ter tentado jogar para ele a responsabilidade do término, e seu rosto doía pelo soco (que ele concordava que era merecido) que levara de Remo. Mas mais do que isso, seus sentimentos ardiam como em um luto, porque caía a ficha de que Lily havia terminado com ele.

— Tá doendo tanto! - murmurou, sentindo seu plexo solar queimar.

Alguém bateu à porta e Marlene atendeu. Um funcionário entrou com um carrinho cheio de fast food a disposição deles, e quando Dorcas indicou para que James viesse comer algo, ele apenas disse que não tinha fome e saiu para seu quarto. 

No segundo em que fechou a porta atrás de si, e se viu sozinho naquele cômodo enorme, com decoração rica e tudo que qualquer pessoa poderia desejar, James foi incapaz de conter o choro que vinha segurando desde que Lily o expulsara do apartamento. Parecia uma vida atrás, e era difícil processar que naquela manhã James tinha feito uma prova, e sua maior preocupação era conseguir comprar sorvete para Lily.

Seu rosto machucado parecia indolor comparado com o que sentia por dentro, e as lágrimas vieram desesperadas, sufocantes e ardidas, quentes contra o rosto, e James achava que jamais tinha se sentido tão miserável. Havia culpa em tudo que tentasse pensar, em todas suas ações, em cada uma de suas palavras naquele dia, e eram, simplesmente, coisas demais para digerir.

Desejava sumir, parar de pensar. 

Soluçou até o banheiro e encheu a banheira de pedra, se afundando nela e deixando as lágrimas se misturarem à água. 

Lily terminara com ele, e estava doendo como um tiro.

***

Na manhã seguinte, James acordou com muita dor de cabeça. Passava das nove horas, e ele precisou de alguns segundos para se recordar porque estava em Buckingham. Percebeu que dormira de óculos, e não conseguia lembrar bem de como tinha acabado adormecendo. Levou a mão ao rosto para coçar os olhos e sentiu dor no local em que Remo o tinha socado, e todas as memórias da noite passada o atingiram de uma vez, doloridas.

Com uma revirada incômoda no estômago, paradoxal ao vazio que sentia pela consciência do término com Lily, James puxou o celular e viu várias notificações de mensagens, e uma chamada perdida. Seu coração pulou um compasso, mas quando James desbloqueou a tela, percebeu que fora apenas Frank, mais cedo naquela manhã. Dorcas havia avisado, cerca de uma hora atrás, que Sirius e Remo estavam entrando na reunião com Vitória, acompanhados de Euphemia e Fleamont, e perguntando se James não desceria para o café.

Não tinha muita vontade de comer, e pensar em encontrar seus amigos também gerava um certo desconforto constrangido, mas James concluiu que não podia evitá-los por muito tempo, e precisava saber como estavam as coisas com Sirius. Porque podia ter sido babaca na noite anterior, mas não seria novamente, e estava mesmo preocupado com a situação dos seus melhores amigos.

Enquanto lavava o rosto e se trocava, James retornou a ligação de Frank, apenas por curiosidade.

— Como você está? Alice me contou.— disse ele, assim que atendeu.

James não conseguiu responder, porque toda aquela piedade e preocupação das pessoas o fazia sentir incomodado, ciente de sua culpa pela situação. Além disso, o término era aquela ferida aberta e pulsante, e cada pergunta daquele tipo, cada menção a Lily, era como enfiar um dedo em um corte que sangrava.

Desculpa, eu não… é claro que você não está bem. Foi mal.— corrigiu-se Frank, constrangido. — Eu só… uhm… só quis checar

— Não. Não, tá tudo bem. É… eu vou ficar legal. Eventualmente. 

— É, eu sei. Você não dormiu em casa…

— Eu vim para Londres, por conta da coisa com o S-

— Com Sirius, é, eu imaginei. Ele foi bem corajoso… espero que fique tudo bem. Tem muita gente apoiando eles, nas redes sociais e tudo. Ouvi que vai ter até uma passeata na Trafalgar Square hoje de tarde. 

