God save the Prince escrita por Fanfictioner


Capítulo 16
As traições de Halloween


Notas iniciais do capítulo

Como combinado, cá estamos em uma nova segunda :))
Fico feliz que vocês ainda estejam acompanhando, e estou ansiosa para saber o que estão achando desse desenrolar dos últimos capítulos. Como comentei, estamos entrando na reta final da fic, e agora é só ladeira abaixo hahaha.
Não sejam tímidos, vamos interagir! Assim que eu entrar de férias do ead eu responderei todos os comentários propriamente, então podem ir falando comigo por aqui ou pelo twitter, @morgana_botelho, que eu vou adorar!
Boa leitura gente! ❤❤

P.S.: a betagem foi muito rápida para que saísse a tempo, então relevem qualquer erro! Beijooo!



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O mês de setembro passou tão rápido que era mesmo impossível recordar que as férias faziam tão pouco tempo. O retorno às aulas aconteceu a todo vapor, com as aulas, leituras e revisões sendo exigentes desde o primeiro minuto, e todos pareciam sufocados como nunca, embora ninguém esperasse diferente do terceiro e último ano de faculdade.

Além das três disciplinas de sua grade normal para o trimestre (Jurisprudência, Criminologia e Códigos Penais, e Instrumentos legislativos), Lily escolhera cursar uma disciplina de Educação, Política e Desenvolvimento Internacional em outro campus, e outra de Crise dos Modelos Econômicos Contemporâneos, do curso de Economia do King’s College.

Uma vez colocada ao lado da de James, com outras quatro matérias e mais a Sociedade Acadêmica de História, a rotina de Lily fazia com que os dois tivessem pouquíssimo tempo livre para compartilhar, e os períodos de provas nem mesmo se aproximavam.

Após os eventos do anúncio de namoro de James com Emmeline, ele e Lily decidiram que a melhor maneira de fazer com que aquele plano absurdo, de encobrir o real namoro de James, funcionasse, seria evitando os locais públicos e a chance de chamar atenção.

Uma vez que o grupo de amigos deles havia se resumido, basicamente, a casais (agora que Mary e Peter estavam ficando há meses, embora sem qualquer relacionamento sério) não parecia um grande problema que os rolês fossem quase todos em casa. Acabou virando uma espécie de rotina que eles se juntassem às sextas no apartamento de Lily, Alice e Mary para comer pizza, ou ver filmes.

James às vezes emendava o sábado, e passava o dia com Lily, estudando (ou tentando fazê-lo) em conjunto na mesa da sala, e roubando horinhas para amassos no sofá, que geralmente terminavam no quarto de Lily. Era uma rotina calma e agradável, e nenhum deles parecia muito à fim de pensar que era o último ano em que aquele modo de vida estaria disponível.

Em outubro as primeiras avaliações vieram - seguidas do primeiro surto nervoso de Alice, que caiu aos prantos fazendo um bolo na sexta-feira à noite, pensando em sua nota na apresentação daquele dia - e todos se viam imersos em horas de estudo que pareciam não fim, além de várias garrafas de bebidas alcoólicas variadas. Benjy se tornou uma adição muito agradável ao grupo, e os seis viraram sete em uma amizade harmônica.

Ao menos até perto do meio do mês, quando as coisas desandaram.

— Não! Saia daqui, Pettigrew! - berrava Mary, com o rosto vermelho de irritação, no estacionamento do prédio.

Peter estava igualmente raivoso, a alguns poucos metros de Mary, e parecia que a gritaria tinha algum tempo quando Lily, acompanhada de Frank e Alice, chegou do mercado naquela tarde de sábado, trazendo frutas e pão para o lanche.

— O que tá havendo aqui? - perguntou Frank, imediatamente largando a sacola de compras com Alice e adiantando-se em direção ao colega de apartamento, que parecia disposto a entrar nas vias de fato com Mary.

— Tá havendo que seu amigo é um bundão machista do caralho!

— Vai à merda, Mary! VÁ À MERDA, SUA ORDINÁRIA! - ele gritou de volta, apontando um dedo para Mary.

— Acalmem-se, vocês! O que aconteceu? - pediu Lily.

— Agora eu sou a ordinária?! Eu, Peter?

— Eu não fiquei sendo uma vagabunda que fica com outras pessoas estando comprometida!

Aconteceu rápido demais, e se não fosse Frank ali, as coisas teriam ficado agressivas. Mary crispou os lábios e apenas murmurou ‘vai se foder’ antes de avançar contra Peter, para acertá-lo com um potencial soco. Frank a segurou pelos ombros e a empurrou de volta para trás.

