God save the Prince escrita por Fanfictioner


Capítulo 13
Refúgio, sigilo e necessidade


Notas iniciais do capítulo

Voooooltamos!
Um pouquinho depois do previsto, um pouquinho antes do que imaginava, haha... primeiramente eu queria dizer que.... BATEMOS 3K DE LEITOREEES! Uhuuu!
Eu comemoro cada um de vocês que aparecem, favoritam, acompanham, e, principalmente, os que comentam e interagem... seus lindes!
Aos tímidos de plantão, não se sintam intimidados, vamos amigar! Estou sempre pelo twitter (@morgana_botelho), e tento sempre responder todos os comentários de vocês ❤

O capítulo está recheado de Jily, fofuras e, ao mesmo tempo, questões sérias e tretas... estamos nos encaminhando para grandes acontecimentos, então esse desenvolvimento de agora é essencial!
Espero que gostem, vejo vocês nas notas finais.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791842/chapter/13

Lily achava que já tinha tido as mais variadas experiências de vida possíveis, mas acordar cedo - extremamente cedo - no Palácio Buckingham e sair para a sede da ACNUR - ONU era uma nova adição em sua lista.

Antes de adormecer, na noite anterior, ela tinha lembrado de colocar um despertador para às seis da manhã, porque a última coisa que desejava era esbarrar com a rainha tomando seu desjejum. James teve a cortesia de acompanhá-la até a cozinha e pedir que os funcionários servissem algo de café da manhã.

— Bom dia, Sua Graça. Milady. - cumprimentou uma funcionária do palácio quando eles desciam as escadas, curvando a cabeça.

Lily a reconheceu como a moça que os havia recebido no dia em que tinham voltado de Chelmsford, empurrando a cadeira de rodas de Sirius para dentro do palácio.

— Bom dia, Winky. - respondeu James com um sorriso leve.

De primeira, Lily foi contra a ideia de tomar café ali, porque nada no mundo a convenceria de que aqueles funcionários não fariam especulações sobre ela e James à imprensa. No entanto, ele a garantiu que, mesmo que cogitassem algo, seus contratos os impediam de vazar qualquer informação do Palácio, então Lily relaxou e aceitou de bom grado o café da manhã, já que precisava estudar para a apresentação de seu grupo na ACNUR naquela manhã.

Para evitar maiores exposições, diminuir a chance de Vitória Potter surpreendê-los em algum dos corredores, e não dar chance de qualquer um especular o porquê de um “black cab” chegava ao Palácio de Buckingham pouco depois das sete da manhã, James achou mais eficiente sair com Lily pela porta dos fundos e levá-la de carro até a sede do Alto Comissariado para Refugiados.

Lily pediu que James estacionasse uma rua depois do prédio, apenas por segurança, e o jeito como ele a beijou em despedida naquela manhã fez seu corpo protestar de todas as formas possíveis contra aquela separação temporária. O cheiro do perfume de James tinha ficado impregnado no vestido novo de Lily, e a menor das memórias da noite anterior fazia o corpo dela esquentar e se remexer em desejo, completamente avesso à ideia de abandonar James tão cedo de manhã e sem uma segunda rodada do que acontecera.

— Eu tenho que ir. - resmungou ela em um grunhido de protesto, sem, no entanto, fazer qualquer esforço para desgrudar-se dele.

James suspirou fundo, revirando os olhos em um tom quase divertido, se Lily não soubesse que era frustração por saber que eles realmente tinham outros compromissos.

— Eu sei. - ele esfregou o rosto e recostou-se no banco do carro. - Só… antes de você ir…

— O quê?

— Eu falei sério ontem, Lil. Não foi uma coisa pós-transa. Eu realmente amo você. O pessoal, Aluado, Almofadinhas… eles sempre implicam que eu sou emocionado e tudo, que eu me entrego muito rápido. Mas, sério, Lily, eu não sei explicar como, só que eu me sinto diferente sobre você.

Lily o olhou com intensidade, os olhos quase marejando, porque James mexia com seus sentimentos de uma maneira quase cruel de tão intensa. Ele a fazia se expor emocionalmente até ficar vulnerável, e Lily às vezes se perguntava se amar era realmente assustador daquele jeito.

— Alguma hora eu vou conseguir explicar, colocar em palavras, exatamente o que eu sinto.. mas por hora… eu realmente amo você, Lily Evans.

Sem saber como responder à intensidade com que James estava se declarando, Lily o beijou, enterrando seu rosto na curva do pescoço dele em seguida, murmurando:

— Eu completamente amo você também, Potter. - e depois de algum tempo, ela acrescentou. - Mas eu preciso mesmo ir embora agora, amor.

— Vai, vai… a gente se fala depois, querida. 

