God save the Prince escrita por Fanfictioner


Capítulo 11
Caixas, rapel e ONU


Notas iniciais do capítulo

Aparecendo aqui na mesma semana (sou muito legal, vai?!) porque deu a louca na patroa e eu quis compartilhar com vocês nosso último suspiro de amorzinho antes de tudo desandar.
Não vou me alongar porque no +Fiction não teremos notas do autor (TRISTE) e já estou tentando me acostumar. Minhas tagarelices vão parar aqui, mas vocês podem me seguir no tt (@morgana_botelho) para a gente conversar por lá :))))
Nos vemos nas notas finais!



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A semana avançou numa cadência que não era nem tão lenta quanto o começo do trimestre, nem tão rápida quanto todos gostariam para que as férias chegassem logo. James ficou bastante ocupado com o evento que a sociedade de história estava organizando em uma escola secundária de Cambridge, e Lily esteve envolvida com a apresentação do artigo que escrevera com o professor Aberforth Dumbledore. Ela esperava ansiosamente pelas respostas de algumas entrevistas de estágio e treinamento que vinha fazendo no último mês.

Peter se ocupava com a papelada de sua inscrição nos cursos de verão da universidade, enquanto Alice e Frank estavam muito atarefados com os planejamentos da viagem de férias que fariam para a França em duas semanas, e Mary se afundava em provas e mais provas de admissão para um estágio remunerado de verão em Londres. No final das contas, cada um estava muito absorto em suas próprias questões, que ninguém se lembrava muito de que em menos de uma semana estariam todos distantes um do outro novamente.

— A gente precisa sair! Fazer alguma coisa juntos, não é possível! - Resmungou Lily na quinta de noite, quando arrumava a cozinha com Alice.

— Mary tem um encontro no sábado de noite, então cancela sair para o Três Vassouras. E eu vou embora na terça depois do almoço. Aliás, você vai quando?

— Ainda não combinei com James. Ele vai me levar até Reading.

— Não é, tipo, arriscado seus pais o verem? Tipo, como você vai explicar que o príncipe James tá levando você em casa?

— Eles vão estar em Londres. A família do noivo de Petúnia chamou eles para um almoço, para falar da reserva da igreja ou algo assim. 

Alice a olhou com um sorriso maldoso, indicando que bem sabia o que significava James estar indo levar Lily até a casa dos pais. Lily corou, mas não desmentiu, e Alice caiu na gargalhada.

— Parece que terça-feira o novo herdeiro da coroa vai ser feito! - Provocou ela.

Lily arremessou um pano úmido na direção da amiga.

— Muito engraçadinha! Nem brinque com isso!

— Você que não brinque de transar sem camisinha!

— Quem vai transar sem camisinha? - Perguntou Mary, entrando na cozinha com um riso zombeteiro nos lábios.

Alice explodiu em mais risos e Lily apenas corou, ficando emburrada e voltando a secar e guardar no armário as tigelas lavadas.

—  Nada. Ninguém vai transar. Eu estava falando que a gente devia sair juntos. Todos nós. Peter, Frank, James, nós três… uma última vez antes do fim das aulas. Mas parece que alguém aqui vai sair no sábado.

— Diferente de você, Lily, alguns de nós, na real, querem transar uma vez na vida. - Debochou ela, pegando um iogurte e apoiando-se na bancada. 

Lily revirou os olhos e riu, preferindo não comentar. A ideia de uma despedida entre amigos passou a ser debatida com um pouco mais de seriedade e, por consenso, escolheram almoçarem todos juntos na segunda-feira, o dia mais conveniente dentre todos os cinco que restavam em Cambridge.

O final de semana correu, e Lily passou o sábado todo fazendo as malas e encaixotando seus pertences que voltariam para Reading, já que alunos do último ano não podiam morar naquele prédio, e ela, Mary e Alice teriam que se mudar após as férias de verão.

No meio da tarde, quando Lily estava envolvida em colocar suas roupas numa mala e separar papéis que jogaria fora, James apareceu, com milkshakes e batatas fritas.

— Aconteceu um furacão aqui e eu não fiquei sabendo? - Brincou ele, desviando da pilha de livros ao lado da porta do quarto de Lily.

— Engraçadinho. Isso é comida? - Ele assentiu. - Ótimo! Eu não almocei ainda!

Ela se levantou em um pulo e pegou a bebida das mãos de James, fazendo-o rir enquanto abria espaço entre blusas e calças espalhadas na cama para poder se sentar.

— Falta muito? Eu vim ajudar. 

— Suas coisas já estão prontas?

— Quase. Mas não vamos ter que fazer mudança, então só vou levar o necessário para o verão mesmo. - Deu de ombros, passando a dobrar as roupas em quadradinhos e colocá-las dentro da mala. - Vai levar tudo?

— Vou colocar a maioria dos papéis na coleta de reciclagem, mas os livros e as revisões vão comigo. E tem… toda aquela pilha ali para resolver ainda. - Gemeu ela, indicando um amontoado de canetinhas, post its, clips e outras variedades sobre a escrivaninha.

— Melhor atacar logo, então. - Piscou James, roubando uma batatinha de Lily.

— Alice quem deixou você entrar?

— Frank. Eles estavam cozinhando algo, eu acho. O cheiro estava bom.

— Bolo vulcão. Alice quer testar a receita, para gastar os ingredientes que vão sobrar na cozinha antes que estraguem.