— Ah, jura?! Não tava sabendo… talvez ele queira ir lá… você sabe como Sirius é. - brincou James, e Frank deu uma meia risada. 

Não que James estivesse particularmente disposto a conversar, mas sentia que Frank ainda não tinha dito o que tinha tido a intenção de dizer ao ligar para James. Era como se ele estivesse hesitando, ou procurando meios de falar o que queria.

— Mas… ahm, James… tem algo que você devia saber. 

James achava que estava quase se tornando imune àquelas reviravoltas inesperadas, então apenas suspirou e pediu que Frank falasse o que havia acontecido.

— Quando cheguei em casa ontem, ainda não sabia de você e Lily, mas enfim. Quando cheguei a porta estava destrancada, e Peter tinnha ido embora.

— Como é? - perguntou James, confuso.

— As coisas dele todas tinham sumido, e o quarto estava vazio. Então desci até a copa, e o armário dele também estava sem coisa alguma, e os garotos do primeiro andar disseram que ele desceu com caixas e caixas, horas antes.

Peter realmente tinha estado estranho com eles desde toda a situação com Mary, há dois meses, e havia se afastado um pouco. Arranjara novas companhias, amigos de outro curso, com quem fazia algumas matérias, e pouco ficava em casa nas últimas semanas, mas daí sair de casa? James achava estranho, e estava sem entender coisa alguma.

— Então eu contei para Alice— continuou Frank. - porque estava achando estranho, e ela me contou que você e Lily tinham brigado feio e tal. Passei a noite pensando nisso, no porquê Peter tinha ido embora… as coisas não estavam batendo para mim. Não sei o que me deu, mas comecei a achar aquilo muito esquisito, de Peter escolher ir embora justo quando você não estava aqui, num momento bem complicado para você, e sem avisar coisa alguma… afinal, somos amigos, não é?

— Somos! Claro que somos! - assentiu James, sem entender.

— Bem… uhm. Eu não queria ser a pessoa a contar James, mas… bem, eu não acho que Peter tenha sido tão amigo assim. 

— O que quer dizer?

— Como eu disse, estava estranhando tudo. Algo me deu na cabeça, e eu fui olhar de novo a matéria que falava de você e Lily na imprensa. Dizia que uma fonte próxima sua, identificada como P, tinha confirmado seu relacionamento após uma festa à fantasia. Bom, Peter estava brigado conosco no Halloween, é o único P próximo seu e, bem… Peter não sairia de casa sem conversar com a gente se não-

— Se algo não estivesse errado. - James completou o raciocínio de Frank, sentindo-se perdido. - Sim, faz… faz total sentido. 

Além de toda a confusão de sentimentos, se somava agora a sensação de ter sido traído e enganado, de ser um completo idiota, que confiara em um amigo desleal. E pensar que James havia brigado com Sirius na noite anterior, justamente quando Peter estava fugindo dele depois de ter exposto James e Lily na imprensa.

— Eu não estou acreditando que ele foi capaz… - James estava atordoado com a situação, além de sentir um ódio genuíno de Peter. - Estou com tanta raiva!

Comprei fechaduras novas, para caso ele queira voltar.— explicou Frank. - E achei melhor falar com você primeiro… não pretendo contar isso para a Lily agora.

— Não! Não, realmente. É melhor… é melhor dar um tempo, deixar a poeira baixar. 

O coração de James doeu um pouco ao pensar em Lily, e em como ela não desejava que ele, James, falasse com ela, ou a procurasse. 

— Mas é, uhm, era isso. Você vai… não sei, ficar aí pelo final de semana? 