— Louca! Insana! É isso que você é, Mary! Uma louca! Nunca vai achar alguém que aguente você com esse temperamento e esse caráter baixo e promícuo.

Peter gesticulou um sinal de insanidade, ao lado da cabeça, e estufou o peito como uma pomba, querendo chamar Mary para o enfrentamento. A garota tinha os olhos úmidos e o rosto vermelho, o que poderia ser tristeza ou raiva.

— Você. Você é a criatura mais baixa que eu já conheci, Pettigrew! - ela comentou, falhando a voz, irritada e à beira do choro.

— Eu tenho nojo de você, sabia? Você é nojenta. Mary Macdonald, a engenheira mais vadia, ardilosa, oferecida e sem respeito que Cambridge já formou. - Peter insistiu, batendo palmas e revirando os olhos em um escárnio violento. - Eu sempre fui bom demais para você, mesmo. 

— Chega, Peter! - ordenou Frank, virando-se para o amigo e se impondo. - Continue a falar assim com ela e eu vou ser agressivo com você.

— Se você soubesse do que ela fez… essa aí não é decente como Alice, cara. Não vale a pena.

— Eu  sei o que você está fazendo, Peter. Não se trata uma mulher com esse vocabulário. Vai embora, esfriar a cabeça. - ele indicou a rua com a cabeça. Peter olhou furioso para Mary e provocou.

— Está adorando esse circo, né? Vai contar às suas amigas o que fez, Macdonald?

— Vai embora. - exigiu Mary, chorando. - VAI AGORA! NÃO PISA MAIS AQUI!

***

Quando Peter foi embora, Mary desatou a chorar, e foi assim pelo resto do final de semana, sozinha em seu quarto. Alice e Lily não entendiam o que tinha acontecido, porque a amiga ainda se recusava a contar o motivo da discussão, mas pelo resto da semana, nem Frank, nem James pisaram no apartamento, apenas por precaução.

Benjy apareceu na quarta-feira, com sorvete para Mary e um enorme hematoma no rosto, deixando Lily e Alice curiosas e atentas para qualquer informação que pudessem captar através da porta fechada do quarto da amiga. Frank e James não tinham sido capazes de extrair qualquer relato de Peter sobre o motivo da discussão extremamente acalorada dele com Mary, e James ainda tinha confessado que o amigo parecia agir como se a garota jamais tivesse existido na vida dele.

— Eu quero conversar… - comentou Mary em baixo tom na sexta pela manhã, na hora do café. - Vocês merecem saber o que ‘tá acontecendo.

— No seu tempo, May. 

— Isso aí, estamos aqui com você. - sorriu Lily, cortando um pão para recheá-lo com bacon e queijo.

— Não, é sério. Eu quero falar… vocês têm tempo hoje de noite? - ela perguntou, ignorando o tom paciente das amigas.

— Frank e James queriam… bem, talvez a gente fosse sair para ver eles dois. - explicou Alice, meio constrangida. - Para não ser estranho para você que eles estej-

— Eles podem vir aqui, gente! Deus, são os namorados de vocês… e acho que eles merecem saber sobre Peter, também. Sobre como é um covarde machista.

Alice concordou, dizendo que chamaria James e Frank para o jantar, e que a conversa poderia acontecer naquele momento.

— Eu tenho aula até às oito, com o pessoal da economia - acrescentou quando Alice a olhou confusa. - Mas vocês podem começar sem mim, sem problemas.

— Vamos cozinhando, e quando você chegar eu derramo o chá* então, Lil - riu Mary, dando uma piscadinha. - Desculpem pela semana estando péssima em casa, meninas.

— Amigos são para esses momentos, não é? - Lily deixou um carinho no cabelo de Mary. - E agora eu vou indo porque hoje o dia é longo.

Lily tinha leituras e obrigações o dia inteiro na sexta-feira, com poucos intervalos livres para estudar na biblioteca. O último deles era entre as 17h e as 18h30, antecedendo a aula do curso de Economia. A biblioteca do departamento das ciências exatas não era, de longe, tão agradável quanto a do curso de legislação, nem tão bonita quanto a do departamento de História - que Lily passara a frequentar por conta de James -, mas era um bom lugar para matar o tempo antes da última aula da semana.

Geralmente Lily saía para comprar um café no Prêt a três ruas do campus, e então ficava na biblioteca, tomando a bebida quente e fazendo anotações sobre os textos e doutrinas que precisava ler. 

— Eu atrapalho?

— Severo! Não, de modo algum. - comentou ela, cumprimentando o rapaz com um sorriso amigável e abrindo espaço na mesa para que ele colocasse suas coisas. - Estava mesmo acabando o artigo para a discussão de hoje.