James riu, e voltou sua atenção a colocar as roupas de Lily na mala. Pelo resto da tarde, avançando a noite, James e Lily atacaram as pilhas de bagunça que deviam ser solucionadas, encaixotando livros e materiais de estudo, e separando roupas que deviam ser lavadas. Perto das nove eles desistiram de finalizar tudo naquele dia, juntando-se a Alice e Frank na sala para ver filmes, comer bolo e beber vinho, à espera de um delivery de comida árabe que atrasou quase meia hora. 

Domingo foi o dia de colocar roupas na máquina, recolher itens de banho e aspirar o carpete dos quartos, e mesmo que Lily tivesse começado os afazeres tarde para não incomodar Mary, de ressaca e frustrada com o encontro, com o barulho, tudo ficou quase pronto antes da hora do jantar.

Alice havia empacotado seus pertences e estava disposta em acabar com as últimas compras de comida que haviam feito, dedicando-se a cozinhar além do normal. Não que Lily ou Mary fossem reclamar, ao contrário.

Era curioso ver o dormitório que lhe pertenceu por dois anos estar, subitamente, vazio. Lily sentia uma nostalgia esquisita, porque não era como se ela fosse perder Mary ou Alice. Mas algo lhe dava a sensação de que o ano letivo seguinte seria diferente, incomum, e era como estar se despedindo de uma realidade que não teria mais. Lily achava que teria chorado naquela noite se não fosse pelo pedido desesperado de ajuda de Mary para organizar suas coisas, fazendo as duas amigas invadirem seu quarto e ali ficarem até quase uma da madrugada, encaixotando materiais e roupas.

Não que as calouras tivessem gostado muito da gritaria e cantoria madrugada adentro. Mas, afinal, era final de ano. Ninguém estava realmente ligando para noites de sono, não quando as férias estavam batendo na porta.

***

— Eu vou sentir falta da comida daqui.

— Meu Deus, Peter! São só dois meses, não é o fim do mundo! - Resmungou Mary, rindo. - E a comida do restaurante nem é tudo isso.

— Comida do restaurante significa que eu não preciso cozinhar, e isso já o bastante para ser ótimo! Minha mãe vai me fazer de escravo cozinheiro pessoal o verão todo.

— Otimista, ela. - Debochou James. - Sua comida é de enjoar em uma semana, Rabicho.

Aparentemente uma quantidade considerável de alunos tinha tido a mesma ideia: almoçar no restaurante universitário no penúltimo dia de aula do trimestre. A fila do buffet estava grande, embora a maioria das pessoas tivesse optado pelo mostruário de sanduíches e congelados.

Lily equilibrava a bandeja com seu prato de salada e assado com batatas, os talheres e uma garrafa de chá gelado em uma das mãos e mexia nervosamente no celular com a outra, esperando que os amigos terminassem de servirem-se.

Estava coalhado o lugar, e achar uma mesa grande o bastante para os seis parecia um trabalho árduo.

— Ali! Perto da janela. - Indicou Alice, apontando para uma mesa encostada na parede de vidro que tinha vista para o jardim, e cujas janelas estavam abertas, ventilando o refeitório.

— Larga o celular, Lily! Você mesma falou que esse almoço era para ser um negócio de amigos.

— Eu concordo. Esse celular anda ganhando mais atenção do que eu! - Brincou James enquanto puxava uma cadeira para Lily, fazendo os amigos rirem. 

— Já vou, já vou… estou olhando meu e-mai- Meu Deus! - gritou ela.

— O que?! O que foi?!

Os olhos de Lily iam se arregalando à medida que lia rapidamente o que quer que fosse que estivesse escrito na tela de seu celular, e era difícil ler sua expressão. Era uma mescla exata de choque e descrença, e começava a preocupar.

— Lily, o que foi? - Perguntou James, entendendo uma das mãos na direção da dela.

— Foi algo com a Pet- - começou Mary.

— Eu consegui! - Gritou ela, atraindo a atenção das pessoas mesas ao redor.

James fez gestos de desculpa, tanto para a menina loura, de óculos, que almoçava sozinha na mesa ao lado, quanto para o garoto magricela de cabelos escuros que levantara a cabeça de um livro que lia, assustado pelo gritinho de Lily.

— Eu consegui, gente! Eu consegui!

— O que, meu Pai? Desembucha logo! - Disse Alice exasperada.

— O estágio! Eu consegui o estágio no comitê da ONU!

A única área da Legislação que agradava Lily minimamente era aquela voltada para legislações internacionais, direitos humanos e suporte legal humanitário, e apesar de Cambridge ofertar inúmeros campos de estudo sobre o assunto, não era exatamente no meio acadêmico que Lily se enxergava. 

Certamente também não era dentro de um tribunal, participando de julgamentos e sessões com clientes, como seu pai fazia enquanto advogado. Não. A carreira que Lily almejava, e a única em que se via sendo capaz de atuar era aquela: Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados. Especificamente, se ela pudesse escolher, na parte de advogar direitos internacionais para refugiados, e nos pedidos de asilo, salvaguarda e proteção para imigrantes.

Não era exatamente o tipo de trabalho mais lucrativo, e havia o fator emocional envolvido, mas Lily não conseguia se imaginar em qualquer coisa que não isso. E a ideia de abandonar a faculdade de legislação a um ano de se formar parecia absurda.