— Provável. Estão vendo o que fazer com a situação do Sirius, e eu quero estar aqui, para caso… não sei, caso as coisas fiquem complicadas. - Frank concordou pela chamada. - Mas eu aviso, qualquer coisa. Você… você a viu, Frank? Ela está…

Ela está mal, James. Mas eu não vou ficar passando informações sobre vocês um para o outro, não seria justo com nenhum de vocês. Só saiba que ela está mal, e eu sei que você está também, então… sei lá, dá um tempo. Foi muita coisa numa semana só.

— Nem me diga. - comentou James com ironia, no fundo sabendo que Frank estava certo.

Eles se despediram, e James procurou o contato de Lily por puro hábito, olhando demoradamente o horário da última vez que ela estivera online, quase duas horas atrás. O olho de James marejou enquanto ele pensava em como a vida de Lily estava continuando sem ele, e a falta das tradicionais mensagens de bom dia foi sentida como um machucado, pulsando no fundo da mente de James.

Ele não queria pensar em Peter naquele momento, mas se sentia traído como nunca fora, e sentia raiva, raiva genuína e corrosiva. Não queria falar com ninguém sobre Peter, não queria sequer lembrar que Peter existia, porque sabia que qualquer coisa que fizesse a respeito daquilo seria inútil. Bater em Peter, por mais vontade que tivesse, não faria o tempo voltar, ou a matéria não ser publicada, ou Lily não terminar com ele. 

Peter tinha sido tão baixo que James não sabia sequer como reagir.

Marlene e Dorcas o cumprimentaram com abraços apertados e carinhosos no café da manhã, completamente neutras aos eventos da noite anterior, e Marlene ajustou o colarinho da camisa de James sobre o suéter enquanto sentava-se ao lado dele, fazendo um carinho na mão do amigo.

Dorcas o distraiu contando sobre o movimento ‘duke&duke’, que surgira na internet para apoiar Sirius e Remo, e mostrou a ele alguns artistas internacionais que haviam aderido à ideia. Havia um vídeo em que Madonna dizia que toda forma de amor era válida, uma foto de vários adolescentes em Norfolk, segurando um cartaz gigante em que se lia ‘nem todo príncipe quer uma princesa’, seguido da hashtag do movimento. Perfis de notícias mostravam manifestações de apoio em cidades como Paris e Nova York, e dezenas de pessoas haviam feito posts com a bandeira LGBTQIA+, marcando os perfis oficiais de Remo e do Duque da Cornualha.

— Vão fazer uma passeata no fim da tarde, na Trafalgar Square. - comentou Marlene, bebericando uma xícara de chá. - Não acho que eles vão…

— Sirius já irritou a vovó demais. - respondeu James, concordando.

— Mas nós devíamos ir. - acrescentou Dorcas. - Se nós apoiamos mesmo Sirius, e estamos contra a ideia da sua avó de abafar tudo isso, vamos precisar dar a cara a tapa.

— Não sei se acho sensato. E também não estou no clima, Doe…

— Não precisa estar. A gente coloca umas máscaras e uns moletons e vai. 

No fim, sentindo dentro de si que devia aquele tipo de ação a Sirius, que devia a ele se arriscar minimamente para apoiá-lo no que era importante, James ignorou a chuva que caía no fim da tarde e saiu, com Dorcas e Marlene para a passeata. Participou do percurso todo, gritou os gritos de guerra, e chorou algumas vezes no processo, pensando em Sirius, e depois em Lily e seu coração partido. Alguém estava colhendo assinaturas dos participantes em um enorme tecido branco, na intenção de expô-lo depois, e James achou que valia a pena o risco.

“Príncipe James Potter esteve aqui, em apoio a seu irmão e melhor amigo”

 Puxou Dorcas e Marlene para um táxi antes que o burburinho da multidão ficasse ainda maior, e algum jornalista quisesse entrevistá-lo, e de seu quarto no Palácio de Buckingham, James assistiu com as amigas a passeata seguir até a frente do palácio, aonde acabou, com as pessoas cantando “All you need is love”.

