Durante as festas minha mãe me convenceu de ir às compras com ela, entramos em uma dessas lojas que têm tantas opções que nunca se sabe o que esta olhando realmente. Enquanto ela sabia exatamente o que queria, fiquei olhando todas as prateleiras.

Encontrei algo que nem procurava. Lá estava brilhando contra a luz esquecido entre uma carteira empoeirada e uma coleção de penas coloridas. Era tão pequeno que poderia ter passado distraído. Mas me lembrei do nome da garota de all star azul. Um pequeno globo de neve com uma pequena rosa vermelha.

Minha mãe comprou com um sorriso no rosto. Sem perguntar para quem era e o porquê da escolha. Ela apenas me abraçou e caminhou pela neve comigo enquanto cantarolava canções que eu não conhecia.

Guardei no fundo da mala. Esperando o momento de entrega-lo. Contei os dias para o retorno. Para pegar o trem. Para voltar a olhar para o tênis azul e sua dona.

Infelizmente Rose não estava no trem e Albus não sabia explicar. Fiquei ansioso e preocupado toda a viagem e os dois dias seguintes. Por que a menina não aparecia?

Quando visualizei o all star azul na minha frente, não pude acreditar. Ela havia voltado. Mas parecia completamente diferente. Como se a rosa tivesse murchado durante o feriado. Ela estava sentada olhando pela janela, com os braços servindo de apoio para a cabeça e as pernas unidas ao corpo.

— Oi. – Me aproximei.

Seu olhar parecia perdido e cansado como se estivesse sofrendo. Fiquei incomodado e com vontade de dar o abraço que sempre dei em meu pai quando os dias não eram os melhores.

— Oi. – ela respondeu me olhando sem levantar cabeça.

Me sentei no espaço próximo aos pés dela. E fiquei esperando até não conseguir mais esperar.

— Tudo bem? – questionei mesmo sabendo a resposta. Era claro que não estava bem.

— Eu não sei. Isso tudo está muito confuso.- Ela falou apontando para si.

—Não entendi.

— Exatamente. Nem eu. – Suspirou cansada. – Eu estava muito feliz na manhã após o natal e ai quando cheguei em minha casa senti vontade de chorar. Eu gosto dos natais na vovó Molly, mas não era por isso que estava chorando. Por fim senti uma dor na minha barriga e tudo mudou.

Não compreendi nenhuma palavra do que ela disse. E ela parecia tão confusa quanto eu. E frustrada, muito frustrada.

— E agora fico oscilando entre feliz e triste, em alguns momentos com muita raiva. – Disse me encarando.

Será que estava com raiva de mim? Questionei mentalmente antes dela segurar minha mão.

— Ser menino é bem mais fácil. – Disse com um suspiro pensativo.

— Estou bem confuso. Você está com dor? Aconteceu algo?

— Scorpius, aconteceu tudo.- A garota de cabelos vermelhos amarrados em tranças penduradas ao lado da cabeça parecia exausta. – Estou envelhecendo. Não estava preparada para isso, não estava.

Hoje em dia sei o que estava acontecendo, mas aquele Scorpius jovem não fazia ideia. Mesmo assim fui capaz de amenizar a agonia dela.

Abri a mochila tirando de lá o embrulho branco com bolinhas azuis. E estiquei a mão até ela.

— Está bastante atrasado, mas você só voltou agora.

Meu rosto provavelmente estava dá cor dos cabelos que ela exibia pela vida. Quando ela pegou o presente de minha mão me afastei o mais rápido possível.

— Que lindo!

Escutei ela exclamando, enquanto eu virava o corredor. Sorri imaginando que pelo menos tinha feito ela se sentir melhor por um momento.

Durante as festas Rose tinha “virado mocinha" e sentia todas as mudanças que os hormônios provocavam. Eu ficaria conhecendo a maioria delas durante os próximos anos. E eu tentaria amenizá-los de todas as maneiras possíveis.