No restante do ano me permiti ter amigos. Era difícil não querer ficar perto de Rose e Albus, quando eles pareciam ocupados demais em fugir da fama e conseguir comidas especiais na cozinha.

Rose tinha a chave secreta que abria as portas para os doces a qualquer momento do dia. Ser filha de Hermione e trazer no sangue a sede por justiça.

Um dia um garoto da Sonserina três anos mais velho que a gente reclamou dos Elfos e da comida perto dela e a garota de 11 anos recém chegada discursou por vários minutos o quanto ele deveria ser grato e que um dia os Elfos deveriam fazer greve para o garoto perceber o quanto estava sendo mesquinho e injusto.

Ninguém teve coragem de rebater qualquer palavra que a menina do all star azul dizia. E minha admiração por ela cresceu. Queria eu ter aquela postura perante tudo que diziam sobre minha família.

Foi um ano de aprendizado, de piqueniques próximos das árvores, de conversas secretas no banheiro da Murta. Naquele ano eu aprendi a ter amigos e de tudo que aquela escola poderia me oferecer, aqueles amigos eram o melhor.

No segundo ano não existia tanto medo, deixando assim a euforia tomar conta de um Scorpius ansioso para retornar as aulas. Ficava contando os dias para descobrir qual seria a cor que Rose escolheria para o ano seguinte. Qual tênis seria sua marca registrada.

Eu por outro lado gostava tanto de ouvi-la falando sobre o meu tênis que implorei que minha mãe fizesse um feitiço que ele servisse no meu pé não importasse o quanto crescesse. Minha mãe pareceu intrigada, mas o fez. Enquanto o tênis não rasgasse ele serviria não importava o quanto eu crescesse.

Quando ela entrou na cabine percebi que a escolha era a mesma que a minha. Continuar com o tênis azul. E internamente eu agradecia, porque gostava de acompanhar os passos daquele tênis tão perto do meu e ao mesmo tempo tão longe. Combinavam tão bem.

Nós fizemos novos amigos nesse ano. Passamos menos tempo juntos. Não foi tão bom o quanto eu esperava. Eu entrei para o time de quadribol da Sonserina, por insistência de Albus, enquanto ela parecia disposta a criar um grupo de apoio as minorias.

Eu deveria saber que a garota do all star azul gostava de ajudar quem parecia perdido e sozinho. Era o que tinha feito comigo. Um ano antes. E agora queria fazer com Hogwarts inteira.

Íamos passar uns dias em casa para aproveitar as festas de final de ano. A neve estava acumulando nos jardins da escola e todo mundo parecia passar mais tempo dentro do salão comunal de suas casas do que normalmente passavam durante o resto do ano. Eu estava tentando me esquentar perto da lareira quando Albus apareceu perto de mim.

— Rose me pediu para te chamar.

Eu devo ter levantado tão rápido que por um momento fiquei tonto e voltei a sentar. Coisas que acontecem com todos, mas ainda assim constrangedor.

Quando abri a passagem olhando para o chão lá estava o tênis azul. E a garota dona deles parecia ansiosa com um pacote pardo nos braços.

— Oi.

— Feliz Natal! – Rose sorria. – Antecipado já que estaremos longe.

Ela me entregou o pacote e esperou enquanto eu o abria com cuidado para não rasgar.

Não esperava por aquilo.

— É um suéter Weasley. – Ela me avisou animada. – Normalmente ele vem com uma letra bem grande no meio.

Mas o meu tinha um desenho diferente. Um par de tênis preto com os cadarços formando a letra “s".

— Gostou?

Nem sabia como responder aquela pergunta. Porque aquele presente significava que eu oficialmente fazia parte de algo. Parte do que Albus e Rose eram.

— Obrigado. – Apertei o suéter contra meu corpo. – Gostei muito.

— Que bom. – Ela fica balançando para frente e para trás.

— Não tenho um presente para você. – Naquele momento eu gostaria de ter dado algo a ela.

— Não preciso de presentes. Mas preciso ir arrumar o resto da mala.

A garota do all star azul me abraçou rapidamente e foi embora levando toda a cor com ela. Cabelos vermelhos, tênis azul, suéter verde.

Foi nossa primeira troca de presentes. E eu não tinha nada para oferecer a ela. E ela não parecia precisar de absolutamente nada.

Era bom fazer parte de um trio. Estava satisfeito com aquilo e Albus me zoou quando na manhã seguinte tomei café da manhã exibindo o mesmo tipo de roupa que a maioria dos Weasley e Potter usavam. Rose tinha um grande R em um suéter azul, em volta da letra várias rosas coloridas.

Sempre me lembrarei do conforto que aquela cena me trazia, nenhum outro café da manhã seria tão apreciado quanto aquele.