Por isso, ela tinha se inscrito para participar do programa de verão ofertado pelo Alto Comissariado, especialmente voltado ao voluntariado e àqueles que almejavam atuar na representação da entidade no Reino Unido. E dentre as cento e vinte vagas disponibilizadas, Lily havia conquistado a décima sexta, após os resultados somados de provas e entrevista.

Lily colocaria seu pézinho na ONU naquele verão.

— Ah, meu Deus, Lily! Eu estou tão feliz! - Comentou Alice após a explicação da menina. - Eu não tinha ideia de que você tives-

— Foi meio que um segredo. Eu não quis que ninguém soubesse.

— Estou tão orgulhoso de você, meu bem! - Murmurou James, dando um beijo no topo de sua cabeça.

— Você é foda, Lily! - disse Frank empolgado.

— Mais que isso! Ela é um gênio! ONU! Tem noção?! - Peter parecia alcoolizado de tão excitado.

— Lily é o cérebro de todos nós juntos! Arrasou! E de quebra, vai amolecer o coração da sogrinha, eim? - Provocou Mary, abocanhando seu sanduíche de rosbife. - Uma alta comissária da ONU parece um ótimo cargo para a futura esposa de um príncipe.

James riu, engasgando-se com seu suco, e Lily corou violentamente, constrangida pela provocação e pelos variados elogios.

***

— Você tem certeza de que vai caber?

— Óbvio. Já coloquei coisas maiores aqui.

— Não quero estragar nada.

— Não vai estragar. Anda, me passa aquela mala ali. - disse James apontando para uma mala de bordo cheia de roupas menores. - Essas caixas você pode colocar no banco de trás.

— Então vai faltar só aquela bolsa com as roupas de cama.

— Pode colocar junto. Minha mala já está no banco atrás do meu, e você vai na frente… é, tudo certo então.

O sol estava a pino naquela tarde enquanto James colocava os pertences de Lily na mala pouco espaçosa de seu carro, pronto a fazer uma única viagem até Reading (que provavelmente envolveria passar a noite lá) e então finalizar a rota até o palácio de Buckingham, pronto para começar as férias.

Alice já tinha ido embora quase duas horas atrás, tendo James dado carona a ela e a Frank até a rodoviária, abarrotando o carro de caixas, malas e sacolas. Mary ficaria até o dia seguinte, quando os pais a viriam buscar com uma caminhonete para levar tudo, inclusive os poucos móveis usados que as três meninas haviam comprado juntas e pretendiam levar para o novo apartamento, então o casal estava basicamente sozinho no estacionamento do prédio de Lily.

— Tudo pronto? - Perguntou ele enquanto bebia água e colocava o cinto de segurança.

— Tudo. Vou avisar meus pais que estou saindo. Eles não vão ver agora mesmo, estão com os sogros da Petúnia. - Comentou ela, revirando os olhos, fazendo James dar um risinho e beijar a mão dela antes de dar a ré para sair da vaga.

Minutos depois, quando já estavam na estrada, o celular de Lily soou uma notificação.

— Olha! Eles lembraram que têm outra filha! - e James riu gostosamente do humor ácido dela. - As chaves estão no pratinho do vaso de flores da varanda. Meus pais acham que estamos na década de oitenta?! Meu Deus, assaltantes invadem casas! Deixassem a chave com os vizinhos!

Mas, apesar da revolta, Lily se limitou e enviar um “Okay”, e depois outro, quando a mãe avisou que eles só voltariam depois do almoço do dia seguinte, para uma audiência que o senhor Evans teria naquela tarde. Como se Lily já não soubesse disso e, justamente, tivesse planejado seu retorno para casa com base nessa informação.

Depois de dois meses de relacionamento, era estranho pensar que James não conhecia quase nada sobre a vida familiar de Lily, nem tivesse visitado sua casa, ou coisa do tipo, mas, como tudo, aquilo era algo diferente quando se tinha um relacionamento como o deles, e Lily não desejava por nada no mundo que seus pais conhecessem James, não naquele momento.

Mas James estar com ela em sua casa era outra coisa.

Isso era algo que Lily desejava absurdamente. Petúnia sempre foi a irmã que gostava de namorar e tinha planos de ter uma família, ao contrário de Lily, que sempre foi dedicada a estudar e planejar toda sua carreira, mesmo que seguindo a ambição acadêmica dos pais. Justamente por isso, Lily nunca tivera o que gostava de chamar de “namoro de casa”.

Nunca apresentou um rapaz aos pais, nunca soube o que era esperar a visita do namorado numa tarde de final de semana, ou passar o dia trancafiada no quarto com o companheiro, vendo filmes.

Lily não achava que sentia falta disso, principalmente porque não era mais uma adolescente, e James vivia em seu apartamento em Cambridge, e vice versa, tendo dormido juntos algumas várias vezes. Mas a ideia de que ele conhecesse sua casa, sua intimidade familiar, era algo que Lily desejava muito, e de alguma forma parecia urgente.

Não que ela soubesse explicar o porquê.

E foi justamente por isso que ela organizara tudo para que James a desse carona até Reading naquele final de trimestre quando soube que os pais não estariam em casa.

—Você vai me ajudar a descer essas coisas aqui, princesa. - Debochou James, puxando as caixas de livros do banco traseiro do carro enquanto Lily destrancava a porta de entrada.