— Já habituada ao PBL*, então? - perguntou, sentando-se na cadeira ao lado de Lily.

— Aos poucos eu vou indo… e como vai o jornalismo?

Embora tivesse se conhecido há apenas pouco mais de um mês, e nunca tivessem trocado mais do que conversas triviais antes e após as aulas, Severo e Lily tinham uma relação incipiente  de amizade. Não falavam de muitas coisas que não tivessem a ver com a área acadêmica, e tudo que Lily sabia de mais aprofundado sobre o rapaz de nariz adunco e cabelo escuro era que ele se interessava por jornalismo, apesar de não haver o curso em Cambridge.

— Quê? Ah! - perguntou ele, confuso, mas logo entendendo, quando Lily indicou o livro que ele deixara sobre a mesa.

— “Mídias, comunicação e o capitalismo.” - ela leu o título, folheando o exemplar. - Forçou a barra demais com essa relação com a Economia, não acha?

— Ei! - ele exclamou, fazendo Lily rir. - Só meu orientador de pesquisa pode me julgar. Quem nunca esteve num curso pouco a ver com sua área e acabou forçando os temas de estudo, não é mesmo?

—  Deus sabe que eu mesma não posso falar nadinha sobre… Por quê, mesmo? Que não está no Jornalismo?

— Não rolou a bolsa em Northampton, de onde eu sou. Nem em Coventry. E me sobrou essa vaga aqui, que não tem muito a ver, mas me interessa também. Jornalismo econômico, quem sabe? - deu de ombros, folheando o livro que pegara da mão de Lily.

— Quem sabe… espero que dê certo. Não sou a maior fã de jornalistas. - brincou Lily com um risinho irônico, sabendo que era uma piada interna que Severo não entenderia.

Jura?! Por quê? Não gosta de notícias?

— Gosto, gosto… só… não sei, muito sensacionalismo, às vezes. E a manipulação também, o jeito como parecem distorcer as coisas e as pessoas.

— Eu vejo como liberdade de expressão… a verdade tem muitas faces, não acha? - perguntou ele, curioso pela percepção de Lily.

Ela pareceu pensar um segundo, se recordando das fotos de James e Emmeline na imprensa, seguida da lembrança do acidente de Sirius, que logo virou um chamariz de abutres da mídia. Lily achou graça da ironia de estar sendo crítica de algo que sempre defendera: liberdade e verdade, mas de fato havia muito mais tons entre o preto o branco que costumava ser sua visão de mundo dicotômica.

Eu acho é que você se daria bem no direito, Snape. - ela ponderou, rindo e se levantando, juntando suas coisas para ir para a aula. - Você usa a dúvida a seu favor, e sabe manipular os argumentos muito bem… nunca cogitou ser advogado?

Snape deu uma risada, satisfeito com a provocação de Lily, e também se levantou para ir para a sala.

— Por que usar minhas habilidades para algo chato, se posso usar em algo legal como o jornalismo? 

— Sempre responde uma pergunta com outra?

— Só quando tem o tom de provocação. - Lily riu, mas depois que chegaram na sala, cada um sentou-se em um canto, e eles não tornaram a conversar naquele dia.

***

— Eu estou faminta! Me digam que tem comida pronta nessa casa, por favor! - resmungou Lily assim que chegou no apartamento.

— A minha sobremesa acabou de chegar, então… - provocou James, dando um sorriso malicioso para ela, antes de deixar um beijo na boca de Lily, que revirou os olhos.

— Tragam o extintor antes que a sala pegue fogo com esses dois. - cantarolou Mary em implicância. - A torta de macarrão está no forno, sua esfomeada. 

Lily logo ajudou a organizar a mesa, e aproveitou os minutos restantes para o jantar ficar pronto para sentar-se na sala, enroscada em James, e conversar com Frank, Alice e Mary sobre amenidades.

As cervejas não estavam exatamente geladas, mas considerando que o outono estava firme em seu compromisso em esfriar o tempo, ninguém achou ruim. Após a refeição, eles aconchegaram-se entre os pufes, o sofá e o tapete, e o assunto começou a tangenciar o tópico da conversa de Mary, pela manhã.

— Será que ainda tem do sorvete que Benjy trouxe? - perguntou Alice, que estava recostada no tapete, contra as pernas de Frank. Mary concordou e ofereceu-se para buscar. - Não, não… só estava curiosa.

— Estou curiosa para saber o que, mesmo, Benjy veio fazer aqui.

Mary respirou fundo antes de começar a contar, porque sabia que o assunto iria render.

— Benjy veio me ver, saber como eu estava.