— Sirius vai se achar tanto quando vir o que essa galera fez por ele. - brincou James, rindo para Dorcas, logo quando Sirius e Remo entravam no quarto e se juntavam a eles.

Os dois se encararam por alguns segundos, o riso de James morrendo no ar pela tensão de reencontrar Sirius pela primeira vez desde a discussão da noite anterior. Sirius estava sério, assim como Remo, mas não havia qualquer traço em seu rosto que desse a entender que a reunião terminara mal. Havia durado quase o dia todo!

— Fui um babaca ontem.

— É, eu sei. Mas esquece isso.

Acabaram por não dizer mais nada um ao outro, apenas trocaram um abraço silencioso, e pela primeira vez naquela semana completamente insana na vida de James, ele teve a sensação de alguma coisa estava no lugar.

— Eu sinto muito mesmo pela ruiva. - murmurou Sirius, segurando o rosto de James, que assentiu, mordiscando a boca. - Você precisava ouvir, onte-

— Eu sei, eu s-

— ...mas eu realmente sinto muito mesmo, Pontas. - a intensidade com que Sirius disse aquilo trouxe de volta ao peito de James a consciência de que perdera Lily, fazendo tudo doer novamente.

— O que… o que deu a reuniã-

— Amanhã. Vitória vai falar com nós dois amanhã, e você vai entender. - James concordou, disposto a tentar enfiar seus pensamentos sobre Lily no fundo da cabeça. - Anda, vamos beber algo para esquecer essa loucura. Deus sabe que a gente viveu um mês em uma semana.

Pelo resto da noite, eles ficaram isolados, os cinco, bebendo e comendo pipocas, assistindo a filmes de qualidade duvidosa, sem conversarem muito, mas digerindo em conjunto aqueles problemas e caos todo que havia virado a semana deles de cabeça para baixo.

***

Na terça-feira Sirius foi mandado para o Canadá, para concluir sua formação como piloto em Toronto, e ficar fora da Inglaterra por alguns meses até que a poeira de sua declaração baixasse. O acordo era que ele retornaria assim que ocorressem as eleições no Parlamento, na expectativa de que o afastamento dele da Coroa preservasse o favoritismo do partido de Alastor Moody para a reeleição.

Sirius e Remo acabaram não tendo muitas chances de opinarem, já que a rainha em momento algum bateu explicitamente de frente com eles. Houve o choque, e o sentimento de traição pela conduta inesperada de Sirius, mas nenhuma tentativa de fazê-lo reprimir sua sexualidade, ou mesmo romper com Remo.

James pensou, com amargura, que era no mínimo irônico sua avó ser mais classista do que homofóbica, mas claro que ficava feliz de Sirius não ter sido tão prejudicado, no fim das contas. Sirius dizia que a opinião popular o tinha ajudado, sem sombra de dúvidas, porque a rainha não iria querer se desgastar daquela forma, mas que não achava que ela concordava cem por cento com a orientação sexual dele, ou com seu relacionamento com Remo.

— Bem, quem tem que concordar sou eu mesmo, então. - brincou Remo na tarde de segunda, roubando um beijo de Sirius enquanto eles o ajudavam a fazer as malas.

Cada um deles voltaria às suas atividades universitárias e pessoais no dia seguinte, à exceção de James. 

Fora uma reunião exaustiva no sábado, e James fora bastante resistente à aquilo, mas após conversar com os pais, e ser aconselhado por Sirius e Remo, ele acabou aceitando o que Vitória lhe pedia (embora James insistisse em chamar de exigência). Com Sirius ficando uma temporada fora do país, James precisava retornar a Londres e assumir alguns dos compromissos inerentes ao seu cargo de segundo na linha sucessória.

Apesar de James estar a pouco menos de um ano de sua formatura, e isso ter sido seu argumento para voltar a Cambridge, a rainha insistira para que ele trancasse o curso por algum tempo, com a promessa de deixá-lo retornar.