As caixas de materiais da faculdade ficaram empilhadas em um canto da sala, e Lily se encarregou de levar as malas de roupas para seu quarto, no segundo andar, enquanto James estacionava o carro do outro lado da rua, apenas para não chamar a atenção dos vizinhos.

Pelas horas que se seguiram, Lily apresentou a casa à James, deixando que ele explorasse os porta retratos com fotos de infância de Lily e Petúnia (que ele logo reconheceu por não ter os mesmos cabelos ruivos de Lily), a coleção de elefantinhos de porcelana que a mãe deixava numa prateleira da sala, e até o antigo quarto de Lily, aonde ela ficava quando vinha para o verão e para os feriados.

 O quarto de Lily era excessivamente normal, com pôsteres antigos de bandas ainda colados na porta, todos os móveis brancos e uma luminária de cabeceira cinza que parecia saída de um cenário da década de vinte.

— Foi um presente da minha avó. - Explicou ela, levemente constrangida. - Como eu disse, não é nada chique como na casa da Dorc-

— Eu achei a sua cara, sabia? - Comentou ele, sentando-se na cama de Lily e admirando as fotos polaroid com Mary e Alice que ela deixara na parede da escrivaninha.

Lily perguntava-se como podia ser tão apaixonada por James, e todo esse afeto amoroso logo foi se convertendo, também, em tesão, enquanto limpavam a cozinha da senhora Evans após o jantar que inventaram. Os amassos começaram na sala, e foram evoluindo consideravelmente, até que a camisa de botões de James achou seu caminho para o chão com facilidade, assim como a blusa e os shorts de Lily. Avançaram pela escada trôpegos, evitando se soltarem mais do que o necessário, e a noite foi ocupada com os dois trancafiados no quarto, mas de uma maneira muito mais produtiva do que vendo filmes.

***

Se James achava difícil ficar acostumado à presença matinal de Lily a seu lado, Lily continuava a achar aquilo surreal, uma doçura quase proibida. Quanto mais oportunidades tinha de estar com ele, mais achava que necessitava de outros zilhões de dias junto a James.

A cortina do quarto havia sido esquecida meio aberta na noite anterior, e a luz do sol invadiu cedo a janela, deixando um calor ameno sobre a cama de Lily. A respiração suave e adormecida de James no ouvido dela, a princípio, passou a irritar um pouco, e Lily decidiu virar-se, o que acabou, inevitavelmente, despertando-o.

— Bom dia, linda. - murmurou ele com a voz enrolada e, definitivamente, mal acordado, esfregando os olhos e espreguiçando-se.

— Será que algum dia vou me acostumar com essa sua cara de sono? - perguntou ela, sorrindo enquanto apoiava-se em um dos cotovelos.

— Com certeza. Vai ser ocúmulo estarmos casados e você estranhar acordar na mesma cama que eu. - brincou ele, fazendo Lily rir.

— Achei que reis e rainhas dormiam em quartos separados.

— Claro! No século passado. Vê lá se eu vou perder a chance de acordar - ele se interrompia para espalhar beijos pelo rosto e busto de Lily. - e encher. De beijos. Essa mulher. Maravilhosa.

— Vai ter uns quinze funcionários do palácio batendo na porta para você assinar documentos. - ela riu, deitando-se com as costas na cama enquanto James rolava para cima dela. 

— Eles vão esperar eu acabar minhas obrigações com você.

— E quais seriam essas obrigações mesmo? - provocou ela, encarando-o profundo nos olhos, com uma expressão nada inocente e que fez o corpo de James esquentar e arder de desejo.

Lily era atraente sem esforço, e absolutamente tudo nela fazia James sentir-se como um adolescente inesperiente, desejoso demais, sempre pronto a pegar fogo ao mínimo riscar de fósforo que pudessem ser os olhares e mordidas de lábio que Lily desse. Às vezes sentia que queria afundar nela. Perder seus sentidos no perfume delicioso do cabelo dela, enroscar suas pernas nas dela e deixar-se grudar em cada centímetro de pele exposta.

— Primeiramente, uma rainha merece todos os beijos que desejar. - começou ele, encostando seus lábios delicadamente nos dela.

Sem qualquer demora, Lily enfiou suas mãos no cabelo de James e puxou-o para mais perto, como se houvesse ainda mais algum espaço livre entre eles. A boca macia de James fundiu-se na dela, e as línguas se encaixaram com uma fome que intensificou rapidamente o beijo. De alguma forma, era como se seus corpos fossem duas peças contínuas de um quebra cabeça, cujo encaixe era exato e satisfatório.

A mão de James dedilhava caminhos pelo rosto, pescoço e lateral do corpo de Lily, fazendo uma pressão não mais tão suave na cintura dela, mas cheia de desejo e intensidade, e Lily deixava sua boca afundar na de James, beijando-o com um certo desespero, ânsia de mais contato, ânsia de que mais dele a pertencesse.

Um arrepio subiu pela espinha de Lily e gemidos foram abafados quando a boca de James largou da dela e passou a deixar beijos espalhados no pescoço alvo e exposto, e os dedos dele passaram a pressionar a coxa desnuda de Lily por sob o lençol. O quarto todo parecia quente, sufocante, mas nenhum dos dois parecia disposto a interromper o que acontecia para ligar o ventilador.