— Achei que ele era amigo do Pete. - perguntou Frank, perdido.

— Não acho que ainda sejam. - confessou Mary.

— O que aconteceu, afinal? Ele estava com um hematoma enorme, o Benjy.

— Foi o Peter, Alice. No sábado de noite. Ou já era domingo, não sei…

— Peter bateu no Benjy? - perguntou James surpreso. - Peter é um covarde, ele não bate-

— Realmente um covarde, já que quase bateu na Mary! Se não fosse eu ter segurado os dois…

— Na verdade, eu quase bati nele. Inclusive, desculpa pelo papelão aquele dia, Frank… foi ridículo! Eu nem sei porque ele veio aqui mesmo…

Lily tentava juntar os pontos, mas nada fazia muito sentido, exceto que Peter sempre fora meio ciumento. Mas daí a bater em Benjy sem motivo era meio demais. Mary bebeu um gole de sua cerveja e começou a, finalmente, explicar o ocorrido.

— Zilhões, zilhões de vezes eu perguntava a Peter se era sério. Se estávamos mesmo juntos, se era um relacionamento para valer, um namoro… afinal fazia meses, tipo...estávamos saindo desde o verão! Eu não sabia se estava ou não namorando.

— E ele?

— Você conhece seu amigo, James. Ele não é muito de compromisso, é? - perguntou Mary, com as sobrancelhas arqueadas em ironia. - Ele não é. Peter sempre disse que não precisávamos ter pressa, que estávamos nos conhecendo, que ele me curtia e sei lá mais o quê…

— Curtia? Ele tem o quê, cinquenta anos? - perguntou Alice, e eles caíram na risada.

— Quando estou conhecendo pessoas, não tenho obrigação com ninguém. Não é sério. Peter me deu um perdido umas semanas atrás, coisa de última hora. Acho até que foi sair com outra pessoa.

— E estaria tudo bem se fosse, não é?

— Sim! Exato, Lil, exato! Mas ele não achou isso quando soube que eu saí para beber com Benjy… vocês lembram desse dia.

De fato, Alice e Lily lembravam-se daquele dia. Mary tinha comentado que sairia para ver o jogo do Arsenal com Benjy, e beber umas cervejas em um pub próximo. Ninguém estranhou, porque eram amigos, e Mary gostava de futebol.

— Ele surtou, fez uma cena quando soube. Discutimos, ele pediu desculpas dias depois… enfim, passou. Mas fiquei com um pé atrás, e estava mesmo pensando em terminar qualquer coisa que ainda tivesse com ele. Aí na sexta passada saí com Benjy, e a conversa veio e foi, e ficamos.

James levantou as sobrancelhas, surpreso, embora sem julgar Mary. Peter realmente não era muito de compromisso, e gostava de ser mulherengo, o que já havia rendido boas discussões dele com o amigo. E se Peter não pedira Mary em namoro, e estava vendo outras pessoas, qual o mal em ela fazer o mesmo?

— Um tal de Mulciber, amigo do Peter, aparentemente tinha ido no pub para ‘ficar de olho em mim’, e viu eu e Benjy juntos, e aí vocês imaginam! Ele me ligou na sexta de noite e fez uma confusão, gritou e me xingou, e eu disse que estava terminando então. E ele não aceitou.

— Como assim, não aceitou? - questionou Alice. - Ele queria terminar, no sábado, não queria?

Ele queria terminar. Não aceitou que eu terminasse. Aí apareceu aqui no sábado de tarde, e começou a falar mil coisas… mandei ele embora, Peter insistiu, continuou a me xingar e a querer fazer escândalo. O resto vocês viram. - ela deu de ombros. - Não sou vadia, nem traí ninguém… mas dói ouvir esse tipo de coisa.

— Claro que sim! Ele faltou completamente com o respeito! - exclamou Frank. - Peter foi ridículo! Eu sinto muito, Mary.

— Mais que ridículo. Ele foi extremamente abusivo! - corrigiu Lily. - Mary, deixar amigos dele de olho em você, fazer cenas e escândalos sem sequer ter um relacionamento sério com você… foi um livramento!

— E pelo jeito com que ele estava gritando, e parecendo que ia bater em você, temos que agradecer que vocês não namoraram… imagina? - acrescentou Alice.

— Não sei se imagino Peter sendo violent-

— Tá defendendo o Peter, James? - perguntou Lily indignada.

— Não! Não, claro que não! - adiantou-se James, temeroso de ter sido mal compreendido. - Eu quis dizer que não imagino ele cometendo violência física… existem muitas formas de violência, e claro… ele foi completamente sem noção com você, Mary. Sinto muito por isso.