— No próximo ano as coisas devem ter voltado à normalidade, todos esses escândalos terão sossegado, e você poderá retomar sua graduação, James. - dissera ela, deixando claro que aquela decisão não a afetava negativamente em quase nada.

Sirius pontuara que doeria menos para James estar em Londres, já que Lily não seria onipresente, com a possibilidade de esbarrar com ela em um mercado, mas era justamente isso que James achava ser a pior parte: não poder ter qualquer notícia direta dela.

— Tem certeza de que pegou tudo? - perguntou James ao estacionar no aeroporto Heathrow.

Era madrugada ainda, e estava frio como só a chegada de dezembro em Londres podia ser. Remo e Sirius estavam no banco de trás, e Marlene acompanhava James no banco do carona.

— Devo ter pego, mas se eu tiver esquecido, ligo para você mandar para mim. - brincou ele, descendo do carro e vestindo o casaco.

James revirou os olhos e ajudou Remo a descer as malas de Sirius do bagageiro do carro. Havia uma quantidade surpreendentemente pequena de pessoas embarcando naquele horário, e Marlene não parava de frisar o quanto voos na madrugada eram inconvenientes. Não levou muito tempo para que Sirius despachasse seus pertences, sendo cumprimentado por alguns desconhecidos no processo.

— Então… é isso aí. Vejo vocês em março. - comentou ele, apertando as mãos em um sinal de desconforto. James fez uma careta de pena. - Ah, não começa! Claro que vai ser uma merda tomar aqueles chás horríveis que americanos bebem, mas não ser decapitado na torre de Londres por gayzisse é bem melhor!

James deu uma gargalhada, porque aquele era o tipo de humor que só Sirius poderia ter em um momento chato e meio desanimador como o que passavam. Havia um sentimento de derrota, como se tivessem perdido todas as batalhas pelas quais vinham lutando nos últimos anos, e mais precisamente os últimos seis meses. Era como se tudo, de repente, tivesse perdido o sentido.

Sirius estava indo embora, e Remo ficaria sozinho. James e Lily tinham terminado, o namoro falso com Emmeline continuava tão real quanto podia ser, e James nem poderia mais voltar para Cambridge, para fazer as únicas coisas boas que lhe restavam: se formar e jogar no time do King’s College. 

— As coisas se ajeitam, Pontas… eu não vou morrer, tira essa cara de abandonado! - riu Sirius, dando um abraço de despedida. - E agora Lene vai poder passar o rodo em Londres sem culpa… por favor, me prometa que não vai deixar o Pontas se fundir com as colunas do palácio!

— Shoreditch e Brixton estão para conhecer o agito da realeza, meu amor! - brincou Marlene, ficando na ponta do pé para dar um beijo na bochecha de Sirius.

— A gente vai esperar ali… -  comentou James, indicando bancos ao lado do elevador que descia para a garagem, educadamente dando espaço para Sirius e Remo se despedirem na entrada para o salão de embarque internacional.

Cerca de dez minutos depois Remo voltou, substancialmente mais silencioso, embora sereno, e o caminho até King’s Cross foi quase deprimente. Remo fez questão de que nenhum dos amigos o levassem até o embarque, e se despediu no estacionamento mesmo. Enquanto James dirigia de volta ao palácio de Buckingham, depois de deixar Marlene em seu apartamento, uma enorme sensação de vazio o preenchia.

Tudo estava meio cinza, desnorteado, escuro. Ainda faltava algum tempo para que o dia amanhecesse, mas ele não achava que conseguiria tirar um cochilo. Londres acordava para outro dia, e a vida transcorria normalmente. Frank, Alice, Mary, Benjy e Lily estariam levantando dali a pouco, indo para suas aulas. Lily pensaria nele tantas vezes quanto ele pensava?

Sentiria aquele aperto lancinante no peito? Pegaria o celular uma infinidade de vezes ao longo do dia, desejando ligar ou mandar uma mensagem?