Tudo teria culminado em um maravilhoso “bom dia” conjugal se o estômago de Lily não tivesse roncado alto, quebrando o clima e os fazendo rir, com uma certa frustração irritada pairando no ar.

— Aparentemente, minhas obrigações também envolvem alimentar uma certa fominha. - brincou ele, rolando de volta para o lado de Lily, tentando conter-se enquanto ela se sentava na cama e amarrava os cabelos em um coque.

— Vou descer e preparar algo para o café. Você vem? - perguntou ela, levantando-se, passando por cima dele e indo pegar o robe felpudo que usava para ficar em casa.

James se permitiu ficar admirando as curvas de Lily apenas de calcinha ao se vestir, sem muito sucesso na missão de acalmar a excitação fruto dos episódios de minutos atrás. Lily provocava reações demais nele, era um fato.

— Desço já, vou só… ir ao banheiro. - respondeu ele meio constrangido,deitando-se de barriga para cima, fechando os olhos e fazendo exercícios de respiração, arrancando risos de Lily.

Havia uma enorme leveza em descer para fazer um café da manhã que dividiria com James, e Lily pensava em como gostaria que aquilo se repetisse mais frequentemente, completamente apaixonada. Era absurdamente clichê, e Lily quase sentia repulsa por isso. Ela não gostava de cozinhar, e certamente não era o tipo de pessoa matutina, a favor de cafés da manhã servidos cedo, ou mesmo de levantar antes das nove nas férias.

Mas James a fazia querer fazer essas coisas. Cozinhar juntos, tomar café da manhã na cama e todas essas breguices que ela jurara não se render a fazer.

Um a um, ela retirou os ingredientes da geladeira, os ovos, o bacon, o pão de forma, a manteiga e o tomate. A água para o café foi servida em uma chaleira elétrica e Lily buscava por uma frigideira quando ouviu estalos no trinco da porta da sala.

Ladrões não assaltavam casas às sete da manhã, assaltavam?

Correu para a sala, para observar o que ia acontecer, e pela janela atrás do sofá ela viu o carro dos pais estacionado na garagem. Não podia ser. Eles chegariam pela tarde, não? O que faziam ali tão cedo na manhã.

E, por Deus, como James sairia sem ser visto?

Foram necessários cinco segundos, enquanto o senhor Evans destrancava a porta, para que Lily percebesse que a maioria das peças de roupa dela e de James tinham ficado espalhadas no chão da sala na noite anterior. Seu coração galopou no peito, e ela começou a recolher tudo em braçadas. Jeans, shorts, blusas de botão e camisetas viraram um amontoado no colo dela, e a frigideira ainda estava em sua mão quando o casal Evans entrou em casa.

— Lily! - disse a mãe espantada. - Bom dia, querida! Não esperava que já estivesse de pé tão cedo!

A senhora Evans adiantou-se para um abraço enquanto o senhor Evans pousava sua pasta no aparador ao lado da porta.

— E eu não esperava vocês tão cedo aqui! - respondeu ela tentando disfarçar o desespero com um sorriso amigável. - Achei que só voltariam depois do almoço.

— Nós também, nós também, querida… mas a audiência de hoje de tarde foi transferida para agora às oito e meia, então saímos de Londres pouco depois das seis. E você, fez boa viagem? - perguntou o senhor Evans, descalçando os sapatos sociais.

— E essa frigideira na mão, querida? Ia fazer o café?

— Uhm… sim, eu… - a chaleira apitou na cozinha. - Você pode dar uma olhada lá, mãe? Vou levar essas roupas lá para o meu quarto.

— Deixe aí, querida. Eu levo para você, vou lá em cima me tro-

— Não! Eu… eu esqueci meu celular lá em cima, estava mesmo indo buscar. - estendeu a frigideira para a mãe. - Coloca o bacon para fritar, deixa que eu faço o resto. Venho já!

Lily subiu a escada de dois em dois degraus, com o coração galopando no peito, sem conseguir pensar em como tiraria James dali sem que os pais o vissem. De repente, todo o afeto clichê e o café da manhã na cama tinham sido expulsos de seus pensamentos e substituídos pelo pânico de que seus pais, monarquistas convictos, descobrissem James Potter, o Duque de Cambridge, de cuecas em seu quarto.

Mas ele não estava em seu quarto. Não quando ela abriu a porta em um solavanco.

— Procurando alguém em especial, querida? - sentiu James a abraçar por trás e, pela primeira vez, não sentiu a menor felicidade por isso.

— Shiu! Cala a boca! - ela pediu, virando-se para James e puxando-o para dentro do quarto. - E fecha a porta agora!

— O que houve? 

— Meus pais. - sussurrou ela num sibilo desesperado. - Meus pais chegaram.

— Quê?!

James estava, subitamente, pálido e completamente desprovido daquele sorriso galante de canto de boca que fazia Lily se derreter. Não. Ele estava assustado com a possibilidade de ser visto ali.

— Eles não iam chegar só depois? O que houve?

— É! É, é, é… você tem que dar o fora daqui! - disse Lily, andando em nervosamente pelo quarto. - Se veste logo, garoto!

Ele quis rir. Tudo acontecera tão depressa que James não se lembrava de que estava apenas de cueca, com os cabelos mais desalinhados do que de costume. Puxou a jeans da pilha mistura de roupas que Lily trouxera da sala, perguntando se os pais dela tinham visto algo.

