O Passado do Lobisomem escrita por Heringer II


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791677/chapter/15

— Como é que é? – disse Aldo, surpreso.

— Eu sei que você é o lobisomem, tá bem? Pode parar de fingir. É você que está atacando as fazendas do interior.

Aldo olhou para mim, apertando vagarosamente os olhos.

— Escute, garota, não acha que é uma hora indevida para ficar embriagada?

— Não me venha com essa, Aldo! Eu vi você ontem, na fazenda Pôr do Sol. Justo ontem, quando ela foi atacada pelos lobisomens, e naquele dia, quando você me deixou sozinha naquela praça e foi em direção à fazenda Trevo de Quatro Folhas, e naquela mesma noite o lobisomem a atacou, não venha me dizer que isso tudo é coincidência.

— Me deixa ver se eu entendi... Você estava me espionando?

Tentei achar um jeito de negar isso, mas não tive como...

— Sim...

Aldo sentou-se na cama, virou os olhos para mim e falou.

— Eu tento confiar em você, e você me espiona. É isso?

— Vai querer mesmo tocar nesse assunto?

— Como assim? Você que aparece no meu quarto, diz que eu sou um lobisomem, e logo em seguida confessa ter me seguido até a área rural para me espionar. E agora não quer que eu toque nesse assunto.

— Afinal, você é o lobisomem que vem atacando a cidade ou não?

— Por que está me perguntando isso agora? Segundos atrás, você afirmou com toda certeza que eu era o lobisomem. Agora essa certeza sumiu? Você está fazendo perguntas demais! Eu é que deveria estar te fazendo perguntas! Afinal, você me seguiu ontem à noite, e talvez não tenha sido a primeira vez.

— Eu garanto que foi a primeira vez.

— Mas eu não posso ter certeza. Me diga, o que você tem na cabeça? Por acaso os sprays de pimenta dos policiais afetaram seus neurônios? O que te leva a pensar que eu sou o lobisomem? Melhor, o que te leva a acreditar numa história dessas?

— O que você queria que eu pensasse? Por onde você passa, os jornais noticiam no dia seguinte que houve um ataque do lobisomem naquele local. Sem contar que você é bem peculiar?

— Peculiar? – levantou-se da cama e veio em minha direção, fazendo-me caminhar lentamente para trás. – Agora eu estou curioso, o que eu tenho de peculiar?

— O que você tem de peculiar? Você quebrou o braço de um cara com o dobro do seu tamanho! Em seguida, pegou o outro, ergueu e jogou como se tivesse jogado um saco de lixo nas ruas! Sem contar, é claro, nos seus super poderes.

— Super poderes? Agora sim eu estou curioso. Que super poderes eu tenho?

— O de aparecer repentinamente em um lugar, por exemplo. Naquele dia que fomos comprar os sanduíches, você nem passou pela sala principal e apareceu do lado do asilo. Como isso?

Aldo se afastou de mim. Abriu a janela, se posicionou, e em seguida, pulou para o lado de fora. O quarto dele ficava no segundo andar, eram oito metros até o chão!

Aldo se afastou de mim. Abriu a janela, se posicionou, e em seguida, pulou para o lado de fora. O quarto dele ficava no segundo andar, eram oito metros até o chão!

Impressionada, corri para a janela para ver se estava tudo bem com ele.

— Qual a próxima dúvida agora?

— Tá tudo bem com suas pernas?

— Por que não estaria?

— Você tem idade para ser meu avô!

— Menina, escute bem: não é porque os outros idosos não conseguem fazer esse tipo de coisa, que eu sou obrigado a não conseguir também.

Havia, do lado dele, uma árvore. Ele escalou até alcançar a janela do seu quarto novamente. Quando estava na altura certa, deu outro salto, e entrou de novo pela janela.

— Mas... E quanto à ontem à noite? Eu fiquei te esperando do lado de fora, e você simplesmente apareceu do nada! Depois, desapareceu do nada também.

— Eu me locomovo como qualquer outro ser humano comum. Eu cheguei até a entrada andando, e saí de lá andando. Se você não me viu chegar ou sair, é porque deve ter se distraído. Agora, se você me der licença...

— Não! Tem mais uma coisa! E também é sobre ontem à noite...

— Já sei, é sobre o tiroteio na fazenda, não é?

— É.

— Vai continuar na dúvida.

— Como é?

— Se você não tivesse me espionado, eu responderia essa pergunta.

— Mas... Se eu não tivesse te espionado, eu não teria te feito essa pergunta.

— Você é esperta nas respostas, garota. Gostei dessa.

— Então, vai me responder?

— Não.

— Por quê?

— Porque eu não quero.

— Ah, qual é, Aldo! Só essa pergunta!

— Não.

— Velho chato! – me virei de costas pra ele. Quando virei de volta, vi um vaso de flores vindo em minha direção. Desviei, e o vaso quebrou-se ao bater na parede. – O QUE FOI ISSO? VOCÊ ENLOUQUECEU?

— É melhor você me respeitar, garota! Não pense que suportarei insultos vindos de você!

— QUEM NÃO VAI MAIS SUPORTAR INSULTOS SOU EU! Desde que eu cheguei, você só me responde com grosserias, como se eu fosse um lixo! Quer saber, se quiser me falar, fale, se não quiser, que se dane!

Aldo olhou para mim, não parecia estar bravo, e falou.

— Eu não vou te contar nada.

— Ótimo, não estou nem aí!

— Não vou te falar nada, porque não preciso.

Fiquei confusa.

— Como assim?

— Tudo que você precisa saber, está aqui.

Tirou da gaveta que ficava em baixo da cama dele um gravador de áudio muito usado naquela época, e entregou para mim.

— O que é isso? – perguntei.

— Meu diário falado.

— Diário falado?

— As respostas para quase todas as suas perguntas estão aí. Fique à vontade, se quiser ouvir.

— É sério? Tá me dando permissão? Logo você?

— Mais uma tirada dessas e eu mudo de ideia!

— Não, não! Tudo bem, eu fico calada.

— Nesse diário estão as minhas principais histórias de vida, desde os tempos do cangaço.

— Cangaço?

— Sim, eu fiz parte do bando de Lampião.

— Tá de brincadeira.

— Para você, é fácil chegar à conclusão de que eu sou um lobisomem, mas não consegue acreditar quando eu digo que fui um cangaceiro no passado? – Aldo se dirigiu à porta do quarto. – Vou beber um copo de água. Fique à vontade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olê, mulhé rendeira...
Olê, mulhé rendá...