Frank concordou com James, e durante um tempo eles comentaram sobre como Peter parecia estranho nas últimas semanas. Apesar de morar no mesmo apartamento, ele estava distante de James e Frank desde antes de terminar com Mary, e naquela semana fora ainda mais. 

— E o Benjy, afinal?

— Peter foi tirar satisfação com ele depois que saiu daqui. Pelo que Benjy contou, ele estava embriagado, e rolou só uns dois minutos de conversa antes das vias de fato. Uma babaquice! Ele disse que Peter já tinha ficado com uma menina que Benjy era afim, antes, e ele nunca nem tocou no assunto.

— Peter está passando dos limites, não acha, Frank? - perguntou James, com uma sobrancelha arqueada em preocupação. - Agressivo, abusivo… essas companhias que ele anda arrumando não parecem boas.

— Ele está mesmo… uma conversa com ele talvez desse efeito. Não quero um cara desses no meu apartamento, Alice vive lá.

Alice grunhiu um murmúrio de emoção e ficou de joelhos sobre o tapete para puxar o pescoço de Frank e dar um beijo nele, ao que Lily revirou os olhos, mas sorriu.

— Ele mudou de repente, gente… eu achava que conhecia Peter, mas depois que começamos a sair, não sei… 

— Nem mesmo eu tô reconhecendo ele, Mary. - comentou James. - E não quero abusador morando no nosso apartamento, perto da Lily, convivendo com vocês. Vou conversar com ele amanhã…

— Vamos os dois, então. - acrescentou Frank. - Então… você e Benjy…?

Mary deu um risinho, subitamente percebendo que o assunto tinha mudado de um tópico revoltante para outro leve e meio implicante. Sem perceber, ela corou quando Benjy foi mencionado, e achou graça que os amigos fossem rápidos e não deixassem nada passar.

— Não quero ir depressa… um soco no rosto já é emoção demais para um novo namorado.

— Então é namoro?! - empolgou-se Alice, com um sorisso. - Sempre gostei do Benjy!

— Calma, Lice! - Mary riu. - É, e não é… é complicado. Mas vamos dizer que estamos juntos… só que indo devagar. Amigos que se beijam.

— Só beijam? - perguntou Lily com um sorriso malicioso, ao que Mary arremessou uma almofada, constrangida, fazendo James e Frank tirarem provocações com ela.

***

A conversa de James e Frank com Peter acabou se provando a coisa mais inútil possível, já que não só o garoto ficou na defensiva o tempo inteiro, quanto debochou de Mary durante todo o assunto.

James, em específico, pediu que o amigo maneirasse no comportamento, porque estava machucando as pessoas, e avisou que não aceitaria aquele tipo de conduta de caráter duvidoso em seu apartamento, ao que Peter se mostrou ofendido e passou a atacar James.

Tudo acabou sendo extremamente desgastante e, por fim, Peter acusou James de ser autoritário, dizendo que ele ainda não era Rei para sair ordenando às pessoas o que deviam fazer, e que deveria se colocar em seu lugar. Frank saiu em defesa de James, repreendendo a conduta de Peter para com Mary, e com eles mesmos recentemente, e a conversa virou um bate boca, até que Peter resmungou um ‘tanto faz, chega para mim.' e não voltou para o apartamento naquele dia.

O clima seguiu bastante desagradável pelo resto da semana, e Peter evitava falar muito mais do que o necessário com os colegas de apartamento. Quando o segundo lote de ingressos para a festa de Halloween mais famosa de Cambridge ficou disponível, Frank e James nem mesmo convidaram o amigo para ir com eles, já que as garotas iriam junto, e ninguém queria uma cena entre Peter e Mary.

Seria uma das poucas vezes, até então, que James sairia em público com Lily. Como sempre, optavam por sair em grupos de amigos, de maneira que soaria normal se algo vazasse na imprensa, e não haveria suspeitas, porque era normal que James tivesse amigas.

A festa de Halloween, no entanto, era uma ocasião especial, porque deviam ir fantasiados, e James esperava que o uso de um figurino diferenciado desse a ele a oportunidade de ter a companhia exclusiva de Lily - em uma dança, para dar um ou outro beijo -  sem chamar atenção demais.

A última semana de outubro serviu para eles ajustarem suas fantasias e aproveitarem alguma folga, porque novembro choveria de compromissos e avaliações, e eles sabiam que teriam pouco sossego até as férias de inverno. Havia uma empolgação excessiva para a festa de Halloween, e por alguns dias, a sala do apartamento de Lily, Alice e Mary virou um ateliê de figurinos, com os três casais ficando juntos até tarde para costurar coisas, arrumar tecidos, e mesmo matar tempo, bebendo cervejas na companhia uns dos outros.