— Não, claro que não! Tá maluco que eu ia deixar meus pais verem roupa sua largada pela casa? Anda logo, James, você precisa ir embora!

— Já vai, já vai! Mas eles vão demorar aqui? Porque eu posso ficar quieto até que eles saiam e então ir. Para não ser vistos.

— Meu pais tem uma audiência em uns cinquenta minutos, e minha mãe deve ir para a escola del- - sussurava Lily pensativa.

— Lily? Você está aí, querida? - chamou a senhora Evans, batendo na porta do quarto.

Os olhos de Lily se arregalaram de desespero, e ela empurrou James para um canto, fora do campo de visão de que estava na porta, ele quase tropeçando na jeans não completamente vestida.

— Oi, mãe. Estou me trocando, só um pouquinho. - gritou de volta, abrindo o robe, para o deleite de James no momento mais inapropriado, e rapidamente procurando o primeiro vestido que aparecesse. - Aconteceu algo?

— Quero saber se tem mais roupas sujas para colocar na máquina. Aquela camisa de botão que você deixou cair na escada estava suada e com uma mancha de molho, coloquei para lavar, mais alguma roupa branca?

As merdas não paravam de acontecer. A única camisa que James descera do carro na tarde anterior estava, agora, encharcada dentro da máquina de lavar, e não havia a menor possibilidade de consegui-la a tempo.

A cabeça de Lily murmurava a todo momento “Merda, merda, merda!”.

— Uhm… não, mãe. Branca não, não que eu esteja vendo.

Sem esperar convite, a senhora Evans entrou no quarto, e Lily deu um gritinho assustado, fazendo a mulher recuar um passo de volta ao alisar da porta.

— Que susto! Não imaginei que fosse entrar, estou me trocando. - resmungou ela, usando todo seu autocontrole para não entrar em desespero.

“O Duque de Cambridge está seminu no meu quarto, e minha mãe está na porta.”

— Eu trouxe essas caixas que você deixou lá em baix-

— Não precisava. Não precisava mesmo! Eu ia buscar depois. - comentou ela, ficando presa nas alças do vestidinho que tinha puxado de dentro da mala, amassado.

— Já trouxe. Vou colocar nesse cantinho aqui.

Lily ficou simplesmente tão apavorada que o grito de “não” morreu antes de chegar em sua boca. A senhora Evans avançou em direção à escrivaninha que ficava na parede oposta à cama de solteiro, de onde tinha visão do quarto todo.

— Eu posso explicar. - gemeu Lily, fazendo uma careta de desespero.

— Explicar o quê, querida? - perguntou a mulher, virando-se para Lily enquanto organizava umas canetinhas que considerou fora do lugar.

James simplesmente sumira.

Lily esquadrinhou o quarto rapidamente, aproveitando-se do interesse da mãe em suas canetinhas coloridas, à procura de algo que o denunciasse, como o pé embaixo da cama ou um pedaço de pele exposta  sob o edredom. Mas não havia a menor evidência de que outra pessoa além das duas estivesse no quarto.

— A… - gaguejou, pensando em alguma mentira que se encaixasse no assunto. - A razão daquela bagunça com as caixas lá em baixo, eu sei que voc-

— Ora, não seja boba, Lily. O peso dessas caixas, você não aguentaria sozinha mesmo, tão magricelinha. Aliás, você está pálida, e seu cabelo está horroroso, parecendo uma palha! Você precisa se cuidar, Lily! Não tem mais treze anos.

Tinha durado exatamente dez minutos o sossego de Lily em casa, pois ali estavam elas novamente: as críticas da senhora Evans a absolutamente tudo que se referisse à aparência de Lily.

— Eu não tive tempo, mãe. Estava estudando muito, não tive tempo para ficar cuidando de estética. - resmungou Lily, pensando em como tiraria a mãe dali.

— Petúnia vai chegar sábado e vou mandar que ela leve você ao salão. Imagine se algum rapaz vai olhar para você assim, minha filha! Desça logo, vamos tomar café da manhã juntos porque eu e seu pai vamos sair para o trabalho.

Sem precisar de qualquer intervenção de Lily, a senhora Evans saiu do quarto levemente incomodada em discutir aparência e estética com Lily, já que se mostrava um esforço vão. Lily se arrumava quando sentia vontade, preferia hidratar os cabelos em casa e naturalmente, e suas sobrancelhas eram tão finas que um pouco de sombra era mais eficiente do que corrigir os pelos na pinça.

Não havia quem conseguisse converter os pensamentos de Lily quanto a isso.

E as unhas? Bem, ela comia todas quando se estressava, então poupava gastos e cuidava dos esmaltes e cutículas em casa.

— Que bom dia agradável, não é? - debochou James assim que a porta do quarto bateu.

A porta de correr do guarda-roupas embutido de Lily abriu e James saiu de lá de dentro meio suado e claramente desconfortável da posição em que tinha ficado. Lily deu um sobressalto, abafando um gritinho que fez James rir com leveza. Parecia até piada tudo que tinha acontecido.

Lily sentou-se na beira da cama bagunçada, junto dele, e começou a desfiar o cabelo com as mãos.

— Mas que susto! Como se enfiou aí tão rápido?

— Segredos de um mestre das marotices no palácio de Buckingham. - disse ele com uma piscada de olho.

— Seu arrogante.