James beijou a mão dela antes que Lily saísse, e então esperou ela dobrar a esquina para voltar para o Palácio de Buckingham. Passava um pouco das oito da manhã quando ele estacionou o carro e entrou em “casa”, pronto para tomar café com os demais familiares e hóspedes.

— Bom dia, família! - comentou com um sorriso largo, entrando no salão. 

— Alguém dormiu bem essa noite, eim, Pontas? - debochou Sirius, passando geléia em um pedaço de pão.

— Nada como uma boa e longa noite de sono, Almofadinhas… aliás, vocês ficaram até muito tarde dançando ontem?

Andrômeda e Dorcas disfarçavam a vontade de rir com a cara de pau de James em aparecer simplesmente tão risonho, sem se incomodar com nada. Euphemia conversava com a mãe de Marlene, e Fleamont e o Barão de Arlington comentavam a primeira página do jornal.

— Nah! Aluado logo arregou de sono, não é, Aluado? 

— Fazer o quê, não é? Eu sempre quero ir logo para a cama… - ele respondeu com um risinho, deixando óbvio para os jovens o duplo sentido. - Mas eu ainda durei mais do que você na socialização, Pontas.

— Ressaca boa, Mckinnon? - provocou James, os assuntos dos jovens sendo escrachados de maneira sigilosa na presença dos demais.

— Um pouquinho menos de animação a essa hora manhã seria bem vindo, James. Ou eu quebro a última garrafa de uísque na sua cabeça...  - resmungou Lene, bebericando seu café.

O Duque de Sussex e o Barão logo se levantaram para irem aos seus compromissos, pois a rainha tinha reuniões com a Primeira Ministra, enquanto os dois adultos deveriam comparecer à um evento da Marinha Britânica. Ao sair, Fleamont deixou tapinhas amigáveis no ombro de James, convidando todos a jogarem tênis no dia seguinte.

Teddy, Andrômeda, Remo e James se comprometeram a participar, enquanto Marlene e Dorcas prometeram apenas torcer entusiasticamente.

— E Lady Lily, ela não joga? - perguntou Fleamont. - Aliás, ela está bem? Não desceu para o café conosco...

— Lily… é… ela tinha um compromisso, Fleamont. Ela saiu hoje logo cedo. - adiantou-se Marlene. - Ela pediu muitas desculpas, é. Eu ia esquecer de avisar, bem lembrado!

Fleamont pareceu confuso, porque nada havia sido comentado na noite anterior.

— Tem certeza disso, Marlene? Ela não ficou… não sei, constrangida com a discussão de ontem à noite, ficou? Porque mamãe sabe ser estúpida, mas Lily obviamente era bem vinda no café…

— Ah, não. Não, pai, está tudo bem. Lily tinha um evento na ONU, de um curso que está fazendo… ela precisava estar lá ced-

— Alguém pediu um carro para ela? - reclamou Euphemia, quase indignada. - Por Deus, nossos convidados já foram melhor recebidos, James!

— Eu mesmo a levei de carro, mamãe. Para não haver transtorno algum, já que a Lene tinha passado da conta de bebida…

Marlene revirou os olhos para James, desconfortável com o risinho debochado e confiante que ele exibia.

— Eu refaço o convite quando ela voltar então… Lady Lily ficará hospedada conosco até quando mesmo, Marlene? 

— Ahm… eu acho que só até hoje, Fleamont. - ela engoliu em seco, confusa. - Lily estava bem… uhm… ocupada esse verão. Mas eu posso verificar. Eu a convido para o tênis amanhã?

— Com certeza! - ele exclamou, saindo do cômodo. - Ah, e James… sua avó quer que você vá com ela em algum evento no Victoria & Albert hoje pela tarde, seria bom você verificar.

James concordou, bebericando seu café fumegante, rindo por dentro com a satisfação de saber que sua família tinha adorado Lily - com as devidas exceções, claro-, e ninguém desconfiava de coisa alguma sobre a não nobreza no sangue de Lily.

***

Realmente, Lily não retornou ao palácio para jogar tênis com o sogro no dia seguinte, e nem viu James pela semana toda.

A ACNUR estava exigindo todo o tempo e esforço dela, e, ao mesmo tempo, continuava sendo a coisa mais recompensante e gratificante da qual Lily já tivera a oportunidade de fazer parte. No meio da semana ela teve a oportunidade de visitar um abrigo mantido pela ONU na costa sudeste do país, em Dover, que recebia inúmeros refugiados vindos da cidade de Calais, na costa da França, um dos maiores campos de refúgio da europa.