Talvez sem Peter eles fossem um grupo até melhor.

***

Festas não eram muito o seu tipo de evento social.

Na verdade, sendo honesto, Severo não era uma pessoa muito social como um todo. Pessoas o cansavam, o irritavam, e na maioria das vezes ele preferia a companhia de seu notebook, e suas câmeras. Fotografia e escrita eram melhores que muita gente, e ele ficava satisfeito de passar seu tempo livre na câmara escura que era seu quarto, bebendo álcool e estudando jornalismo.

Já que sua graduação era longe de ser o que pretendia fazer da vida.

No entanto, algumas coisas o haviam motivado a estar socializando, em público, e fantasiado de Darth Vader. A primeira era o fato de Mulciber e Avery terem se voluntariado para pagar o ingresso dele, já que Severo andava em uma situação muito delicada de verbas.

Depois, havia a questão de o álcool gratuito ser liberado até a uma da manhã, e ultimamente Severo sentia que precisava beber para tirar sua cabeça das ideias que vinha tendo sobre sua colega de turma que, curiosamente, também era um potencial interesse comercial.

Não que ele fosse sequestrá-la para o mercado clandestino de órgãos nem de pessoas, credo! Mas Lily Evans era a fofoca jornalística mais atraente que Snape já tinha investigado em sua experiência mínima.

Quando Lily apareceu em sua turma de economia, Severo achou que teria um acesso, porque fazia quase quinze dias que ele escrutinava a vida inteira da garota para saber se ela tinha um caso com o príncipe James Potter. Claro, também havia o fato de ser estupidamente bonita, e ter uma voz mansa que era um paradoxo à intensidade dos cabelos ruivos.

Severo se sentia um idiota em admitir que ficara completamente rendido pela garota, mas ficara. 

A curiosidade, e o interesse em vender uma matéria de fofoca boa o bastante para gerar dinheiro até arrumar um emprego, tinham levado Severo a observar Lily atentamente, e apesar de desenvolver uma relação amigável com ela pela frente, pelas costas era quase um stalker. 

No caso, ele era um stalker de James Potter, e Lily entrava na dança por estar quase sempre junto.

Em um mês de empreitada, Severo descobriu um total de nada. James Potter era, sim, amigo e conhecido dela, mas nunca estavam sozinhos em público, e a relação era sempre amigável e cordial, o que tirava Severo dos nervos.

Se eles tinham um namoro escondido, os dois eram bons em mascarar, porque não haviam saído da linha um segundo, mesmo sob o olhar atento dele. Havia desistido do empenho em desmascarar James com Lily, porque aquilo já parecia uma alucinação de sua cabeça, dado que não havia absolutamente nada aparente.

Aquilo era frustrante e animador na mesma medida.

Frustrante porque antes ele tinha uma certeza imensa de James e Lily tinham algo, e que a Princesa Emmeline não era a garota da foto em Schoreditch; e animador porque quanto mais pensava naquilo, mais Severo sentia que suas entranhas queimariam de ciúmes se Lily tivesse mesmo algo com James Potter.

Se antes ele era indiferente ao Duque, bastou um mês de escrutínio para detestá-lo. Potter era arrogante, e tinha um sorriso que clamava por atenção e aprovação, falava e ria alto com os amigos, e Severo sempre se questionava como aquele homem que mais parecia um animal poderia ser o herdeiro da coroa, com aqueles modos.

E claro, havia o fato de James ser muito, muito próximo de Lily. Severo se sentia roer de irritação quando o príncipe ria para Lily, ou quando andavam juntos, entre os amigos. Aquela garota era um anjo, e alguém nobre e almofadinha como James, que vivia pelas aparências da família Real, jamais mereceria a amizade de Lily - que dirá ficar com ela.

Severo tinha um ciúme e uma raiva doentias do Duque de Cambridge, e desejava absurdamente que houvesse como queimá-lo diante de todo mundo, para que Lily notasse o péssimo ser humano que ele era e deixasse de falar com ele - porque Snape sabia que James havia traído a princesa da Espanha. Tinha certeza! Só não sabia com quem, agora que Lily havia sido descartada.

Mais do que tudo isso, Severo desejava que Lily notasse que ele estava completamente apaixonado por ela.

E foi justamente essa a terceira coisa que o fez aceitar que Avery e Mulciber comprassem seu ingresso para o Halloween: Lily havia comentado, na última sexta-feira, que viria com seus amigos, e perguntado se Severo estaria também. E ele não negaria um convite de Lily.