Houve silêncio por um momento, enquanto James massageava a mão de Lily com carinho.

— Desculpa por isso. Por tudo na verdade

— Está tudo bem, Lily.

— Não está não. James, você é um príncipe, é ridículo que fique se enfiando dentro de armários de roupa apenas para que minha mãe não veja você.

— Você teria achado okay ela me ver sem camisa aqui? De manhã cedo, no seu quarto? - ele tentou brincar.

— Não! Meu Deus, não! - ela esfregou o rosto, num sinal de cansaço e frustração. - Eu só queria a merda de uma manhã tranquila, tomando um café no meu quarto, deitada com você. Mas o que eu ganho? Desespero, esconder meu namoro mais uma vez, e comentários sobre minha aparência que nunca é suficiente para a mamãe.

Lily suspirou, enterrando o rosto nas mãos, muito incomodada e irritada com os episódios recentes.

— Eu sinto muito, Lil. Saiba que eu não concordo com ela, que acho você maravilhosa como é, e vou continuar achando independente do que faça. Pinte o cabelo, se quiser, corte-o, se quiser, faça as unhas, ou não. Eu não ligo.

Ninguém devia ligar. É o meu corpo! Ela caga regras na minha aparência a vida toda. Foi uma péssima ideia ter trazido você aqui, James. Minha família está bem longe de ser um exemplo, eu tenho uma relação bem mediana com meus pais, e esse é, sem dúvida, o período que eu mais estou sofrendo comparações. Agora que Petúnia está noiva.

James puxou-a para um abraço, afagando os cabelos ruivos nada ressecados, ao contrário do que a senhora Evans dissera.

— Estamos no mesmo barco, Lily. Não ache que minha família é incrível por ser quem é, você conheceu a vovó. E tem outras mil dores de cabeça junto. A última coisa que quero é dar problemas.

— Você nunca é um problema, Jay. - murmurou ela, fechando os olhos momentaneamente e abraçando James mais apertado.

Da cozinha, a senhora Evans gritou o nome de Lily, chamando-a para o café, ao que a menina murmurou um palavrão dentro do quarto. Com a sutileza de um felino, James caminhou até a janela do quarto de Lily e observou o arredor. Havia um gramado generoso, embora a janela de Lily só distasse uns dois metros da cerca que separava a casa dos Evans da casa do vizinho. Um pouco abaixo da janela havia uma pequena cobertura, daquilo que devia ser a janela da sala de televisão do andar de baixo.

— Certo, eu preciso de uma camisa e de uma mãozinha sua. Rápido, vai!

Lily conseguiu achar no guarda-roupas uma camisa velha e oversized do Rolling Stones, que ela tinha adorado usar em sua fase roqueira de catorze anos, com o caimento quase exato para James.

— Perfeito. Agora venha aqui.

— Lily! - berrou a mãe.

— Estou indo! Um minuto! - gritou ela de volta, logo voltando-se para James, sentado no parapeito da janela. - O que você quer fazer, seu maluco?!

— Eu fiz rapel e escalada uma época. Anda, me dá sua mão.

— Você pirou?!

Era uma distância de uns três metros e vinte do solo, mas Lily não pularia aquilo nem que sua vida estivesse em risco, que dirá numa situação como aquela.

— Anda logo, Lily. Vai ser pior se alguém me vir pendurado aqui. Não vou cair, vou usar o telhado de apoio, relaxa. Preciso que me dê a mão um momento. - pediu James com certa urgência.

Impaciente, embora não completamente convencida pela maluquice de James, Lily estendeu a mão, e então ele colocou as pernas para fora da janela, fazendo-a arregalar os olhos de desespero.

Uma das mãos de James segurava no parapeito da janela, a outra a mão de Lily, e ele se esticava como um boneco de massinha para alcançar o parapeito da janela do piso térreo.

— James, você tá maluco! Sobe aqui agora! - sibilou ela.

— Shiu! Pisei em algo. - ele olhou para baixo. - Acho que é o parapeito. Solta minha mão. Anda! Pode soltar! Vai logo, Lily.

Ela soltou a mão dele, finalmente notando a força que estava exigindo segurá-lo, e James desceu mais alguns centímetros, segurando-se no parapeito superior por milímetros. O coração de Lily deu um solavanco, e foi necessário abafar um gritinho na mão.

Estava a beira de quase matar outro príncipe. Ela devia ter estado na revolução francesa em sua vida passada, tinha certeza.

Mas absolutamente nada aconteceu com James. Ele exibiu um sorriso confiante, tendo satisfatoriamente se equilibrado na janela de baixo e apoiado as mãos no avançado do telhadinho sobre a janela, e então pulou para o chão, a apenas um metro e vinte dele, caindo com uma graciosidade de dublês de cinema, levantando dedos positivos para Lily, com urros silenciosos e engraçados. Ela sorriu em alívio, quase falando algo antes de ser chamada pela mãe, aos berros, outra vez.

— Eu tenho que ir. - disse ela, inclinando-se sobre a abertura da janela.

— Vou pegar estrada. Nos falamos depois, Lil. - James piscou, lançando um beijinho e colocando os óculos escuros, do bolso da jeans, no rosto.

Lily lançou outro beijo em devolutiva, sorrindo com a adrenalina do que acontecera até ali. James simplesmente saiu pelo corredor lateral da casa em direção à rua, como se fosse banal que príncipes pulassem das janelas do segundo andar das casas de suas namoradas.