— O local que vamos visitar será, muito provavelmente, diferente da realidade que todos os senhores vivenciam e conhecem, e pode ser chocante. As equipes de trabalho foram montadas da maneira mais diversificada, multiprofissional e multicultural possível, para garantir que a atuação dos senhores seja efetiva. - explicou a coordenadora do projeto, Mafalda Hopkirk, antes mesmo de eles entrarem no abrigo.

— Esperamos total comprometimento, mas lembrem-se… mais do que tomar notas e fazer apontamentos para o trabalho final, esperamos que essa seja uma oportunidade de se conectarem com pessoas, verem os seres humanos que existem por trás dos registros de refugiados em um campo. - continuou o outro orientador, cujo nome Lily nunca lembrava.

A equipe de Lily ficaria responsável pelas atividades no núcleo de educação e infância do abrigo, e a estrutura precária a chocou para além do que ela esperava. O espaço era pequeno, e havia uma ausência quase completa de materiais didáticos.

Os papéis e lápis coloridos que eles haviam levado para as atividades daquele dia pareciam uma raridade pelo lugar, e os poucos livros infantis e juvenis que haviam no espaço, adaptado para ser uma escola provisória, eram fruto de doações e estavam puídos, gastos e cheios de orelhas e manchas. As crianças e jovens eram muitos, e Lily ficou responsável por um grupo de adolescentes que mal falavam sua língua.

Após algum esforço, uso de tradutores virtuais e muita mímica, ficou mais claro a história de vida da maioria dos jovens daquele grupo. Eram meninas e meninos sírios, todos entre os quinze e os dezessete anos, e estavam migrando de seu país há meses. Uma das meninas contou que desejava aprender inglês para fazer faculdade, e se inspirava em Malala, e Lily achou que fosse chorar naquele instante.

Um dos garotos ambicionava ser youtuber, e documentava sua jornada em vídeos que gravava em seu celular, e perguntou se Lily se incomodaria de aparecer em algumas fotos e vídeos, ao que ela prontamente disse que não seria incômodo algum, e juntos passaram um bom tempo entre atividades e conversas.

Lily se despediu dos adolescentes com uma mescla de gratidão e sofrimento, porque era angustiante não poder fazer quase nada por eles na situação em que estavam. De fato, ela quase não tomou nenhuma anotação que fosse relevante para seu trabalho final, mas a transformação emocional e em sua percepção de mundo fora grande o bastante para ela ser capaz de redigir um artigo inteiro a respeito.

— Vou seguir você e divulgar seu canal, Mohamed. - ela disse por fim, trocando um soquinho com o garoto.

— Você é a melhor, Lily. - disse ele enrolando o inglês. - E quando eu for um youtuber famoso, vou chamar você para ser entrevistada no meu canal.

Ela riu, com um aperto no peito, ciente de que o governo não chegava ali para ouvir aquelas histórias, conhecer aqueles jovens e enxergá-los como as pessoas incríveis que eram, e que para a maioria dos ingleses, aqueles refugiados eram um problema. Pessoas como Mohamed não tinham direito a sonhos.

***

— E com um disfarce que deixaria a Scotland Yard no chinelo, Lily Evans entra no carro do príncipe James de moletom preto e óculos de sol. - debochou James às gargalhadas quando Lily sentou-se no banco do carona.

— Por que você não vai à merda, eim, Potter? - ela retrucou, rindo e puxando-o para um selinho.

— Eu gosto quando você está esquentada, ruiva.

— Eu gosto quando você não me mata de fome e me leva logo para jantar. - resmungou, dando um tapinha na perna dele. - Como estamos hoje?

James sorriu com o carinho de Lily e dobrou na primeira avenida, descendo as ruas de Holborn até Schoreditch High Street, a rua de entrada para o bairro hipster e cheio de pubs, onde os dois poderiam se perder na multidão de jovens e turistas.

— Cansado. E com saudades de você, óbvio. - Lily pareceu derreter no banco do carro. - Tive que participar de uma sessão entendiante do parlamento, e acho que minhas orelhas cairiam se eu não tivesse ido embora.

— Você foi embora? - a voz de Lily soou duas oitavas mais alta, preocupada.

— Nah, relaxa. - ele sorriu de lado, puxando a mão de Lily para um carinho enquanto paravam em um sinal fechado. - Eu estava lá apenas como ouvinte, e estava um porre. Falei que ia sair para beber com Sirius, assim os dois temos a noite livre.

Lily riu, negando com a cabeça e achando graça da situação.

— James Potter, se você mentir um pouco mais seu nariz vai virar de madeira e crescer daqui até Cambridge. 

A companhia de Lily era algo a que James estava completamente acostumado, e funcionava como uma espécie de droga na qual ele era viciado. As piadas de humor duvidoso, a língua ferina e os debates de alto nível eram o tipo de coisa que faziam James sentir facilmente a ausência de Lily, e ele quase desejava que o verão acabasse e eles pudessem voltar à rotina cotidiana na faculdade, com companhia onipresente.