Era como se as coisas estivessem entrando nos eixos novamente, pela primeira vez em uma semana terrivelmente intensa e emocionalmente desgastante, mas James sentia como se seu eixo tivesse virado alguns graus em uma direção esquisita e confusa. O mundo todo parecia que ia voltar ao normal, e ele se sentia deslocado da realidade.

***

Lily Evans desejava sumir.

Poucas coisas em sua vida tinham sido tão ruins quanto estava sendo a experiência de, apenas uma semana após seu término extremamente doloroso, estar enfiada em um vestido que achava ridículo e ser obrigada a socializar com parentes no casamento de sua irmã.

Petúnia de fato estava linda, e apesar de a decoração da festa toda ser bastante brega para os padrões de Lily, a noiva estava radiante, chorando desde o começo do dia. Lily não entendia muito o que levava alguém a casar em dezembro, com o frio que fazia e toda a impossibilidade de usar espaços abertos para recepcionar os convidados, mas Petúnia fez questão de casar no primeiro dia do mês, em uma festa com uma centena de convidados. 

No entanto, tudo naquele dia que devia ser feliz estava sendo extremamente deprimente para Lily. Desde o fato de que Petúnia reclamara de tudo que Lily fizera para se arrumar (da maquiagem ao penteado), dos gritos nervosos da mãe, emocionada por casar a primogênita dos Evans, até a overdose de referências a amor e afeto, que pisavam no coração partido de Lily.

Lily chorou na cerimônia, não porque adorava Vernon ou aquele espetáculo que Petúnia fizera para o casamento, mas porque doía fisicamente pensar em James, e na falta que ele fazia. As palavras bonitas e ensaiadas de seu cunhado a lembraram de como James fazia serem naturais todos os elogios e cantadas que dizia para Lily, e quando os noivos se beijaram, Lily sentiu como se pressionassem seu coração até explodir.

Foi obrigada a tirar um número incontável de fotos com a família, forçando sorrisos que não queria dar, além de participar de conversas que não tinha vontade de ter. Na verdade, Lily queria ir embora, se enfiar em seu quarto e beber todas aquelas garrafas de vinho sozinha até esquecer que havia terminado o melhor relacionamento que já tinha tido.

Podia sentir os olhares dos parentes sobre ela quando virava de costas, todos curiosos para saber da boca dela sobre todas as especulações que haviam sido veiculadas (e desmentidas pela sra. Evans). A mãe de Lily tentava engajá-la em conversas mais interessantes, e Lily seria grata pelo esforço em tentar fazer a festa ser mais agradável, se não estivesse se sentindo tão deprimida.

— Ei, Lily! - chamaram algumas das amigas de Petúnia, com quem a noiva ria e bebia, sentada em pufes. - Vem aqui conversar com a gente.

Ela preferia levar agulhas nos olhos.

— Oi, oi gente… tudo lindo, não está? - cumprimentou, ficando de pé e dando um sorriso amarelo, pensando em como fugir da interação.

— Lindo, lindo. - comentou uma, que caiu na risada, claramente bêbada. - A gente estava falando aqui, antes da Petty chegar… é verdade?

— O quê? - perguntou, crispando os lábios e vendo a careta incômoda de Petúnia em ter a atenção perdida para Lily.

— Ah, você sabe! - disse outra. - O que saiu na internet… o Duque, é verdade?

As amigas de Petúnia davam risinhos afetados, especulando sobre a vida de Lily na presença dela.

— É claro que não, Nancy! - retorquiu Petúnia, irritadiça. - Você sabe como Lily é esquisita… acha mesmo que ela conseguiria... - deu uma risada maldosa, se interrompendo. - o que o Duque de Cambridge ia querer com Lily? Fala sério!

— É, foi… foi só um mal entendido, Nancy. - acrescentou Lily, tentando se sobrepor aos risinhos das outras mulheres, sentindo o rosto arder com a humilhação. 