— Não sei se foi exatamente um convite, Snape. - comentara Avery. - Pareceu que a garota só estava perguntando mesmo… mas, de qualquer maneira, aí está o ingresso.

Ele se virou com o que tinha em casa, e comprou uma máscara horrenda do Darth Vader, em papelão, disposto a conseguir a companhia de Lily na festa. Claramente foi uma ideia idiota, já que a casa de festas estava cheia, a luz era difusa e todos estavam fantasiados, sendo impossível encontrar Lily no meio de todas aquelas pessoas.

Avery foi com Snape, e logo os dois encontraram Mulciber no bar, onde haviam combinado. O amigo estava na companhia de outro rapaz, um pouco volumoso e que se fantasiara de algum personagem de anime, a julgar pelo kimono que vestia.

— Darth Vader, o Naruto aqui é o Peter. Peter, esse é o Severo. - apresentou Mulciber, implicando com as fantasias dos garotos.

Ficou claro para Severo que Avery já conhecia Peter também, e depois de algumas bebidas e conversas, ele decidiu que Peter era aceitável, embora parecesse feliz demais, e muito tagarela para seu gosto. O assunto deles rendeu, e ficaram os quatro juntos a maior parte do tempo, com Peter e Avery saindo para ficar com uma ou outra garota de vez em quando.

— Eu devia dar uma volta… ver se eu a acho. - comentou Severo em algum momento.

— Marcou com alguém, garanhão? - perguntou Peter, claramente além da conta de álcool, fazendo Severo arquear as sobrancelhas com algum desgosto.

— Uma conhecida comentou que estaria aqui, e eu queria encontrá-la. - respondeu, impaciente. - Eu volto já.

Mas Lily não estava em qualquer lugar aparente, e quando Snape voltou ao grupinho, Avery, Mulciber e Peter haviam pego uma mesa para sentarem-se, e uma garota de cabelos escuros estava no colo de Avery - se apresentando como Katherine Greengrass.

— Achou sua Padmé, Skywalker? - implicou Mulciber.

— Engraçado. Não, Lily não deve ter vindo.

— Lily? Que Lily?

— Evans. De Legislação, do King’s.

— Ela veio sim. - comentou Peter, levantando os olhos para esquadrinhar o salão. - Eu a vi ainda há pouco… veio com um grupo de gente. Ah! Olha ela ali, de Pepper Potts.

A alguma distância estava Lily - o cabelo ruivo inconfundível -, vestida com uma camisa masculina de botões e um short, numa versão despojada da esposa do Homem de Ferro, dos filmes de herói, rodeada por um grupinho de amigos e amigas. Havia uma garota loura baixinha vestida com rosa demais, numa tentativa de ser a princesa Peach, acompanhada de um garoto vestido de Mário, do video game. 

O típico casal brega. 

Então havia dois outros homens, de costas para Snape, e uma garota ao lado de Lily, fantasiada com algo irreconhecível. Todos pareciam estar se divertindo, mas o riso solto de Lily, vestindo aquela roupa simples, mas que nela ficava sexy demais, era um deleite para Severo.

— Você… você a conhece? - perguntou Snape.

— Fiquei com uma vadia de uma amiga dela. Aquela de Pocahontas. - e Severo deduziu que era a fantasia irreconhecível da terceira garota.

— Entendi. Eu estudo com ela, uma matéria de Economia.

— É, eu lembro. Ela faz mesmo uma coisa assim de economia… não sei o quê internacional, não é?

— Crise dos Modelos Econômicos Contemporâneos. - ele corrigiu, presunçoso.

— Isso aí.

— Ela é uma gostosa, isso sim! - comentou Mulciber, secando Lily com os olhos, e Severo precisou trancar o maxilar para não demonstrar a raiva. - Como é que você acerta o ninho e erra o pássaro, Rabicho?!

Peter deu uma gargalhada e bebeu um gole do copo de vodca e energético que havia pego no bar, empurrando Mulciber com o ombro.

— Sai daí, seu abutre! A garota não é para o seu bico não… Evans é gente boa, não merece um bosta como você. - respondeu Peter em tom de brincadeira, rindo. - E ela tá fora da pista… comprometida.

Houve um solavanco no estômago de Severo, seguido de uma curiosidade ardente, que ele foi incapaz de refrear.

— Ah, é? Quem?

— Um dos meus colegas de apartamento… aquele ali. - apontou para o rapaz dançando perto de Lily, agora inconfundivelmente nítida a armadura de Tony Stark que ele usava. O clichê era tão brega que fez o sangue de Severo ferver de ciúmes.