Durante o jantar, puderam colocar em dia todos os assuntos perdidos e atropelados da semana, com direito a debater algumas pautas do parlamento e discutir os estudos de grupo de que Lily fizera parte. O jogo de tênis do domingo tinha virado do interesse de Lily quando ela soube que Fleamont a havia convidado, não sendo surpresa que a dupla de James e Teddy tivesse ganhado.

— Remo não tem muita habilidade no tênis, mas Andy joga muito! - ele comentou. - Devíamos jogar em Cambridge, qualquer hora…

— Se você prometer que vai me ensinar antes… porque meu nível não chega a rebater uma bolinha. - James riu, beijando os nós dos dedos de Lily.

— Mas afinal, você vai contar sobre como foi a visita ao abrigo em Dover? Fez todo um mistério… 

Ele brincou, puxando o crachá de estagiária e estudante da ONU-ACNUR que estava pendurado no pescoço do Lily e observando a foto de identificação, em que ela estava séria e com os cabelos caindo pelos lados do rosto. Lily ficou calada, e ponderou o que falar por alguns momentos.

— Não foi um mistério, eu só fiquei tocada, e acho um assunto sério… queria falar dele com respeito e importância. - o tom dela parecia levemente magoado.

Não era como se fosse culpa dele, ou proposital, mas às vezes James deixava explícito o fato de serem de realidades diferentes. Em alguns momentos, Lily tinha dificuldades em dissociar James Potter, seu namorado coincidentemente príncipe herdeiro, de James Potter, segundo na linha de sucessão ao trono, subalterno do pai, da avó e do Parlamento Britânico para assuntos governamentais. 

Às vezes, quando situações como a do abrigo de Dover aconteciam, Lily sentia-se com um pé atrás quanto a James. Não com ele, seu namorado fabuloso, em específico, mas com o cargo político que ele tinha. Era como se, por alguns instantes, a revolta com o governo, com a xenofobia e a desigualdade promovidas por lideranças políticas do país fosse transferida a James, e Lily sabia que isso se devia, única e exclusivamente, ao título dele.

Ela sabia que James não era uma pessoa ruim, mas o fato de ele não fazer nada para resolver os problemas a incomodava, mesmo que racionalmente ela soubesse que eram decisões muito além da alçada dele. Por mais que debatessem política com frequência, nem sempre era claro para ela qual era o posicionamento de James sobre as coisas, e quando situações daquele tipo aconteciam, Lily achava invariável julgar o privilégio que ele tinha.

— Desculpe, eu não quis ser grosso, Lil… sei que é sério e importante. Vamos, me conte, como foi no abrigo. - pediu ele, sorrindo pacientemente e desarmando-se contra a mágoa dela.

Por algum tempo Lily contou o que tinha visto, as realidades, as histórias das pessoas. Contou de Mohamed e seu sonho de trabalhar com internet, contou da menina que se inspirava em Malala, contou das crianças que estavam sendo alfabetizadas em inglês com materiais mínimos e de baixa qualidade, e contou das marcas emocionais trágicas que aqueles jovens todos tinham, muito mais do que ela jamais sonhara em experienciar.

— Meu coração ficou tão pequeno, James… e, ao mesmo tempo, eu me senti tão grata por estar ali. Aprendi tanto com eles, em um período tão curto… queria poder fazer mais, agir mais… porque países como o nosso incentivam a desigualdade e a violência em países como os deles.

— Nós só somos desenvolvidos porque exploramos eles para ser… é, eu sei. - James acrescentou, com a expressão de quem estava contendo um bolor amargo na boca do estômago.

Por algum tempo nenhum deles disse qualquer coisa. Lily porque as memórias da visita a Dover a estavam deixando emotiva e James porque sabia bem a posição que ocupava nas privilegiadas estruturas de poder que faziam jovens como aqueles não terem acesso à educação de qualidade, ou serem marginalizados na sociedade, ou terem de fugir de seus países.

— Eu devia estudar isso mais. - ele comentou a certo momento, bebendo sua cerveja. - Entender a estrutura do Alto Comissariado, ler as diretrizes sobre refúgio e imigração mais recentes…

Lily sorriu para ele, apertando a mão livre de James sobre a mesa. Apesar de divergências que pudessem acontecer entre os posicionamentos deles, James nunca tinha sido qualquer coisa diferente de humanitário, e ela ficava feliz de saber que ele se reconhecia como parte de estruturas de poder complicadas.

— Obrigada por… sei lá, se importar com algo que é relevante para mim. - ele piscou, com um sorriso pensativo. - Podemos mudar de assunto?