— Mas você o conhece, então?

— Ah, sim! Sim, eu conheço Ja- conheço Sua Alteza, o príncipe James. É… somos, somos amigos. Éramos. Somos. - tentou, enrolando-se. As amigas de Petúnia pareciam muito interessadas em fazer perguntas, e fazer de Lily o foco da conversa. - Mas não, não tenho muito que contar. Nós não… não nos falamos muito, nem somos próximos. Não. É, eu vou… docinhos. Vocês… querem?

O olhar mortal de irritação que Petúnia deu a ela, para que Lily saísse dali, foi mais que suficiente e, ignorando os chamados das amigas da noiva, rumou para a mesa dos pais, aonde ficou, até o fim da festa, bebendo taças e taças do vinho caro que a família Dursley bancava naquela noite. Já era quase fim de festa quando um de seus primos a chamou para dançar, com pena de Lily sozinha a noite inteira.

Bêbada e deprimida, Lily se forçou a balançar debilmente de um lado para o outro na companhia do primo, e quando a música virou lenta, e Lily se viu dançando com a cabeça deitada no ombro dele, não conseguiu reprimir o que vinha segurando desde uma semana atrás.

A manhã seguinte à briga e o término com James fora a última vez que Lily se permitira chorar, e apesar da dor emocional gigantesca em qualquer uma das milhares de vezes em que pensava nele ao longo do dia, fazia todo o esforço que podia para não chorar. Porque tinha sido uma escolha dela, e sabia que não poderia ter feito diferente.

Sabia que não teria suportado outra daquelas circunstância de exposição e julgamento. Sabia que não teria suportado James lhe dizer que resolveria coisas que não era capaz, ou fingir que estava bem com ele, quando se sentia vulnerável e com o relacionamento à beira de um abismo. Sabia que aquela escolha teria sido inevitável desde o episódio da Espanha.

Foi assim que Lily acabou a noite do casamento de sua irmã chorando no ombro de seu primo, até se descontrolar o bastante para precisar pedir um carro e ir embora para a casa dos pais. Achava que não tinha mais lágrimas para chorar, e então pensava em James, e em todos os momentos bons, e nos sorrisos dele ao cozinhar macarrão na cozinha de seu apartamento, ou em cada um de seus bilhetes carinhosos para se fazer presente quando não podia estar presente, e chegava a sufocar em seus soluços e pranto.

Doía principalmente porque não parara de amá-lo, doía porque lembrava dele dizendo que o mundo não girava em torno dos dois, e doía porque Lily sabia que era verdade. Doía porque tinha raiva dele, e queria não ter, porque James tinha sido tão bom tantas vezes que soava injusto com a memória do relacionamento ter raiva do que acontecera no fim. 

Doía porque desde aquela primeira viagem à Londres, para o noivado de Petúnia, Lily sabia que ela e James viviam em dois mundos completamente diferentes, que jamais colidiriam, ou funcionariam juntos sem sacrifícios, e, no entanto, ela havia preferido acreditar que eram capaz de fazerem o necessário para estarem juntos. Como se apenas amor bastasse.

Lily não era boba, sabia que amor não bastava. Mas era justamente o amor, a parte mais insuficiente para um relacionamento se sustentar, o que fazia doer tanto quando o namoro acabava em função de todas as outras coisas. O amor era o que fazia doer, quando tudo terminava, e era o amor (ironicamente o motivo da celebração daquela noite) que fazia Lily se sentir miseravelmente machucada.

— Dói tanto, James. Você nem tem ideia. - murmurou enquanto olhava uma das milhares de fotos que não tinha sido capaz de apagar do celular, chorando na cama durante aquela madrugada.


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Notas finais do capítulo

Para os que acham Remo Lupin pacificador e sem sal, trago o lembrete de que ele foi um dos criadores do Mapa do Maroto, e de santo nem a cara, hahaha!
Nos vemos pelos comentários, beijooos!