***

As férias de Lily passariam muito rápidas naquele verão. Os primeiros doze dias seriam em Reading, com os pais e a irmã, participando de escolhas de vestidos para o casamento de Petúnia; e as seis semanas seguintes seriam em Londres, no Alto Comissariado, em Holborn, especificamente. Teria aulas e atividades todos os dias, das nove às dezessete, com pausa de uma hora para o almoço, e domingos e tardes de sábado livres.

Os dez dias finais estavam destinados a encontrar um apartamento novo em Cambridge e organizá-lo com Mary e Alice, já que os aluguéis da faculdade estavam muito acima do orçamento de qualquer uma delas, e em seu terceiro dia de férias Lily já se perguntava quando (e se) teria algum tempo com James naquele verão.

Quando Sirius e Marlene souberam que Lily estaria em Londres por seis semanas, foi imediata a organização de eventos e saídas que fariam juntos, ainda mais pela aproximação do aniversário de Marlene, em meados de agosto. Remus, que estava ficando em Buckingham com a desculpa de um curso de verão na Universidade de Londres, encarregou-se de resolver o que fosse necessário, e Dorcas se planejava para passar alguns dias no apartamento de Marlene.

Simplesmente todos os seis estariam, oportunamente, na mesma cidade durante quase seis semanas. Era bom demais, e arriscado demais, para ser verdade.

De repente, Lily se via em um grupo de mensagens com todos eles. Ela quase tinha engasgado com seu suco na hora do jantar quando percebeu que, de súbito, estavam entre seus contatos, o Duque da Cornualha, a filha do Barão de Arlington, a filha do Conde de Essex e o filho do Conde de Northamptonshire. Não que ela fosse deixar sua família notar seu desespero momentâneo.

O aniversário de Marlene era o plano mais certo, e, paradoxalmente, o mais vago sobre como aconteceria. Até ali, só sabiam que algo seria feito no palácio, como um jantar seguido de uma festinha íntima, e que Lily seria (para seu desespero) novamente infiltrada lá.

Os demais combinados eram os mais concretos, ainda que nada agendados, e consistiam em, quase todos os dias, sair com Lily para apresentar a ela algum lugar interessante da vida noturna londrina. Incluíam um tour pelos melhores pubs, além de passeios atípicos, como mercados de rua de bairros pouco conhecidos e os dias de promoção do cinema Odeon favorito de Remus, em King’s Cross.

No geral, era uma perspectiva cativante. Lily não poderia estar mais animada pelo estágio, pela oportunidade de conviver com a realidade do trabalho que almejava, aprender mais sobre sua área favorita das legislações, e pela chance de ficar seis semanas inteiras na cidade mais atraente e deslumbrante que já tinha podido conhecer, tão perto de James.

Londres nunca fora um gosto de seus pais, que preferiam a tranquilidade de morar numa cidade do interior, a apenas uma hora da capital agitada e barulhenta. Petúnia se atraía pelo subúrbio de Londres, pelo sonho idealizado de uma vida luxuosa e afastada do centro comercial cinzento, mas perto o bastante para desfilar sua família de propaganda de manteiga na Oxford Street quando quisesse.

Lily se sentia magnetizada por Londres por outros aspectos. Embora amasse a facilidade de resolver sua vida à pé em Cambridge, nada era mais fascinante ao olhos dela do que a vivacidade e multiculturalidade que respirava em Londres. Os museus, os grafittis de Banksy, os milhares de Pret a Manger (ainda que ela odiasse o café daquele lugar) e toda sorte de espaços variados, especiais, repletos de cultura e que se escondiam no meio da multidão populosa de uma das maiores metrópoles do mundo.

E, é claro, o vasto número de pubs distintos que ela poderia conhecer, embebedando-se com James.

Toda essa expectativa sobre semanas paradisíacas na cidade palco de seus devaneios culturais acabou se mostrando a pior das coisas, e fez com que Lily afundasse em desânimo ao saber que: a) alimentação não estaria inclusa em sua estadia na ACNUR-Londres, e ela precisaria levar seiscentas libras (adicionais às trezentas que separara) se quisesse comer naquelas semanas de estágio; e b) James Potter não estaria no país pelas próximas duas semanas, arruinando seus planos de rodar pubs com o namorado.


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Notas finais do capítulo

Infos necessárias:

— ACNUR é a sigla brasileira para o Alto Comissariado nas Nações Unidas para Refugiados (em inglês UNHCR), e vou me referir sempre assim agora, porque o nome é extenso.

— Sobre a verossimilhança do James saltar da janela, eu considerei um desnível de vinte centímetro do nível da rua, o piso a piso de 3m, e janelas de 1.50m, a 1m do chão, e como a altura do James foi pensada entre 1.85/1.90m, é perfeitamente possível que ele alcançasse o peitoril de baixo, desde que com um pouco de técnica (por isso o rapel e a escalada), MAS NÃO ESTOU RECOMENDANDO NINGUÉM A FAZER O MESMO!!!!!!

O que acharam dessa OVERDOSE de Jily?
Entreguei um novo personagem de uma maneira bem sutil, mas que não notou vai ter a oportunidade de conhecê-lo melhor no próximo capítulo, e a partir de agora as coisas vão acontecer bem rápido hahaha.
Espero vocês nos comentários!
Beijoo ❤❤