— Mudando de assunto em três, dois, um… - ela riu. - O que você está planejando para esse final de semana?

Quando James considerou que já havia bebido o bastante (e esperado tempo o suficiente sem beber para poder dirigir), e Lily percebeu que já estava tarde demais para quem teria aula de prática legislativa de imigração no dia seguinte, eles foram embora. O carro de James não estava longe, mas a caminhada de alguns minutos até ele foi agradável porque ventava fresco e à medida que agosto caminhava para o fim, o verão ia se despedindo.

De mãos dadas com James, e não mais que isso porque ainda era um local público, Lily gargalhava dos comentários ácidos dele sobre Sirius, e das piadas que fazia sobre os óculos escuros largos e redondos que ela usava para não chamar atenção.

***

[post do instagram]

45360 pessoas curtiram 

buckinghamGossip_opf: companhia do verão ou mais?

Ontem de noite, sexta-feira, 17, o Duque de Cambridge foi visto andando em Schoreditch High Street, saído de um pub, na companhia de uma sortuda desconhecida. O casal estava em clima intimista, de mãos dadas, riso solto e aproveitando a noite do bairro hipster badalado.

Ainda não se sabe quem é a garota felizarda, porque o rosto estava cuidadosamente escondido por óculos escuros e capuz de moletom, mas seria essa ruivinha a nova cara metade de Sua Alteza Real, príncipe James? Ou estaria o queridinho da coroa apenas com uma agradável companhia passageira de verão?

(postado há 30min)

#oprofetadiário #buckinghamGossip #príncipeJamesPotter #príncipeJames #royalHouse  #casal #DuquedeCambridge



***

Os planos de James e Lily para o final de semana eram uma trilha de bicicleta em Parkland Walk, seguido de um bom café e lanches no final da tarde, mas foram cancelados porque James teve um compromisso de última hora com a família real. Lily acabou indo passear com Héstia e Dédalo em Camden Town, comendo comida de rua em barraquinhas do mercado a céu aberto e terminou a noite em um pub com apresentação de DJs ao vivo, chegando de volta na sede da ACNUR tarde da noite.

“Desculpa mesmo ter cancelado, Lil… a reunião com a vovó era para avisar de uma viagem de emergência na semana que vem. Me liga depois que eu explico, divirta-se gatinha :)” James enviara horas atrás, mas estava tarde demais agora, e Lily tinha bebido o suficiente para estar sonolenta e necessitada de uma noite de sono, então se limitou a uma resposta rápida.

“Cheguei em casa agora, ligo amanhã, babs. Boa noite, amo você”.

Na manhã seguinte, antes mesmo de começar os compromissos do dia, Lily ligou para James, e veio a descobrir do que se tratava a emergência familiar que requisitara a reunião na tarde/noite anterior.

— Não é nada sério, na verdade. Não pareceu, pelo menos… mas vai ser um evento importante da Casa Real da Espanha, e nós temos uma relação muito boa com eles. O Rei Filipe é tipo… tetraneto da minha… - ele pensou por algum tempo. - da bisavó da vovó.

— Isso parece desafio de lógica. - Lily riu. - Ele é seu primo, então?

— Em algum grau entre o décimo e o vigésimo, sim. - debochou ele. - A vovó obrigou todo mundo a ir, na verdade. Ela acha que Sirius e eu não estamos agindo como realeza o suficiente.

— Você precisa andar com sua capa de veludo e seu cetro, Alteza. - foi a vez de Lily debochar, falando baixo enquanto bebericava o chocolate quente que servira em um copinho de isopor.

James riu, concordando com ela.

— Ela é terrível, você sabe. Mas eu concordo em parte… eu passo um bom pedaço do ano em Cambridge, escondido do mundo, e quase não apareço fazendo minhas funções de Duque, nem nada do tipo. E não vai ser tão demorado, são só dez dias. Tem algum evento que eu não sei qual é, depois reuniões e coisas chatas, e outro evento que também não sei o que é…

— Em resumo, você não sabe o que é nada. - implicou Lily, rindo pelo telefone.

— Por aí… mas eu sei que vamos sair sexta, todos nós, para nos despedirmos. Lene e Sirius vão viajar com a gente, Aluado vai voltar para Northamptonshire e Dorcas para Chelmsford… então você vai ficar meio só na última semana. - o tom dele era quase um pedido de desculpas.

— Oh, coitada de mim… pobre Lily Evans, perdida em Londres sem nenhum amigo da realeza para sair com ela.

Lily revirou os olhos, achando graça, e ao mesmo tempo gostando muito, daquela preocupação carinhosa de James com ela e com a possibilidade de que ficasse sem algum apoio em Londres, mesmo que ele soubesse que ela era completamente capaz de se cuidar bem sozinha.