— Manda nomes que eu bato um papinho com o camarada… não sou um cara ciumento, cê sabe, Rabicho! - Mulciber insistia na piada, rindo, enquanto Avery e a garota Greengrass enganchavam-se em um beijo.

Era cada vez mais difícil para Severo conter o ímpeto de socar Mulciber, mas estava tão igualmente curioso por saber quem era o parceiro de Lily - e por poder confirmar que ela, realmente, não era a garota da foto com Potter, podendo ferrá-lo tranquilamente. - que se segurou e mordeu a língua, ansioso por ouvir o que Peter tinha para falar.

— Eu não sei se… - ele pareceu ponderar alguns segundos. - Ah, bem, foda-se, estou puto com ele mesmo. É o James.

— James, James… - Mulciber repetiu, pensando. 

Mas Severo não precisou de meio segundo para saber de quem Peter falava, porque só havia um James que convivera com Lily todo aquele tempo. E era justamente o único James que ela não poderia ter mencionado namorar, o único James que ela teria escondido namorar e, principalmente, era o único James de quem Severo tinha ódio - embora aquela altura ele achasse que teria ódio de qualquer cara que estivesse beijando Lily em seu lugar.

— James Potter.

— Ah! O Duquezinho, tô sabendo… - disse Mulciber com irrelevância. - É, meus amigos, nobre e ainda pegando a gostos- espera… ele não estava namorando aquela menina lá?

— Quem? - perguntou Peter, meio preocupado.

— Aquela, da Espanha. Princesa também… Emília, eu acho. Sei lá, outra ruiva gostosa… saiu na internet um tempo atrás, não foi?

Apesar da meia luz, Severo pode notar Peter ficar levemente pálido, como quem estava com medo. Snape podia farejar medo, e sim, ele sentia aquele cheiro em Peter. O rapaz estava arrependido de ter dado com a língua nos dentes, já que supostamente era um sigilo.

“Tarde demais, Rabicho.” pensou Snape, em um surto interno. Queria esganar Potter por estar com Lily, por encostar nela, e, ao mesmo tempo, era delicioso estar certo em suas suspeitas e poder ter o Duque de Cambridge em suas mãos com uma fofoca.

— Ah… ah, é. Acho que lembro dela… uma meio ruiva, meio loira, não é? Eu, eu não sei bem como…

— Ela está namorando há tempo, Peter? A Evans?- perguntou Severo, com fingido desinteresse. - Ou é coisa recente… do verão para cá, talvez?

— Eu… eu não saberia dizer, Severo. James é...James é bem reservado com as coisas dele, eu não… - hesitou, claramente nervoso. - Enfim, eu vou pegar bebida, vocês querem?

— Sempre bom beber para digerir as novidades. Pede uma Cuba Libre para mim, Peter. - pediu Severo, contendo o enorme sorriso de presunção que queria dar.

A raiva e o ciúmes tinham seu espaço muito bem dividido com a satisfação de estar certo. Como ele desejava esfregar isso na cara de Lúcio agora, como desejava ferrar James publicamente até não haver mais retorno. Um prazer odioso, mas ainda assim um prazer.

Quando voltou a observar Lily, ela estava com as mãos enroscadas no pescoço de James, beijando-o (o que fez as entranhas de Snape vomitarem dentro dele), e o Duque estava sem o capacete da armadura Stark, deixando visível o cabelo escuro despenteado, os óculos e o rosto principesco quando a luz do globo passava pelo casal.

Severo dobrou todo o ciúmes e a irritação odiosa por ver Lily beijando alguém (especialmente o Potter!), e apenas puxou o celular do bolso. Quando conseguiu tirar a foto, eles já não estavam mais com os lábios grudados, mas sorriam um para o outro e estavam perto demais para apenas amigos. A resolução não era, de fato, das melhores, mas era o que a luz ruim permitia, e o registro fotográfico era realmente agridoce para Severo.

Mas se expor James significaria Lily odiá-lo (ainda que sofrendo um pouco no processo), ele ser execrado na mídia, e a angelical estudante de Legislação finalmente abrindo os olhos para o fato de Severo adorá-la e estar ardentemente apaixonado, então valia a pena.

Na hora certa, com um pouco mais de material, James Potter finalmente seria ensinado a ser menos arrogante. Quebrar a cara era algo que um príncipe com tantos privilégios precisava experimentar alguma vez na vida, para criar anticorpos.

— Eu sou, inevitável, senhor Stark. - murmurou, revirando os olhos, ao guardar o celular e aceitar o drink que Peter lhe trouxera. - Festa maneira, né? Não sou de sair, mas até que está valendo a pena.As 


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Notas finais do capítulo

Vejo vocês nos comentários?
Beijooo ❤