— Palhacinha. Mas vai ser só uns diazinhos… nós viajamos na segunda que vem, e você vai embora... na sexta?

— Sábado de manhã, meu pai vem me buscar. E depois… Cambridge, fazer mudança.

A mudança de apartamento era um assunto que vinha deixando Lily preocupada e animada na mesma medida. O prédio que Alice e Mary tinham encontrado e visitado não era exatamente moderno, mas tinha uma estrutura muito boa, e calefação surpreendente, o que era excelente para o inverno.

Ficava um pouco mais próximo do campus das três, e na metade do caminho que antes faziam para o apartamento dos rapazes - o que Lily sabia que tinha sido um pré-requisito para Alice -, com a única desvantagem de não ter mais elevador, mas felizmente morariam no  segundo andar. Outras coisas que compensavam eram a cozinha consideravelmente maior, e a existência de uma sacada na sala, ainda que a vista não fosse nada impressionante.

— Sei que tinha me comprometido de ir ajudar, Lil, mas realmente não vai ter como. - ele insistiu, parecendo chateado consigo mesmo.

— Que bobagem, Jay. Eu entendo, óbvio. Peter e Frank vão ajudar… aliás, você está sabendo que o Peter e a Mary estão ficando?!

— Ele comentou, mas é sério mesmo? Peter é mulherengo demais para estar ficando sério com alguém… - Lily riu, pois Peter não passava a aura de namorador.

— Mary disse que eles saíram algumas vezes já, quando ele consegue ir vê-la. Parece sério, para mim, mas não sei. Veremos… eu preciso entrar, Jay. Vai começar o seminário de hoje.

— Claro, claro! Eu ligo de noite… aliás, minto. Eu tenho um jan-

— Relaxa, Jay... - ela sorriu, em um tom condescendente. - Vamos nos falando. Um bom dia, querido. Amo você.

— Um ótimo dia, amor. Je t’aime. - James respondeu com um sotaque francês forçado, fazendo Lily rir.

A semana avançou rápida, e logo já era sexta-feira e todos estavam saindo juntos, especificamente se reunindo no apartamento espaçoso e moderno de Marlene, do outro lado do Tâmisa. Lily percebeu logo que sentiria falta da companhia quase constante de todos, e que já se sentia muito à vontade na companhia deles.

Sirius a tratava como se fosse uma espécie de irmã mais nova, como a mascote do grupinho, e Dorcas a fazia sentir a pessoa mais inteligente do mundo quando tirava dúvidas sobre legislação. Aos poucos Lily a tentava convencer a cursar a mesma área na universidade, a despeito dos esforços de Marlene em trazer a amiga para as áreas artísticas.

Quando todos eles se espremeram nos sofás e poltronas da sala super estilosa de Marlene, com garrafas de bebidas variadas espalhadas, luzes baixas, e um filme de ação na televisão, Lily sentia-se em casa, e seu coração se apertava com um saudosismo bom daquele verão quase surreal de especial.

Não só estava estudando o que sempre tinha desejado, na cidade que amava, como também podia desfrutar de amigos tão queridos que ela jamais imaginou possuir, e um relacionamento amoroso que parecia vindo sob encomenda de tão perfeito. Às vezes ela pensava que nem merecia aquilo tudo, mas James fazia questão de relembrá-la que era real (e ela fazia sempre o trocadilho mental de que era Real).

***

— Alecto, Alecto… você tem certeza absoluta de que não vai conseguir informação alguma? - perguntava Lúcio Malfoy enquanto encarava a tela do computador. A frustração irritada contida em seu tom de voz.

— Eu fiz o que pude, Lúcio, juro! Mas a garota parece não existir no mapa! Nenhuma foto com James Potter foi postada em lugar algum, com nenhuma marcação, nem mesmo ao perfil privado dele. E definitivamente não tem nenhuma menina ruiva em nenhuma das fotos dos amigos próximos dele.

A mulher estava um pouco mais atrás, apoiada na mesa central da sala de reuniões, na companhia de outros dois funcionários, e parecia temer a reação do chefe.

— Inferno! - ele explodiu, socando a bancada sobre a qual o computador estava. - Eu sei, tenho certeza, que Bella mencionou algo sobre uma garota ruiva naquele incidente do cavalo em Essex, mas essa mulher não está em lugar algum!

— Não é nossa culpa, Lúcio. - murmurou a outra mulher ao lado de Aleto, os cabelos louros quase brancos escorrendo de sua cabeça com uma perfeição simétrica. - Eles também não querem escândalos… seja quem for, deve estar tomando o cuidado de não se expo-

Ele pediu silêncio com apenas um gesto, e a mulher se calou.

— Eu quero mais esforços. Vão ao restaurante, perguntem por aquele dia. Alguém precisa ter atendido eles, deve ter ouvido um nome...

Um rapaz entrou na sala de reuniões em silêncio, carregando uma pasta de papéis, e ninguém nem mesmo pareceu notar que ele chegara.

— Lúcio, querido… por favor, seja racional. Deixe isso de lado. - a mulher loura, esposa de Lúcio, pediu, adiantando-se e o tocando gentilmente no braço. - Logo vamos ter outras notícias sobre eles para especular… essa viagem que foi anunciada, por exemplo. Por que não deixar Alecto se ocupar com isso?

— Não, Cissa. Eu sinto, eu sei… é algum segredo. James Potter nunca guardou sigilo com relacionamento algum, e dessa vez é diferente. Faz meses que ele não sai da linha, e um adolescentezinho deslumbrado que nem ele não deixa de ser inconsequente de uma hora para a outra.

Lúcio soltou-se do toque de Narcisa e passou a caminhar pela sala, pensando em voz alta.

— Vamos! Alguma ideia? Alecto? Tivemos uma interação acima da méd-

— Mais do que acima da média, senhor. - interrompeu o outro rapaz, ao lado de Alecto. - Foram mais engajamentos do que as publicações todas da semana anterior somadas. Foi um furo de notícia!

— Ninguém esteve especulando a vida de James Potter recentemente, mas agora vão… toda a imprensa, e aquelas contas de fofocas feitas por fãs e baba-ovos da família Real! - espumou ele. - Todos eles vão fazer buscas, e edições, e fotinhas…  e se outra pessoa descobrir quem é a garota ruiva antes de nós… 

O tom dele era irritado e enérgico, e o jeito como apontava o dedo em riste soava quase ameaçador, ainda que Alecto e o outro funcionário permanecessem impassíveis, acostumados às explosões do chefe. Quando Lúcio virou-se para o computador em que antes tinha estado, surpreendeu-se ao ver o estagiário silencioso ali.

— O que pensa que está fazendo aqui, moleque?!

— Eu acho que sei quem é ela. - o garoto murmurou, dando zoom na tela do computador para observar detalhes da foto de James Potter com a garota ruiva que o acompanhava.

— Como é? - perguntou Alecto com os olhos faiscando. 

Lúcio Malfoy parecia em dúvida se devia levar a sério ou não o estagiário, dado que ele não era o tipo que passava muita confiança. Os jeito calado e taciturno não eram exemplo de profissionalismo no meio da comunicação e do jornalismo, mas Severo Snape havia conquistado a vaga de estágio pelo renomado currículo que possuía, pela proatividade que demonstrara na semana de teste e, principalmente, pelo domínio em softwares e mídias sociais variadas.

Ainda assim, o garoto era quase sempre uma figura ausente. Mesmo há quase um ano na empresa, nunca havia participado de mais de três reuniões presenciais, e costumava trabalhar virtualmente, já que ainda era acadêmico em outra cidade. Nunca tinha deixado uma pauta ou edição ser entregue atrasada, era verdade, mas até ali não tinha feito nada de surpreendente, e Lúcio jamais confiaria a ele algo que fosse além das redes sociais do Grupo Editorial Profeta Diário.

Redes sociais? Sim. Edições de qualquer uma das revistas do grupo, ou mesmo matérias do jornal impresso? Nunca!

— O que disse, Snape? - questionou com calma.

— Acho que sei quem é ela. Ou ao menos sei como saber quem é. - ele repetiu, virando-se para encarar a equipe de trabalho com uma expressão razoavelmente presunçosa.

Lúcio indicou com a cabeça que ele continuasse.

— Estão vendo isso? - ele deu zoom em um detalhe sobre a blusa da garota. - É um crachá de identificação. Com um pouco de esforço vocês podem notar que é o símbolo da ONU desenhado aqui.

Alecto, Lúcio, Narcisa e o outro rapaz - Amico - se juntaram em torno da tela do computador e puderam confirmar o que Snape dizia. Sutil e quase imperceptível a um observador menos cuidadoso, mas estava lá. Tanto o crachá quanto a logomarca das Nações Unidas nele.

— Não parece muito, mas é o suficiente. Não vamos conseguir ler um nome, mas podemos ver listas de estagiários da ONU nesse verão. São os únicos que usam esse tipo de crachá, Senhorita Carrow. - ele acrescentou quando Alecto pareceu abrir a boca para protestar.

— Espera que eu vá olhar um a um os estagiários da ONU, Snape? - ela debochou, rindo.

— Não espero esse grau de compromisso da senhorita, para ser sincero. - retrucou mordaz, fazendo Lúcio revirar os olhos.

— Ora, seu molequezinho insubordinad-

— Mas para sua felicidade, eu tive a sorte de estar no lugar certo, na hora certa, há algumas semanas. - ele continuou, interrompendo-a.

Agora Lúcio estava genuinamente interessado no que Snape tinha a dizer, pedindo com um aceno de mão que Alecto segurasse a língua.

— No final do último trimestre eu decidi almoçar no restaurante da universidade, coincidentemente no mesmo dia que Sua Alteza Real esteve lá com alguns amigos, e posso me lembrar de uma garota ruiva à mesa.

Alecto arregalou os olhos, e Narcisa deixou um sorriso largo de satisfação se espalhar pelo rosto.

— Claro, eu não lembraria o nome nem se tivesse prestado atenção na conversa. Não é como se meu mundo girasse ao redor daquele mauricinho arrogante que é James Potter, mas o caso é que no dia em questão eu me lembro de a garota ter dado um berro no restaurante, e contado que havia sido aprovada em alguma coisa na ACNUR.

— ONU. - exclamou Alecto.

— Genial. - Snape debochou, continuando como se não tivesse sido interrompido. - Agora, somando as peças… eu não consigo calcular qual a probabilidade haver mais de uma garota ruiva na casa dos vinte anos que esteja estagiando na ONU e que tenha relações de proximidade com o príncipe herdeiro, mas deve ser mínima. Assim, não deve ser difícil olhar os registros da faculdade para descobrir quem é a garota. Com certeza ela vai colocar isso no currículo acadêmico.

Ninguém disse nada por algum tempo, e Snape parecia não conter em si a presunção e a satisfação de ter algo relevante a acrescentar na equipe.

— Alecto, vou transferir você para o editorial do jornal, e pedir que alguém de lá fique por conta das revisões de mídia. - disse Lúcio depois de momentos, afastando Snape com um gesto e tornando a se sentar na cadeira de frente para o computador. Alecto não pareceu satisfeita, mas apenas cerrou os lábios em irritação. - Snape, você acha que poderia descobrir informações sobre a garota?

— Eu volto para Cambridge na próxima semana, Malfoy. Uma vez lá eu posso me responsabilizar por isso… devo precisar de mais uma ou duas seman-

— Não importa. Ache a garota, quero tudo que puder me dizer sobre ela. Se Potter se descuidar, e se você for bem eficiente, talvez até consigamos uma foto dos dois juntos em Cambridge… eu duvido que isso tenha sido algo de verão. - ele pareceu pensar. - Não… isso é um relacionamento sério, e eu arrisco dizer que secreto.

— Então eu vou ficar responsável pelas informações e pelos posts na coluna do Buckingham Gossip? - perguntou Snape com vivo interesse.

— Se você conseguir bastante dados, Snape, podemos até mesmo pensar em uma matéria toda sua na próxima edição da revista. Fotos, edições sobre a vida dessa garota… o céu é o limite. Depende da sua habilidade em escavar a vida dela. - ele sorriu com uma malícia desafiadora para Snape

Como se Lúcio tivesse mencionado a chance de uma mudança radical de vida, os olhos de Snape faiscaram de deleite, principalmente com a expressão frustrada e claramente raivosa de Alecto, que fora substituída pelo estagiário. Tomando o cuidado de não deixar evidente sua presunção, Snape limitou-se a agradecer, porque sabia que era ousado o pedido que estava prestes a fazer. Trabalhar para o Grupo Editorial Profeta Diário nunca fora a grande ambição profissional de Snape, mas as contas chegavam e não era como se houvesse muita escolha.

— Vou ver o que posso fazer, Lúcio. Aliás… quem sabe possa pensar em um aumento para caso eu ache o que procura. As taxas do último ano são altas. 

O tom dele era confiante, e com uma nota de desdém, mas por dentro Snape sabia como se sentia: levemente desesperado pelo dinheiro de que precisava para se formar, e, quem sabe, achar emprego melhor do que postar stories do instagram para uma coluna de fofoca de um editorial tendencioso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Finalmente descobrimos quem era o personagem oculto de capítulos atrás, eim?
Aquele dia no restaurante da universidade, era Snape o "garoto magricela de cabelos escuros que levantara a cabeça de um livro que lia", metendo seu nariz anormalmente grande no que não era de sua conta hahaha. Será que ele merece um arco de redenção por aqui, ou somos todos snapefóbicos?
Opiniões e reviews? Vejo vocês nos comentários, beijooos!

P.S.: Ah, nossa próxima atualização pode levar algum tempo (três semaninhas, maybe?), porque estou curtindo minhas férias da facul e logo tudo vai voltar, com 8 matérias ead (socorroooo), vou avisando vocês pelo twitter! Beijoos



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "God save the Prince" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.